maio 31, 2006

Capítulo 211 – Nailo cercado...o ataque das armaduras

Capítulo 211 Nailo cercado...o ataque das armaduras

Nailo estava cercado e sozinho. As quatro armaduras animadas, posicionadas ao redor dele, o atacavam com fúria. Suas espadas rasgavam a carne do ranger, que já estava ferido após a batalha contra o guardião e agora se encontrava muito próximo da morte. Nailo se defendia como podia, tentando desviar dos golpes. Teve sua perna rasgada por uma das armaduras e noutro golpe, sua nuca foi aberta por uma espada. Seu precioso cabelo comprido, oculto por baixo da armadura, foi cortado junto com seu corpo, deixando Nailo enfurecido.

Nailo abriu sua mochila, e pegou a espada bastarda que recebera de Anix, golpeando com violência uma das armaduras. Mas, o pano usado pelo ranger para cobrir a lâmina da espada para não rasgar sua bolsa amorteceu o impacto do golpe, impedindo que o inimigo sofresse qualquer dano.

Nailo soltou a tocha no chão, enquanto se defendia dos ataques dos inimigos. Percebeu, finalmente, que estava em uma situação critica, e gritou por socorro, desta vez, de forma mais desesperada e convincente. Precisava liberar a lâmina de sua arma, e o fez, pisando na faixa de tecido e puxando a espada para fora dela. As armaduras aproveitaram a chance para atacá-lo enquanto Nailo ainda estava com a guarda baixa. Quase que milagrosamente, o ranger reagiu desviando dos ataques e aparando-os com sua espada, agora livre de qualquer proteção.

Nailo voltou a atacar, atingindo com força a lâmina do elmo de uma as armaduras. Faíscas iluminaram as trevas, mas a armadura permanecia praticamente intacta. Seu metal parecia ser extremamente resistente, mesmo apesar dos vários anos de desuso e abandono.

Nailo viu um brilho ao seu lado e virou o rosto a tempo de ver uma flecha ricocheteando num dos elmos e se perdendo na escuridão. Da mesma forma que a espada, a flecha de Legolas não surtira efeito algum na armadura, era preciso mudar de estratégia. Legolas jogou seu arco no chão, próximo a Nailo e, ao ver a situação crítica do amigo, gritou para seus amigos se apressarem. Enquanto os inimigos se ocupavam em atacar o ranger e prestar atenção no brilho de seu arco, Legolas correu furtivamente, tentando se ocultar nas sombras para pegar os inimigos de surpresa.

Lucano chegou ao local do combate enquanto Legolas se deslocava e Nailo atingia outro inimigo sem causar grandes danos. Percebendo a ineficácia das armas, o clérigo apelou para sua deusa, apontando o medalhão de Glórien na direção dos inimigos e gritando o nome de sua deusa. O amuleto brilhou e uma onda sonora se formou ao redor das criaturas, deslocando o ar e causando um estrondo sônico que atordoaria a qualquer um. Qualquer um, menos as armaduras. Apesar de abaladas, as criaturas metálicas continuavam com força total.

Squall, que chegou quase junto com Lucano, lançou seu “Raio da Fênix” sobre os inimigos. As chamas partiram das mãos de Squall, atingindo um dos inimigos na cabeça. O elmo ficou levemente avermelhado, mas o ataque não afetou em quase nada o inimigo.

Nailo continuava em situação grave. Muito ferido e sem conseguir revidar com eficácia, o ranger se encontrava à beira da morte. Seus inimigos, implacáveis, continuavam a atacá-lo furiosamente, sem se importar com a presença de Lucano e dos outros. Nailo se esquivava, aparava os golpes com a espada, pulava e se abaixava, mas toda a sua habilidade não era suficiente para que ele pudesse escapar de todos os ataques. Nailo recebia mais e mais ferimentos, cortes, pancadas, perfurações, que iam mutilando e minando aos poucos a vida do aventureiro.

