janeiro 29, 2009

Capítulo 333 – Passado e futuro


Tudo começava a ficar claro, finalmente. A ajuda de Glórienn na caverna, as palavras de Allihanna a Nailo e o que ela dissera a Sairf sobre todos os deuses voltarem os olhos para o grupo. O treinamento com Glorin e seus companheiros, o encontro com Yczar, Batloc, Loand, Sam e tantos outros. Tudo tinha um sentido, fazia parte de um grande plano arquitetado pelos deuses, pelo Panteão. Os elfos haviam sido escolhidos para destruir Teztal e cumprido sua missão. Tinham despertado um mal ainda maior e deveriam destruí-lo também. Temiam pelo futuro, mesmo sabendo através de Marah que seriam bem sucedidos, pois conheciam o poder do inimigo, o Destruidor de Mundos, o Tarrasque. Mas suas mentes não se voltavam para ele neste instante, pois tinham preocupações mais urgentes. Orion, Loand, Glorin, Sam, Sairf e muitos outros tinham sido escolhidos e guiados pelos deuses para ajudá-los em sua missão, para treiná-los, combater ao lado deles, para compartilhar o mesmo destino de sofrimento e de glórias. Mas naquele momento não se interessavam por glórias, havia algo mais urgente.

_ Senhora Marah – chamou Nailo. – E quanto ao Zulil? Nós vamos conseguir encontrá-lo?

_ Sim – respondeu a deusa. – Basta que sigam o mapa e as instruções que receberam do troglodita chamado Tork. Ele os conduzirá até a torre onde Zulil está, neste momento, trabalhando para trazer de volta ao mundo o mal que fora a missão primordial de vocês.

Os cinco elfos se olharam, mudos. Nada disseram, não era necessário. Suas mentes tinham o mesmo pensamento. Zulil trabalhava para trazer de volta o objetivo original que lhes fora dado pelos deuses, o ser para o qual tinham sido eleitos como algozes, o primeiro, o maior inimigo: Teztal.

Passado, presente e futuro se juntavam num emaranhado trançado pelos deuses, os heróis finalmente compreendiam o que lhes tinha acontecido e sabiam o que lhes aguardavam, sabiam finalmente qual seria o futuro e, embora Marah lhes garantisse a vitória, ela não seria conquistada sem muito sofrimento.

_ Bem, percebo que vocês entenderam minhas palavras – continuou Marah. A missão de vocês ainda não terminou. Vocês terão que confrontar mais uma vez aquele que os fez escravos, aquele cuja punição foi a missão lhes dada pelos deuses. Essa é sua missão, jovens Escolhidos. Vocês receberam e receberão ajuda dos deuses em sua jornada. Glórienn, Allihanna, Tanna-Toh e tantos outros já os ajudaram. Megalokk, Tenebra e outros se colocaram no seu caminho, para impedi-los, para testá-los. Até mesmo Sszzaas já interferiu em seus destinos, como vocês já devem desconfiar.

Uma imagem se formou nas mentes de todos, a despedida de Laurel, aliado de Zulil, sibilando sua língua como uma serpente um instante antes de atravessar o portal mágico e desaparecer.

_ Cumpram sua missão, e todos vocês, inclusive aqueles que os ajudarem por determinação do Panteão, receberão glórias e a gratidão de mortais e deuses. Tomem essas palavras, esse conhecimento, como meu presente, minha ajuda a vocês e sigam seus destinos – concluiu a deusa.

_ Senhora – suplicou Orion. – Gostaria de saber algo. Valkaria me guiou até meus companheiros, mas ela não aparece na história que nos contou, a não ser como alguém ausente. E Khalmyr e os outros deuses assumiram a responsabilidade de guiar seus filhos, eu inclusive. Agora compreendo que a senhora que me acolheu e que me presenteou com este colar era uma de vocês, Tanna-toh, segundo acredito. Mas não entendo, por que Valkaria e não Tanna-Toh veio até mim na estrada? Por que Valkaria é citada como alguém ausente na reunião do Panteão?

_ Está certo em sua suspeita, Orion. Tanna-Toh encontrou-o e o abençoou com um presente divino que servirá a todos vocês. Sua dúvida quanto à Deusa da Humanidade está correta. Ela não está presente nesses relatos porque é verdade o que diz o mendigo louco da cidade de Valkaria.

Imediatamente Orion se lembrou do período em que esteve na capital do reinado. Lembrou-se de um andarilho que ficava ao redor da colossal estátua da deusa cujo nome batizara a cidade. Um mendigo tido como louco pelo povo que repetia sucessivamente a sua suposta sina. Era um deus maior e junto com Valkaria e um terceiro deus sem nome, se rebelaram contra o Panteão, um episódio conhecido como A Revolta dos Três. Derrotados, Valkaria, Tillian – o louco – e o Terceiro foram punidos. Valkaria fora aprisionada em forma de estátua, até que seus filhos a libertassem de seu cativeiro. Tillian tinha perdido os poderes e a sanidade. E o Terceiro fora punido com o esquecimento completo, banido da existência. Orion agora era um dos poucos mortais a conhecer a verdade. A estátua era na verdade a própria Deusa da Ambição, aprisionada.

_ Senhora, e quanto ao Segê, Coração de Gelo? Ele é aliado? Foi enviado por algum dos deuses? – perguntou Squall.

_ Não foi enviado por nenhum dos Vinte. Mas é aliado de alguém que foi.

_ Senhora Marah – chamou Nailo. – E quanto a essa ilha, Galrasia? Poderia nos explicar o segredo desse lugar? Por que aqui há essas criaturas imensas? Por que a cura aqui é mais rápida?

