janeiro 31, 2009

Capítulo 334 – O círculo


Um quarto de hora havia se passado quando o grupo saiu da trilha mágica criada por Marah e chegou a uma colina baixa. Era um morro coberto de grama alta até a cintura, típico de Galrasia, que abrigava em seu topo uma estranha construção: um círculo de pedras. Eram várias pedras altas dispostas em duplas, que circundavam todo o topo da colina. Cada dupla de monólitos era coberta por outra pedra, formando algo como um arco, uma passagem pela qual três homens poderiam passar lado a lado facilmente. Ao redor do círculo e dentro dele não havia animais, e os sons da floresta mantinham-se distantes daquele misterioso lugar.

Obra dos eiradaan.

Era um refúgio, construído há incontáveis eras pela raça eiradaan para algum propósito desconhecido, mas que agora serviria de abrigo ao grupo cansado. Lucano usou sua magia e sentiu uma aura poderosa emanando do lugar, uma aura de vida, de cura.

_ É seguro! – disse o clérigo. – Vamos.

O grupo subiu a pequena elevação e se alojou dentro do círculo. Sentiam um calor reconfortante percorrendo seus corpos, ainda mais poderoso do que o que sentiam no restante da ilha. Seus ferimentos começavam a se fechar lentamente, magicamente e a energia retornava gradativamente aos seus corpos. Sentiram-se seguros, aconchegantes ali, e adormeceram.

A manhã chegou trazendo sol e calor. Era o décimo nono dia do mês de Lunaluz. Fizeram uma refeição rápida, prepararam seus equipamentos e partiram acelerados.

Estavam inteiros novamente, seus corpos plenamente recuperados e curados. O tempo que tinham passado dentro do círculo mágico dos eiradaan tinha lhes feito mais bem do que haviam previsto. Todos os ferimentos tinham se fechado, a energia que lhes fora roubada pelo lago amaldiçoado do cemitério de dinossauros havia retornado e parecia agora multiplicada. Era como se tivessem nascido novamente, como se tivessem despertado para uma nova vida. Porém, talvez por um toque do Deus do Caos, algo mais despertou ali, para bem e para mal.

Anix ia atrás do grupo, sentado em sua vassoura, calado. Sofria em silêncio, observando seu irmão ensinando algo a Nailo:

_ Agora pegue um pelo de Relâmpago, Nailo – dizia o feiticeiro. – Agora me dê sua mão – Squall puxou o braço do amigo, apontando uma adaga para ele. Nailo assustou-se e puxou a mão de volta.

_ Está louco? Quer me matar? – gritou Nailo. Todos passaram a prestar atenção ao que acontecia.

_ Confie em mim. Vou apenas fazer um furinho. Nem vai doer – argumentou Squall. Nailo ponderou um instante e então concordou com o amigo. Squall fez um pequeno corte na palma da mão de Nailo e mandou que ele colocasse ali o pelo que havia retirado de relâmpago. – Agora repita comigo! Nalêe emusjer quusmbia e jusj!

_ O que significa isso? – perguntou o ranger.

_ Força animal, venha a mim. Em dracônico – respondeu o feiticeiro.

Nailo repetiu as palavras concentrado, orando a Allihanna. Então o milagre aconteceu. O tufo de pelos e o sangue brilharam, depois a mão de Nailo, seu braço e por fim seu corpo todo, assim como o de relâmpago. Os dois foram envoltos em um brilho dourado, ofuscante, e transformaram-se em duas esferas de luz pura. As esferas foram de encontro uma da outra e colidiram. Juntaram-se. Uma única esfera restou, maior que as outras duas. Seu brilho foi diminuindo até desaparecer completamente e restar em seu lugar uma única criatura. Era um bípede enorme, alto e largo como um bárbaro. Corpo coberto de pelos prateados, roupa e mochila haviam desaparecido, mesclado-se à nova forma. Braços e pernas vigorosas terminavam em garras poderosas, afiadas como espadas. Cabeça de lobo, focinho comprido que culminava em uma bocarra cheia de presas cortantes, olhos sagazes, élficos. Uma mancha amarela sobre o olho direito trazia a forma de um raio, marca já conhecida de todos.

_ É incrível! – balbuciou Nailâmpago, como seria conhecido, ainda se acostumando à nova boca. – Sinto-me poderoso, Squall!

O feiticeiro apenas sorriu, conhecia exatamente aquela sensação e deliciava-se com ela a cada vez.

O grupo prosseguiu. Nailâmpago ia à frente, guiando-os e brincando com suas novas habilidades, acostumando-se ao novo corpo. Orion vinha logo atrás, acompanhado de Squall, Legolas e Lucano. O humano estava pensativo, intrigado. Segura seu colar, observava-o curioso. Misteriosamente o objeto começara a brilhar intensamente logo pela manhã, após passar a noite no círculo de cura eiradaan. O pingente parecia vivo, prestes a falar a qualquer instante.

Anix continuava na retaguarda, um pouco afastado dos demais, absorto. Levou a mão à testa, sua cabeça doía, latejava, ardia. A dor começara logo que o sol raiara, após passar a noite no círculo, após os sonhos. Como todos os outros, Anix fora curado de todos os seus ferimentos, mas, ao contrário dos amigos, não tivera uma noite tranqüila. Sonhos estranhos haviam o atormentado por toda a noite. Criaturas grotescas, negras, de forma indefinida, emaranhavam-se umas nas outras, enroscavam-se, flutuavam como se estivessem voando ou boiando no ar. Presas afiadas apareciam de tempos em tempos quando parecia distinguir a forma de uma boca se formando no bailado caótico de formas que era seu sonho. E havia olhos. Dezenas de olhos surgiam do emaranhado, estavam por todos os lados, observando-o. Eram olhos malignos, diabólicos. Anix despertara quando os olhos haviam se juntado todos e formado um outro olho gigantesco, amarelado, que o fitava envolto numa esfera negra de maldade.

No início Anix achara tratar-se de mais um sonho premonitório, enviado por algum Deus, Allihanna talvez. Mas, após ver que seus amigos haviam tido uma noite de sono comum e que conversavam animados pela manhã, descartara a idéia. Agora o mago flutuava em sua vassoura mágica, seguindo seus amigos, distante, sofrendo sozinho, confuso. Tinha uma dor latejante por companheira e, de tempos em tempos, sentia uma pontada aguda na testa e então a lembrança do olho vinha à sua mente.

_ Anix! Vai ficar ai o dia todo? Vamos logo, não temos tempo a perder! – seus companheiros chamavam. Anix deixou de pensar na dor e prosseguiu. E o olho voltou a se fechar, por um tempo.

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