janeiro 31, 2009

Bicho do mau

O T-rex atroz é do mal. Um combate com ele é tarefa arriscada. Sam está de volta, ao menos em parte, e o Anix está despertando algum poder oculto, graças à ajuda dos eiradaan. Hehehe, em breve teremos um momento Hiei (Yu-Yu Hakusho) na campanha.
Bem as postagens ficaram incompletas, já que terminamos semanda passada no meio de um combate. Nesse fim de semana terminaremos o combate e continuaremos em frente. Falta muito pouco agora para eles chegarem à torre de Zulil, mais conhecida como Espiral da Presa Noturna. Sim, a exploração da torre é a aventura oficial da Wizards Coração da Espiral da Presa Noturna, só que com genasis e outras surpresinhas.

Capítulo 335 – Rei


Andaram em ritmo acelerado por todo o dia. O vigor renovado pelo refúgio onde tinham passado a noite havia lhes permitido ganharem algum tempo. A noite se anunciava, lentamente o manto de Tenebra empurrava Azgher para baixo do horizonte e trazia as estrelas e a lua para o céu de Arton. Estavam agora a cerca de meio dia do penhasco desenhado no mapa de Tork, calculava Nailo. Quando chegassem lá, rumariam para sudeste e em breve poderiam ver a torre que buscavam. Nailo e Relâmpago já tinham voltado ao normal, o lobo ainda um pouco confuso com o que acontecera, mas tranqüilo. Súbito, um tremor fez com que todos parassem.

Eram passos, passos gigantescos, que ecoavam pela floresta ao tocarem o chão como a um tambor. Era um dinossauro. Não tardou até que ele surgisse por trás das árvores, atraído pelo cheiro de carne élfica. Um carnívoro. Corpo alto, esguio, pernas robustas, poderosas, braços pequenos e atarracados, mandíbulas fortes, cortantes. Um t-rex.

_ Comida! – rugiu a fera num idioma que apenas Nailo compreendia pela graça de Allihanna.

Os heróis sacaram as armas, prontos para o combate. Não seria difícil, já haviam enfrentado um mostro daqueles antes e sabiam que tinham condições de vencê-lo se grande esforço. Mas, em sua ânsia por demonstrar seu valor para Keen, não perceberam que o chão continuava tremendo, a ilha continuava retumbando como um tambor.

A primeira flecha ainda não tinha sido disparada quando surgiu a segunda fera. Era ainda maior que a anterior, pernas robustas, o dobro das do tiranossauro. Cabeça alongada, focinho comprido, fino, ameaçador. Braços fortes, com garras do tamanho de espadas, e uma enorme barbatana adornando as costas. Um espinossauro.

O segundo monstro agarrou o primeiro com suas garras. Segurou seu pescoço e mordeu sua cabeça, era quase capaz de engoli-la inteira. Apertou os dentes, fez um movimento com a cabeça e todos ouviram um estalido agudo. O pescoço do tiranossauro se partiu, e a fera despencou inerte no chão. O espinossauro rugiu para o grupo. Não havia palavras apenas exalação de força e brutalidade. E o chão ainda não parara de vibrar.

Nem um décimo de segundo se passou quando o terceiro monstro surgiu. A fera derradeira. Maior que o segundo, incomparável frente ao primeiro. O topo de sua cabeçorra elevava-se além das copas das árvores. Grande como uma cidade. Pernas como torres de castelo, cauda como um navio de grandes proporções, cabeça do tamanho de uma estalagem inteira. Espinhos ósseos por toda parte emergindo de uma carapaça primitiva, bestial e braços atarracados maiores do que casas. Bastou um pisão para transformar o segundo monstro em uma poça de sangue e ossos moídos. Era o Rei, soberano de todas as feras de Galrasia.

_ Fujam! Amigos, corram! Isso é um tiranossauro atroz! Não há como vencer! Corram! – Uma voz surgiu entre o grupo. Não era de nenhum dos elfos, nem de Orion, mas era conhecida. Uma voz cadenciada, musical. Era possível imaginar o som de um alaúde acompanhado daquela voz. Vinha de Orion.

Todos olharam de relance para o humano. Seu colar brilhava como se fosse vivo, pulsando a cada vez que a voz falava. Com seus olhos apurados, Nailo viu uma imagem dentro do pingente. Era um homem jovem que usava um chapéu. Era
Sam.

_ Fujam! – gritou novamente o bardo de dentro do amuleto de Orion.

Fugiram.

_ Vamos confundi-lo! Espalhem-se! – gritou Legolas. O grupo se dividiu. Legolas agarrou-se à vassoura de Anix e os dois voaram para a direita, Squall e Nailo correram para a esquerda, enquanto Orion e Lucano continuaram em linha reta. O monstro vinha no encalço do grupo, cada passo seu iniciava um terremoto, cada balançar de seu corpo derrubava um pequeno bosque. Uma árvore foi arremessada sobre Anix e Legolas, jogando-os adiante, em um precipício. Nailo virou enquanto corria, vendo os amigos sendo atingidos. Pegou a arma do goblin Grinch e preparou para dispará-la na criatura, mas chocou-se contra Squall. Os dois tropeçaram e se engalfinharam, atravessaram uma moita de grama aos tropeços e despencaram no abismo junto com Relâmpago e Cloud. Orion e Lucano estavam próximos e conseguiram parar no último instante na borda do penhasco. Equilibraram-se com dificuldade e evitaram a queda fatal. Um segundo depois surgiu a fera, o Rei da Floresta com suas passadas de trovão e fez desabar o solo da beirada onde estavam os dois heróis. Orion e Lucano despencaram, assim como os outros companheiros, rumo à morte. No alto do abismo o tiranossauro atroz rugiu, espalhando terror e a certeza de que ele reinava absoluto por toda a ilha.

Capítulo 334 – O círculo


Um quarto de hora havia se passado quando o grupo saiu da trilha mágica criada por Marah e chegou a uma colina baixa. Era um morro coberto de grama alta até a cintura, típico de Galrasia, que abrigava em seu topo uma estranha construção: um círculo de pedras. Eram várias pedras altas dispostas em duplas, que circundavam todo o topo da colina. Cada dupla de monólitos era coberta por outra pedra, formando algo como um arco, uma passagem pela qual três homens poderiam passar lado a lado facilmente. Ao redor do círculo e dentro dele não havia animais, e os sons da floresta mantinham-se distantes daquele misterioso lugar.

Obra dos eiradaan.

Era um refúgio, construído há incontáveis eras pela raça eiradaan para algum propósito desconhecido, mas que agora serviria de abrigo ao grupo cansado. Lucano usou sua magia e sentiu uma aura poderosa emanando do lugar, uma aura de vida, de cura.

_ É seguro! – disse o clérigo. – Vamos.

O grupo subiu a pequena elevação e se alojou dentro do círculo. Sentiam um calor reconfortante percorrendo seus corpos, ainda mais poderoso do que o que sentiam no restante da ilha. Seus ferimentos começavam a se fechar lentamente, magicamente e a energia retornava gradativamente aos seus corpos. Sentiram-se seguros, aconchegantes ali, e adormeceram.

A manhã chegou trazendo sol e calor. Era o décimo nono dia do mês de Lunaluz. Fizeram uma refeição rápida, prepararam seus equipamentos e partiram acelerados.

Estavam inteiros novamente, seus corpos plenamente recuperados e curados. O tempo que tinham passado dentro do círculo mágico dos eiradaan tinha lhes feito mais bem do que haviam previsto. Todos os ferimentos tinham se fechado, a energia que lhes fora roubada pelo lago amaldiçoado do cemitério de dinossauros havia retornado e parecia agora multiplicada. Era como se tivessem nascido novamente, como se tivessem despertado para uma nova vida. Porém, talvez por um toque do Deus do Caos, algo mais despertou ali, para bem e para mal.

Anix ia atrás do grupo, sentado em sua vassoura, calado. Sofria em silêncio, observando seu irmão ensinando algo a Nailo:

_ Agora pegue um pelo de Relâmpago, Nailo – dizia o feiticeiro. – Agora me dê sua mão – Squall puxou o braço do amigo, apontando uma adaga para ele. Nailo assustou-se e puxou a mão de volta.

_ Está louco? Quer me matar? – gritou Nailo. Todos passaram a prestar atenção ao que acontecia.

