setembro 30, 2005

Capítulo 105 - Cilada

Mas Nailo estava enganado. As vozes e passos que ele ouvia, eram de trogloditas de tocaia, aguardando que Legolas e os outros tentassem libertá-los do mastro, para surpreendê-los e matá-los. Nailo havia permanecido vivo apenas para servir de isca para atrair os outros. Isso foi confirmado assim que o grupo chegou no final da escada. Escondidos atrás do peitoril e dentro do túnel por onde jorrava a água do riacho, seis trogloditas aguardavam ansiosos pelos aventureiros. Assim que eles se aproximaram, as criaturas atacaram, saltando da escuridão e surpreendendo a todos.
Os monstros atacaram com golpes mortais de garras e mordidas poderosas. Em poucos segundos, conseguiram matar o cão conjurado por Squall e Posseidon. Legolas ignorou os monstros e correu para ajudar Nailo e Sam. Durante a corrida, teve seu pescoço rasgado por um dos inimigos em seu caminho. Legolas golpeou a corrente com sua espada. Apesar da grande força empregada, a corrente sequer foi arranhada. A camada superficial de ferrugem foi retirada, revelando o metal brilhante e resistente que havia por baixo dela. Um dos trogloditas o seguiu, saltou o riacho e antes de colocar os pés no chão, rasgou as costas do arqueiro.
Enquanto isso, na escada, os heróis combatiam os outros inimigos bravamente. Squall usou um leque de chamas de quase três metros para ferir duas das criaturas. Anix e Lucano atiraram flechas contra os monstros e o clérigo conseguiu atingir um ponto vital muito próximo ao coração de um deles. Sairf se protegeu com um feitiço que o envolveu numa neblina espessa, dificultando a pontaria de seus inimigos para acertá-lo. O mago, preocupado com seu amigo elemental, lhe entregou o seu bordão, para que ele pudesse se defender e não ter o mesmo destino de Posseidon.
Os monstros contra-atacaram com a mesma intensidade do primeiro ataque. Squall ficou seriamente ferido mas permaneceu firme na batalha. Usando o bastão de Sairf, Netuno foi capaz de rechaçar todos os ataques de seus oponentes, demonstrando grande destreza e força.
Legolas travava uma batalha equilibrada contra seu oponente. Anix tentou ajudá-lo, mas apenas conseguiu atingir o poste com sua flecha, deixando Nailo mais preso ainda. Squall tentou usar magia para atacar, mas foi ferido durante a conjuração e a magia se perdeu. Lucano entretanto, conseguiu uma grande vitória para o grupo, deixando um dos inimigos cego com sua magia divina.
Cego, o troglodita se enfureceu e começou a liberar pelos poros o óleo fétido, sua arma secreta, e fez com que Sairf fosse ao chão, nauseado. O vaga-lume de Squall ainda conseguiu ferir o monstro, mas já era tarde, Sairf já estava incapacitado de lutar.
Do outro lado, o inimigo de Legolas usou a mesma estratégia para tirar o arqueiro do combate. Legolas caiu de joelhos ao lado de Nailo, regurgitando seu desjejum. Felizmente, Nailo estava preparado para este momento e, usando o poder recebido da natureza, curou Legolas que voltou a lutar com bravura.
Squall recebeu um novo ferimento, no peito, mas conseguiu escapar da maioria dos ataques de seus inimigos que agora o cercavam. Um dos trogloditas escorregou na poça de vômito ao tentar atacar Sairf, e foi ao chão. Squall aproveitou a chance, e fincou a espada no peito da criatura antes mesmo dela tocar o colo. O vaga-lume celestial arrancou um pedaço do braço do monstro cego, e Lucano arrancou a sua crista com a lâmina da espada.
Mas apesar de estarem lutando bem, a batalha ainda não estava ganha. O troglodita caído se levantou e, mesmo sendo novamente ferido por Squall, voltou a flanqueá-lo, dando chance para que outro trog mordesse o estômago do feiticeiro. Legolas também foi cercado, e recebeu ferimentos no pescoço e na perna direita, enquanto o vaga-lume voava para ajudar Squall. O ser celestial mordeu o pescoço de uma das criaturas, mas ela não demonstrava sinais de cansaço. Nem mesmo o poderoso golpe dado por Netuno na cabeça de um dos trogloditas parecia fazê-los recuar. Parecia que a cilada armada pelos monstros estava funcionando conforme eles haviam planejado.

Capítulo 104 - Um fio de esperança

Desceram lentamente, iluminados pela lanterna coberta de Squall (a mesma que ele quis trocar pala flauta de Silfo e depois se arrependeu). Quando chegaram ao riacho, onde haviam enfrentado os insetos sugadores de sangue, Squall diminuiu a luminosidade para que eles não pudessem ser notados por ninguém e cair numa armadilha dos trogloditas.
Squall usou seus poderes mágicos para deixar Legolas e Lucano tão fortes quanto um touro. Também usou sua mágica para invocar um cão celestial e um vaga-lume celestial para ajudá-lo na batalha. Sairf invocou a ajuda de seus dois amigos, Netuno e Posseidon, além de proteger seu corpo com uma armadura mágica.
Legolas foi o primeiro a cruzar o riacho, indo até a borda do peitoril formado pela escada. Não sentiu nenhuma ameaça e chamou seus amigos para junto dele. Todos se aproximaram, então Squall abriu toda a lanterna e iluminou o local para seus amigos.
Longe dali, num dos cantos do Salão do esplendor diante da entrada para o cemitério dos anões, havia um mastro de madeira fincado no chão. Presos ao mastro por grossas correntes estavam duas pessoas. Uma delas, atrás do mastro, tinha a cabeça baixa coberta por um chapéu, como se dormisse tranqüilamente. A outra, na frente do mastro, com os braços para o alto, atados a grilhões enferrujados e com as pernas próximas uma da outra, presas também por grilhões, levantou a cabeça quando a luz da lanterna parou sobre seu rosto. Seus olhos brilharam e seu rosto finalmente foi reconhecido, causando emoção em todos que ali estavam.
_ Amigos! Estou vivo! Venham me ajudar a sair daqui! – gritou o elfo para os que estavam na escada. Todos ficaram felizes e emocionados ao ver que Nailo não havia morrido.
_ Nailo! Tudo bem com você? – perguntou Legolas, com o arco apontado para frente, preparado caso tudo não passasse de uma cilada.
_ Sim Legolas! Tudo bem! Agora me tirem daqui depressa! Temos que ajudar o Sam! Pode ser que ele também esteja vivo! Pode vir tranqüilo, a área está limpa! – Nailo, que passara os últimos cinco dias acorrentado naquela escuridão, acreditava não haver nenhuma armadilha para seus amigos, pois, apesar de ouvir passos e conversas distantes, nunca tinha visto nenhum dos trogloditas por perto. Nem mesmo para lhe dar comida ou água eles apareciam. Quando Nailo acordava todos os dias, encontrava carne e água jogadas no chão ao seu lado. Sem saber porque as criaturas o mantinham vivo, o ranger se alimentava e orava para Allihanna, pedindo sua proteção, para si e para Sam. Nailo, durante este tempo, não conseguira descobrir se o Bardo estava vivo ou morto. Só o que sabia é que ele não respondia a nenhum de seus chamados. Com a confirmação de Nailo, de que não havia nenhum perigo, o grupo desceu as escadas correndo para libertar seus amigos. Nailo não havia morrido, e ainda havia um fio de esperança de que Sam também estivesse vivo.

Capítulo 103 - Cinco dias

Cinco dias melancólicos se passaram desde a Morte de Sam e Nailo. Durante esse período, os heróis permaneceram praticamente todo o tempo em silêncio. Anix parecia ser o que mais sofria pela perda dos amigos, especialmente de Sam. Nos cinco dias que se seguiram, ele permaneceu calado, encostado num canto da sala onde estavam acampados. Não se movia nem falava nada. Nem para se alimentar ele abandonava o lugar onde chorava, sozinho, a perda dos amigos. Só saia dali para fazer suas necessidades fisiológicas, sempre sob o vigilante olhar de Legolas, que sempre ficava atento quando algum de seus amigos saia da sala, temendo que algum deles resolvesse descer sozinho para vingar a morte dos companheiros.
Além de vigiar seus amigos, Legolas passou os dias treinando arduamente para aprimorar suas habilidades para poder combater Kaarghaz e vingar a morte dos amigos. Enquanto seu corpo se curava, o arqueiro se dedicava a fazer exercícios físicos pesados, treinar sua mira com o arco, e a cuidar de Ambrósios, sua coruja de estimação.
Squall se dividia entre seu treinamento mágico e seu irmão. Além de praticar exaustivamente suas magias, o feiticeiro se preocupava com o irmão, e tentava a todo custo ajudá-lo a superar a depressão. Para piorar a situação, o décimo quinto dia de Luvitas, foi o aniversário de Anix. No entanto, nem ele, nem seus amigos tinham motivos para comemorar a data.
Lucano passou os cinco dias em oração, pedindo perdão a Glórien por não ter sido capaz de impedir a morte de um irmão elfo e do grande amigo Sam. Além de clemência, Lucano pedia forças à deusa dos elfos para que ele e seus amigos pudessem vencer os trogloditas e vingar os companheiros assassinados.
Sairf, por sua vez, convocou do reino de Grande Oceano, o deus dos mares, dois elementais da água, e passou a traçar com os dois, estratégias para vencerem os trogloditas na batalha que estava por vir. Netuno, e Posseidon, acabaram se tornando amigos do mago e, além de planos de combate, conversavam sobre o reino de Grande Oceano, sobre as criaturas aquáticas e outros assuntos ligados à água, grande paixão de Sairf.
Durante este período, Nevan procurava ser útil para seus companheiros. O guerreiro se dedicava a cozinhar e fazer curativos em seus amigos. Tratava de seus animais, cuidava da limpeza do acampamento e de outras tarefas menores para que seus amigos pudessem se dedicar a recuperar as energias e se preparar para a batalha que teriam que enfrentar. E assim os dias foram passando...
A manhã do dia 17, um Valag, finalmente chegou. Os heróis levantaram cedo instintivamente, já que não podiam mais contar com a runa de Gor de Sam para lhes dizer a hora exata. Legolas pegou somente o equipamento estritamente necessário, deixando para trás qualquer peso excessivo como ouro, jóias e outras coisas inúteis em combate, e saiu para o corredor. O arqueiro tinha em mente suas últimas palavras quando subiu as escadas deixando seus amigos para trás, para morrerem: “Kaarghaz, você me paga!”.
Todos os outros seguiram o exemplo de Legolas e em poucos minutos estavam todos reunidos no corredor. Desta vez, Lucano estava novamente com seu arco e suas flechas, que havia deixado anteriormente com Nevan. Para proteção do guerreiro e de Heart, Cloud e Relâmpago, Anix deixou um sabre, um escudo e um óleo mágico capaz de encantar o sabre e aumentar seu poder.
Eles se despediram de Nevan e dos animais e desceram os degraus em direção à escuridão da montanha. A cada passo, a imagem de Nevan se despedindo ia ficando cada vez mais distante. Todos sentiam um aperto em seus corações, pois temiam pela segurança dos que haviam ficado para trás. Mas, como eles haviam jurado, não deixariam que outro amigo morresse novamente, e estavam convictos que, não importa o que acontecesse dali em diante, eles cumpririam essa promessa.

setembro 28, 2005

Bye Bye Sam!