Legolas correu para tentar ajudar seu amigo, mas sua espada faiscava no metal das armaduras sem sequer arranhá-lo. Vendo que as espadas comuns não surtiam efeito algum, Lucano invocou uma espada espiritual para ajudá-los. Um raio brilhante partiu da arma espiritual, avariando severamente o elmo de uma das armaduras. Lucano deixou sua arma mágica atacando sozinha e correu para perto dos amigos. Ao cruzar a linha central do saguão, uma das armaduras, a que estava sem armas, se virou para o clérigo e o golpeou com sua pesada mão metálica.

Anix e Glorin, finalmente chegaram. Enquanto o mago tentava dissipar as magias que davam vida àqueles objetos, o anão correu para ajudar Nailo.

_ Nailo! Você está muito ferido! Saia daqui rápido! – gritou Glorin.

_ Não precisa capitão! Eu estou bem! – respondeu o ranger, tentando demonstrar valentia.

_ Tá certo! Então continue lutando até o fim! – respondeu o anão.

Mas Nailo mentira ao dizer que estava bem. Sua situação era lastimável. Os últimos ferimentos, ainda que superficiais, tinham deixado-o à beira de perder os sentidos. Mais alguns golpes daqueles e Nailo cairia desmaiado. Mais um golpe certeiro e potente bastaria para tirar a vida de Nailo. Sua única chance era sair dali, como ordenara Glorin.

Nailo fugiu, indo ainda mais para o fundo do castelo. Escapou por um triz das espadas das armaduras que tentavam cortá-lo enquanto ele corria. Parou encostado numa grande escadaria que levava ao andar superior e viu as armaduras virando-se para persegui-lo.Uma delas avançou sobre ele velozmente, mas Nailo conseguiu aparar com sua espada o golpe do inimigo.

Outras duas armaduras cercavam Lucano, cortando a carne do valente sacerdote. Squall tentou ajudá-lo, mas desta vez, não conseguiu atingir seu alvo, apenas iluminando o corredor com suas chamas.

Glorin correu para ajudar Nailo e, ao passar do centro do salão, foi atacado por um dos inimigos. O anão conseguiu se desviar do ataque e continuou correndo até cercar a armadura que atacava Nailo. O machado do anão cortou rapidamente o ar, abrindo um profundo corte na lateral da armadura e inutilizando boa parte de suas peças.

Legolas aproveitou a distração criada pelo anão e saltou sobre a armadura que o atacara, imobilizando-a. Tentou arrancar à força a cabeça do inimigo com intenção de desmontar a armadura mágica e inutilizá-la, mas não obteve êxito. A armadura estava firmemente montada, suas partes haviam sido juntadas por magia e somente a magia poderia separá-las. Nessa manobra, Legolas também cruzou a linha divisória do centro da sala, atraindo para si a atenção dos inimigos. Lucano aproveitou a chance e invocou uma magia de proteção sobre si, depois correu para ajudar Squall que, todo ferido, não podia sequer pensar em se aproximar dos inimigos para lutar.

Anix, após falhar uma primeira vez, usou novamente seu poder para tentar dissipar a magia que mantinha as armaduras vivas. Concentrou-se na magia e apontou na direção dos inimigos. Após proferir a última palavra mágica, o mago viu uma das armaduras cair no chão, imóvel e se desmontar em dezenas de pedaços. Anix descobrira um modo de vencer o difícil combate, e avisou aos seus companheiros de magia para fazerem o mesmo.

Mas o que ele não sabia, é que seus amigos nada podiam fazer. Squall e Lucano não tinham aquela magia disponível para utilizar, e as espadas não surtiam efeito sobre os inimigos. Nailo foi novamente ferido, desta vez na cabeça, então, para tentar ajudá-lo, Glorin decidiu tentar outra estratégia.

_ Nailo! Fuja! Eu vou ganhar algum tempo para você escapar! – gritou Glorin. O anão se abaixou, agarrando a perna da armadura. O capitão fez força, tentando derrubar o inimigo no chão, mas este foi mais forte, e com um rápido puxão, jogou Glorin de encontro ao solo. Agora Glorin estavam em desvantagem.