_ Confie em mim. Vou apenas fazer um furinho. Nem vai doer – argumentou Squall. Nailo ponderou um instante e então concordou com o amigo. Squall fez um pequeno corte na palma da mão de Nailo e mandou que ele colocasse ali o pelo que havia retirado de relâmpago. – Agora repita comigo! Nalêe emusjer quusmbia e jusj!

_ O que significa isso? – perguntou o ranger.

_ Força animal, venha a mim. Em dracônico – respondeu o feiticeiro.

Nailo repetiu as palavras concentrado, orando a Allihanna. Então o milagre aconteceu. O tufo de pelos e o sangue brilharam, depois a mão de Nailo, seu braço e por fim seu corpo todo, assim como o de relâmpago. Os dois foram envoltos em um brilho dourado, ofuscante, e transformaram-se em duas esferas de luz pura. As esferas foram de encontro uma da outra e colidiram. Juntaram-se. Uma única esfera restou, maior que as outras duas. Seu brilho foi diminuindo até desaparecer completamente e restar em seu lugar uma única criatura. Era um bípede enorme, alto e largo como um bárbaro. Corpo coberto de pelos prateados, roupa e mochila haviam desaparecido, mesclado-se à nova forma. Braços e pernas vigorosas terminavam em garras poderosas, afiadas como espadas. Cabeça de lobo, focinho comprido que culminava em uma bocarra cheia de presas cortantes, olhos sagazes, élficos. Uma mancha amarela sobre o olho direito trazia a forma de um raio, marca já conhecida de todos.

_ É incrível! – balbuciou Nailâmpago, como seria conhecido, ainda se acostumando à nova boca. – Sinto-me poderoso, Squall!

O feiticeiro apenas sorriu, conhecia exatamente aquela sensação e deliciava-se com ela a cada vez.

O grupo prosseguiu. Nailâmpago ia à frente, guiando-os e brincando com suas novas habilidades, acostumando-se ao novo corpo. Orion vinha logo atrás, acompanhado de Squall, Legolas e Lucano. O humano estava pensativo, intrigado. Segura seu colar, observava-o curioso. Misteriosamente o objeto começara a brilhar intensamente logo pela manhã, após passar a noite no círculo de cura eiradaan. O pingente parecia vivo, prestes a falar a qualquer instante.

Anix continuava na retaguarda, um pouco afastado dos demais, absorto. Levou a mão à testa, sua cabeça doía, latejava, ardia. A dor começara logo que o sol raiara, após passar a noite no círculo, após os sonhos. Como todos os outros, Anix fora curado de todos os seus ferimentos, mas, ao contrário dos amigos, não tivera uma noite tranqüila. Sonhos estranhos haviam o atormentado por toda a noite. Criaturas grotescas, negras, de forma indefinida, emaranhavam-se umas nas outras, enroscavam-se, flutuavam como se estivessem voando ou boiando no ar. Presas afiadas apareciam de tempos em tempos quando parecia distinguir a forma de uma boca se formando no bailado caótico de formas que era seu sonho. E havia olhos. Dezenas de olhos surgiam do emaranhado, estavam por todos os lados, observando-o. Eram olhos malignos, diabólicos. Anix despertara quando os olhos haviam se juntado todos e formado um outro olho gigantesco, amarelado, que o fitava envolto numa esfera negra de maldade.

No início Anix achara tratar-se de mais um sonho premonitório, enviado por algum Deus, Allihanna talvez. Mas, após ver que seus amigos haviam tido uma noite de sono comum e que conversavam animados pela manhã, descartara a idéia. Agora o mago flutuava em sua vassoura mágica, seguindo seus amigos, distante, sofrendo sozinho, confuso. Tinha uma dor latejante por companheira e, de tempos em tempos, sentia uma pontada aguda na testa e então a lembrança do olho vinha à sua mente.

_ Anix! Vai ficar ai o dia todo? Vamos logo, não temos tempo a perder! – seus companheiros chamavam. Anix deixou de pensar na dor e prosseguiu. E o olho voltou a se fechar, por um tempo.

janeiro 29, 2009

Origem da ilha

E, depois de muita espera, finalmente os mistérios sobre a ilha de Galrasia são revelados. Galron, etc., pra quem ainda não leu o suplemento Galrasia: Mundo Perdido, tá ai um resumão. Se você não conhece o livro, corra atrás, tá muito legal, muito bom mesmo, tanto para jogar em Tormenta quanto para colocar um Lost World em qualquer cenário que você use.

Próximo capítulo trará uma noite numa construção eiradaan, que além de curar os heróis, despertará outras coisas que eram consideradas mortas. Perigo para Anix. Também teremos um encontro com o rei da ilha, o Tiranossauro Rex Atroz. (bichão fod@, e os malucos do Trio consideraram ele só nível 12).

Capítulo 333 – Passado e futuro


Tudo começava a ficar claro, finalmente. A ajuda de Glórienn na caverna, as palavras de Allihanna a Nailo e o que ela dissera a Sairf sobre todos os deuses voltarem os olhos para o grupo. O treinamento com Glorin e seus companheiros, o encontro com Yczar, Batloc, Loand, Sam e tantos outros. Tudo tinha um sentido, fazia parte de um grande plano arquitetado pelos deuses, pelo Panteão. Os elfos haviam sido escolhidos para destruir Teztal e cumprido sua missão. Tinham despertado um mal ainda maior e deveriam destruí-lo também. Temiam pelo futuro, mesmo sabendo através de Marah que seriam bem sucedidos, pois conheciam o poder do inimigo, o Destruidor de Mundos, o Tarrasque. Mas suas mentes não se voltavam para ele neste instante, pois tinham preocupações mais urgentes. Orion, Loand, Glorin, Sam, Sairf e muitos outros tinham sido escolhidos e guiados pelos deuses para ajudá-los em sua missão, para treiná-los, combater ao lado deles, para compartilhar o mesmo destino de sofrimento e de glórias. Mas naquele momento não se interessavam por glórias, havia algo mais urgente.

_ Senhora Marah – chamou Nailo. – E quanto ao Zulil? Nós vamos conseguir encontrá-lo?

_ Sim – respondeu a deusa. – Basta que sigam o mapa e as instruções que receberam do troglodita chamado Tork. Ele os conduzirá até a torre onde Zulil está, neste momento, trabalhando para trazer de volta ao mundo o mal que fora a missão primordial de vocês.

Os cinco elfos se olharam, mudos. Nada disseram, não era necessário. Suas mentes tinham o mesmo pensamento. Zulil trabalhava para trazer de volta o objetivo original que lhes fora dado pelos deuses, o ser para o qual tinham sido eleitos como algozes, o primeiro, o maior inimigo: Teztal.

Passado, presente e futuro se juntavam num emaranhado trançado pelos deuses, os heróis finalmente compreendiam o que lhes tinha acontecido e sabiam o que lhes aguardavam, sabiam finalmente qual seria o futuro e, embora Marah lhes garantisse a vitória, ela não seria conquistada sem muito sofrimento.

_ Bem, percebo que vocês entenderam minhas palavras – continuou Marah. A missão de vocês ainda não terminou. Vocês terão que confrontar mais uma vez aquele que os fez escravos, aquele cuja punição foi a missão lhes dada pelos deuses. Essa é sua missão, jovens Escolhidos. Vocês receberam e receberão ajuda dos deuses em sua jornada. Glórienn, Allihanna, Tanna-Toh e tantos outros já os ajudaram. Megalokk, Tenebra e outros se colocaram no seu caminho, para impedi-los, para testá-los. Até mesmo Sszzaas já interferiu em seus destinos, como vocês já devem desconfiar.

Uma imagem se formou nas mentes de todos, a despedida de Laurel, aliado de Zulil, sibilando sua língua como uma serpente um instante antes de atravessar o portal mágico e desaparecer.

_ Cumpram sua missão, e todos vocês, inclusive aqueles que os ajudarem por determinação do Panteão, receberão glórias e a gratidão de mortais e deuses. Tomem essas palavras, esse conhecimento, como meu presente, minha ajuda a vocês e sigam seus destinos – concluiu a deusa.