Sam Rael e Nailo Mortos!!!
Esse acontecimento merece alguns comentários especiais, pois desencadeou eventos inéditos para mim até então. Como todos que acompanham esse diário de campanha devem saber, Sam Rael era um npc, um personagem controlado pelo mestre. Como mestre, minha função é garantir a diversão de todos dentro do grupo e, sempre que possível, evitar que todos morram durante a aventura. Bem, os aventureiros cometeram grandes falhas nos últimos dias, falhas que poderiam levar à morte, senão todos, a grande maioria do grupo de personagens. Em momentos assim, os jogadores merecem uma punição para aprenderem a não cometer as mesmas falhas novamente. Era simples para os trogloditas eliminarem todos os personagens, mas se isso acontecesse, seria um ano de esforço da parte de todos jogado fora. Era meu dever como mestre punir os personagens dos jogadores pelas suas falhas, mas também era meu dever impedir que toda a aventura fosse ralo abaixo. O último recurso disponível era distrair os trogloditas para que eles pudessem escapar. E a única forma de fazer isso era com o sacrifício. Sam, ao longo dos tempos vem se mostrando um amigo fiel, sempre fornecendo apoio aos companheiros, muitas vezes à custa de seu próprio bem estar e saúde. O sacrifício do bardo não foi "apelação" do mestre. Sam fez o que ele faria se fosse uma pessoa de verdade e não um personagem imaginário. Sam deu sua vida para salvar seus amigos. Morreu de forma trágica e heróica. Isso foi uma grande lição para todos no grupo. Eu poderia ter matado todos os personagens facilmente, mas isso não serviria para lhes ensinar nada. Em cinco minutos todos estariam de ficha nova nas mãos como se nada tivesse acontecido. Mas a morte de Sam lhes mostraria que quando cometemos erros, temos que pagar por eles. Agora, todos os personagens que sobreviveram (e seus respectivos jogadores) terão que viver com o peso da morte de Sam em suas costas. E tenho certeza de que com isso, eles aprenderão a ser mais cautelosos no futuro, tanto no jogo, quanto em suas vidas reais.
Agora o que me surpreendeu realmente, foi a reação do grupo quando eu olhei para todos, interpretando Sam, e disse "adeus amigos". O jogador de Anix olhou para mim (pro mestre, não pro Sam) e já com lágrimas nos olhos gritou "Não Jé, o Sam não!". O jogador de Nailo abaixou a cabeça e todos pensavam que ele estava rindo do cara ao lado que chorava de verdade. Quando ele levantou a cabeça, seus olhos pareciam duas piscinas de tanto que chorava. Me entregou um papel contendo sua última frase (Squall cuide do Relâmpago) e saltou no abismo para tentar salvar Sam. Ele que sempre foi um dos mais individualistas do grupo, abria mão da vida de seu personagem querido para tentar salvar meu npc. O jogador de Legolas se segurou até o momento em que narrei que Sairf tinha visto a alma de Sam entrar na luz no fim do túnel. Nesse momento ele não conteve as lágrimas. Somente não choraram os jogadores de Sairf (já acostumado com a morte de seus próprios personagens), Lucano (que não chorou, mas tava quase tacando um d20 na minha fuça, só de raiva) e Squall, que neste momento estava assistindo à missa na igreja do bairro e não testemunhou o momento mais crítico (pois é, os rpgistas não tem nada de satanistas como alguns dizem).
Até minha mãezinha querida que todo sábado cuida de nós, preparando uma janta caprichada pra um monte de moleques que adoram rolas dados, ficou chateada com a morte de Sam.
Após os sobreviventes se refugiarem no andar de cima, fui obrigado a dar uma pausa no jogo para que os jogadores pudessem se recompor e relaxar um pouco.
Muito me surpreendeu e emocionou o envolvimento de todos com aquele personagem que eu criei somente para morrer algum dia (é, npcs foram feitos para morrer, ser raptados, etc).
Isso é uma das coisas que vale a pena no RPG. Muito mais que ganhar XP, rolar um sucesso decisivo, matar milhões de orcs e conseguir um tesouro de milhões de moedas de ouro. Mais importante que tudo isso são as emoções vividas enquanto se está em volta de uma mesa jogando. Emoções talvez mais fortes que as sentidas quando se lê um livro, quando se assiste a um filme ou a uma novela.
Se algum dia eu tive alguma dúvida se valia a pena gastar horas criando aventuras fichas de personagens, masmorras, calculando pontos de experiência, etc. Se algum dia eu tive essa dúvida, ela não existe mais. Jogar RPG vale a pena. Mestrar vale a pena. E se você que está lendo isto nunca provou uma experiência como essa, monte seu grupo de jogo e embarque na aventura do RPG, não vai se arrepender, eu garanto.

PS: Essa imagem ai foi uma montagem feita pelo Anix, em homenagem ao Sam, pois é amigo Bardo, bye bye (rsrsrs)

PS2: (isso é um videogame) Quem gosta de se emocionar, leiam o capítulo abaixo ouvindo a música "Ghost of a Rose" do "Blackmore's Night" pra dar um clima a mais. (depois que paramos o jogo no sábado à noite, eu comecei a ouvir essa música e todo mundo voltou a chorar pela morte do Sam ^_^)

Capítulo 102 - Lágrimas na montanha - adeus amigo bardo

Mas o pior ainda estava por vir. Todos estavam encurralados na escada, sem poder atacar, sem poder correr. Eram alvos fáceis para o exército de Kaarghaz. Azagaias voavam, uma após a outra, na direção dos heróis como se formassem uma chuva mortal. A primeira saraivada deixou grandes danos nos aventureiros. Lucano foi ferido no peito com violência. O sangue do clérigo escorria pela sua armadura tal qual uma cascata, até se misturar com o sangue dos outros sobre os degraus da escada.
Invisível, Anix conseguiu sair ileso do ataque massivo. Entretanto, seus amigos não haviam tido a mesma sorte. Além de Lucano, Sairf e Sam foram feridos várias vezes pelas lanças atiradas pelos monstros. Ao final do ataque, Sairf estava caído aos pés de seus companheiros, totalmente indefeso e inconsciente. Sam também estava muito debilitado, e mal se agüentava sobre suas pernas. Várias azagaias haviam perfurado seu corpo, tirando-lhe o pouco de energia que lhe restava.
Sam e seus amigos estavam indefesos diante daquela ameaça. Squall havia acabado de se curar dos efeitos nocivos do veneno usando o antídoto que lhe restava, mas ele, Legolas e Nailo não seriam páreo para aquela quantidade de inimigos. Mesmo muito ferido, Sam sabia que poderia superar aquelas mutilações com a ajuda de magia e se recuperar por completo. Entretanto, Sairf já estava caído, muito próximo da morte, e os outros estavam muito para trás. Sam sabia que se ele corresse, tinha alguma chance, ainda que mínima, de se salvar. Mas ele sabia também que seus amigos padeceriam ante as lanças afiadas dos trogloditas. Sam não podia atacar, nem usar sua magia para ganhar tempo para seus amigos. Também não poderia carregar Sairf escada acima por já não ter mais forças para tal tarefa. Só havia duas coisas a fazer. A primeira era correr, com todas as forças que restavam, até onde estavam Squall e os outros. Mas se fizesse isso, Sairf morreria, e aquele que tentasse ajudá-lo provavelmente também seria morto. A situação era dramática, pensava Sam, caso alguma atitude drástica não fosse tomada rápido, haveria várias mortes desnecessárias. Boas pessoas morreriam. Heróis deixariam de viver, e Sam não desejava isso. O jovem bardo pagaria até com sua própria vida para impedir que algum de seus amigos morresse. E foi o que ele decidiu fazer. Ao invés de correr para se salvar, Sam escolheu a segunda opção, o sacrifício.
_ Amigos! Continuem a missão por mim! Salvem a bela dama! Adeus!!! – com lágrimas nos olhos, o bardo fitou cada um de seus companheiros. Seu olhar triste revelou sua intenção, e ao dizer essas palavras, Sam se atirou da escada sobre os trogloditas que aguardavam sedentos de sangue com suas azagaias apontadas para o alto.
Sam caiu lentamente, parecia uma pluma diante dos olhos de seus amigos. Seu cabelo se agitava como se uma brisa fresca o tocasse. Suas lágrimas brilhavam na escuridão da caverna como cristais. Todos assistiam à cena, atônitos, sem nada poder fazer. As lanças perfuraram seu corpo, partiram seus ossos, rasgaram sua carne. Sam caiu no chão frio e uma grande poça de sangue se formou sob ele. Os trogloditas o cercaram e o atacaram sem piedade. Do alto da escadaria, já não era mais possível ver o corpo de Sam, mas os movimentos frenéticos das lanças e garras dos trogloditas, bem como o sangue que espirrava para o alto, não deixavam dúvidas quanto ao que acontecia.
Nailo e Legolas atiravam furiosamente com a besta e o arco. Segurando as lágrimas, Legolas gritou para os outros continuarem subindo.
_ Não façam besteiras! Continuem subindo! O Sam escolheu dar a vida dele para nos salvar! Não façam com que o sacrifício dele tenha sido em vão! – gritava Legolas entre um disparo e outro.
Anix chegou em prantos ao local onde Legolas estava. Buscou seu amigo bardo com os olhos, mas não via nada além de uma poça vermelha e um bando de monstros sanguinários.
Lucano subiu arrastando Sairf, sob uma chuva de azagaias, e conseguiu alcançar os outros. Então, Nailo passou entre todos os seus amigos correndo desesperado. Legolas tentou impedi-lo, mas a determinação do ranger era grande demais para ser parada.
_ Squall, cuide do relâmpago! – Nailo gritou e saltou para as trevas. Legolas ainda o viu caído sobre o corpo de Sam e tentando pegar uma poção mágica para impedir a morte do bardo. Mas já era tarde demais.
Legolas e os outros subiram as escadas, assistindo à morte de seus dois amigos. Uma imagem que jamais sairia de suas mentes. Durante a subida, Lucano fez com que Sairf engolisse uma poção mágica, e o trouxe de volta da beira da morte. Ao acordar, o mago relatou aos seus amigos algo que eles não desejavam ouvir.Durante o tempo em que esteve à beira da morte, Sairf se viu em um túnel escuro, com uma luz muito brilhante no fim dele. Diversas pessoas, incluindo o próprio Sairf seguiam em direção à luz. Entre elas, estava um homem com um chapéu logo à frente de Sairf. Antes de ser trazido de volta para a vida, Sairf viu o homem atravessando o portal de luz. Não restava mais dúvidas, Sam estava morto. O bardo havia dado sua vida para salvar a de seus amigos. Por causa de seus erros, eles haviam perdido mais um precioso amigo. Sairf, não havia visto Nailo dentro do túnel, mas todos sabiam que as chances do ranger ter sobrevivido eram quase nulas.
Os heróis subiram, derrotados e adentraram no refúgio onde ficavam para repor as energias ouvindo a bela melodia de Sam Rael. Nevan os recebeu. Assustado com a quantidade de ferimentos, o elfo perguntou o que havia acontecido. Ninguém respondia. Sam não apareceu e quando Nevan perguntou por ele, a única resposta que recebeu foi um soco dado por Anix. O mago se recostou num canto da sala sem abrir a boca. Nevam se calou, compreendendo o que havia acontecido.
Relâmpago correu, abanando o rabo, quando a porta se abriu. Viu todos entrando, menos Nailo. O lobo se deitou, com o rabo encolhido entre as pernas, e se pos a uivar tristemente. Legolas tentou consolá-lo, mas sabia que Relâmpago, assim como ele próprio, não poderia ser consolado. A porta foi fechada lentamente. O seu rangido feria os corações dos heróis como uma espada afiada. Quando ela finalmente estivesse trancada, tudo estaria acabado. Nunca mais eles veriam seu amigo Nailo. Aquele com quem sempre travavam disputas e que sempre os colocava em situações arriscadas. Mas também aquele que sempre os ajudava nas horas mais difíceis. Assim como Nailo, nunca mais eles veriam aquele que sempre os alegrava com suas canções. Aquele que sempre trazia um sorriso alegre em seu rosto e que mesmo nas horas mais difíceis, era capaz de dar esperanças a todos e fazê-los sorrir. Nunca mais eles veriam Sam Rael novamente.

setembro 26, 2005

Capítulo 101 - Corrida para a salvação

Legolas, Nailo e Squall, subiam a escada um degrau após o outro, sob uma chuva de azagaias, enquanto tentavam distrair os monstros para que seus amigos pudessem passar em segurança e chegar até a saída daquele inferno. No outro extremo da caverna, Sam se concentrava em manter a ilusão para distrair os trogloditas, e dar tempo para que seus amigos pudessem correr. Entretanto, no meio de tanto caos, o bardo foi ferido por um dos trogs. A dor do ferimento foi tamanha que Sam não conseguiu mais se concentrar e perdeu o controle sobre sua magia. Por sorte, a ilusão continuou a existir por mais algum tempo, dando ao grupo uma esperança de fuga. Após ajudar Sam, Anix tentava encontrar uma solução para o grupo fugir daquele lugar com vida. Sairf tentou ajudar, mas o diálogo fez com que ele também se desconcentrasse. O portal mágico que se abria foi fechado, e a magia de Sairf estava perdida. Não havia mais o que fazer a não ser fugir com todas as forças. Sam, que estava mais próximo da saída, relutava em correr para a escada e largar seus amigos para trás, entregues à própria sorte. Sairf e Anix insistiam para que ele fugisse e salvasse a própria pele, mas sabiam que o bardo jamais faria isso. Segurando o alaúde com determinação, Sam tocou uma nota tão aguda, que parecia que a caverna ia ruir sobre suas cabeças. Entre os dois trogloditas que bloqueavam o caminho para a escada se formou uma onda de choque que se expandiu até atingir as duas criaturas. Eles soltaram as azagaias no chão e levaram as mãos à cabeça, como que tentando evitar os efeitos da música do menestrel. Percebendo que era a chance tão esperada por todos, Sam correu para a escada, passando em frente dos trogloditas visivelmente atordoados. O bardo deu um sinal para os seus companheiros que o seguiram rapidamente.
Para ajudar na fuga, Lucano fez surgir magicamente uma gigantesca centopéia e ordenou que ela atacasse os trogloditas. O inseto gigante abocanhou a cabeça do pequeno troglodita, erguendo-o do solo, no exato momento em que Lucano passava por baixo deles.
Squall afastava os trogloditas da escada com chamas mágicas para auxiliar seus amigos. Legolas e Nailo disparavam flechas e virotes contra os inimigos, ganhando tempo para que os outros chegassem até a escada. Durante o combate, Nailo tentava a todo custo localizar o líder de seus inimigos, Kaarghaz, que estava invisível. Infelizmente, o ranger apenas ouvia a direção de onde o monstro gritava ordens para seus comandados. O lagarto gigante brilhou de forma sobrenatural, e começou a avançar na direção dos heróis. Squall e Anix conheciam bem o que acontecia. Aproveitando-se da invisibilidade, Kaarghaz protegera seu animal de estimação com uma armadura mágica.
Apesar de quase ter sido agarrado por um dos inimigos, Sam e os outros já estavam na base da escadaria que os conduziria para a salvação. Mas a fuga não seria tão fácil quanto parecia. Sob o comando de Kaarghaz, o exército troglodita interrompeu os ataques e se pos a gritar como feras selvagens. Um a um, os monstros ganharam massa muscular de forma espantosa. Era um mau presságio para os heróis, eles já sabiam o resultado daquele ato aparentemente insano e temiam as conseqüências daquilo. Ao mesmo tempo em que se fortaleciam, os trogs secretavam o óleo nauseante que tinha causado tantos problemas minutos antes. Com exceção de Nailo, Legolas e Squall, que estavam mais distantes, todos caíram no chão com terríveis cólicas e náuseas. A situação se complicava ainda mais para os heróis.

setembro 21, 2005

One Hundred!!!