Além do anão e Nailo, Legolas também estava em apuros. Agarrado, imobilizando uma das armaduras para que seus amigos pudessem atacar com liberdade, o elfo era um alvo fácil. Uma das vestimentas animadas percebeu isso e foi para cima dele. Squall tentou pará-la com uma rajada de dardos de energia, mas, apesar de abrir grandes buracos no inimigo, isso não foi capaz de detê-lo. Legolas se esquivou no exato momento em que a lâmina da bastarda passou rente ao seu corpo, escapando do ataque. O elfo se soltou do oponente que segurava, tentando atingir os dois inimigos que o cercavam ao mesmo tempo. Sua manobra foi ousada demais e Legolas terminou por cair no chão, cercado por dois inimigos.

Uma das armaduras chutou o arqueiro caído. Legolas reagiu rápido e agarrou o pé do inimigo, torcendo-o e derrubando o adversário no chão. Dois inimigos estavam caídos, os heróis começavam a levar vantagem. Entretanto, Squall estava muito ferido da batalha anterior, e Lucano aproveitou o momento para curar o amigo. Revigorado, o feiticeiro voltou a atacar com potência total, disparando seus mísseis mágicos nos inimigos.

Anix seguiu os passos de seu irmão e ambos, com seus mísseis mágicos, começaram a minar gradativamente a resistência dos inimigos. Parecia que os disparos energéticos dos dois, bem como os disparos da espada espiritual de Lucano, eram as únicas formas efetivas de lutar contra aquelas criaturas.

Legolas, mesmo caído, continuava lutando bravamente, impedindo que seu adversário se levantasse e atacasse seus amigos. Nessa posição,o arqueiro era um alvo fácil, sendo ferido várias vezes pela armadura que estava em pé atrás dele. Mesmo assim ele não se rendia e continuava agarrado à outra armadura, impedindo-a de levantar e lutar..

Enquanto isso, Nailo tentava fazer sua espada superar a dureza das armaduras e perfurá-las a todo custo. Golpe após golpe, o ranger conseguiu causar pequenos danos no objeto à sua frente, o que deu tempo para Glorin se levantar e revidar. O anão gritou em fúria e atacou com velocidade surpreendente seu inimigo. Três poderosos golpes sucessivos fizeram com que a armadura se despedaçasse por inteiro. Os dois se viraram na direção dos demais e correram para ajudar.

Legolas se levantou num salto, atacando com sua faca os inimigos à sua volta. A arma espiritual dava cobertura ao arqueiro, fulminando o inimigo pelas costas e espalhando pelo chão os pedaços de ferro que se desprendiam da armadura. Lucano se aproximou da criatura que lutava com Legolas e a encarou. Um par de luzes brancas brilhou dentro do elmo, como se fossem os olhos do objeto. A armadura levantou sua espada e mirou em Lucano, mas não conseguiu completar seu movimento. Vencida pela magia do clérigo, a criatura não tinha coragem para atacá-lo. Lucano estava protegido, como se estivesse em um santuário abençoado onde os inimigos não pudessem penetrar.

Três inimigos estavam caídos, e um acabara de desperdiçar seu ataque em Lucano, a vitória começava a ficar próxima. Squall, empolgado com a vantagem conseguida chutou a cabeça do inimigo que se levantava diante dele. Só o que conseguiu foi ferir o próprio pé, enquanto a armadura nada sofrera. O objeto animado se levantou, esmurrando o rosto de Squall, que se arrependeu do ato inconseqüente. Para reparar o erro, o feiticeiro voltou a atacar com seus mísseis mágicos, mesmo recebendo um novo golpe no olho ao abaixar a guarda enquanto conjurava a magia.

Glorin chegou, golpeando a armadura para defender Squall. Mais da metade do corpo da vestimenta estava destruído após o ataque do anão. Já Nailo, perdera tempo se curando, desperdiçando a chance de liquidar mais um dos inimigos.

Então, algo assustador aconteceu. A armadura que caíra em pedaços sob o efeito de dissipação de magia de Anix se levantou. Os pedaços se reuniram magicamente, trazendo-a de volta ao combate. A duração da magia de Anix havia terminado. Legolas tentou impedi-la de se levantar, mas não conseguiu. Lucano correu, golpeando-a com sua espada, enquanto sua arma espiritual se encarregava de atacar os outros inimigos. Infelizmente, ao contrário da versão espiritual, a espada de Lucano apenas produziu faíscas, sem causar dano ao inimigo.