_ Senhora – suplicou Orion. – Gostaria de saber algo. Valkaria me guiou até meus companheiros, mas ela não aparece na história que nos contou, a não ser como alguém ausente. E Khalmyr e os outros deuses assumiram a responsabilidade de guiar seus filhos, eu inclusive. Agora compreendo que a senhora que me acolheu e que me presenteou com este colar era uma de vocês, Tanna-toh, segundo acredito. Mas não entendo, por que Valkaria e não Tanna-Toh veio até mim na estrada? Por que Valkaria é citada como alguém ausente na reunião do Panteão?

_ Está certo em sua suspeita, Orion. Tanna-Toh encontrou-o e o abençoou com um presente divino que servirá a todos vocês. Sua dúvida quanto à Deusa da Humanidade está correta. Ela não está presente nesses relatos porque é verdade o que diz o mendigo louco da cidade de Valkaria.

Imediatamente Orion se lembrou do período em que esteve na capital do reinado. Lembrou-se de um andarilho que ficava ao redor da colossal estátua da deusa cujo nome batizara a cidade. Um mendigo tido como louco pelo povo que repetia sucessivamente a sua suposta sina. Era um deus maior e junto com Valkaria e um terceiro deus sem nome, se rebelaram contra o Panteão, um episódio conhecido como A Revolta dos Três. Derrotados, Valkaria, Tillian – o louco – e o Terceiro foram punidos. Valkaria fora aprisionada em forma de estátua, até que seus filhos a libertassem de seu cativeiro. Tillian tinha perdido os poderes e a sanidade. E o Terceiro fora punido com o esquecimento completo, banido da existência. Orion agora era um dos poucos mortais a conhecer a verdade. A estátua era na verdade a própria Deusa da Ambição, aprisionada.

_ Senhora, e quanto ao Segê, Coração de Gelo? Ele é aliado? Foi enviado por algum dos deuses? – perguntou Squall.

_ Não foi enviado por nenhum dos Vinte. Mas é aliado de alguém que foi.

_ Senhora Marah – chamou Nailo. – E quanto a essa ilha, Galrasia? Poderia nos explicar o segredo desse lugar? Por que aqui há essas criaturas imensas? Por que a cura aqui é mais rápida?

_ Vou lhes contar a história deste lugar. Ficou acordado entre o Panteão que eu lhes traria respostas, logo, não estarei quebrando nenhuma regra. Entretanto, alerto para que não espalhem o conhecimento que receberão com leviandade.

Marah continuou. Galrasia fora outrora parte de Vitália, o reino de Lena. A Deusa da Vida, a criança inocente que agora colhia flores diante de todos, era respeitada por todo o panteão. Mesmo Sszzaas, ou o próprio Ragnar, Deus da Morte, respeitavam-na e sabiam de sua importância. Pois sem a vida, não haveria a morte, nem mesmo os próprios deuses existiriam. Mas a vida dependia de um fator importante para continuar existindo. A pureza e inocência de Lena jamais poderiam ser maculadas, a deusa menina deveria ser protegida de qualquer intriga que houvesse no Panteão, deveria ser defendida de qualquer perigo, mais que qualquer outro deus. Assim os deuses decidiram criar alguém para proteger Lena e sua inocência, assim nasceu Galron. Galron fora o primeiro dos eiradaan, uma raça poderosa, inteligente e habilidosa, assemelhada aos elfos, criada pelas mãos dos deuses para servir de guardiões para a Deusa da Vida. Com o passar das eras, Galron sentiu-se solitário e recebeu dos deuses uma companheira, Obassa. Juntos os dois fizeram os eiradaan numerosos. Em Vitália os eiradaan construíram e prosperaram. Tornaram-se hábeis em diversos campos, inclusive a magia, e ficaram cada vez mais poderosos. Porém, por meio da intriga de Sszzaas, Galron e os eiradaan foram corrompidos. Consideravam-se prisioneiros ao invés de abençoados pelos deuses. Revoltaram-se. Seu descontentamento chegou aos ouvidos de Lena e sua pureza foi manchada. Lena chorou e o mundo sofreu com isso. Como haviam falhado em sua missão, os eiradaan foram punidos, expulsos para sempre do reino de Lena. Um pedaço de Vitália foi arrancado de sua dimensão e colocado em Arton, junto com todos os eiradaan, onde eles foram aprisionados para sempre. Assim, nascera Galrasia. A ilha era um pedaço do reino de Lena, onde a vida jorrava em abundância. A energia positiva inundava o lugar, fazendo com que tudo crescesse com vigor, saúde, abundância. E em tamanho muito maior. Por causa da energia da própria deusa, da própria Vida, plantas e animais eram gigantescos ali, cura mundana e mágica era ampliada. Galron hoje habitava a imensa torre no centro da ilha, conhecida pelos nativos como Torre da Morte, onde passava a eternidade maquinando maldades. Sua esposa fora transformada em serpente e habitava o vulcão, conhecida e adorada pelos nativos como a Divina Serpente e confundida por muitos estudiosos como uma faceta de Tauron, o Deus da Força. Assim os eiradaan encontraram seu destino final, aprisionados na ilha sem poder escapar. Muitos morreram, outros recorreram a rituais necromânticos para prolongar suas existências e talvez alguns tenham conseguido escapar. Mas sua civilização ruíra como um todo. A floresta engoliu suas cidades e apenas ruínas restaram de sua passagem pela existência.

Marah terminou o relato da sina de Galron e sua raça. Legolas se levantou, deixando um rastro de grama congelada para trás e foi até a deusa.

_ Marah, agradeço pelas informações, mas não podemos perder mais tempo. Temos que prosseguir em nossa jornada – disse o arqueiro. Lucano concordou, colocando-se ao lado do amigo para partirem.

_ Sim, eu sei disso. Seu destino os aguarda logo à frente. Sigam por este caminho e encontrarão um refúgio seguro, obra dos eiradaan, onde poderão descansar e curar seus corpos de todos os males. Lá também irão reencontrar alguém muito querido para vocês.

Marah estendeu a mão com suavidade e a floresta se abriu diante dela, formando um caminho. Legolas e Lucano avançaram, mas a deusa os deteve.

_ Esperem! Antes de partirem, é hora de ganharem outro presente! – disse ela.

Os dois elfos pararam e olharam para trás. Viram a pequena Lena saltitando entre seus companheiros, cantarolando feliz. A menina deusa carregava em seus braços várias pulseiras de flores que ela mesma fizera enquanto todos conversavam. Presenteou cada um dos presentes com uma pulseira, mesmo relâmpago e Cloud foram agraciados. Então ela falou pela primeira vez:

_ Essas flores não murcharão nunca, a menos que suas próprias vidas venham a murchar. Então, se isso vier a acontecer, a pulseira cumprirá sua missão. Agora partam – disse Lena com um sorriso – e tenham uma vida longa e próspera!

Os heróis agradeceram, fazendo uma mesura para as duas deusas e partiram. Antes de sair da clareira, Squall foi até Marah.

_ Senhora, tenho uma última pergunta – disse Squall. – A Senhora disse que Glórienn olha por nós, que ela chorou por nós. Mas eu tenho medo de estar traindo-a. Tenho mesmo de deixar de ser filho dela por querer o poder dracônico que desperta dentro de mim. O que devo fazer?

_ Siga seu coração, jovem Squall! – sorriu Marah. – E lembre-se, não são só os elfos que veneram Glórienn, mesmo um dragão pode ser um devoto da deusa dos elfos, pode viver segundo os ensinamentos da Deusa dos Elfos. Agora vá e que seu coração esteja em paz!

Squall partiu. Seu coração estava em paz, assim como os de seus amigos. Sabiam que tinham o caminho difícil pela frente, mas sabiam também que os deuses olhavam por eles e tinham a esperança de um futuro melhor, de vida e de paz. À frente, Nailo guiava seus amigos, chamando-os, incentivando-os, em sua mente uma certeza: não desejava mais vingança, apenas justiça.

janeiro 28, 2009

Enxurrada de revelações

Para quem queria spoilers, queria entender do que eu falava o tempo todo, quando mencionava surpresas, panteão, etc. Pronto, acabou a espera. Os elfinhos foram escolhidos para dar fim a Teztal. Como durante a missão as bestas iriam precisar acordar o danado do Tarrasque, agora devem também dar um sossega no bichão quando encontrarem ele depois de resgatarem suas mulherzinhas (isso tá um pouco longe ainda). Tudo quanto é npc que apareceu para ajudar (ou atrapalhar) foi conduzido por algum deus até os 5 elfos. O incrível é que eu não tinha planejado nada disso até eles saírem da Forja da Fúria, e tudo deu tão certo que acho que se tivesse planejado com antecedência, não teria funcionado tão bem. Às vezes parece que a campanha tem vida própria, que está fora do meu controle e que tudo o que eu faço é jogar na mesa de jogo algo que já está planejado por alguém. Seriam os Deuses de Arton? Meeedoooooo......Oo
Brincadeira, mas as coisas batem tão certo, as pontas soltas se amarram tão bem que me surpreendo a cada vez. Espero que continue assim até o fim.