E eis que chegamos ao capítulo 100!!!
É uma marca histórica esse centésimo capítulo. Tanto para eu que escrevo e atualizo este diário diariamente, quanto para os jogadores. Eu que nunca gostei de língua portuguesa, redação, etc, acabei escrevendo mais do que eu podia imaginar. O arquivo de Word do diário já está no segundo volume com 44 páginas (o primeiro foi encadernado com 96 páginas \o/). Acabei descobrindo mais sobre mim mesmo durante essa jornada. Descobri que eu gosto de escrever (tudo bem, eu escrevo mal pra caramba, mas estou melhorando), aprendi muita coisa durante esse tempo todo e espero evoluir cada vez mais. É muito duro escrever tanto assim, com tão pouco tempo disponível (trabalho, casa, família, camapanha para mestrar, outra como jogador, e agora outra atividade que me reservo o direito de não revelar). Muitas vezes pensei em largar tudo, mas consegui continuar e chegar até aqui e posso dizer que estou feliz.
Quanto aos verdadeiros heróis desta campanha, esses meninos que desde o mês de março tem que aturar toda a minha crueldade como mestre (pois é Carlinhos, sequestrei tua noiva e pus fogo na tua casa de novo), só tenho a agradecer. Agradecer pelo empenho e pelo interesse na história contada por mim. Agradecer pelos momentos em que rimos juntos, e até pelas brigas que tivemos. Aliás eles brigam pra caramba, mas se amam ^_^. Tenho que dar os parabéns a essa turminha que surgiu desacreditada, desprezada e até humilhada por outros jogadores que se consideram "graandes rpgistas", mas que não passam de charlatões metidos e arrogantes. Bom molecada, em pouco tempo, apesar dos pesares, vocês já criaram um livro. Agora é hora de comemorar esse centésimo capítulo e torcer para que venham outros 100 outros 1000.......
Parabéns a todos vocês e valeu por tudo, Legolas "Carlinhos" Greenleaf, Sairf "Alex" Ridlav, Anix "Dieverson" Remo, Squall "Luciano/Dudu" Remo, Nailo "Evandro" Beliondil e Lucano "Luis Fernando" Arquim.
PS: Evandro e Cidão, seu vagais, tratem de melhorar na escola seus pilantras.
PS2: Isso é um videogame
PS3: Luis Fernando. Pô enfermeira Joy, para de usar só a arma espiritual e faz alguma coisa diferente meu.
PS4: Carlinhos, a essa hora, a bela Liodriel já deve estar grávida de uns 4 meses do bicho que raptou ela, hahahaha.
PS5: Dieverson a essa hora, a bela Enola já deve estar grávida de uns 4 meses do Silfo peludão, hahahaha.
PS6: Dudu, eu tenho a playelf da Deedlit, pelada, hahahahaha
PS7: Isso não é uma despedida pessoal. Não, eu não vou morrer.......agh!!!

Capítulo 100 - O cerco

Do lado de fora, Legolas, Nailo e Squall haviam amontoado os corpos dos trogloditas e revistado seus cadáveres em busca de valores. Encontraram somente duas poções mágicas idênticas à usada por um dos monstros, uma bela jóia esverdeava e algumas moedas de ouro e de prata. Os três dividiram os espólios da batalha, e já se preparavam para retornar ao andar superior para se recomporem das duras batalhas que haviam enfrentado. Mas o som de vozes e passos pesados que vinha da direção do túnel por onde o riacho desaparecia os impediu de seguir adiante. Legolas se aproximou da parede onde para onde a água escoava, e pode ver uma pequena abertura nela. Legolas se abaixou e viu numerosos pares de pernas caminhando do outro lado a parede, denunciadas pela luminosidade de sua tocha. O elfo preparou uma flecha em seu arco, enquanto Sam se encarregava de chamar Anix e Sairf. Mas não houve tempo suficiente para que eles pudessem escapar sem serem vistos. Alguém pulou dentro do riacho e passou abaixado pelo buraco na parede. Legolas disparou sua flecha, dando o alarme para seus companheiros se prepararem. Era um troglodita. O monstro retirou a flecha cravada em seu peito e a quebrou com sua mão poderosa ao mesmo tempo em que gritava algo para seus companheiros. Legolas viu dezenas de pernas mergulhando no riacho e caminhando em sua direção. Sem perder tempo, o arqueiro disparou outra flecha e correu até as escadas, chamando seus companheiros. Squall se aproximou do monstro e disparou chamas mágicas nele, mas não conseguiu detê-lo. Em poucos segundos, toda a caverna esta tomada por um pequeno exército de trogloditas.
Eles eram quinze ao todo. Em sua maioria, tinham um aspecto primitivo, pareciam bárbaros selvagens. Vestiam armaduras de couro de animais, enfeitavam-se com ossos e portavam armas simples como azagaias de ponta de pedra. Alguns poucos, talvez os mais elevados na hierarquia troglodita, vestiam armaduras metálicas, e um deles portava um grande machado de batalha. Mas dentre todos os trogloditas presentes, um chamava mais a atenção. Um pouco e mais magro que os demais de seu bando, vestia trapos escuros que lembravam um manto e tinha uma aparência mais civilizada que os demais. Ao sair do túnel, acompanhado de um gigantesco lagarto subterrâneo, começou a gritar para os demais que acatavam suas ordens com grande devoção.
_ Matem todos eles! Não deixem prisioneiros! – ordenou o líder troglodita no idioma dos dragões.
_ Esperem, vamos conversar! Não viemos aqui para lutar! Diga-me quem é você, e vamos dialogar com calma! – gritou Nailo, após curar-se com sua varinha mágica e se aproximar de Legolas.
O troglodita olhou ao redor. Viu três de seus companheiros mortos empilhados no chão úmido da caverna. Viu o cadáver do urso caído no chão, sem uma perna e sem a vida. Olhou nos olhos de Nailo e disse:
_ Eu sou o grande Kaarghaz, e pelo que pude ver você não vieram aqui para conversar! Nenhum de vocês será poupado!
_ Espere! Nós os matamos sim, mas foi porque nos atacaram primeiro! Não viemos lutar contra vocês! Nós estamos aqui para matar orcs! – Nailo, já com as mãos levantadas, tentava a todo custo uma negociação para evitar o combate.
_ Então vocês vieram mesmo ao lugar errado! O território dos orcs fica lá em cima! Agora vocês pagarão por este erro com suas vidas! Não poupem ninguém, matem todos! Aqueles que se entregarem pacificamente serão torturados até a morte! Hoje nós vamos assar suas carcaças, seus elfos nojentos! – ao dizer estas palavras, o líder dos trogloditas apontou as mãos para si mesmo, pronunciou alguns versos arcanos e desapareceu. Estava invisível. Nailo ainda tentou argumentar, inventou que conhecia o pai de Kaarghaz, que eles haviam matado todos os orcs do andar superior, que havia trolls sob seu comando lá em cima, mas nada disso surtiu efeito. O líder dos trogloditas não respondeu mais nada, e seu exército começou a atacar.
Legolas e Nailo começaram a subir as escadas, chamando seus amigos para fugir. Fracos do jeito que estavam, enfrentar todos aqueles inimigos seria suicídio. Se três deles haviam dado tanto trabalho aos heróis, um exército de quinze trogloditas, e um lagarto que mais parecia uma máquina de cerco, os massacrariam com facilidade. Era preciso fugir para viver.
Mas, a cobiça falava mais alto. Se antes Nailo era criticado por seu comportamento egoísta, mesquinho e ganancioso, agora Anix e Sairf se comportavam da mesma maneira. Sua ganância pelos itens mágicos que poderiam encontrar nas tumbas dos anões os impulsionava a permanecer ali, mesmo arriscando suas vidas e a de seus companheiros que, com certeza, não os abandonariam.
Anix entregou a Sam os itens que eles já haviam retirado. Um escudo e um martelo de combate extremamente bem feitos. O par de braçadeiras já decorava os punhos de Sairf. Sam correu para fora e viu Squall em situação perigosa. O troglodita atingido por suas chamas estava cara a cara com o feiticeiro, e outros inimigos estavam entre ele e a escada, a única chance de salvação para o grupo.
Um flecha disparada por Legolas feriu o monstro, mas ele ainda ameaçava a vida do feiticeiro. Assim que Squall desse as costas para fugir, seria mortalmente ferido pelo monstro. Mas Sam estava ali para salvar seu amigo. O bardo largou no chão tudo que Anix havia lhe dado, pegou seu alaúde e começou a tocar uma canção que Squall já tinha ouvido antes. Ao lado de Squall, apareceu magicamente um elfo, sem roupas, totalmente vulnerável a qualquer ataque, e altamente chamativo. O elfo saiu correndo nu pela caverna, indo em direção ao bando de trogloditas com sua genitália chacoalhando como um pêndulo. Os trogloditas voltaram sua atenção para aquele alvo tão frágil e exótico e começaram a atacá-lo. Squall aproveitou a chance para correr até a escada em segurança, enquanto assistia aos trogloditas tentando ferir a ilusão criada por Sam. Na memória de Squall, era viva a imagem de uma bela donzela que surgi na estrada quando ainda viajavam para Tollon. Apenas uma ilusão criada pelo bardo para demonstrar seus poderes e brincar com seus amigos. Squall conseguiu se aproximar, são e salvo, de Legolas e Nailo, que se defendiam de uma chuva de azagaias atirada pelos trogs.
Dentro do sepulcro, Sairf, cego pela ganância, desejava a todo custo os tesouros que haviam ali. O mago segurou o machado e começou a puxá-lo lentamente, temendo que o cadáver do anão se levantasse para atacá-lo. Então ele sentiu que o defunto resistia e segurava firmemente o machado. Sairf largou a arma e correu para a saída da câmara, de onde olhou para trás e constatou que tudo tinha sido apenas sua imaginação. Os ossos do cadáver, há eras na mesma posição, estavam rígidos pelo tempo. Apenas por esse motivo as duas mãos não se desprenderam do machado quando Sairf o puxou. Finalmente de volta à sanidade, o mago agora deveria encontrar uma forma de salvar a própria vida. Sua reação foi convocar magicamente seus aliados extraplanares para ajudá-lo. Lucano percebeu a intenção de Sairf e copiou sua idéia. Talvez invocando alguma criatura poderosa para ajudá-los eles pudessem criar uma oportunidade de escapar daquela cilada.
Sam ouviu uma voz atrás de si. Era Anix, com certeza. Mas quando o bardo se virou, encontrou apenas Sairf e Lucano concentrados em suas magias. Anix havia usado sua magia de invisibilidade para escapar dali em segurança. Se nada desse errado, aquela magia garantiria sua sobrevivência. Entretanto, Anix não tinha mais magias disponíveis para usar, e seus amigos precisariam atravessar uma horda de trogloditas para chegarem à saída. O andar de cima era território orc, e com certeza os trogloditas não os seguiriam até lá. Mas primeiro era preciso chegar até a escada com vida, as circunstâncias estavam contra os heróis e suas vidas agora estavam novamente por um fio. O tempo corria, e a cada segundo a salvação da bela Liodriel parecia mais distante.