Logo após a espadada de Lucano, a armadura desabou no chão, aos pedaços, vítima dos ataques mágicos de Anix. Restavam apenas dois inimigos e os heróis concentraram suas forças para derrubá-los. Enquanto as espadas criavam distração e causavam danos menores, Squall teve tempo para se concentrar e disparar seus raios de energia com máxima potência, explodindo em pedaços o que restava das últimas duas armaduras.

Estavam salvos. As quatro armaduras foram derrotadas, e as duas que restavam em pé em seus pedestais não demonstravam sinais de estarem também encantadas para atacar os invasores. Os heróis respiraram profundamente, agradecendo aos deuses pela vitória e por não terem perdido nenhum companheiro. Sabiam que se não tivessem se separado antes, talvez aquela batalha não tivesse sido tão dura.

maio 30, 2006

Capítulo 210 – Separação imprudente

Capítulo 210 Separação imprudente

_ Muito bem, pessoal, vamos vasculhar essa biblioteca em busca de pistas! Bibliotecas geralmente são utilizadas para guardar passagens secretas! Além disso, algum desses livros pode nos fornecer alguma pista sobre o que está sendo feito nesse castelo e também sobre seu passado! – gritou Glorin aos seus soldados.

Rapidamente, os jovens, curiosos e ansiosos por encontrar livros valiosos, começaram a investigar o local. Suas mãos deslizavam rapidamente sobre os tomos, puxando cada um deles e recolocando-os de volta, enquanto seus olhos corriam ligeiros lendo cada título, atentos a cada detalhe que pudesse ser relevante.

_ Capitão! Será, por acaso, que a aura mágica que eu senti nas armaduras logo depois dessa sala não pertencia àquele fantasma que nos atacou? Será que ele ia possuir a armadura, como fez com o Legolas e o Squall, para nos atacar? – cabisbaixo e pensativo, Anix puxou Glorin para perto da porta e perguntou-lhe em voz baixa.

_ Não acredito muito, mas é uma possibilidade, devemos ser prevenidos! Enquanto nós estamos vasculhando essa sala, vá até o corredor e veja as armaduras, ou outro inimigo, não se aproxima! – Glorin ponderou por um instante e, sentindo que corriam risco ficando distraídos na biblioteca, designou a Anix a missão de ser a sentinela do grupo.

_ Certo, capitão! Pode deixar comigo! – Anix concordou fazendo um gesto com a cabeça e correndo em direção à porta. Passou por ela saindo da biblioteca para vigiar o corredor como o capitão havia pedido. Entretanto, não foi exatamente isso o que ele fez.

Tudo estava escuro. Mesmo sendo dia lá fora, aquele corredor, sem janelas ou portas para o exterior, era um lugar sombrio e assustador. Anix acendeu uma vela para poder enxergar ao seu redor. Viu que não havia nenhuma ameaça por perto. Ao invés de ficar vigiando a entrada da biblioteca, onde seus amigos estavam vulneráveis, distraídos e feridos, o mago decidiu explorar o corredor. Foi até o fundo do castelo, olhando para a fileira de armaduras que decoravam a porção do corredor que seguia para a esquerda. Tudo imóvel. Então, Anix escolheu uma das três portas que restavam a explorar e a abriu.

A porta estava destrancada, da mesma forma que as duas anteriores. Por precaução, Anix usou sua magia para desaparecer. Só então, o mago entrou, invisível numa grandiosa sala, toda decorada com tapetes, e almofadas espalhadas pelo chão.

Iludido, achando estar protegido por sua invisibilidade, Anix começou a explorar o lugar, sem se lembrar do fato de que a chama de sua vela permanecia visível. Era verdade que só o que se podia ver dele era uma pequena chama brilhando na escuridão, flutuando a um metro e pouco do chão e se deslocando de lá pra cá aleatoriamente. Mas, isso já era o suficiente para denunciar sua presença e para chamar a atenção de possíveis inimigos e expô-lo ao perigo, principalmente se Anix encontrasse em seu caminho alguém que conhecesse o funcionamento da sua magia de invisibilidade. Sem suspeitar do perigo que corria, Anix continuou a explorar o salão, totalmente sozinho e desprotegido.