Próximo capítulo: mais revelações sobre o paradeiro e as intenções de Zulil, a história de Galrasia, presentes de Lena e o prenúncio do retorno de Teztal (tremam jogadores, huahuahuahuahuahaua)

Capítulo 332 – Panteão


Era o décimo quarto dia sob Altossol. O ano era 1397. O local, algum lugar fora de Arton.

A bela elfa correu pelos imensos corredores de mármore frio e alvo. Estava atrasada. Passava com desdém por aqueles salões gigantescos, todos milimetricamente construídos de forma que cada pequeno detalhe, cada escultura, cada adorno, porta ou janela fosse perfeito. Sim, tudo ali era perfeito e alinhado. Todas as mesas de ébano pela qual passavam tinham número par de pernas, todas iguais entre si e igualmente distribuídas ao redor do móvel. Cada lado de cada sala era exatamente igual ao lado oposto. Cada escultura, quadro ou móvel que houvesse de um lado, teria seu igual do outro lado da sala, em igual posição, como se um lado fosse o reflexo perfeito do outro num espelho. Ela odiava aquilo tudo. Aquele lugar poderia até parecer belo para outra pessoa, mas não para ela. Achava aquela exatidão toda, aquele cuidado obsessivo com a ordem de cada grão de poeira tedioso e desnecessário. E, acima de tudo, injusto, o que contrariava a própria natureza daquele lugar incomum. Toda aquela perfeição e ordem de nada serviram para ajudá-la quando mais precisou, quando seus filhos queridos pereceram. Fora injusto o que acontecera, por isso odiava aquele lugar, considerado um local de justiça. Ainda assim, corria apressada, não pelo atraso, mas por desespero. Seus cabelos púrpuros agitavam-se sob o rufar de seus passos delicados, cada fio descrevendo ondulações que eram igualmente repetidas por algum outro fio no lado oposto de sua bela cabeleira. Seus olhos eram o mais fiel retrato da aflição, assim como era aflito seu coração já tão cheio de dor e sofrimento. Uma gota de lágrima escorreu do olho esquerdo, seguida ao mesmo tempo por outra de mesmo tamanho e forma que escorrida de seu olho direito. Ambos verdes como a mais bela das esmeraldas. Parou. Diante dela uma gigantesca porta de mármore, ricamente trabalhada, dividida em duas partes exatamente idênticas. Havia chegado. Restava agora atravessar aquela porta e lutar de todas as formas possíveis para impedir o destino que se anunciava. Mas, apesar de toda a agonia, ela tinha esperança de que tudo ficaria bem. Tinha confiança em sua superioridade, e na daqueles cujo destino estava prestes a ser decidido que, assim como ela, eram a perfeição. A elfa atravessou as portas à sua frente, fechando-as atrás de si. Uma voz de trovão ecoou, enérgica, quando a porta se fechou.

_ Está atrasada, Glórienn! Mais do que a qualquer outro, o assunto que aqui será discutido interessa a você! Ainda assim se atrasou! – era um homem alto e vigoroso, alojado dentro de uma imponente armadura brilhante, que falava com visível irritação. Não suportava o fato de que a elfa, com seu atraso, tinha perturbado a ordem que imperava em sua morada. Um pequeno homem, vestido em túnicas engraçadas e disformes, sorriu sentado no lado oposto.

_ Ainda assim, ela chegou no horário que eu havia previsto! Seu atraso estava destinado a acontecer! – rugiu um pássaro envolto em chamas que ocupava uma das cadeiras da enorme távola.

_ Eu também já sabia disso! – disse uma mulher muito velha, porém cheia de vitalidade, que tomava parte da reunião – Era fácil deduzir isso, bastava apenas um pouco de conhecimento!

_ Bem, agora isso já não importa! Tome seu lugar, Glórienn! E vamos começar a reunião! – disse Khalmyr, o deus da justiça e da ordem, já mais conformado com o atraso da elfa.

Glórienn se sentou, pesarosa. Odiava estar ali. Odiava aquele lugar e odiava ainda mais aquelas pessoas. Não suportava a companhia dos outros dezessete deuses. Apenas tolerava um ou outro dos presentes e pouca afinidade possuía com eles. E, acima de tudo, ela odiava Ragnar com todas as suas forças. Fora por causa desse ódio e pelo desejo de vingança que um grande mal, um mal rubro que devastava tudo, chegara a Arton. E agora novamente um grande mal estava prestes a surgir no mundo, e precisava ser detido.

_ Como bem sabem, estamos reunidos aqui para decidirmos o destino do escolhido de Azgher e do mundo como um todo – era Khalmyr, dano início à reunião. – Vocês todos já conhecem a história, mas vou repeti-la de forma resumida para que não haja dúvidas – foi interrompido.

_ Permita que eu faça isso, Khalmyr! – uma nova voz imponente se elevou quente e brilhante na sala. Era Azgher. – Como todos sabem, havia em Arton um grupo de mortais que me servia com devoção. Por sua fidelidade e dedicação, decidi presenteá-los com uma dádiva. Essa dádiva seria dada àquele que conseguisse chegar mais próximo de mim na terra onde aquele povo vivia. O escolhido recebeu grandes poderes para que pudesse conduzir seu povo e fazê-lo prosperar. Entretanto, em sua busca pela dádiva, o escolhido escavou mais profundamente que devia a montanha de sua terra e encontrou algo que deveria permanecer oculto. Seus poderes foram aumentados, assim como sua ganância. E, ao invés de levar seu povo à glória, o escolhido conduziu-o à perdição e à destruição. E agora, com os poderes que conseguiu, o escolhido tornou-se uma ameaça, não só para seu povo, mas para o mundo como um todo.

_ E ele deve ser detido e punido! – o deus da justiça voltou a falar. – Entretanto, a promessa de um Deus não pode ser quebrada, portanto, Azgher não pode simplesmente retirar do mortal os poderes que ele recebeu como dádiva. Nenhuma condição foi imposta para o uso destes poderes, portanto, não há porque removê-los. Além disso, todos sabem que não podemos interferir nos assuntos dos mortais. A resolução deste problema cabe aos mortais.

_ Então não há o que fazermos aqui. Retornemos às nossas moradas para assistir ao que se sucederá, às gloriosas batalhas que surgirão em decorrência deste erro de Azgher! – outra voz trovejou no salão, ecoando igualmente por cada milímetro do lugar. Era Keen, o deus da guerra.

_ Eu concordo com isso! – riu o homenzinho no lado oposto a Khalmyr. Era Nimb, deus com caos. – Vamos deixar o Caos se espalhar e comemorar. Afinal, o Caos começou tudo isso, tirando a situação do controle de Azgher, então ele deve terminar isso. Ou não?

Um burburinho tomou conta do salão. Os deuses discutiam entre si. Alguns, como Hynnin e Ragnar, concordavam com Nimb e Keen. Outros, como Lena, Tanna-Toh, Marah e Allihanna, tinham certeza que o mortal deveria ser detido. Glórienn apenas desejava que seus filhos fossem poupados do sofrimento que poderia nascer daquilo tudo.

_ Silêncio!!! – ergueu-se uma voz acima das outras. Era Thyatis. – Vocês não sabem do que falam. Eu olhei para o futuro e só enxerguei ruína. Não apenas para os mortais, mas também para os deuses. O mortal em questão não se deterá em sua ilha. Irá avançar pelo mundo, desencadeando uma guerra de enormes proporções. Eu vejo que seus poderes aumentarão cada vez mais, à medida que ele avançar e conquistar aliados e nações. Ele se unirá à horda negra para devastar Arton e, quando a flecha de fogo for disparada, ele trairá e destruirá a Foice de Ragnar. A guerra, a destruição, a morte e o caos tomarão conta de tudo. E quando o mortal a quem chamam Teztal queimar todos os estandartes dos povos civilizados, ele irá de encontro ao mal rubro. E a ele o escolhido se unirá, para marchar em uma nova guerra, a última e decisiva guerra. A guerra contra nós. E eu vejo que nenhum dos aqui presentes, nem dos dois que não estão, mas cujas cadeiras permanecem à sua espera, nenhum de nós sobreviverá! Será o fim de tudo. Não haverá mais vida ou morte, caos ou ordem, guerra ou paz, luz ou escuridão, apenas um vermelho infinito reinará absoluto numa realidade onde nada do que há hoje existirá!