Capítulo 99 - A cripta

Enquanto isso, guiado por sua coruja, Sairf avançava, sozinho, pelo túnel escuro. Quando os efeitos do enjôo passaram, o mago acendeu uma vela e viu onde estava. Sairf estava numa caverna natural cujas paredes reluziam recobertas de pedras semipreciosas. O local era naturalmente decorado por formações rochosas complexas e exuberantes. Estalactites, ondulações nas paredes, tudo se juntava de forma poética para decorar o lugar. Sim, Sam estava correto. Eles realmente tinham encontrado o lendário Salão do Esplendor, e a cada passo a certeza disso era maior. Mas algo fazia o coração do mago estremecer. Alinhados por todo o chão, duas dezenas de sarcófagos de pedra traziam uma sensação de medo. Nas tampas dos túmulos, figuras de anões zangados, vestidos com armaduras nobres, podiam ser vistas juntamente com inscrições no idioma anão. A caverna tinha cerca de uns trinta metros de comprimento e algo em torno de dez metros de largura. À esquerda de Sairf, a câmara continuava após uma depressão de seis metros de altura numa caverna ainda maior. Sairf foi até próximo de uma das tumbas que estava aberta, de onde emanava uma aura mágica moderada. Lá dentro, havia o corpo de um anão, morto há muitas eras, vestindo uma armadura nobre. Sobre o corpo do anão, um belo escudo emanava um brilho prateado. Nos seus punhos, braçadeiras douradas se destacavam na escuridão.
Anix chegou neste instante, enquanto lá fora, os outros se encarregavam de revistar os corpos dos inimigos derrotados. Naquele sepulcro, onde vários anões estavam sepultados há eras, Sairf e Anix se lembraram do sonho que haviam tido, no qual eles chegavam a uma caverna onde eram observados por vários anões de aparência nobre. Eles finalmente compreenderam o significado da visão. Na verdade, quem os observava agora, eram apenas as almas dos antigos moradores do Salão do Esplendor. Mesmo com o mistério revelado, restava ainda uma ponta de pavor nos dois magos. Estariam os anões realmente mortos, ou seus corpos estariam amaldiçoados e fadados a caminhar em busca da carne dos vivos para apaziguar a dor de estar morto? Os dois temiam que daqueles sarcófagos os anões se levantassem como mortos-vivos e os atacassem. Cuidadosamente, eles analisaram a distância cada uma das tumbas, usando seus poderes mágicos. Sentiram emanando de outros dois túmulos auras mágicas fracas que resolveram investigar. No primeiro sarcófago olhado, o que já estava aberto, Sairf viu um anão esquelético segurando um belo machado prateado. Quando Sairf estava quase pondo as mãos na arma, um ruído chamou sua atenção e a de Anix. Algo como sussurros e pancadas que mais pareciam passos de alguma coisa muito grande ecoavam através da parede da câmara.
_ Anix! Sairf! Saiam daí! Alguém está se aproximando, devem ser os reforços dos trogloditas! Vamos fugir daqui o mais rápido possível! – Sam gritava desesperado, chamando seus amigos junto com Lucano ao perceber a aproximação do perigo.

setembro 20, 2005

Capítulo 98 - Virada de mesa

Squall pegou os dois vidros e, mesmo sofrendo numerosos ataques, se arrastou até Nailo para lhe dar um dos antídotos. Sam ajudou Squall, colocando uma poção de cura em sua boca, para que ele resistisse aos sucessivos ferimentos que recebia. Mas Nailo também possuía um frasco igual ao de Squall e decidiu se arriscar a ingeri-lo seguindo a sugestão de Anix. Nailo tomou metade do antídoto, esforçando-se para não vomitar no frasco, nem para deixá-lo cair devido à dor que sentia. Sobre ele, um dos trogloditas desferia golpes mortais com as garras. Nailo terminou de beber o antídoto, e sentiu que estava melhor. Num rompante ele se levantou, jogando o escudo no chão e sacando a sua espada curta. Nailo estava curado. De volta ao combate, ele começou a atacar os trogloditas com todas as forças. Legolas e Squall, percebendo que o antídoto funcionava, tomaram-no até sentirem que podiam combater novamente. Anix chegou por trás e puxou Sam, ainda caído, para fora da área de combate e o ajudou a se curar. Os três voltaram a atacar os inimigos, equilibrando novamente a batalha.
O combate seguiu equilibrado e o mau cheiro foi se dissipando lentamente até desaparecer por completo. Sam e Lucano se levantaram, pegaram suas armas e se prepararam para retornar ao combate. Então, a resistência e a união do grupo trouxe uma grande recompensa. O combate durou tempo demais. Os trogloditas começaram a diminuir de tamanho. Seus músculos voltaram ao estado normal, sua altura retornou à condição original. Eles haviam perdido a força extra que possuíam, e sem os efeitos nocivos do seu mau cheiro, seria fácil liquidá-los. Os monstros quiseram recuar, mas seu líder os encorajou a continuar lutando até o fim e atacou Nailo. Todos os golpes foram aparados pela espada do ranger, enquanto um dos monstros recuou e ingeriu algo que muito parecia com uma poção de cura.
Legolas atingiu o pescoço do líder com sua Flecha Infalível, e Nailo feriu-lhe o peito com a espada. Com a outra mão, o ranger arrancou o olho da criatura que se curava. Squall decepou o braço do líder com sua espada e Legolas terminou de matá-lo com uma flechada mortal no coração. Nailo ainda cortou a mão do trog cego com sua espada curta e cravou a espada longa na nuca do outro troglodita, atravessando todo o crânio e matando-o. Squall avançou e num movimento ascendente, abriu o peito do último inimigo que restava em pé. Com os inimigos mortos, todos puderam respirar aliviados.

Capítulo 97 - O nauseante poder secreto dos trogloditas

Então veio a fúria. Num grito sincronizado que fez toda a caverna vibrar, os trogloditas mostraram aos heróis o poder de sua fúria. Seus corpos, antes esguios, tornaram-se volumosos. Seus músculos aumentaram drasticamente de tamanho, suas cristas, eriçadas no alto de suas cabeças, pareciam brilhar na escuridão. Seus olhos mudaram levemente de cor, tornando-se mais claros, e a estatura de todos se igualou com as dos heróis. Num salto, um dos trogloditas chegou até Legolas. Nailo ainda conseguiu num lance de sorte, atingi-lo na perna esquerda com a espada. Mas o monstro parecia ignorar a dor do ferimento, e com suas garras pontiagudas, rasgou o pescoço de Legolas.
O segundo monstro avançou na direção de Nailo. Era muito rápido e com poucos passos ele se aproximou do ranger, encarando-o em desafio. Em sua pele, um óleo viscoso brotava dos poros, exalando o mais fétido dos cheiros conhecidos no mundo. Um odor tão horrível e tão forte que chegava a causar ardência nas narinas de quem o aspirava. Nailo caiu de joelhos no chão, vomitando todo seu café da manhã nos pés de seu inimigo. O ranger levantou seu rosto, com muito esforço, e sentiu as garras de seu algoz cortando sua face com violência. Com a força do golpe, a cabeça de Nailo se virou, e ele pode ver atrás de si que Sam e Lucano também estavam caídos no chão, sofrendo com as náuseas causadas pelo cheiro do troglodita.
Aquele que liderava o bando subiu sobre o corpo do urso, gritando como um animal enlouquecido. Todos viram seu corpo liberar o óleo nauseante, e com ele um cheiro pior que a podridão. Squall e Sairf caíram, vítimas do odor, e se lembraram do cheiro que haviam sentido quando estavam descendo a escada. Sim, era o mesmo cheiro, só que muito mais forte e devastador.
Aos vômitos, Sairf, Squall e Lucano se arrastaram para longe dos inimigos. Lucano mergulhou sua cabeça na água do riacho, tentando se livrar dos efeitos do mau cheiro dos trogs. Mas isso era inútil. Sairf tentou usar uma poção de curar ferimentos para melhorar. Mas isso também era inútil. As criaturas que estavam sendo evocadas, retornaram aos seus planos de origem, quando Sairf e Lucano perderam a concentração nas magias. Agora, eles eram alvos fáceis para os trogloditas.
Corajosamente, Nailo ainda tentava lutar contra as criaturas. Reconhecendo sua parcela de culpa na situação difícil em que todos se encontravam, o ranger se colocou diante das criaturas, bloqueando sua passagem com o escudo emprestado de Lucano. Nailo era o que menos havia sido pelos stirges, e sua intenção era resistir o máximo possível para que seus amigos pudessem escapar com segurança. Entretanto, ele não ficou sozinho. Legolas e Anix, que resistiam aos efeitos nauseantes do odor troglodita, ficaram ao lado do ranger, combatendo as criaturas.
Legolas, estava prensado contra a parede por seu adversário. Mesmo assim, ele conseguiu disparar uma flecha no peito do inimigo. O arco emprestado por Nailo era poderoso, e a força mágica concedida por Lucano tornava os ataques ainda mais potentes. Mesmo com tudo isso, o monstro não se rendia. Suas garras e presas atacavam Legolas com uma velocidade impressionante. O elfo sentiu as garras da fera entrando em sua barriga e tentou se defender com o arco. O monstro o mordeu, encarando Legolas e exibindo suas presas afiadas.
Anix, decidiu usar uma magia poderosa contra seus oponentes. Com um braço estendido e o outro curvado, como se segurasse um arco, o mago se concentrou e evocou um feitiço. Mas o cheiro que permeava o lugar o fez perder a concentração e baixar os braços. Uma flecha mágica partiu do arco imaginário brilhando e atingiu a perna de Anix. A flecha de ácido perfurou a perna do mago, corroendo sua roupa e sua pele por longos segundos até desaparecer.
Mais à frente, Nailo recebia inúmeros ataques dos outros dois trogloditas. Garras e dentes choviam sobre o escudo como uma torrente. Muitos desses ataques, venciam a proteção de metal e caiam sobre o corpo do ranger, levando sua vida aos poucos. Nailo teve sua cabeça mordida, seus ombros rasgados, suas costas perfuradas e suas orelhas mastigadas pelos trogloditas. Quando percebeu que não resistiria mais, ele recuou e agarrou a varinha mágica. Mas os enjôos que sentia, não lhe permitia concentrar energia mágica para ativar o poder mágico do item para curar seus ferimentos. Nailo viu seu companheiro Squall falhar da mesma forma, quando tentava usar sua varinha mágica, e sentiu que seu fim estava próximo. Mas seus amigos não o abandonaram. Enquanto Legolas e Anix atacavam com flechas e mísseis mágicos, Sam teve tempo para se aproximar de Nailo e colocar em sua boca um frasco com um líquido esverdeado. Era uma poção de cura.
Com Nailo enfraquecido, os trogloditas passaram a atacar Anix e Legolas. O rival do arqueiro usou nele seu óleo fétido e conseguiu imobilizá-lo. Anix resistiu aos efeitos mais uma vez, mas um dos monstros saltou sobre ele, mordendo-lhe o nariz. O líder dos trogs saltou sobre Legolas, pronto para exterminá-lo. Mas aquilo que até então era uma vantagem o prejudicou. O monstro escorregou no vômito do elfo e caiu de costas no chão, sem poder atacá-lo. Mas Legolas estava impossibilitado de lutar, e agora só podia recuar. A única esperança do grupo era Anix, o único que ainda podia lutar. Anix evocou seu feitiço mais poderoso, a bola de fogo, e pretendia destruir todos os monstros com seu poder. Mas o mau cheiro lhe tirava a concentração e quando o feitiço foi concretizado, Anix viu a energia mágica se dissipar lentamente. A magia estava perdida, e as esperanças também.
Os trogloditas atacaram Anix com suas garras. Anix ficou à beira da morte e se viu forçado a recuar. Afastou-se o máximo que podia, e usou uma magia para lhe conceder uma vitalidade ilusória e permiti-lo voltar a combater. Anix ainda usou poções mágicas para curar parte de seus ferimentos, enquanto assistia, angustiado, ao massacre de seus amigos. Os trogloditas arrancavam pedaços de Sam, Nailo e Squall. Legolas, tentava subir as escadas para fugir, banhando-a com vômito e sangue. Lucano estava com a cabeça imersa no rio subterrâneo, não se sabia se vivo ou morto. Sairf, em desespero, tentou buscar algo que pudesse ajudá-los no outro túnel ainda não explorado. Parecia que o odor venenoso dos trogloditas causaria a morte de todos. “Veneno!”, disse Squall para si mesmo, lembrando-se que dentro de sua mochila havia dois frascos de antídoto que ele havia conseguido tempos atrás.

Capítulo 96 - As façanhas explosivas

Havia pouco tempo para que os heróis derrotassem aqueles trogloditas, antes que os reforços chagassem. Era preciso atacar com tudo que tinham. Pensando assim, Legolas se concentrou ao máximo, disparando uma Flecha Infalível no centro do peito do urso. O animal urrava de dor e ira a cada golpe recebido, mesmo assim parecia uma montanha diante dos aventureiros.
Nailo aproveitou a distração criada por seu amigo, sacou sua espada longa, deixando a besta caída no chão e partiu para cima do urso. A lâmina deslizou pela perna direita do animal, separando-a do resto do corpo.O urso se inclinou na direção dos heróis, apoiando-se sobre as patas restantes. Era visível o cansaço do animal, já muito debilitado pelos ferimentos recebidos. Mesmo assim aquele enorme urso marrom não se entregava. Ele continuava a rugir e se preparava para dar um bote sobre Nailo, que agora era um alvo fácil para a criatura. Mas o ranger contava com amigos fiéis, que não o abandonavam mesmo tendo sido ele o responsável por envolvê-los naquela batalha difícil. Lado a lado, Anix e Squall, com as mãos estendidas, murmuravam palavras mágicas praticamente iguais. Ao mesmo tempo, das mãos de Anix e Squall, surgiram projéteis luminosos muito brilhantes que avançaram na direção do urso com grande velocidade. Os mísseis mágicos foram explodindo um a um no corpo do animal, levantando uma tênue nuvem de pó e pêlos. Seis explosões aos todo, quando a poeira desapareceu, após a última explosão no rosto do animal, os heróis viram o gigantesco urso tombar como uma velha árvore sendo derrubada, inerte. O urso estava morto. Todos comemoraram a queda da fera. O poderoso ataque conjunto dos dois irmãos havia liquidado a principal ameaça para os heróis. Ao menos era isso o que eles pensavam.
Com o urso fora de combate, derrotar os três inimigos restantes seria fácil, pensavam os heróis. De fato, eles estavam em maior número, o dobro que os inimigos, não havia chance para os trogloditas. Além disso, em poucos segundos, Sairf arranjaria reforços para o grupo através de sua magia de invocação. Seriam oito contra três. Um massacre. Mesmo assim, era melhor evitar ferimentos desnecessários e liquidar as criaturas sem necessidade de combate direto. Dessa forma, Lucano também decidiu convocar forças extraplanares para lutar por eles contra os trogloditas e, deste modo, deixar o grupo com o triplo de combatentes do que os adversários. A façanha de Anix e Squall, e conseqüentemente a derrota do urso, haviam enchido todos de confiança e esperança. Nada poderia dar errado agora. O que parecia uma batalha perdida no início, começava a se tornar uma luta fácil.

