setembro 01, 2005

Capítulo 85 - Decisão dos deuses

Sairf brincava com Squall, descendo um após o outro, os degraus da fenda no solo. A cada degrau, Sairf desafiava seu companheiro para acompanhá-lo. Legolas e Sam aguardavam no início da escada quando Nailo e Anix chegaram. Lucano e Loand esperavam perto do túnel que levava até a saída da montanha. As opiniões estavam divididas como areia e água. Alguns queriam descer pela fenda e seguir as pistas do sonho que haviam tido. Outros desejavam explorar o restante do andar em que se encontravam para eliminar os orcs restantes e procurar por mais prisioneiros.
Calado, Anix observava a discussão calmamente. Quando todos se calaram sem concordar em qual caminho seguir, o jovem mago usou sua sabedoria para resolver o conflito definitivamente.
_ Vamos deixar que os deuses decidam por nós! – exclamou Anix, enquanto atirava um Tibar dourado para cima. – Coroa, nós vamos pra baixo! Não-coroa, nós ficamos aqui em cima!
A moeda girou no ar várias vezes. Um giro hipnótico que a todos calava e fascinava. A moeda caiu sobre o braço esquerdo de Anix, que a escondeu com a mão direita. Ao retirar a mão, o elfo mostrou a todos a face do deus do comércio sem sua coroa brilhante. Estava decidido. Eles explorariam o restante do andar antes de descer nas profundezas da montanha.
Assim, todos unidos novamente, o grupo retornou pelo mesmo caminho que fizera para chegar até o salão no qual se encontravam. Atravessaram a câmara que servia de depósito para os orcs guardarem o material roubado, passaram ao lado do poço e entraram no estreito túnel que havia naquela caverna. Estranhamente, o túnel terminava abruptamente, como se estivesse inacabado. Anix ainda investigou toda a extensão do corredor, procurando passagens secretas, mas nada encontrou.
Retornaram então para a câmara anterior, onde Courana e Geradil foram encontrados um dia antes. O último túnel que faltava ser vasculhado era aquele onde podia ser vista uma luz rubra bruxuleante. Squall foi o primeiro a atravessar a passagem e chegar ao uma caverna que parecia ser uma cozinha rústica e suja, onde os orcs preparavam suas refeições imundas. Num dos cantos, havia um primitivo fogão a lenha, com carvão ardendo em brasa. Espalhados por toda a câmara, potes, pratos, panelas e outros utensílios de comida se misturavam à sujeira. No teto, uma abertura natural na rocha conduzia a fumaça do fogão para o exterior. Ao ver a fenda, todos se lembraram da fumaça que haviam visto quando chegaram à montanha e compreenderam que era por aquela chaminé que ela saia.
Sem encontrar nada de útil, os heróis saíram da cozinha orc e se dirigiram até o corredor descoberto por Legolas e Sairf no dia anterior. Irritado com aquela busca infrutífera, Squall decidiu se separar do grupo e aguardar por seus amigos na escadaria que seguia montanha abaixo. Mesmo contrariado, e sem a presença de Squall, o restante do grupo continuou a exploração do restante dos túneis.
Os heróis pararam na entrada de um corredor largo, com espaço suficiente para dois homens bem armados caminharem e lutarem lado a lado. O túnel havia sido cuidadosamente esculpido na rocha da caverna, e seguia em duas direções opostas. A exemplo de Anix, Sairf atirou uma moeda ao alto e deixou que o deus do caos decidisse por eles. Nimb escolheu a esquerda, e todos acataram a sugestão daquele que regia a sorte a o azar dos mortais.
Seguindo o caminho indicado pela moeda, os heróis avançaram pelo corredor, cerca de seis ou sete metros, até que encontraram uma saída à esquerda que subia um pequeno lance de escadas e terminava em uma porta. Poucos metros à frente, o corredor dobrava à direita e continuava.
Sairf parou diante da porta com seus amigos. Legolas e Lucano decidiram seguir pelo corredor e se separaram dos demais. A porta era extremamente reforçada com tiras de metal já com sinais de ferrugem. O mago da água ficou chocado ao ver um crânio humano fincado em uma estaca cravada na porta. Aquele adorno grotesco feriu o orgulho de Sairf que não se conteve e decidiu retirar aquele troféu ofensivo. Sairf sabia que o crânio pertencera a um humano, assim como ele, e sentia um misto de revolta, ódio e tristeza, ao ver que um semelhante havia sido vítima daqueles orcs desprezíveis. O mago forçou a estava de metal, uma verdadeira barra de ferro maciço, puxando-a para fora da porta. Era possível perceber que somente alguém com extrema força poderia ter fincado aquela barra tão fundo e firme naquela porta feita de pedra. Após muito esforço, finalmente Sairf conseguir retirar o crânio, atirando o ferro ao chão enquanto observava a cabeça esquelética em sua mão e amaldiçoava os orcs que haviam feito aquilo. O som da estaca sendo arrancada, da barra de ferro caindo no chão e do praguejar de Sairf, despertaram a atenção do habitante do cômodo que a porta ocultava. Antes que qualquer um deles pudesse se mover, a porta se abriu com violência. De trás dela surgiu uma criatura que superava com facilidade os três metros de altura. Um ogro. Um ogro gigantesco, ainda maior do que o troll que haviam enfrentado nas Montanhas Uivantes. Um enorme ogro, armado com um machado de igual grandeza e acompanhado de dois lobos com aspecto não menos ameaçador. O monstro passou pela porta, precisando-se se abaixar para tal tarefa e enquanto girava seu machado sobre sua cabeça, gritou aos seus animais de estimação uma ordem que foi traduzida por Loand aos seus amigos. Mesmo antes da tradução de Loand, todos já sabiam o significado daquelas palavras: “Matem e comam todos, meus bichinhos!”