O silêncio tomou conta do salão. Todos sabiam que o que a Fênix dizia se tornaria real, sabiam que o que ela via era o que aconteceria, caso não intercedessem imediatamente. Então um dos deuses se pronunciou.

_ Um grande general sabe quando deve vencer uma guerra antes mesmo que a primeira batalha ocorra – era Keen. – O que faremos, então?

_ Eu vi o futuro. E vi que cinco mortais caminham agora ao encontro do escolhido! – disse Thyatis. – Como alguns de vocês sabem esses mortais são cinco filhos de Glórienn e seus caminhos se cruzarão e os levarão até onde está o humano chamado Teztal. Nenhum dos cinco possui grandes poderes no momento, mas todos têm enorme potencial e segredos ocultos deles próprios e poderão chegar a conquistar lugar entre os grandes de Arton. É possível que eles possam realizar a tarefa de parar as maquinações de Teztal antes que ele se torne poderoso demais.

_ Não podemos interferir diretamente, mas poderíamos guiar esses mortais para que eles cumpram a missão.O que acham? – perguntou Khalmyr.

_ Que seja feito! Eu elejo os cinco filhos de Glórienn, então, como meus escolhidos, para realizarem esta missão – era Azgher.

_ NÃO!!! – gritou a deusa dos elfos, com a aflição de uma mãe que projete um filho. – Não!!! Não é justo! Meus filhos já sofreram demais e vocês não fizeram nada para interferir, para ajudá-los! Não aceito que agora, por causa de um erro de Azgher, eles sejam usados por ele para fazer o seu serviço sujo!

_ Acalme-se Glórienn! – protestou Thyatis. – Não foi por erro de Azgher ou por ação do caos que seus filhos foram envolvidos nessa situação. Foi por algo maior e inexorável, foi pelo Destino. Era o destino de seus filhos serem escolhidos pelo Deus-Sol para realizarem esta tarefa. Eu olho para o futuro e vejo que isto é o que acontecerá.

_ Procure entender, irmãzinha – uma voz trovejou com doçura ao lado de Glórienn. – É necessário que eles façam isso, mesmo que venham a sofrer. Ou então não só os seus ou os meus filhos deixarão de existir, mas nós e tudo o que criamos desaparecerá para sempre. E, lembre-se, basta que você aceite minha proteção e eu protegerei os seus filhos – o deus com corpo taurino tentou acariciar a elfa. Já aos prantos, Glórienn recusou o afago de Tauron.

_ Então está decidido! Os cinco filhos de Glórienn serão guiados por Azgher nesta missão. E tudo retornará à ordem, como deve ser! – disse Khalmyr, levantando-se da mesa e dando a reunião por encerrada.

_ Esperem! Eu olho para o futuro, e vejo que os filhos de Glórienn, agora os Escolhidos de Azgher, não apenas cumprirão a missão, como também despertarão outro mal sobre Arton como conseqüência de sua demanda. Um mal adormecido há séculos, que os mortais chamam de o Destruidor de Mundos! – disse a Fênix.

_ Bastou um simples bater de asas de um inseto para criar uma gigantesca tempestade. Agora sim podemos assistir ao caos tomando conta de tudo! - comemorou Nimb.

_ Silêncio! Esse mal também deverá ser detido! E se os filhos de Glórienn forem os responsáveis pelo seu despertar, também deverão se responsabilizar por sua destruição! – Disse Khalmyr

_ NÃO!!! – gritou a elfa. – Isso é injusto, Khalmyr! O Destruidor de Mundos não! É crueldade jogar meus cinco filhos contra esse monstro! Não é justo!

_ Tem razão! Talvez seja uma tarefa muito dura para eles agora, e talvez continue sendo assim, quando se tornarem grandes. Mas, se conseguirem cumpri-la, receberão recompensas a altura de seus feitos no final! – respondeu o deus da justiça.

_ Mesmo assim! É muito cruel! Se eles tiverem que fazer isso, eu irei ajudá-los! – protestou novamente Glórienn.

_ Não pode! Sabe que não podemos intervir diretamente! – disse Khalmyr.

_ Tem razão, Khalmyr. Mas meus devotos podem. Eu entendo a dor de Glórienn, e irei ajudá-la e a seus filhos. Guiarei um de meus devotos para encontrá-los e auxiliá-los, fornecendo a maior das ajudas: conhecimento! – falou Tanna-toh.

_ Se interferir, velha, eu também o farei. Mandarei meus filhos avançarem sobre os de Glórienn. Isso equilibrará as coisas, da maneira como Khalmyr gosta! – rugiu Ragnar.

_ Eu também vou interferir. E de maneira mais direta. Há uma de minhas filhas naquela ilha. E se o Destruidor realmente despertar, ela precisará ser salva. Se eles a salvarem, eu os ajudarei como retribuição. Isso não violará as regras. – disse Allihanna.

_ Suas crias exóticas ainda trarão grandes problemas ao mundo. Eu vejo isso no futuro. Mas isso é discussão para outra ocasião. Quanto aos filhos de Glórienn, meus servos também estarão à disposição deles, quando precisarem. E eu vejo que irão precisar. Também olharei o futuro deles e o revelarei a Allihanna. Já que ela entrará em contato direto com os escolhidos, ela que lhes diga o que o Destino reserva lhes reserva! – falou Thyatis.

_ Pois então, se o futuro for revelado aos jovens escolhidos, eu pessoalmente irei providenciar que isso seja feito de forma indireta, através de enigmas. Atuarei ao lado de Allihanna para tornar as revelações enigmáticas. Afinal, antes de receberem tanta ajuda assim dos deuses, eles devem se mostrar dignos de recebê-la. Caso contrário, eles estariam trapaceando os deuses, e isto é algo que somente este humilde bufão tem o direito de fazer! – era Hynnin.

_ Hynnin está certo! Que os filhos de Glórienn sejam testados, então. Eu guiarei meus seguidores e os testarei em combate! – bradou Keen.

_ E eu testarei e avaliarei a força dos seus filhos, Glórienn. Se eles se mostrarem fortes, os ajudarei. Mas se forem fracos, serão escravizados e protegidos por meus filhos! – era Tauron.

_ Também quero testá-los. Veremos se eles serão capazes de confrontar meus filhos! – rugiu Megalokk.

_ E em meus domínios eles também serão testados e lá também encontrarão recompensas e aliados caso sejam aprovados no teste! – disse Oceano.

_ Pois eu os ajudarei. Há entre eles pelo menos um que é meu devoto. Minha dádiva e meus seguidores estarão à disposição para ajudá-los. – era Wynna.

_ Não irei interferir. Apenas observarei e medirei a coragem dos escolhidos. Que eles vençam com honra os desafios que receberão, e que sua recompensa seja igualmente grande. – dessa vez foi Lin-Wu quem se pronunciou.

_ Também me manterei neutro. A única prova que imponho a esses jovens mortais é a missão que receberão! Mas, se um dia os escolhidos se perderem, minha luz servirá para lhes mostrar o caminho! – disse Azgher.

_ E minhas trevas irão colocá-los à prova! – completou Tenebra.

_ Eu lhes darei a maior das dádivas, quando tiverem cumprido a missão. A vida. Muitas vidas novas virão deles! E zelarei para que suas próprias vidas não sejam tiradas durante a jornada! – dessa vez era uma voz de menina. Lena, a deusa da vida.

_ E eu apenas rolarei meus dados. Se sair número par, eles terão muita sorte. Se o resultado for ímpar, estarão num dia de azar! – era Nimb, rindo.

_ E eu levarei paz aos seus corações no momento em que mais precisarem. Pois suas provações serão grandes e antes do fim eles precisarão de consolo! – agora era Marah, a deusa da paz.