A chacina


Legolas mata os orcs velhos, fêmeas e crianças com crueldade.
Desenho de Alex "Sairf" Frias

setembro 16, 2005

Capítulo 95 - Trogs

Cheio de ódio por ter sido seriamente ferido pelas criaturas, Sairf arrancou a cabeça daquela que o havia atacado e fez um colar com ela. Enquanto isso, Nailo, após raspar as paredes da caverna e encher um frasco com o pó das pedras semipreciosas, avançou em direção ao túnel diante da escada. Os outros já subiam para o piso superior, preocupados com sua segurança, quando viram o ranger novamente agir com imprudência e egoísmo. Nailo guardou um ferrão, retirado de um dos stirges, em sua mochila enquanto caminhava. Ele andou até chegar a uma câmara com várias saídas que se perdiam na escuridão. Parou para decidir qual caminho tomar e não percebeu as criaturas que espreitavam na escuridão. Duas criaturas bípedes de aparência reptiliana saltaram das sombras e atiraram pequenas lanças contra Nailo. O reflexo do ranger permitiu que ele se esquivasse dos ataques. Ele recuou por entre as azagaias caídas no chão, observando cada detalhe daqueles seres. Eram dois lagartos bípedes, pouco menores que humanos ou elfos comuns. Seus braços eram finos, mas musculosos, e eles andavam eretos agitando longas caudas segmentadas. Suas cabeças de lagarto, eram decoradas com cristas pontiagudas que se estendiam desde a base do pescoço até a testa. Em suas faces, olhos negros refletiam a luminosidade da tocha.
Trogloditas, pensou Nailo, recuando rapidamente para perto de seus amigos. De repente, o ranger percebeu algo atrás de si. Quando se virou, viu outras duas azagaias voando em sua direção. Nailo correu para fora da câmara, escapando dos ataques, e aguardou pelos inimigos com o arco preparado para atacar. Entretanto eles não avançavam, esperavam pacientemente que o ranger se dispusesse a se aproximar deles para então atacarem.
_ Não façam nada! Vamos esperar ele se aproximar, ai nós o atacamos! Eu vou ficar perto do portão para soltar o bicho em cima dele! – sussurrava uma das criaturas na língua dos dragões, traçando sua estratégia para eliminar Nailo. Felizmente ele conhecia o idioma falado pelas criaturas, e pode evitar a armadilha.
Nailo retornou até seus amigos e lhes contou o que estava acontecendo. Todos estavam irritados com a imprudência do ranger que finalmente reconheceu que havia errado. Os heróis sabiam que teriam que enfrentar e derrotar aquelas criaturas antes que elas resolvessem persegui-los e desceram as escadas novamente. Entretanto, os inimigos estavam muito distantes dali, o que daria algum tempo para que os aventureiros se preparassem para a batalha. Pensando dessa forma, os conjuradores agiram rápido, reforçando as defesas e ataques de seu grupo. Anix protegeu a si mesmo e Sam com um feitiço de armadura mágica. Sairf e Squall também usaram o mesmo truque para se protegerem e Squall ainda aumentou sua força física magicamente. Lucano usou o poder de Glórien para aumentar a força de Legolas e para que ele pudesse causar dano maior com seus ataques. Nailo humildemente cedeu seu arco, mais robusto e reforçado, para o amigo arqueiro. Após a insistência de Squall, Legolas finalmente concordou em apenas emprestar o anel encontrado por Anix no abismo submarino dos sahuagins e que estava em posse do arqueiro.
Com todos os preparativos prontos, o grupo avançou em fila indiana até a metade do túnel que conduzia até o covil dos trogloditas. Dotado de uma nova força, Legolas arremessou a tocha que trazia consigo até a entrada da câmara, para chamar a atenção dos inimigos. Mas ninguém apareceu. Todos ficaram em silêncio e, apesar do barulho do riacho, puderam ouvir os sussurros das criaturas.
_ Esperem! Deixem que eles se aproximem!
_ Eu vou soltar o urso assim que eles aparecerem!
_ Vocês não acham melhor a gente chamar Kaarghaz?
_ Não! Se a situação se complicar a gente chama ele!
A conversa dos trogloditas alarmou a todos. Eles não estavam sozinhos, tinham outros em algum lugar. E entre eles, um possível líder, provavelmente mais poderoso que os outros. Talvez até mais poderoso que os heróis. Era preciso resolver aquela situação logo, antes que ela se complicasse ainda mais. Para isso, Anix tornou-se invisível com sua magia, e caminhou pelo corredor até perto da tocha atirada por Legolas. Ele viu um dos monstros parado diante de um portão de madeira robusta, mas não conseguia ver onde estavam os outros, nem quantos eles eram. Anix chutou a tocha na direção do portão, a fim de poder ver mais longe. Pelos seus cálculos, os monstros não poderiam lhe fazer mal, já que não podiam vê-lo. Mas Anix estava enganado, quando a tocha se moveu até perto do portão, ele percebeu seu erro, tarde demais.
_ Olhem ali, tem alguém ali! Está invisível, como Kaarghaz! Ataquem! – gritou o troglodita apontando para o local onde Anix chutara a tocha. O monstro puxou uma azagaia de suas costas, e a atirou em Anix. A arma se enterrou na perna do mago, que rapidamente a retirou e jogou no chão. Anix viu outros três trogloditas surgindo das trevas e correndo em sua direção. A luz da tocha também permitiu que ele pudesse ver um enorme urso marrom atrás do portão que começava a se abrir.
Anix correu para junto de seus amigos, mancando devido ao ferimento. Legolas e Nailo lhe deram cobertura, ferindo o urso com ataques à distância. Mas nem mesmo o virote de Nailo, ou a Flecha Infalível de Legolas puderam deter o urso. O animal, agora ferido e enfurecido, correu para atacar os heróis. Anix tentou impedi-lo, lançando uma poderosa bola de fogo que atingiu tanto o urso quanto o troglodita que o havia soltado. Nem mesmo isso foi capaz de deter os inimigos.
Tentando evitar o combate, Squall usou uma magia de ilusão para tentar enganar os trogloditas. O som de vinte pessoas gritando enfurecidas surgiu na entrada de um túnel entre os heróis e os monstros. Squall esperava que seus inimigos fugissem assustados, mas a magia somente complicou as coisas ainda mais.
_ Depressa! Corra e avise Kaarghaz! Eles têm um exército inteiro, chame nosso líder! – gritou um dos trogloditas para seus companheiros.
O urso chegou correndo, ergue-se sobre duas patas e atacou Legolas com suas garras afiadas. Lucano tentou ajudar o companheiro ferido, disparando uma flecha no animal. Porém, a flecha perdeu o rumo e foi em direção ao teto, sumindo na escuridão.
Sairf começou a invocar uma criatura para ajudá-los, mas já não havia mais tempo para isso, pois os três trogloditas restantes já haviam se aproximado do grupo, enquanto um de seus amigos corria para chamar reforços.

setembro 15, 2005

Capítulo 94 - O salão do esplendor

Mais alguns metros de caminhada e todos já podiam ver o fim da escadaria. Os últimos degraus circundavam a parede da caverna, formando um peitoril do lado oposto, que dava pra uma caverna ampla cujo teto atingia com facilidade os doze metros de altura. Logo depois do final da escada, uma correnteza de água surgia de uma fenda na parede e seguia, cortando o meio da caverna até desaparecer sob a parede do outro lado da câmara. Dois túneis que conduziam para fora da câmara podiam ser distinguidos na escuridão, um em frente da escada distante uns dez metros dela, e o outro à direita a cerca de quinze metros de distância. O lugar era extremamente frio e úmido. Gotas d’água escorriam pelas paredes e pingavam do teto, formando estalactites e estalagmites exóticas. Um cheiro muito fraco se fazia presente de tempos em tempos. Um aroma fétido que fazia os heróis se entreolharem desconfiados, tentando descobrir o responsável por aquele fedor. Ma o que mais chamava a atenção de todos, era a beleza do lugar. As paredes cintilavam , cobertas de pequenas pedras semipreciosas. Tanto a escada, quanto os túneis haviam sido esculpidos para preservar a beleza natural do lugar. O brilho da tocha era refletido por aquelas paredes multicoloridas, formando um caleidoscópio natural. Aquele era realmente o Salão do Esplendor, como Sam havia mencionado, quando contou a lenda do anão Durgedin. A origem do nome da lendária forja, se fosse realmente naquele lugar, estava explicada.
Anix e Legolas desceram os últimos degraus da escada e se dirigiram para o centro do salão. Nailo decidiu que seguiria sozinho pelo túnel que estava logo à frente do fim da escadaria e seguiu sem dizer nada. Os demais aguardavam no alto da escada, uns quatro a cinco metros acima do nível do salão.
Não fosse o som da água que corria veloz pelo chão, o lugar estaria em completo silêncio. Legolas e Anix caminharam lado a lado fazendo o reconhecimento do lugar. Tudo estava tranqüilo. Não havia presença de nenhum monstro ali que pudesse lhes fazer mal. Os dois já estavam retornando para junto do restante do grupo quando algo despencou do teto sobre suas cabeças. Inicialmente, os dois pensaram nas estalactites, mas era algo pior. Dois stirges, ainda maiores que os enfrentados na escada, caíram do céu da caverna sem produzir nenhum ruído sequer. Numa fração de segundo, Anix e Legolas estavam firmemente agarrados pelas criaturas vampíricas. Anix gritou, chamando a atenção de seus amigos, enquanto se debatia tentando remover o ferrão do animal de seu corpo. Mas os outros nada podiam fazer para ajudar os dois, pois tinham que se preocupar em salvar a própria pele. Outros quatro stirges as atiraram do teto sobre Nailo, Sairf, Sam e Lucano. O alerta dado por Anix, permitiu a todos uma rápida reação. Assim, nenhum dos insetos conseguiu ferir os heróis na escada ou Nailo.
Legolas agarrou a criatura em seu peito e a puxou com todas as forças. O monstro se desprendeu do corpo do elfo, e Legolas o colocou entre os joelhos, enquanto tentava estrangulá-lo. Ao seu lado, Anix tocou o stirge, com a mão direita carregada de energia. Um relâmpago riscou a escuridão da caverna, eletrocutando o inseto e o mago. Longe dali, do outro lado, os heróis lutavam como podiam para evitar que seu sangue fosse tomado pelos monstros. A espada de Nailo passou sob o dorso de seu inimigo, abrindo um corte profundo. O inseto não se deu por vencido e tentou novamente perfurar o peito do ranger. A espada se chocou com o ferrão, aparando o golpe.
No último degrau da escada, Sam enfrentava dificuldades. Antes que o bardo pudesse agir, o monstro voou em sua direção, fincando sua enorme agulha no corpo do menestrel. Após sorver todo o sangue que desejava, o stirge partiu, voando desgovernado em direção à fenda que dava origem à correnteza.
A exemplo de Nailo, Lucano tentou se defender com a sua espada, mas a criatura que o atacava foi mais veloz, saltou sobre o peito do clérigo e perfurou sua carne com força. Pouco à frente do clérigo, Sairf também estava em sérios apuros, com um inseto preso em seu rosto. As pequenas patas do animal rasgavam a pele do mago, quase arrancando suas orelhas. O enorme ferrão em forma de agulha, cravado profundamente no crânio de Sairf. Sam correu para ajudar o amigo e atingiu o animal com um poderoso golpe de sua maça. Entretanto, a criatura não se rendeu à força do bardo, e o maior prejudicado foi Sairf. Já não bastasse o monstro tentar lhe sugar até deixá-lo completamente seco, agora ele recebia pancadas no rosto.
Squall também tentou ajudar seus amigos. Com sua mágica, o feiticeiro conseguiu ferir os monstros que atacavam Sam, Sairf e Lucano, atacando-os com projéteis de energia luminosa. Ho-oh também queria ajudar seu mestre. Desesperada, a coruja tentava arrancar o monstro de cima de Sairf. O mago também não se rendia, e tentou matar a criatura com um virote. Contudo, com a visão bloqueada, ele não foi capaz de mirar a besta e atingiu apenas o teto.
No centro do salão, após saciar sua sede de sangue, o stirge voava, tranqüilo, de volta para seu ninho, enquanto Anix tentava golpeá-lo com os punhos. Enfraquecido pela criatura, Anix mal podia se mover, então ele decidiu usar sua magia para liquidar o inimigo. Um leque de chamas ardentes se formou no ar após Anix proferir um encantamento. O stirge caiu no chão, com seu corpo todo chamuscado. Desesperado, Anix saltou sobre a criatura morta mordendo-a, e passou a tomar o próprio sangue de volta com a boca.
Ao seu lado, Legolas se esforçava para manter presa a criatura capturada por ele. Era extremamente difícil manter aquele monstro parado, então Legolas decidiu acabar com ele de uma vez. Correndo até perto da escada, Legolas levantou os braços que seguravam o inseto, e o atirou contra uma estalagmite no chão. O abdome da criatura se rasgou, e ela conseguiu se livrar da rocha e voltou a atacar Legolas. Squall saltou de cima da escadaria sobre a besta e cravou a lâmina de sua espada nela, salvando seu amigo do perigo.
Após sugarem tudo o que desejavam, os monstros deixaram Sairf e Lucano e partiram. O clérigo tentou impedir a fuga dos inimigos com o machado conseguido na batalha contra os orcs. Mas a falta de proficiência com uma arma tão pesada fez com que o sacerdote falhasse. Sairf conseguiu matar um deles com sua besta, e Sam esmagou a cabeça do segundo com sua maça. Em seguida, Sam correu para ajudar Nailo que, apesar de já ter arrancado três das oito patas de seu inimigo, agora estava preso e sendo sugado pela criatura. A maça do bardo atingiu as costas do monstro, esmagando-a sobre o peito de Nailo.
Os monstros estavam todos mortos, mas os heróis haviam perdido muito sangue e estavam muito fracos. Todos precisavam descansar e recuperar as energias perdidas, então ficou decidido que todos voltariam para a sala onde haviam dormido para cuidar de suas feridas. Porém, esse não era o desejo de Nailo.

