janeiro 31, 2009

Capítulo 335 – Rei


Andaram em ritmo acelerado por todo o dia. O vigor renovado pelo refúgio onde tinham passado a noite havia lhes permitido ganharem algum tempo. A noite se anunciava, lentamente o manto de Tenebra empurrava Azgher para baixo do horizonte e trazia as estrelas e a lua para o céu de Arton. Estavam agora a cerca de meio dia do penhasco desenhado no mapa de Tork, calculava Nailo. Quando chegassem lá, rumariam para sudeste e em breve poderiam ver a torre que buscavam. Nailo e Relâmpago já tinham voltado ao normal, o lobo ainda um pouco confuso com o que acontecera, mas tranqüilo. Súbito, um tremor fez com que todos parassem.

Eram passos, passos gigantescos, que ecoavam pela floresta ao tocarem o chão como a um tambor. Era um dinossauro. Não tardou até que ele surgisse por trás das árvores, atraído pelo cheiro de carne élfica. Um carnívoro. Corpo alto, esguio, pernas robustas, poderosas, braços pequenos e atarracados, mandíbulas fortes, cortantes. Um t-rex.

_ Comida! – rugiu a fera num idioma que apenas Nailo compreendia pela graça de Allihanna.

Os heróis sacaram as armas, prontos para o combate. Não seria difícil, já haviam enfrentado um mostro daqueles antes e sabiam que tinham condições de vencê-lo se grande esforço. Mas, em sua ânsia por demonstrar seu valor para Keen, não perceberam que o chão continuava tremendo, a ilha continuava retumbando como um tambor.

A primeira flecha ainda não tinha sido disparada quando surgiu a segunda fera. Era ainda maior que a anterior, pernas robustas, o dobro das do tiranossauro. Cabeça alongada, focinho comprido, fino, ameaçador. Braços fortes, com garras do tamanho de espadas, e uma enorme barbatana adornando as costas. Um espinossauro.

O segundo monstro agarrou o primeiro com suas garras. Segurou seu pescoço e mordeu sua cabeça, era quase capaz de engoli-la inteira. Apertou os dentes, fez um movimento com a cabeça e todos ouviram um estalido agudo. O pescoço do tiranossauro se partiu, e a fera despencou inerte no chão. O espinossauro rugiu para o grupo. Não havia palavras apenas exalação de força e brutalidade. E o chão ainda não parara de vibrar.

Nem um décimo de segundo se passou quando o terceiro monstro surgiu. A fera derradeira. Maior que o segundo, incomparável frente ao primeiro. O topo de sua cabeçorra elevava-se além das copas das árvores. Grande como uma cidade. Pernas como torres de castelo, cauda como um navio de grandes proporções, cabeça do tamanho de uma estalagem inteira. Espinhos ósseos por toda parte emergindo de uma carapaça primitiva, bestial e braços atarracados maiores do que casas. Bastou um pisão para transformar o segundo monstro em uma poça de sangue e ossos moídos. Era o Rei, soberano de todas as feras de Galrasia.

_ Fujam! Amigos, corram! Isso é um tiranossauro atroz! Não há como vencer! Corram! – Uma voz surgiu entre o grupo. Não era de nenhum dos elfos, nem de Orion, mas era conhecida. Uma voz cadenciada, musical. Era possível imaginar o som de um alaúde acompanhado daquela voz. Vinha de Orion.

Todos olharam de relance para o humano. Seu colar brilhava como se fosse vivo, pulsando a cada vez que a voz falava. Com seus olhos apurados, Nailo viu uma imagem dentro do pingente. Era um homem jovem que usava um chapéu. Era
Sam.

_ Fujam! – gritou novamente o bardo de dentro do amuleto de Orion.

Fugiram.

_ Vamos confundi-lo! Espalhem-se! – gritou Legolas. O grupo se dividiu. Legolas agarrou-se à vassoura de Anix e os dois voaram para a direita, Squall e Nailo correram para a esquerda, enquanto Orion e Lucano continuaram em linha reta. O monstro vinha no encalço do grupo, cada passo seu iniciava um terremoto, cada balançar de seu corpo derrubava um pequeno bosque. Uma árvore foi arremessada sobre Anix e Legolas, jogando-os adiante, em um precipício. Nailo virou enquanto corria, vendo os amigos sendo atingidos. Pegou a arma do goblin Grinch e preparou para dispará-la na criatura, mas chocou-se contra Squall. Os dois tropeçaram e se engalfinharam, atravessaram uma moita de grama aos tropeços e despencaram no abismo junto com Relâmpago e Cloud. Orion e Lucano estavam próximos e conseguiram parar no último instante na borda do penhasco. Equilibraram-se com dificuldade e evitaram a queda fatal. Um segundo depois surgiu a fera, o Rei da Floresta com suas passadas de trovão e fez desabar o solo da beirada onde estavam os dois heróis. Orion e Lucano despencaram, assim como os outros companheiros, rumo à morte. No alto do abismo o tiranossauro atroz rugiu, espalhando terror e a certeza de que ele reinava absoluto por toda a ilha.

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