setembro 28, 2005

Capítulo 102 - Lágrimas na montanha - adeus amigo bardo

Mas o pior ainda estava por vir. Todos estavam encurralados na escada, sem poder atacar, sem poder correr. Eram alvos fáceis para o exército de Kaarghaz. Azagaias voavam, uma após a outra, na direção dos heróis como se formassem uma chuva mortal. A primeira saraivada deixou grandes danos nos aventureiros. Lucano foi ferido no peito com violência. O sangue do clérigo escorria pela sua armadura tal qual uma cascata, até se misturar com o sangue dos outros sobre os degraus da escada.
Invisível, Anix conseguiu sair ileso do ataque massivo. Entretanto, seus amigos não haviam tido a mesma sorte. Além de Lucano, Sairf e Sam foram feridos várias vezes pelas lanças atiradas pelos monstros. Ao final do ataque, Sairf estava caído aos pés de seus companheiros, totalmente indefeso e inconsciente. Sam também estava muito debilitado, e mal se agüentava sobre suas pernas. Várias azagaias haviam perfurado seu corpo, tirando-lhe o pouco de energia que lhe restava.
Sam e seus amigos estavam indefesos diante daquela ameaça. Squall havia acabado de se curar dos efeitos nocivos do veneno usando o antídoto que lhe restava, mas ele, Legolas e Nailo não seriam páreo para aquela quantidade de inimigos. Mesmo muito ferido, Sam sabia que poderia superar aquelas mutilações com a ajuda de magia e se recuperar por completo. Entretanto, Sairf já estava caído, muito próximo da morte, e os outros estavam muito para trás. Sam sabia que se ele corresse, tinha alguma chance, ainda que mínima, de se salvar. Mas ele sabia também que seus amigos padeceriam ante as lanças afiadas dos trogloditas. Sam não podia atacar, nem usar sua magia para ganhar tempo para seus amigos. Também não poderia carregar Sairf escada acima por já não ter mais forças para tal tarefa. Só havia duas coisas a fazer. A primeira era correr, com todas as forças que restavam, até onde estavam Squall e os outros. Mas se fizesse isso, Sairf morreria, e aquele que tentasse ajudá-lo provavelmente também seria morto. A situação era dramática, pensava Sam, caso alguma atitude drástica não fosse tomada rápido, haveria várias mortes desnecessárias. Boas pessoas morreriam. Heróis deixariam de viver, e Sam não desejava isso. O jovem bardo pagaria até com sua própria vida para impedir que algum de seus amigos morresse. E foi o que ele decidiu fazer. Ao invés de correr para se salvar, Sam escolheu a segunda opção, o sacrifício.
_ Amigos! Continuem a missão por mim! Salvem a bela dama! Adeus!!! – com lágrimas nos olhos, o bardo fitou cada um de seus companheiros. Seu olhar triste revelou sua intenção, e ao dizer essas palavras, Sam se atirou da escada sobre os trogloditas que aguardavam sedentos de sangue com suas azagaias apontadas para o alto.
Sam caiu lentamente, parecia uma pluma diante dos olhos de seus amigos. Seu cabelo se agitava como se uma brisa fresca o tocasse. Suas lágrimas brilhavam na escuridão da caverna como cristais. Todos assistiam à cena, atônitos, sem nada poder fazer. As lanças perfuraram seu corpo, partiram seus ossos, rasgaram sua carne. Sam caiu no chão frio e uma grande poça de sangue se formou sob ele. Os trogloditas o cercaram e o atacaram sem piedade. Do alto da escadaria, já não era mais possível ver o corpo de Sam, mas os movimentos frenéticos das lanças e garras dos trogloditas, bem como o sangue que espirrava para o alto, não deixavam dúvidas quanto ao que acontecia.
Nailo e Legolas atiravam furiosamente com a besta e o arco. Segurando as lágrimas, Legolas gritou para os outros continuarem subindo.
_ Não façam besteiras! Continuem subindo! O Sam escolheu dar a vida dele para nos salvar! Não façam com que o sacrifício dele tenha sido em vão! – gritava Legolas entre um disparo e outro.
Anix chegou em prantos ao local onde Legolas estava. Buscou seu amigo bardo com os olhos, mas não via nada além de uma poça vermelha e um bando de monstros sanguinários.
Lucano subiu arrastando Sairf, sob uma chuva de azagaias, e conseguiu alcançar os outros. Então, Nailo passou entre todos os seus amigos correndo desesperado. Legolas tentou impedi-lo, mas a determinação do ranger era grande demais para ser parada.
_ Squall, cuide do relâmpago! – Nailo gritou e saltou para as trevas. Legolas ainda o viu caído sobre o corpo de Sam e tentando pegar uma poção mágica para impedir a morte do bardo. Mas já era tarde demais.
Legolas e os outros subiram as escadas, assistindo à morte de seus dois amigos. Uma imagem que jamais sairia de suas mentes. Durante a subida, Lucano fez com que Sairf engolisse uma poção mágica, e o trouxe de volta da beira da morte. Ao acordar, o mago relatou aos seus amigos algo que eles não desejavam ouvir.Durante o tempo em que esteve à beira da morte, Sairf se viu em um túnel escuro, com uma luz muito brilhante no fim dele. Diversas pessoas, incluindo o próprio Sairf seguiam em direção à luz. Entre elas, estava um homem com um chapéu logo à frente de Sairf. Antes de ser trazido de volta para a vida, Sairf viu o homem atravessando o portal de luz. Não restava mais dúvidas, Sam estava morto. O bardo havia dado sua vida para salvar a de seus amigos. Por causa de seus erros, eles haviam perdido mais um precioso amigo. Sairf, não havia visto Nailo dentro do túnel, mas todos sabiam que as chances do ranger ter sobrevivido eram quase nulas.
Os heróis subiram, derrotados e adentraram no refúgio onde ficavam para repor as energias ouvindo a bela melodia de Sam Rael. Nevan os recebeu. Assustado com a quantidade de ferimentos, o elfo perguntou o que havia acontecido. Ninguém respondia. Sam não apareceu e quando Nevan perguntou por ele, a única resposta que recebeu foi um soco dado por Anix. O mago se recostou num canto da sala sem abrir a boca. Nevam se calou, compreendendo o que havia acontecido.
Relâmpago correu, abanando o rabo, quando a porta se abriu. Viu todos entrando, menos Nailo. O lobo se deitou, com o rabo encolhido entre as pernas, e se pos a uivar tristemente. Legolas tentou consolá-lo, mas sabia que Relâmpago, assim como ele próprio, não poderia ser consolado. A porta foi fechada lentamente. O seu rangido feria os corações dos heróis como uma espada afiada. Quando ela finalmente estivesse trancada, tudo estaria acabado. Nunca mais eles veriam seu amigo Nailo. Aquele com quem sempre travavam disputas e que sempre os colocava em situações arriscadas. Mas também aquele que sempre os ajudava nas horas mais difíceis. Assim como Nailo, nunca mais eles veriam aquele que sempre os alegrava com suas canções. Aquele que sempre trazia um sorriso alegre em seu rosto e que mesmo nas horas mais difíceis, era capaz de dar esperanças a todos e fazê-los sorrir. Nunca mais eles veriam Sam Rael novamente.

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