setembro 14, 2005

Capítulo 93 - As divagações de Anix

Os heróis voltaram a descer as escadas, todos menos Anix. Cabisbaixo, o elfo estava perdido em seus próprios pensamentos e nem percebeu seus amigos se afastando.
_ O que aconteceu Anix? Por que está aí tão calado? – perguntou Sairf, já retornando para junto do amigo.
_ Eu estava pensando nos sonhos que tivemos, e na relação com as visões de Enola. – a voz de Anix soava triste naquele corredor escuro – Vocês se lembram das três visões que ela teve quando nós a encontramos da primeira vez? Ela disse que via a fúria despertando, que o pequenino trazia a chave da libertação e que o de fala mansa poderia nos matar! Bem, nós achávamos que isso tinha a ver com o Tarrasque, Guiltespin e Teztal respectivamente, mas eu acho que estávamos enganados! Eu acho que essas visões tinham algo a ver com o que estamos passando hoje, neste lugar!
_ Como assim Anix? - perguntavam os demais em coro ao se aproximar do elfo. Anix continuou:
_ Bem, eu acho que o despertar da fúria, na verdade, se referia a esta criatura de sombras que vive nos atormentando nos sonhos. Aquela que nos matou e que na última noite matava nossas amadas! – Anix parou para tomar fôlego, seus amigos estavam confusos com a revelação – O pequenino que trás a chave da libertação, ao invés de Guiltespin, pode bem ser a anã do nosso sonho, que inclusive nos entregava uma chave, provavelmente para libertar Liodriel! Já a pessoa de fala mansa, só pode ser o monstro que eu falei! Lembrem-se que no último sonho, ele chamava as pessoas mais queridas por nós com uma voz suave e mansa! Acho que pode ser isso, talvez as visões da Enola estavam se referindo a este momento! Lembrem-se que ela disse que via um coração negro que dormia sob a terra, e nós também vimos isso e era o monstro do nosso sonho!
Todos ficaram chocados com a possibilidade de Anix estar certo em suas divagações. Pararam calados por alguns instantes, refletindo sobre aquele assunto que tanto os incomodava, quando Sam interveio:
_ Bom amigos! Seja lá o que as visões de Enola nos revelem, se Anix estiver certo, todas as respostas estarão mais abaixo. Vamos adiante então!
_ Tem razão Sam! – exclamou Nailo – Mas quando nós encontrarmos aquele monstro do sonho, nem pense em tocar seu alaúde! Não quero ver você morrer novamente como acontecia no sonho.
_ Ora! Não posso ficar sem tocar, o alaúde é uma extensão do meu corpo. Eu nasci para isso! Além do mais, eu sou um bardo! Bardos dão sorte e matá-los dá um tremendo azar! Eu sou protegido de Tanna-Toh, a deusa do conhecimento. Ninguém com um mínimo de bom senso vai se atrever a me matar! Vamos embora meus amigos! Vamos salvar a bela dama! – Sam tentava animar a todos com seu bom humor, mas ao mesmo tempo, aquele bom humor escondia suas próprias preocupações e temores.
Antes de prosseguirem, conforme sugerido por Sam, Nailo tomou uma decisão surpreendente. O ranger abriu sua mochila e retirou de dentro dela uma maçã, vermelha como um rubi, tão bela como se acabasse de ser apanhada. Era o presente de Allihanna. Nailo a entregou para Sam, dizendo que não queria mais arriscar a vida de seus companheiros caso viesse a encontrar o monstro que aparecia em seus sonhos. Com a maçã sob a tutela do bardo, Nailo tinha certeza que ela seria usada no momento em que fosse necessária e sabia que Sam não hesitaria em utilizá-la como ele havia feito no sonho que tiveram.

setembro 13, 2005

Capítulo 92 - Legolas invade o ninho dos insetos

O dia 12 de Luvitas, um Lanag, era o terceiro dia dos aventureiros dentro da montanha dos orcs. Eles partiram, deixando Nevan para trás, e desceram pelas escadas rumo ao subsolo da montanha. A fenda no chão se alongava por cerca de vinte metros abaixo da superfície. Os heróis desciam por degraus cuidadosamente esculpidos na rocha bruta por mãos anãs, que acompanhavam o contorno sinuoso da fissura. As paredes, esculpidas naturalmente pela ação do tempo, eram muito úmidas e frias, e o ruído de uma forte correnteza abaixo não deixava dúvidas, havia um rio logo à frente.
Os heróis chegaram até o pequeno riacho subterrâneo que cortava a escada transversalmente. A água jorrava com força de uma rachadura na parede direita e passava veloz por um sulco no meio dos degraus até penetrar em um pequeno túnel à esquerda.
_ Foi aqui que os insetos nos atacaram! Devemos ter muito cuidado! – alertou Lucano aos seus companheiros, recordando-se dos maus momentos vividos por ele e Squall naquele lugar.
Todos tentavam manter silêncio para não atrair o enxame de monstros enquanto Nailo observava o local por onde a água jorrava. Legolas acendeu uma tocha e entrou no túnel, acompanhando a correnteza. A água corria com grande força e por pouco não arrastou Nailo que ia logo atrás de Legolas. O túnel apertado e escuro seguia por cerca de dez metros, até desembocar em uma cascata por onde a água despencava cinco metros e desaparecia na escuridão. Era melhor voltar dali, pensavam Legolas e Nailo. Porém, a força da correnteza desequilibrou o arqueiro, que despencou pela cachoeira e desapareceu da visão de Nailo.
O ranger retornou o mais rápido que pode para junto de seus amigos onde se equipou com tocha e corda para ajudar seu amigo. Nailo avançou o máximo que podia antes da cascata e com a ajuda da tocha, procurava por seu amigo. Atraídos pela luz da tocha, sete insetos enormes, como os que tinham atacado Squall e Lucano, voaram na direção de Nailo. Um deles foi abatido a golpes de tocha pelo ranger assim que surgiu das profundezas. Quatro deles voaram pelo túnel, em direção aos que aguardavam o resgate de Legolas, enquanto outros dois atacavam Nailo. O ranger se debatia, tentando se livrar da criatura que sugava seu sangue, além de ter de se defender do outro que voava sobre sua cabeça. Lá embaixo, após a queda d’água, Legolas corria desesperado pelo túnel escuro, enquanto seu sangue era sugado por dois dos pequenos monstros.
Fora do túnel, os quatro insetos cercavam os heróis, ansiosos para cravar seus ferrões em seus corpos. Tentando desviar a atenção dos inimigos, Sairf atirou a tocha para longe do grupo, enquanto Ho-oh recuava pela escada para não ser atacada. Os mísseis mágicos de Anix atingiram duas criaturas, ceifando a vida de uma delas e deixando a segunda debilitada.
Lucano saltou entre seus amigos, com a espada nas mãos, mas devido à limitação de espaço, atingiu apenas a parede da caverna, tornando-se agora o alvo dos inimigos. Squall, mais atrás do grupo, fornecia iluminação para seus amigos com sua lanterna, e já se preparava para atacar quando Sam interveio. O bardo pegou o alaúde preso às costas e começou a dedilhar algumas notas agudas. Todos protegeram seus ouvidos já prevendo o que aconteceria a seguir. Uma nota estridente ecoou atrás das criaturas, criando uma onda de choque que se deslocou em alta velocidade até eles. A explosão sonora matou instantaneamente um dos insetos, que caiu no chão com o sangue escorrendo pelos orifícios dos olhos e ouvidos. Os outros dois passaram a voar desordenadamente, como se estivessem atordoados, facilitando o trabalho dos heróis.
Dentro do túnel, Nailo e Legolas também começavam a tomar controle da situação. Habilmente Nailo abateu a criatura que estava em suas costas com um golpe de tocha. O inseto ficou pendurado apenas pelo ferrão profundamente cravado na nuca do ranger. O outro inseto voou na direção de Nailo, que conseguiu se defender com a tocha e posteriormente desferiu um ataque mortal na criatura com a tocha. Lá embaixo, no fundo da cachoeira, Legolas havia penetrado em uma alcova na parede, saindo de dentro do riacho. Com seu arco, o elfo eliminou um monstro que o perseguia, deixando-o morto no chão com uma flecha atravessada em sua cabeça. Legolas se jogou na parede com toda força, esmagando a criatura que picava suas costas. O monstro explodiu, espalhando o sangue do elfo pela parede, restando apenas seu ferrão cravado nas costas de Legolas. Neste momento, uma nuvem de insetos se desprendeu da parede, circundando Legolas num vôo frenético. Centenas de filhotes de stirges, os insetos que os atacavam, levantaram vôo e cercaram Legolas. Rapidamente ele se levantou para fugir do ninho das criaturas, arrancando com as mãos o animal preso e seu peito. A criatura se colocou entre Legolas e a única saída existente. A luz da tocha de Nailo permitia a Legolas enxergar apenas o vulto do pequeno monstro. A criatura voou na direção de Legolas, sem dar chance de reação para ele. O monstro se chocou contra a cota de malha de mithral, sem conseguir ferir seu alvo, e recuou. Legolas sacou uma flecha e perfurou o corpo da criatura, ganhando tempo para correr até a cascata.
Lá fora, os monstros eram presas fáceis para os heróis. Mesmo escapando do raio congelante usado por Sairf, a criatura não pode se desviar da flecha de Anix e morreu perfurada. O último monstro caiu vítima da espada de Lucano, decapitado.
Com as criaturas mortas, os heróis concentraram suas forças em ajudar Nailo e Legolas. Todos uniram forças para puxar os dois aventureiros que estavam na cachoeira. Nailo jogou a corda para Legolas e todos a puxaram, trazendo o elfo para cima. Durante a escalada, Legolas se tornou um alvo fácil, permitindo que o monstro restante perfurasse sua nuca e lhe tomasse o sangue. Legolas resistiu bravamente até estar de volta ao topo da cachoeira para só então agarrar o inseto a matá-lo a dentadas. Nailo e Legolas retornaram em segurança para a escadaria, junto de seus amigos.
Lá fora, Sam removeu cuidadosamente o ferrão preso nas costas de Legolas com sua adaga e o elfo aproveitou a água do riacho para se lavar e retirar todo o sangue e a sujeira que cobria seu corpo. Todos juntos novamente, o grupo voltou a avançar pelas escadas, rumo às profundezas.