_ E eu olho para o futuro e vejo que a vontade de Sszzaas também irá se manifestar. Os seguidores do grande Corruptor atuarão espalhando sua intriga e dificultando a jornada dos escolhidos! – Thyatis novamente tomou a palavra, deixando os deuses apreensivos.

_ E eu serei justo, como sempre. E zelarei para que cada provação tenha em contrapartida um auxílio de igual intensidade. E, como sei que Valkaria também irá querer ajudá-los, já que são aventureiros como ela, guiarei os filhos da deusa da ambição para fornecerem ajuda aos escolhidos! – era Khalmyr.

_ Há um dos filhos de Valkaria cujo caminho cruzará com o dos escolhidos. Deixem-no sob minha responsabilidade. Ele é um de meus devotos, assim como de Oceano, e eu o encaminharei ao encontro dos escolhidos para ajudá-los! – disse Wynna.

_ Também há outro humano que eu me encarregarei de guiar, além daquele que me serve. Ele é um guerreiro que teve uma vida sofrida e merece participar dessa jornada e receber uma recompensa por todo o sofrimento que teve e terá daqui por diante! – falou a deusa do conhecimento.

_ Guiarei um dos filhos de Valkaria o qual é meu servo. Seu caminho encontrará o dos escolhidos e ele lhes prestará auxílio. E um dos meus próprios filhos será encaminhado para ajudá-los e instruí-los. E outros que me servem ou que sejam filhos de Valkaria, como um humano cuja sina agora depende da ajuda dos escolhidos, serão guiados por mim em auxílio dos filhos de Glórienn. Que seja feito então! Que os Escolhidos de Azgher, os filhos de Glórienn, cumpram a missão que lhes é dada! Que eles destruam o mal em ascensão e que destruam também aquele que eles despertarão! Que os deuses os testem em sua jornada até o final da demanda, e os ajudem de maneira justa! E, no final, que eles recebam desses mesmos deuses a justa recompensa por seus préstimos! Que seja escrito, e que se cumpra! – e Khalmyr encerrou a discussão.

_ Está certo, então! Que meus filhos sejam usados e testados por vocês, como quiserem, pois eles são a perfeição e no final terão de volta tudo aquilo que perderem! – os protestos e as lágrimas cessaram. Dessa vez Glórienn sorria. Em seus olhos havia agora apenas esperança.

Paguei pau sim, e daí?

". É a história do que aconteceu, do que está acontecendo e do que irá acontecer. E ela começa assim:"

É isso que estão pensando (aqueles que já tiveram a felicidade de ler O Terceiro Deus), paguei pau pro Leonel Caldela. O cara é fod@ e O Terceiro Deus (aliás, a trilogia toda) é do car@leo. Quem não leu ainda, corra atrás pois vale muuuuuuuuuuuuito a pena. Estou em estado de choque até agora pelas coisas que li (Arton virou de ponta-cabeça) e aguardando ansiosamente pelo futuro lançamento de algum suplemento atualizando o cenário com os eventos ocorridos no livro (seja bem vindo Kalyadranoch). E se o Leonel algum dia esbarrar com esse blog e parar para ver do que se trata, cara, meus parabéns, você merece!

Próximo capítulo: Panteão (finalmente ^_^)

Capítulo 331 – Vida e Paz


Caminharam conduzidos à melodia que se fazia presente por toda a ilha, dominados, arrastados por ela. Sentiam-se bem, apesar de escravizados pela música, sentiam-se bem. Estavam em absoluta paz, seus temores haviam cessado, não tinham mais preocupação com o ambiente ao redor, não sentiam ameaças vindo da selva. Apenas paz. Súbito, um enorme dinossauro cortou a frente do grupo. Um carnívoro. Olhou-os por um instante e no seguinte já tinha desaparecido através de uma moita imensa, em direção à música. Além da moita havia um brilho fantasmagórico, pálido, que os atraia e acalmava tanto quanto a música que ouviam. Seguindo o monstro, atravessaram a moita e chegaram a uma clareira. O que viram deixou-os atordoados.

Era um espaço amplo, com poucas árvores esparsas. Grama crescia farta por todos os lados e junto a ela flores coloridas exalando um perfume doce. À esquerda viram o monstro que passara por eles abaixado ao lado de um herbívoro, dócil como um animal doméstico. Diante das criaturas, uma garota humana rodopiava ao ritmo da melodia. Com sua mãozinha pequena alisava a cabeça do carnívoro que parecia acompanhá-la na dança, agitando o corpanzil de um lado para o outro. A garotinha olhou para os heróis e sorriu com inocência. Não deveria ter mais que nove ou dez anos, cabelos ruivos cortados na altura dos olhos de um tom verde profundo como a floresta. Vestido branco, verde e amarelo formando um mosaico alegre como ela própria. Encantadora, irresistível.

Ao olharem para a garota, ficaram paralisados, suas mentes invadidas por idéias, desejos. Desejavam ter filhos, muitos, cultivar florestas inteiras, criar animais, abandonar as armas para sempre. Desviaram o olhar com esforço. Viram na borda oposta da clareira a dona da voz maravilhosa, dedilhando uma harpa dourada com maestria sentada sobre uma rocha recostada numa árvore. Era uma mulher, jovem, na idade de casar, humana. Cabelos e olhos castanhos, como amêndoas, pareciam brilhar na noite. Trajava um vestido branco, que brilhava. Emitia uma luz alva que iluminava a grande distância sem ofuscar, ao contrário, acalmava.

Congelaram. As armas foram esquecidas, o pouco que sobrava delas em suas mentes era como uma memória de algo fútil, desprezado. Queriam prostrar-se, entregar-se à dama de branco diante de seus olhos. Sentiam desejo de amar, seus corações endurecidos nos últimos dias inflamaram-se novamente. Pensavam em abandonar as armas, deixar o sofrimento para trás, perdoar seus inimigos e viver suas vidas em paz. Tudo durou apenas uma fração de instante. Tinham uma missão a cumprir. Não haveria amor, nem paz, enquanto não resgatassem aquelas que amavam das mãos do inimigo. As lembranças da missão retornaram numa torrente, mas a sensação de paz permaneceu e a dor da perda e o desejo de vingança, diminuíram.

_ Sejam bem vindos! – saudou a mulher ao encerrar a canção. Sua voz era como a maior das orquestras elfas de outrora. – Estava à sua espera, Escolhidos!

­_ Bem vindos a onde? – perguntou Anix. – O que é este lugar?

_ Apenas um lugar de paz, onde vocês poderão retomar o fôlego antes de seguirem em sua jornada, Anix. Descanse um pouco, pois o caminho à frente será duro – respondeu a mulher num sorriso radiante.

_ Não podemos ficar – disse Legolas, frio como o gelo. – Agradeço o convite, mas não tenho tempo a perder. Não posso parar para retomar fôlego, pois enquanto eu respiro aqui, minha esposa não mais respira.

_ Sei de sua dor, Legolas – disse ela. – Por isso estou aqui. Não vou lhes tomar mais do que alguns instantes, enquanto se recuperam do revés que tiveram agora a pouco e enquanto lhes conto uma história que é do interesse de todos vocês.

_ Como sabe nossos nomes? – perguntou Anix. Legolas sentou longe dos outros, concentrando-se no que aprendera com Glorin, congelando a grama enquanto os outros paravam para ouvir.

_ Sei tudo sobre vocês, acompanho sua jornada desde o início e venho aqui hoje para lhes trazer um pouco de paz e consolo e para lhes responder a muitas perguntas que estão em suas mentes.

_ Obrigado, senhora Allihanna! – disse Nailo, fazendo uma mesura.

­_ Não sou Allihanna, Nailo – corrigiu a mulher sem desfazer o sorriso.

_ E quem é você então? – perguntou Orion. Lucano se curvava, já conhecendo a resposta.

_ Sou Marah. E aquela é Lena!