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Legolas de Lucano seguiram adiante pelo túnel, deixando seus amigos parados diante da porta. Os dois sentiam a necessidade de fazer o reconhecimento do resto do caminho para não serem surpreendidos enquanto estivessem analisando os detalhes da porta logo atrás deles. Mais uns três ou quatro passos e os dois viraram a direita, sumindo da visão de seus companheiros.
Diante deles, no final do corredor após uns cinco metros da curva, havia uma estátua de pedra de um anão sobre um pedestal, segurando um machado imponente e um martelo de ferreiro. A figura do anão vestia uma armadura de metal e sua aparência era de alguém nobre e muito respeitado. Todo o conjunto alcançava quase três metros de altura, deixando os dois aventureiros impressionados com a obra.
Um metro antes da estátua, à esquerda do corredor, havia uma outra porta, feita de madeira e reforçada com metal.
Legolas se aproximou da estátua, acompanhado de Lucano, com toda a cautela para não fazer nenhum ruído que pudesse ser ouvido atrás daquela porta. Quando estava próximo da estátua, sentiu o chão cedendo levemente ao seu redor, formando um degrau de menos de dois centímetros de desnível em relação ao restante do corredor. Era uma armadilha, pensou Legolas, mas já era tarde para reagir. Os dois viram a boca da estátua se deslocar lentamente para baixo, como se o anão fosse dizer algo. De dentro da boca, ao invés de palavras, o que saiu foi um mortal gás que envolveu Legolas e Lucano. Rapidamente, o clérigo levou a mão à boca e ao nariz, para tentar se proteger. Legolas, que estava diante da saída do gás, não teve tempo para fazer o mesmo e aspirou toda a nuvem venenosa que se formava. Seus pulmões se encheram daquela fumaça cáustica que queimava como fogo. Legolas começou a tossir forte e alto, e caiu no chão, sem forças. Rapidamente, Legolas se recompôs e se levantou, ao ouvir um barulho atrás da porta diante da qual estava. A porta se abriu e de trás dela, um orc muito velho surgiu carregando machados de arremesso, acompanhado de outros quatro orcs armados com grandes machados e protegidos por pesadas armaduras de metal.

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