setembro 08, 2005

Capítulo 91 - A ameaça da sombra

A Runa de Gor de Sam já apontava nove horas da manhã, quando o grupo decidiu retornar ao acampamento da noite anterior para recuperar as energias perdidas. Os ferimentos de Nevan foram curados pelos heróis. Sua perna, entretanto, só poderia ser curada com mágica poderosa ou com meses de tratamento. Todos se concentraram em curar suas feridas e descansar para continuar no dia seguinte, explorando o andar inferior da caverna em busca dos aldeões desaparecidos. Durante o dia, Sairf aproveitou o tempo livre para criar alguns pergaminhos mágicos, utilizando as magias restantes. O dia seguiu tranqüilo, e quando a noite chegou todos adormeceram logo, vencidos pelo cansaço.
Suas mentes, ocupadas com batalhas e perigos, foram aos poucos relaxando e se deixando levar para o mundo dos sonhos. Legolas sonhava com o reencontro com sua amada, Liodriel. A bela elfa, com seus longos e sedosos cabelos vermelhos, aguardava pelo arqueiro no alto de uma pequena colina. Ao ver sua amada, Legolas correu para abraçá-la. Finalmente um sonho normal, pensou o elfo, enquanto ia ao encontro de sua prometida.
De forma semelhante, Anix, Squall, Nailo, e Sairf sonhavam com suas amadas, Enola, Deedlit, Darin e Narse. Diferente de seus amigos, Lucano não era apaixonado por ninguém e em seus sonhos ele continuava perseguindo os orcs como um leão atrás de sua presa. Mas o que parecia ser apenas um sonho agradável, revelou-se uma nova visão, ainda mais terrível que as anteriores. Legolas corria em direção a Liodriel, mas por mais que corresse, não conseguia alcançá-la. Quanto mais ele acelerava, quanto mais se esforçava em alcançá-la, mais distante a bela donzela ficava. O mesmo acontecia com os outros em busca de suas amadas, e com Lucano, que não conseguia alcançar os orcs que fugiam desesperados do clérigo.
Todos corriam por um lugar sem cor e sem limites. Não havia paredes, ruas, nada. Somente um espaço incolor e frio que se estendia infinitamente por todos os lados. Então, em seu sonho, Legolas viu surgir uma gigantesca sombra humanóide. A sombra estendeu os braços na direção de Liodriel e com uma voz calma e suave a chamou.
_ Venha! – dizia a criatura para a ruiva, com os braços estendidos. A mesma coisa acontecia com Enola no sonho de Anix, com Deedlit no sonho de Squall, Darin no sonho de Nailo e com Narse, no sonho de Sairf. Da mesma forma, a criatura abraçou os orcs do sonho de Lucano, e as mulheres nos outros sonhos, como se sentisse alguma ternura por cada uma delas.
Então tudo se tornou vermelho. Legolas, Nailo, Squall, Sairf e Anix viram as pessoas mais importantes de suas vidas sendo rasgadas pelas garras afiadas do monstro. Não sobrou nada delas, a não ser uma enorme mancha de sangue tingindo de vermelho toda aquela vastidão antes sem cor. O chão, e o céu tornaram-se rubros como o sangue de suas amadas que jorrava como uma fonte.
Em seu sonho, Lucano viu os orcs sendo fortalecidos pelo monstro. Os orcs tornaram-se criaturas gigantescas. Os monstros caminharam na direção do clérigo. Suas formas lembravam agora a aparência de cadáveres que caminhavam ofegantes. Lucano correu o mais rápido que pode. Entretanto, quanto mais rápido ele corria, mais próximas as criaturas ficavam, até que finalmente elas o alcançaram. Lucano foi pisoteado até ser completamente esmagado pelos monstros.
Todos acordaram, suando frio e tremendo, como acontecera das outras vezes. Nevan se assustou ao ver todos naquele estado, sem compreender o que se passava. Era óbvio que ele, assim como Courana e Geradil, que não haviam conhecido Enola, não passara pela mesma experiência que os heróis.
Todos contaram o sonho que haviam tido para os demais, confirmando que, embora tivessem algumas diferenças entre si, todos os sonhos tinham o mesmo significado. Mas o mais curioso de tudo foi o sonho de Sam. O bardo sonhara que estava pescando e fisgando peixes enormes e apetitosos. Sam não tremia nem suava, o que confirmava que desta vez ele haviam ficado de fora das visões mágicas. Ninguém entendia o significado daqueles pesadelos, nem por que o menestrel tinha sido excluído desta vez. Só o que eles sabiam era que seus entes mais queridos podiam estar correndo perigo.
Entre tantas especulações e deduções, alguém sugeriu que elas podiam estar presas junto com Liodriel no fundo da montanha. Esse pensamento aterrorizou a todos. Agora eles deveriam descer nas entranhas da terra não apenas para salvar a noiva do amigo, mas também para desvendar o destino misterioso que os aguardava.
Todos se levantaram rápido e fizeram todos os preparativos necessários para o dia. Reuniram todo o seu equipamento e sua coragem e decidiram seguir adiante. Entretanto, havia mais um problema a resolver. Nevan, com a perna quebrada, não poderia acompanhá-los muito menos ajudá-los a vencer os desafios que viriam.
Ficou decidido que Nevan ficaria naquela sala, trancado por dentro para sua própria segurança. Os heróis deixaram água e comida em abundância com o guerreiro, retiradas das caixas que os orcs haviam roubado de outras pessoas. Para que ele se defendesse, Lucano lhe deu o seu arco e todas as suas flechas. Nailo deixou Relâmpago de guarda para ajudar Nevan caso alguém tentasse atacá-lo. Cloud também ficou, encarregado de avisar Squall caso algum perigo se aproximasse daquele local. Legolas também deixou para trás a sua querida coruja, muito fraca pelos efeitos do gás venenoso que ambos haviam inalado. Nevan prometeu cuidar de todos os animais e protegê-los com sua vida. Assim, os heróis novamente se despediram de um amigo e penetraram nas profundezas da montanha do anão Durgedin.

Capítulo 90 - O pacto

Encontraram o feiticeiro encostado na parede, cabeça baixa e uma lágrima escorrendo na face. Anix tentava fazer com que seu irmão abrisse seu coração e contasse o motivo de sua tristeza. Mas Squall mantinha-se calado, sofrendo sozinho pela morte do amigo.
Os heróis examinaram os corpos dos orcs mortos, enquanto Nailo carregava o corpo de Loand para fora dali. Legolas guardou consigo o símbolo sagrado de Khalmyr que pertencia ao jovem paladino morto. Nailo levou o cadáver do amigo até a beirada do precipício, fez uma breve oração e o atirou nas profundezas, sepultando seu bom e velho amigo.
Ao retornar, Nailo decidiu explorar a sala onde as orcs fêmeas e as crianças estavam alojadas. Lá, além dos tesouros conseguidos através de saques e as custas de muitas mortes, Nailo encontrou outro prisioneiro.
_ Quem está aí? Quem é você? – perguntava assustado o elfo acorrentado ao chão. Sua aparência era frágil e debilitada. Todo sujo, cabelos desgrenhados e uma aparência esquelética, revelavam os maus tratos que recebera dos orcs.
_ Eu conheço você! Nailo! É você mesmo?! O que você faz aqui?!
_ Viemos resgatar os moradores de Darkwood! Quem é você?
_ Sou Nevan! De Darkwood, meu amigo! Lembra-se de mim?
Nailo quase não reconhecia o amigo de infância, devido à sujeira e à aparência modificada pelas más condições em que se encontrava. O ranger libertou o amigo e ouviu sua triste história. Nevan era um dos jovens que, junto com Draco Baenlyl, haviam partido para caçar os orcs que invadiram Darkwood, retomar as coisas roubadas e vingar os aldeões feridos. Ao chegar ao dente de pedra, Nevan afastou-se dos demais para sondar o terreno ao redor da montanha. Infelizmente, o pobre guerreiro foi vítima de uma emboscada dos orcs que o espancaram e aprisionaram. Nevan passou mais de uma semana como prisioneiro dos orcs, sofrendo toda sorte de maus tratos. Todos os dias sofria espancamentos cruéis, privação de alimento e água, e outros tipos de tortura. Durante o cativeiro, as fêmeas dos orcs o usavam para satisfazer seus desejos mais impuros e insanos. Nevan foi violentado pelas orcs diversas vezes. Envergonhado, o guerreiro pedia a Nailo que não revelasse sua desgraça a ninguém. Uma de suas pernas estava quebrada há vários dias, devido aos ataques sofridos quando fora capturado. Nevan não sabia do rapto de Liodriel, nem do paradeiro de seus amigos. Isaulas, Saudriel, Celilmir, Arwind e Draco, o líder do grupo, haviam se separado dele dias antes. Nevan não sabia onde eles estavam, e orava a Glórien para que seus amigos estivessem em segurança. Nailo o ajudou a se levantar, e o carregou para o corredor, onde Sam e Anix dividiam, com os demais, o tesouro retirado do ogro. Anix exibia orgulhoso em seus punhos, duas braçadeiras douradas retiradas do terrível monstro, além de um belo sabre com a marca do ferreiro anão Durgedin.
Todos foram apresentados a Nevan, exceto Legolas, que já o conhecia de longa data. Nevan contou-lhes quase toda a sua história, omitindo os abusos sexuais que sofrera. Ele temia pela vida de seus companheiros, de quem havia se separado, pela vida de Liodriel e pelas vidas de todos ali presentes. Lamentou com todos a morte de Loand e um clima de desânimo e tristeza tomou conta de todos. A dor causada pela perda do amigo, os inúmeros ferimentos sofridos e o futuro incerto que os aguardava, tirou toda a confiança do grupo de aventureiros. Legolas esticou o braço, com o punho cerrado, diante de seus amigos que o observavam calados.
_ Vamos fazer um juramento! Vamos nos unir e não vamos deixar que mais alguém do nosso grupo morra! Vamos ficar unidos e superar quaisquer desafios que tentarem nos deter! Vamos vencer todas as dificuldades e sair deste inferno todos juntos! Nenhum de nós morrerá de novo!
As palavras do arqueiro encheram os seus corações de esperança. Os heróis se entre olhavam, com olhares cheios de confiança. Um a um, todos colocaram a mão direita sobre a de Legolas e, assim como as mãos se mantinham juntas, eles juraram ficar unidos e superar todas as provações. O pacto estava selado.

setembro 07, 2005

Capítulo 89 - Chacina

Os monstros gritaram em tom de desafio para os heróis, que responderam à altura os rugidos dos orcs. Todos estavam furiosos, pelos horrores que haviam passado naquela maldita montanha, e principalmente, pela morte de seu amigo Loand. Anix se levantou cheio de cólera, enquanto os orcs se aproximavam perigosamente. O nagô arremessou uma pequena esfera de guano e enxofre aos pés dos orcs, e gritou a plenos pulmões: “Bola de fogo!”. Uma grande explosão se formou, consumindo os orcs e tudo à sua volta em chamas ardentes. Quando o fogo se dissipou, os orcs tentavam extinguir o fogo de suas armaduras, já completamente inutilizadas. Os caixotes e sacos de mantimentos e ferramenta próximos, haviam se transformado numa grande fogueira, iluminando a fria e escura caverna.
O líder dos orcs, outrora pomposo com seu machado e sua brilhante armadura de metal, interrompeu seu avanço e o de seus companheiros. Olhou calmamente para cada detalhe do corredor. Mediu cada um dos heróis com os olhos, e contou cada um dos corpos caídos no chão, inclusive o do ogro e o de Loand. Pôs-se entre os heróis e os outros orcs, com o machado estendido para barrar a passagem de ambos os grupos. Ordenou algo aos seus subordinados, em seu próprio idioma, e eles recuaram até a porta por onde haviam surgido, agora revelada pela luz da fogueira.
Legolas caminhou alguns passos pelo corredor, tomando a dianteira, e disparou seu arco contra o líder dos orcs. A flecha carregada de ódio atravessou o crânio da criatura, continuando sua trajetória até se chocar na parede do corredor. Na porta, os orcs agitavam os braços desesperadamente, gritando algo que os heróis não compreendiam.
Então, de trás da porta, surgiu um grande número de orcs. Não eram guerreiros que vinham para lutar, mas sim mulheres, crianças e idosos, que fugiam desesperadamente, liderados pelos quatro soldados que haviam restado. Os orcs estavam abandonando o covil pacificamente, reconhecendo a derrota para os destemidos e poderosos aventureiros.
Mas Legolas e seus amigos estavam cegos pela ira. Haviam perdido um grande amigo. Não tinham encontrado as pessoas que desejavam resgatar, e estavam feridos e cansados. Aqueles monstros não podiam escapar impunes.
Simultaneamente, Sairf, Nailo, Squall e Sam reuniram o que lhes restava de poder mágico e convocaram ajuda externa. Animais monstruosos, vindos de outros planos de existência, surgiram sob o comando dos heróis e atacaram os orcs que fugiam. As espadas foram sacadas e suas lâminas cortaram o ar juntas com flechas, dentes afiados e raios mágicos. A cada golpe uma morte. Os orcs foram sucumbindo um a um diante de tanta fúria. Em poucos segundos, os soldados que protegiam os mais fracos estavam mortos. Os heróis não detiveram sua fúria, e passaram a atacar os idosos, as mulheres e as crianças. Entre elas, haviam três mestiços. Eram três meio-orcs, resultado do cruzamento daquelas criaturas repugnantes com humanos ou elfos. Nailo decapitou um dos bastardos com sua espada, outro deles morreu pisoteado, e o terceiro desapareceu pelos túneis escuros. Nailo perseguiu-os pelo labirinto de cavernas, acompanhado das criaturas extraplanares que ajudavam os heróis. Legolas e os outros seguiram por outro túnel para cercá-los. Apenas Squall ficou para trás, junto ao corpo de seu amigo.
O feiticeiro se sentou cabisbaixo, enquanto seus amigos gritavam enlouquecidamente perseguindo os orcs. Squall retirou com cuidado a espada de seu amigo, colocando-a na bainha e a guardou côn sigo. Sacou sua adaga segurando o dedo indicador de Loand com a mão esquerda. A lâmina afiada cortou o dedo do paladino, cobrindo-se do sangue do servo da justiça enquanto o rosto de Squall cobria-se de lágrimas.
_ Amigo Loand, tomo-lhe este dedo para um dia poder dar-lhe a vida de volta! Eu juro pela minha vida que um dia você voltará a viver! Através deste dedo eu irei trazê-lo do mundo dos mortos um dia, eu prometo!
Squall se levantou guardando o indicador na sua bolsa de componentes mágicos, enrolado em um pedaço de sua própria camisa. Recostou-se na parede, com uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto, e aguardou calado o retorno de seus amigos.