Marah era a deusa da Paz, do amor. Lena era a deusa da vida, da fertilidade, das colheitas. Ambas regiam aspectos intimamente ligados, portanto, eram aliadas. Seus servos eram proibidos de lutar, causar qualquer ferimento alheio. “Antes perder a própria vida que tira-la de alguém” era o lema de Lena. Em um panteão com deuses guerreiros como Keen, Tauron ou mesmo Khalmyr, as duas equilibravam o jogo de poder. Marah, assim como seus servos, exalava uma aura de paz insuperável. Impossível sacar uma arma ou ter qualquer intenção hostil em sua presença. Atacar alguém então, era algo impensado, um conceito que deixava de existir. A deusa falava com encanto avassalador, respondendo a muitas questões:

­_ Como disse, vim para lhes trazer consolo, Escolhidos de Azgher. Sua dor é grande, suas perdas irreparáveis. Mas trago-lhes o consolo neste momento de dificuldade. Sei o que aconteceu com suas esposas, sei que seus corpos estão em Tollon, repousando o sono dos mortos. Sei também que suas almas estão presas, impedidas de retornarem ao mundo ou seguirem para os reinos dos deuses. Sei que seu amigo, Sam, partilha o mesmo destino trágico que elas – uma pausa. Marah olhou para Orion por um instante, baixou o olhar em direção ao seu peito, parou por um instante e desviou o olhar, encarando cada um dos elfos. Lena saltitava feliz, colhendo flores. – Mas saibam que ele sempre esteve com vocês – pausa, olhar fixo em Orion – nos seus corações. E sei de muito mais. Thyatis revelou o que o futuro lhes reserva e eu vim ao mundo para lhes contar o que a Fênix viu. Vocês terão grandes provações em sua jornada, mas após todos os desafios que os deuses lhes impõem, vocês sairão vitoriosos, e terão, enfim, paz.

Pausa. Os elfos atentos, maravilhados, confusos.

_ Saibam que os deuses olham por vocês. Mas, não podemos interferir na jornada de vocês mortais, não podemos ajudá-los diretamente, pois essa missão é de vocês e são vocês quem devem cumpri-la. Ainda assim, vocês receberam ajuda divina, Allihanna já os ajudou, Thyatis, Oceano, Tanna-Toh, Khalmyr e até mesmo Nimb. Mas existem regras as quais nem o Panteão pode quebrar, por isso, nossa ajuda é limitada. Glórienn, acima de todos, é a mais proibida de ajudá-los.

_ Mas, senhora, quando estávamos indo resgatar a esposa de Legolas, enfrentando Escamas da Noite, sentimos algo mais, uma força nos ajudando naquele momento. Do contrário, não teríamos vencido aquele monstro. Sempre achamos que tinha sido Glórienn. Estávamos enganados então? – perguntou Anix.

_ Não, vocês acertaram. Mas aquela foi a única ajuda direta de Glórienn. Mesmo assim, a intervenção dela naquele momento não teve a ver com a missão principal e estava dentro das regras do Panteão.

_ E quanto a Dililiümi? Laurelin me disse que tinha sido presente de Glórienn? – perguntou Lucano.

_ A espada que carrega é obra de um mortal, não de Glórienn. Apesar de ela ter encaminhado a espada até suas mãos, isso não foi uma intervenção direta. E, além disso, você passou por uma grande provação até consegui-la, mereceu-a.

_ E que missão principal é essa que a senhora mencionou? – perguntou Nailo.

_ Vou lhes contar a história, foi também para isso que vim aqui, não só para revelar que vocês terão sucesso, mas também para fazer com que entendam tudo o que está lhes acontecendo. Este é o meu presente, meu auxílio a vocês. É a história do que aconteceu, do que está acontecendo e do que irá acontecer. E ela começa assim:

janeiro 25, 2009

We are back again!

Estamos de volta! De novo e de novo. Daqui a pouco estarei postanto outra vez algo do tipo "férias de novo" "estamos de férias", etc. Mas esse ano a coisa vai pra frente. Grande parte dos impecílios que atrapalhavam o andar da campanha foram removidos, resolvidos. Sobrou apenas um, meu emprego, hehehe. Agora tenho que encontrar uma forma de ganhar dinheiro legalmente sem ter que ficar 12 horas preso a uma bola de ferro gastando meus neurônios para enriquecerem os bolsos e alguém que não merece. Enquanto não recebo uma luz, só o que posso fazer é manter-me atento e enviar currículos. Aliás, se alguém ai quiser me contratar é só falar, hehehe, estou aceitando propostas.
Quanto à campanha, os heróis finalmente chegaram ao cemitério dos drag...dinossauros (aquele episódio de Caverna do Dragão não sai da minha cabeça, é o melhor). Tomaram umas porradas de um morto-vivo fodão, Squall resistiu ao seu medo, Anix e Nailo perderam níveis dentro do lago. No próximo capítulo (vida e paz) encontrarão pessoas ilustres e muitas coisas se revelarão para eles. Finalmente entenderão porque estão no mundo e porque se tornaram aventureiros e a resposta tem a ver com os deuses. Depois teremos o aguardado capitulo Panteão, no qual tudo será revelado (ou ao menos 90%), cheio de surpresas para todos (os jogadores quase tiveram um troço, hehehe).
Bom é isso, durante a semana tem mais.

Capítulo 330 – Terra dos mortos


Continuaram. Caminharam por todo o dia, o calor antinatural de Galrasia castigava seus corpos, sufocava-os e exauria o pouco de forças restava em suas almas rachadas. Nuvens negras os ameaçavam a cada vez que se tornava possível um pequeno vislumbre do céu além da folhagem. Nailo ia à frente, guiando-os por caminhos seguros, porém tortuosos, evitando perigos naturais e todo tipo de feras que habitavam a ilha.

Ao final do dia estavam todos exaustos, ansiando por um lugar seguro onde pudessem acampar e descansar. Anix implorava a Nailo para que esquecessem os perigos e tomassem o caminho mais curto, que os conduzisse mais rapidamente a uma boa noite de sono e assim ele fez.

O grupo avançava rumo ao desconhecido, cada vez mais lento. Subitamente, Nailo parou.

_ Parem! Façam silêncio – sussurrou o ranger. – Ouçam! Estão ouvindo isso? – perguntou por fim.

Todos ficaram quietos, estáticos. Após vários segundos de espera, Anix falou:

_ Não ouço nada, Nailo. O que é?

_ Também não ouço nada. Nenhum de vocês está ouvindo também, porque os sons da floresta cessaram há alguns minutos. Não há criaturas vivas por aqui. Achei que fosse algo temporário, mas não era. Este local está deserto – explicou Nailo com ar de preocupação.

_ E o que significa isso? Não é um bom sinal? Assim os monstros não nos atacarão – disse Lucano. Nailo fez que não.

_ É um péssimo sinal. É sinal de que este não é um lugar seguro, nem mesmo para os monstros daqui. Eles temem este lugar.

_ Então vamos logo embora daqui, ao invés de ficarmos aqui conversando – era Legolas. Todos concordaram, Nailo fez um gesto com o braço, chamando os companheiros.

_ Venham, em silêncio.

Os heróis continuaram, desta vez mais apreensivos. Armas em punho, prontas para atacar, ouvidos atentos a cada ruído, olhos despertos, procurando algum possível inimigo. Alguns poucos minutos bastaram para que chegassem a uma clareira. Nailo interrompeu a jornada, olhou ao redor, ouviu. Tudo quieto. Relâmpago farejou o ar, e se encolheu assustado. Cloud enroscava-se no cabelo de Squall, tentando esconder-se de algo. Nailo deu um passo à frente, depois outro, e mais outro, até sair da mata e chegar à clareira. Fez um gesto de mão e os outros o seguiram. Tiveram uma visão assustadora.

_ Agora sei onde estamos e sei por que os monstros não chegam perto daqui – disse Nailo. Isso é um cemitério!

Era uma área descampada, sem vegetação alguma, que se estendia até onde a visão alcançava naquela escuridão. Formava um círculo profano, cravado no meio da ilha de Galrasia. Havia um lago no centro, águas escuras, sombrias. Por todo o lugar, carcaças de variados tipos de criaturas se amontoavam. Restos de dinossauros, ursos, serpentes, insetos gigantes e todo tipo de ser que possuíra vida, jaziam por toda parte. Alguns já muito antigos, desgastados pelo tempo, irreconhecíveis. Outros recentes, ainda com carne, pele, recobrindo os ossos. Distante dali um imenso lagarto-trovão caminhava a passos lentos em direção ao lago. Deitou próximo à margem e ali permaneceu. Viera para morrer.

_ Esse lugar não é bom. Vamos logo embora daqui – disse Squall, temendo que alguma das ossadas se erguesse contra eles.