_ Vou lhes contar a história deste lugar. Ficou acordado entre o Panteão que eu lhes traria respostas, logo, não estarei quebrando nenhuma regra. Entretanto, alerto para que não espalhem o conhecimento que receberão com leviandade.

Marah continuou. Galrasia fora outrora parte de Vitália, o reino de Lena. A Deusa da Vida, a criança inocente que agora colhia flores diante de todos, era respeitada por todo o panteão. Mesmo Sszzaas, ou o próprio Ragnar, Deus da Morte, respeitavam-na e sabiam de sua importância. Pois sem a vida, não haveria a morte, nem mesmo os próprios deuses existiriam. Mas a vida dependia de um fator importante para continuar existindo. A pureza e inocência de Lena jamais poderiam ser maculadas, a deusa menina deveria ser protegida de qualquer intriga que houvesse no Panteão, deveria ser defendida de qualquer perigo, mais que qualquer outro deus. Assim os deuses decidiram criar alguém para proteger Lena e sua inocência, assim nasceu Galron. Galron fora o primeiro dos eiradaan, uma raça poderosa, inteligente e habilidosa, assemelhada aos elfos, criada pelas mãos dos deuses para servir de guardiões para a Deusa da Vida. Com o passar das eras, Galron sentiu-se solitário e recebeu dos deuses uma companheira, Obassa. Juntos os dois fizeram os eiradaan numerosos. Em Vitália os eiradaan construíram e prosperaram. Tornaram-se hábeis em diversos campos, inclusive a magia, e ficaram cada vez mais poderosos. Porém, por meio da intriga de Sszzaas, Galron e os eiradaan foram corrompidos. Consideravam-se prisioneiros ao invés de abençoados pelos deuses. Revoltaram-se. Seu descontentamento chegou aos ouvidos de Lena e sua pureza foi manchada. Lena chorou e o mundo sofreu com isso. Como haviam falhado em sua missão, os eiradaan foram punidos, expulsos para sempre do reino de Lena. Um pedaço de Vitália foi arrancado de sua dimensão e colocado em Arton, junto com todos os eiradaan, onde eles foram aprisionados para sempre. Assim, nascera Galrasia. A ilha era um pedaço do reino de Lena, onde a vida jorrava em abundância. A energia positiva inundava o lugar, fazendo com que tudo crescesse com vigor, saúde, abundância. E em tamanho muito maior. Por causa da energia da própria deusa, da própria Vida, plantas e animais eram gigantescos ali, cura mundana e mágica era ampliada. Galron hoje habitava a imensa torre no centro da ilha, conhecida pelos nativos como Torre da Morte, onde passava a eternidade maquinando maldades. Sua esposa fora transformada em serpente e habitava o vulcão, conhecida e adorada pelos nativos como a Divina Serpente e confundida por muitos estudiosos como uma faceta de Tauron, o Deus da Força. Assim os eiradaan encontraram seu destino final, aprisionados na ilha sem poder escapar. Muitos morreram, outros recorreram a rituais necromânticos para prolongar suas existências e talvez alguns tenham conseguido escapar. Mas sua civilização ruíra como um todo. A floresta engoliu suas cidades e apenas ruínas restaram de sua passagem pela existência.

Marah terminou o relato da sina de Galron e sua raça. Legolas se levantou, deixando um rastro de grama congelada para trás e foi até a deusa.

_ Marah, agradeço pelas informações, mas não podemos perder mais tempo. Temos que prosseguir em nossa jornada – disse o arqueiro. Lucano concordou, colocando-se ao lado do amigo para partirem.

_ Sim, eu sei disso. Seu destino os aguarda logo à frente. Sigam por este caminho e encontrarão um refúgio seguro, obra dos eiradaan, onde poderão descansar e curar seus corpos de todos os males. Lá também irão reencontrar alguém muito querido para vocês.

Marah estendeu a mão com suavidade e a floresta se abriu diante dela, formando um caminho. Legolas e Lucano avançaram, mas a deusa os deteve.

_ Esperem! Antes de partirem, é hora de ganharem outro presente! – disse ela.

Os dois elfos pararam e olharam para trás. Viram a pequena Lena saltitando entre seus companheiros, cantarolando feliz. A menina deusa carregava em seus braços várias pulseiras de flores que ela mesma fizera enquanto todos conversavam. Presenteou cada um dos presentes com uma pulseira, mesmo relâmpago e Cloud foram agraciados. Então ela falou pela primeira vez:

_ Essas flores não murcharão nunca, a menos que suas próprias vidas venham a murchar. Então, se isso vier a acontecer, a pulseira cumprirá sua missão. Agora partam – disse Lena com um sorriso – e tenham uma vida longa e próspera!

Os heróis agradeceram, fazendo uma mesura para as duas deusas e partiram. Antes de sair da clareira, Squall foi até Marah.

_ Senhora, tenho uma última pergunta – disse Squall. – A Senhora disse que Glórienn olha por nós, que ela chorou por nós. Mas eu tenho medo de estar traindo-a. Tenho mesmo de deixar de ser filho dela por querer o poder dracônico que desperta dentro de mim. O que devo fazer?

_ Siga seu coração, jovem Squall! – sorriu Marah. – E lembre-se, não são só os elfos que veneram Glórienn, mesmo um dragão pode ser um devoto da deusa dos elfos, pode viver segundo os ensinamentos da Deusa dos Elfos. Agora vá e que seu coração esteja em paz!

Squall partiu. Seu coração estava em paz, assim como os de seus amigos. Sabiam que tinham o caminho difícil pela frente, mas sabiam também que os deuses olhavam por eles e tinham a esperança de um futuro melhor, de vida e de paz. À frente, Nailo guiava seus amigos, chamando-os, incentivando-os, em sua mente uma certeza: não desejava mais vingança, apenas justiça.

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