   

Os orcs estavam cercados, todos sentados no chão acuados, próximo ao local onde Courana e Geradil eram mantidos prisioneiros. De um lado, Nailo e seu amigo lobo ameaçavam as criaturas. Do outro, Legolas e o restante do grupo impediam a passagem dos monstros em direção à saída da montanha.
Legolas agarrou o menino meio-orc, arrancando-o de perto de sua mãe. O pequeno mestiço se debatia, mordendo com suas presas proeminentes o braço esquerdo do elfo que o segurava. Legolas olhou fixamente nos olhos da criança, como se tentasse ler sua mente, e começou a falar com ele. Tentou todas as línguas que conhecia, mas o menino parecia não entender qualquer palavra dita por Legolas. Os olhos do arqueiro tornaram-se sombrios, como que cobertos pelo manto de Tenebra. A lâmina de sua faca de caça deslizou lentamente pela bainha de couro curtido. Num movimento rápido e preciso, Legolas abriu a garganta do pequeno de um extremo a outro. O sangue jorrava pelo chão, tingindo-o de vermelho. Um vermelho que se destacava na escuridão, como se o sangue emitisse um forte brilho. Os heróis se calaram diante daquele sangue brilhante que se espalhava. Na escuridão da caverna, o sangue do menino e os olhos de Legolas, cheios de ódio, brilhavam como tochas. O arqueiro desembainhou sua espada , antes que o corpo sem vida do menino atingisse o chão e, entrou no meio dos orcs gritando como um animal insano. O que aconteceu em seguida foi horrível demais para ser lembrado e descrito. Em poucos instantes, os quase trinta orcs se transformaram num amontoado de carne, ossos e sangue. Todos retalhados com tamanha crueldade que somente as mentes mais distorcidas eram capazes de imaginar. Membros e cabeças decepadas misturavam-se a olhos e línguas, arrancados um a um para causar maior dor em quem era cortado. Velhos sem olhos, enforcados com as próprias tripas, mulheres penetradas com violência pela lâmina da espada, crianças sem pele e outros cujas formas não podiam mais ser reconhecidas, espalhavam-se pelo chão. No meio daquele mar de sangue, somente uma pessoa havia restado em pé. Banhado no sangue de suas vítimas, Legolas guardou sua espada, já quase sem corte após tanto uso, e passou entre seus amigos, sem dizer uma palavra. Emudecidos pelo horror de tanta violência, todos os outros acompanharam Legolas e retornaram para onde estava seu amigo Squall.

setembro 02, 2005

Capítulo 88 - Uma breve vitória

Mas os poucos inimigos que restavam não eram tarefa fácil para os heróis. Eles atacavam Sam e Legolas impiedosamente com seus machados. Sam recebeu um golpe na cabeça e Legolas uma forte machadada nas costas. Mesmo Legolas, que sempre teve a maior vitalidade dentre todos no grupo, já demonstrava sinais de cansaço.
Sam usou seu alaúde novamente, hipnotizando um dos orcs. Mas o encanto não durou muito, pois os ataques de Legolas quebraram o feitiço sobre o orc. Após ferir um dos inimigos com uma flechada, Legolas recebeu um novo ferimento do inimigo que havia sido enfeitiçado. O arqueiro recuou pelo corredor, para junto de seus companheiros. Squall tentou iludir seus inimigos com uma magia, produzindo o som de várias pessoas chegando para atacar os orcs. Entretanto, os monstros não foram enganados pelo truque do feiticeiro e continuaram atacando.
Sairf e Sam foram vencidos, um com um machado enterrado no ventre, o outro com um golpe na cabeça. O orc estava pronto para dar o golpe de misericórdia no bardo que estava caído inconsciente, mas Anix o impediu com sua magia. O mago tocou o rosto do orc, descarregando uma potente corrente elétrica que fez os olhos da criatura explodirem e seus pêlos queimarem. O crocodilo abissal também ajudou, quebrando a perna de outro inimigo com sua poderosa cauda.
Nailo usou a varinha mágica para estancar o sangramento de Sairf, enquanto Legolas enfrentava o líder dos orcs. De um lado voavam os machados atirados pelo monstro. Do outro lado, vinham as flechas disparadas pelo elfo arqueiro. Squall, Anix e p crocodilo concentraram seus esforços contra o orc que havia derrotado Sam. A união das flechas, magia e mandíbulas, não deu chance para que o orc reagisse. Ele ainda conseguiu ferir o crocodilo com seu machado, um golpe poderoso que poderia ter matado qualquer um dos dois conjuradores, mas que foi resistido pela grossa pele do animal. Finalmente, o inimigo sucumbiu pelas mãos de Anix, que o executou com uma certeira flechada no pescoço.
Restava apenas o líder, que continuava a jogar machados contra os heróis. Vendo-se indefeso sozinho diante de tantos oponentes, o orc começou a gritar desesperadamente por socorro. Todos já sabiam o significado daqueles gritos guturais. Era preciso silenciá-lo logo, antes que sua voz fosse ouvida por seus amigos. Enquanto gritava, o orc feriu o braço de Anix, dificultando o trabalho dos heróis ainda mais. Ele tentou fugir para a sala de onde saíra, mas a cauda do crocodilo o impediu de correr. Legolas aproveitou o desequilíbrio do inimigo e usou sua flecha infalível acertando-o exatamente no coração e encerrando a batalha.
Rapidamente, os heróis que permaneceram em pé correram para ajudar seus amigos caídos. Enquanto Nailo cuidava de Sam com sua varinha, Anix ajudava Sairf a se recuperar com uma poção mágica. Squall correu até Lucano, caído desde o início da batalha, vítima dos machados. Todos temiam pelo pior, mas Squall deu a boa notícia: Lucano ainda estava vivo. Usando um frasco de poção, Squall trouxe o clérigo de volta ao mundo dos vivos. Eles haviam vencido aquela dura batalha, talvez a pior que já haviam enfrentado. Mas nesta batalha, sofreram uma grande perda. Loand, o fiel servo de Khalmyr, o deus da justiça, não estava mais entre eles. O paladino infelizmente havia morrido.
Não houve sequer tempo para chorar a morte do amigo, ou para se recompor dos ferimentos sofridos. Os jovens aventureiros ouviram o ruído de passos do fundo escuro e distante do corredor, exatamente da direção que eles haviam decidido explorar mais tarde. Cinco vultos caminhavam ruidosamente na direção do grupo, tornando-se cada vez mais nítidos, à medida que se aproximavam das luzes das tochas. Eram mais cinco orcs, fortemente armados, com pesadas armaduras. Os reforços chamados pelo velho haviam chegado, e os heróis estavam todos caídos cansados e muito feridos.

Capítulo 87 - Morte!

O giro do machado empalideceu a todos, ainda mais quando ele golpeou o peito de Loand e retornou rápido para logo em seguida atingir a cabeça de Sam, arrancando-lhe o chapéu. O ogro sorria com satisfação, vendo o sangue dos dois aventureiros tingindo sua arma com a cor vermelha. Loand manteve-se firme diante do monstro, mas Sam recuou, cambaleante, até encontrar com Legolas.
Alertado pelo elfo, o bardo viu a situação terrível de seu amigo clérigo e avisou os seus amigos. Sam agarrou seu alaúde e entoou uma doce canção para o ogro e seus aliados. Os três sentaram-se para prestar atenção na exibição de Sam. O bardo havia conseguido ganhar algum tempo para seu grupo, e seus amigos tinham que aproveitar a oportunidade.
Era o que Legolas tinha em mente, concentrando suas atenções nos orcs, que não estavam fascinados pela música de Sam. Infelizmente, o orc rebateu sua flecha com o machado, frustrando o ataque do elfo. O contra-ataque veio rápido e certeiro, atingindo o pescoço de Legolas violentamente com o machado.
Anix aproveitou a distração dos inimigos para atacá-los, mas os mísseis mágicos disparados nos lobos quebraram o feitiço do bardo, complicando novamente as coisas para os heróis.
Sem contar com a vantagem de antes, Loand tentou atacar o ogro com seu golpe mais poderoso. Clamando pelo nome de Khalmyr, o paladino foi em direção ao inimigo, mas o sangue no chão o fez perder o equilíbrio e a chance. Sua espada, por pouco não escapou de suas mãos.
O ogro se levantou e voltou a rodopiar o machado para pegar impulso. Loand, desequilibrado, seria um alvo fácil para o monstro se não fosse a ajuda de Sairf. Já de volta ao combate, o mago se concentrou num novo feitiço, tornando os degraus das escadas lisos como o gelo. O ogro escorregou, perdendo a chance de atacar, apesar de conseguir se manter em pé. Seu lobo entretanto, caiu aos seus pés, com as patas sujas e escorregadias.
O animal se levantou, mas mal conseguia se mover. Seu companheiro passou entre as pernas do ogro, saindo para o corredor, mas também caiu, vítima da magia de Sairf.
Ao mesmo tempo, Legolas confrontava sozinho o bando de orcs para tentar salvar Lucano da morte certa. Um machado de arremesso passou ao seu lado, agitando seus cabelos com o deslocamento de ar, e se chocou na parede do corredor. Sam voltou a tocar sua música, desta vez para os orcs, e três deles, incluindo o líder, caíram nos seus encantos e se sentaram para prestar atenção no bardo. Legolas aproveitou a chance e atingiu com uma de suas flechas o único orc que não estava fascinado.
O ogro ergueu o machado sobre sua cabeça e o mirou em Loand. Seus pés escorregaram, levando-o ao chão, indefeso. Era a chance que Nailo esperava. O ranger se aproximou apenas o suficiente para por seu plano em prática. Pegou dois frascos com os componentes para criar fogo grego, e os atirou no chão entre os lobos e o ogro. Os líquidos se misturaram, e o contato com o ar fez com que eles se incendiassem, ferindo os inimigos.
Squall chegou no exato instante em que as chamas atingiam os monstros. O fogo provocado por Nailo serviu de guia para a decisão do feiticeiro. Apontando sua mão para um dos lobos caídos, evocando o poder do elemento fogo. Um jato de chamas ardentes clareou o escuro corredor e transformou as costas do lobo em cinzas. O animal ganiu de dor, enquanto Squall assistia seu amigo Legolas desviando-se de um enorme machado no fim do corredor.
O lobo rastejava sofrendo com as queimaduras. Anix pegou seus frascos de vidro e os atirou sobre o lobo. Os dois líquidos se misturaram e entraram em combustão. As chamas levaram o lobo à morte. O outro animal, também atingido pelo fogo, rastejou pelo chão deslizante, ficando aos pés de Loand. O paladino deu com a espada no animal, mas a pele coberta da substância escorregadia, fez com que o ataque resvalasse sem causar-lhe dano algum.
O ogro tentava se levantar, furioso pela morte de sua mascote. Na outra ponta do corredor, a espada espiritual acabava de eliminar um dos orcs, vingando Lucano. Com os inimigos em aparente desvantagem, Sairf aproveitou o momento para usar uma magia mais demorada que pudesse por fim ao combate.
Sam também sentiu que deveria atacar com todas as forças. Mirou os olhos em um orc e de seu alaúde tirou uma nota aguda e ensurdecedora. O som alto, produziu uma explosão ao redor do monstro, ferindo-o e deixando-o completamente atordoado.
Ao lado do bardo, Legolas puxou a corda do arco o máximo que podia. Com a flecha a um palmo da cabeça do inimigo, era praticamente impossível errar aquele ataque. A flecha entrou no crânio do orc, deixando-o seriamente debilitado. Impossibilitado de continuar lutando, o monstro começou a recuar. Mas o arqueiro não lhe deu tempo para fugir, disparando outra flecha, desta vez em sua nuca, e tirando o que restava de vida naquele orc.
Mas a situação ainda podia voltar a piorar. A ansiedade, fez com que Nailo se atrapalhasse e deixasse dois vidros caírem no chão aos seus pés. O fogo grego explodiu, ferindo Nailo, Sairf, o lobo e o ogro. A trapalhada do ranger, por pouco não tirou a concentração do mago.
Para ajudar seus amigos, Anix e Squall agiram conjuntamente. Squall lançou um novo raio ardente, ateando fogo no ogro pela frente. Anix se concentrou num elaborado feitiço que havia desenvolvido durante a noite anterior e apontou o dedo para dentro da sala, atrás do ogro. Lançou uma pequena esfera no local indicado e ela explodiu, espalhando fogo e destruição num raio de seis metros. A bola de fogo avançou para fora da sala, ferindo o ogro e seu animal. Nailo infelizmente também saiu ferido, atingido pela explosão. Anix se surpreendeu com o poder de seu novo ataque, assim como seus amigos.
Então, Sairf finalmente terminou sua magia. Atrás do ogro, no local apontado pelo mago, abriu-se um portal dimensional, trazendo dos planos abissais um crocodilo quase tão grande quanto o próprio ogro. O animal primeiramente arrancou um pedaço da barriga do monstro com sua enorme boca, depois o golpeou com a cauda, deixando o ogro à beira do fim. Sairf disparou sua besta e conseguiu arrancar a orelha esquerda do ogro com o virote.
Mesmo assim, apesar do ataque devastador do crocodilo, o ogro se levantou, juntamente com seu lobo e atacou. O machado bateu na parede, poucos centímetros acima de Nailo, logo após derrubar Loand no chão, com a cabeça fraturada. Sam pegou um vidro de poção mágica e colocou na boca do paladino, ajudando-o a engolir o líquido. Então o bardo ficou pálido como uma vela enquanto gritava, revoltado. O coração de Loand havia parado de bater.
_ Nããããããoooo!!! Loand está morto! O coração dele não está batendo! – gritava Sam desesperado.
_ Maldito monstro! Tome isto! – gritou Legolas, com lágrimas nos olhos, disparando uma de suas flechas infalíveis.
O ogro caiu, sem vida, uma flecha cravada fundo em seu olho direito. O lobo mordia a perna de Legolas, tentando derrubá-lo no chão. Squall e Anix dispararam seus mísseis mágicos, ceifando a vida do animal. O corpo do lobo se dobrou, partido em duas partes. Restavam apenas os orcs agora.