_ Sim, vamos. Em silêncio – era Nailo. Avançaram rumo ao centro, em direção ao lago. Ruídos vindos da esquerda alarmaram o grupo. Eram sons de bocas mastigando, de criaturas rastejando. Nem tudo ali estava completamente morto.

_ Vamos por cima do lago, voando – sugeriu Anix.

­_ Não, pode ser perigoso. Pode haver monstros dentro desse lago – disse Legolas.

_ Sim. E mais do que isso. Sinto uma aura maligna emanando desse lago. Um poder das trevas – Alertou Lucano.

_ Se ficarmos muito tempo por aqui, seremos atacados. Decidam logo – disse Nailo.

_ Vou investigar a água – falou Orion. – Vou ver se o lago é fundo, se é capaz de comportar alguma criatura que nos ameace.

Lucano desaprovou a idéia com um gesto, mas era tarde. O guerreiro se abaixou diante da água negra que refletia a lua em escudo como um espelho e a tocou. Sentiu um calafrio percorrendo todo o corpo, sentiu o ar lhe escapar do peito, como se uma mão o penetrasse e apertasse seus pulmões, seu coração. Anix viu o humano sufocando e o puxou, Orion recuou cambaleando, tropeçou num osso no chão e caiu. Lascas voaram, se chocaram com ossadas próximas. Uma delas, fragilizada pelo tempo, ruiu sobre o guerreiro e o mago. Os dois rolaram, evitando serem soterrados, escapando com pequenas escoriações. O som dos ossos caindo reverberou por todo o cemitério, os aventureiros tentaram fazer o som se calar com um chiado. Mas, era tarde. Sua presença já tinha sido notada.

Ossos ergueram-se do solo sobrenaturalmente, juntando-se um a um em um corpo cadavérico de dinossauro. Era gigantesco, um bípede de braços e pernas alongados, cheios de dedos com garras afiadas. Crânio de focinho comprido, como o de um crocodilo, cheio de dentes como facas. Cabeça e costas repletas de ossos pontiagudos que miravam o céu, formando a estrutura outrora recoberta de pele e escamas. Os heróis viram e reconheceram a espécie, era o mesmo tipo de criatura que tinham enfrentado no rio, mas desta vez, era um morto-vivo.

_ Leusa Thiareba! – gritou Legolas, descartando o silêncio e apontando o arco para a criatura que os encarava com orbes vermelhas brilhantes como fogo. Um turbilhão de ar frio, neve e lascas de gelo atingiu o monstro, mas passou por seus ossos e além, sem causar-lhe qualquer dano.

A espada de Orion arrancava lascas da perna óssea. Também ineficaz. Lucano ergueu o medalhão, o arco que simbolizava Glórienn apontado para a criatura, ordenando que se afastasse. Não funcionou. Anix tentou uma magia, transformar o esqueleto em algo menor, menos ameaçador. Falhou.

Mas o monstro não.

As garras da fera tingiram o chão com o sangue de Legolas e Squall e sua bocarra se fechou sobre Nailo, rasgando seu ventre enquanto o erguia do solo. Nailo estava agarrado pela mandíbula do morto-vivo, completamente preso. Mas não estava indefeso.

_ Ëüpü nabirga-já! Fogo levante-se! – gritou o ranger, fazendo um movimento ascendente com suas espadas gêmeas. A natureza curvou-se ao pedido do herói e chamas se formaram no solo e se ergueram, atravessando a besta esquelética, carbonizando seus ossos. Pedaços de carvão em brasa caíam no chão, ossos destruídos. Contudo, o monstro continuava lutando. Tinha Nailo ainda em sua boca.

Squall tornou-se dragão, Cloud voou para longe, para segurança. O dragão saltou sobre o dinossauro, asas, garras, cauda e presas quebrando ossos num frenesi bestial. Espadas chocavam-se na criatura, causando pouco dano, mas ainda assim dano. Anix concentrava sua mente, preparava uma magia, e esperava um sinal, os ataques de Legolas e Squall, que seriam combinados com seu poder para destruir o inimigo, ataques que nunca vieram. Pois a fera sacolejou a cabeça óssea num movimento brusco e abriu a bocarra soltando Nailo, arremessando-o, dentro do lago.

Nailo caiu na água escura, trinta metros longe da margem. Sentiu seu corpo esfriar, o ar lhe escapar e sua vida sugada. Sua energia vital era drenada pelo lago. Se permanecesse ali, morreria. Gritou por socorro enquanto nadava para a margem, seu corpo cada vez mais pesado, cada vez mais perto do fim. Squall atendeu ao chamado, abandonando o plano do irmão para salvar a vida do amigo. Uma garra cortou-lhe o couro das costas, arrancando preciosas escamas vermelhas logo após sangrar Orion e Legolas. Mesmo assim, o dragão agarrou Nailo e o ergueu das águas mortais, fazendo um arco e retornando para a areia estéril onde a batalha parecia não ter fim.

Legolas saltou no monstro, agarrando-se a uma costela. Foi rasgado novamente, mas resistiu à dor e escalou o interior do monstro, golpeando-o por dentro com a espada. No chão, Orion trabalhava como um lenhador, vencendo pouco a pouco a resistência do tronco ósseo que era a perna da criatura. Quando conseguiu quebrar o primeiro osso, foi agarrado. O dinossauro o agarrou com os dentes e arremessou o guerreiro sangrando dentro do lago. Tal qual Nailo, Orion começou a morrer.

Anix circundou o inimigo voando em sua vassoura, recitou um feitiço e as pernas do monstro foram presas em teias mágicas. Tentou se aproximar para um novo ataque, e foi atingido por uma garra veloz que lhe perfurou o ventre. A mandíbula já se fechava sobre o mago quando Squall chegou do céu num mergulho, cuspindo fogo e soltando Nailo sobre o inimigo. As chamas calcinaram ossos, chegaram a Legolas, envolto em uma aura de frio, e o feriram também. Ao mesmo tempo, Nailo despencava, golpeando com as rosas gêmeas, usando a velocidade da queda a seu favor, aumentando a potência dos ataques. Encontrou o chão, duro. Sentiu uma fisgada na perna, músculos se rasgando com o impacto, ergueu as armas, pronto para um novo ataque. O inimigo também.

Os dentes se encontraram novamente. Entre eles carne de elfo. Anix. Foi arremessado, começou a morrer. Estava dentro da água. Anix gritou um comando mágico, chamando a vassoura voadora. Agarrou-se a ela e começou o caminho de volta para a margem. Squall também, trazendo Orion em suas costas, pálido como um cadáver.

_ Pessoal! Preparem-se, vou lançar minha bola de fogo mais poderosa! – gritou Anix. Legolas, montado sobre o dinossauro, Levantou-se cessando as estocadas no pescoço do inimigo. No chão, Nailo continuava atacando. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Uma bola de chamas explodiu como nenhuma outra que eles tinham visto antes, as mãos de Anix faiscavam poder mágico. O sexto golpe, as pernas do monstro se partiram, trespassadas pela espada de Nailo e o corpo esquelético desabou, ruiu sobre si mesmo. Lascas pontiagudas voaram quando o impacto contra o chão destruiu o corpo do monstro. Perfuraram Nailo e Legolas, apenas ferimentos superficiais, ignorados pela sensação que sentiam agora. Vitória! Do inimigo restava apenas uma pilha de ossos partidos, inerte.

_ Vamos depressa! Vamos sair desse lugar maldito! – comandou Legolas. Anix e Lucano atravessaram o lago montados na vassoura mágica. O dragão que era Squall levava Orion nas costas, acompanhado de Cloud. Legolas, Nailo e Relâmpago iam logo atrás, flutuando pela ação da magia de Anix. Num minuto estavam do outro lado. Passaram perto do dinossauro que viera morrer e presenciaram seu último suspiro. Sobrevoaram a areia infértil, ossos, terra e chegaram à floresta. Sentiam-se mais seguros ali, mas ainda não estavam a salvo, continuaram. Dez minutos de caminhada apressada se passaram, os sons da floresta retornaram, junto com a vida e os perigos que Galrasia abrigava, para alívio de todos. Mas havia algo mais. Um som difuso, que contrastava com os rugidos, chiados e rosnados da mata. Um som que não pertencia àquele lugar e que invadiu seus ouvidos, suas almas. Dominou-os. Era uma música, o som de uma harpa que parecia atrai-los. Não puderam resistir.