Estava em uma espécie de jardim muito antigo e abandonado. Almofadas empoeiradas e mofadas amontoavam-se em diversos pontos do chão, próximas das paredes. Também havia grandes tapetes coloridos e felpudos, usados provavelmente como local para descanso e relaxamento. Tapeçarias antigas e desgastadas decoravam as paredes. Na mesma parede da porta, mas no canto oposto a uns 15 metros da entrada, existia uma grande estátua de pedra de uma mulher com as mãos e o rosto voltados para o alto como se cantasse para um pequeno e belo pássaro de pedra pousado sobre sua mão direita. Anix foi caminhando pela câmara, e quando mais profundamente ele ia, mais forte se tornava o cheiro de podridão que sentia. Enquanto caminhava, viu vários vasos, com a terra seca e dura e ramos de plantas secos e ocos, mortos há muito tempo. Naquilo que Anix julgava ser o centro do salão havia uma fonte. Uma mureta baixa, decorada com esculturas de peixes e outros seres aquáticos, formava um círculo de seis metros de diâmetro no centro da sala. Cinco estátuas de pedra, representando a figura de fadas, se distribuíam uniformemente dentro da fonte. Um grande sátiro de pedra que adornava o centro da fonte, trouxe a Anix lembranças de seu amigo Silfo. Todas as estátuas estavam velhas e deterioradas, cobertas de poeira e teias de aranha. Dentro da fonte, apenas os restos de uma água escura e podre permaneciam, exalando um odor insuportável de podridão.

Debruçado sobre a mureta, com metade do corpo caído dentro da fonte, estava o cadáver ressecado de um homem, morto há muitas eras por uma flecha que ainda permanecia encravada em suas costas. Anix começou a circular a fonte, e viu outro corpo caído ao lado dela, com várias costelas partidas e os restos da roupa rasgados como que cortados por uma lâmina afiada.

Anix não se importou com os corpos e continuou sua exploração. Deu a volta ao redor da fonte, observando calmamente tudo ao sem redor, sem tocar em nada. Encontrou um outro cadáver, caído após a fonte, também vítima de uma morte violenta e sofrida. Anix desejava permanecer ali, investigando, mesmo correndo risco de vida por estar sozinho, sem seus amigos para ajudarem. Mas, sua investigação foi interrompida, quando os gritos de Nailo pedindo por socorro, ecoaram pelo corredor.

· · · · · ·

Anix já estava fora há uns quinze minutos. Squall, seu irmão, estava irritado com sua ausência e foi tirar satisfações com Glorin, o líder do grupo. Lucano e Legolas, já fora da biblioteca, se dirigiam até o salão de festas, onde Lucano usaria sua mágica para terem certeza se de fato a comida estava envenenada. O clérigo caminhava, eufórico, com sua nova descoberta bem guardada em sua mochila. Um livro de capa metálica, lacrado por vários anéis, em cuja capa podia se ver o entalhe de um dragão e os dizeres: Manual do dragão. Nailo, na biblioteca, observava calado, à discussão de Squall.

_ Capitão, que raio de líder é você, que deixa o nosso grupo se separar assim? O Legolas e o Lucano saíram com sua permissão! Meu irmão, já faz um tempão que está sumido! Se alguma coisa acontecer com ele, a culpa vai ser sua! – resmungava Squall, irritado e inconformado com a calma do anão.

_ Ora, não me aborreça!Os dois só foram até o salão de baile! Nós já estivemos lá e eliminamos todas as ameaças de lá! E o seu irmão está no corredor vigiando pra nós! – respondeu Glorin, com tranqüilidade.

_ Quer que eu vá chamá-lo, capitão? – se ofereceu Nailo.

_ Pode ir! – concordou o anão.

Nailo saiu para buscar Anix, enquanto que Squall, ainda inconformado, continuava a discutir.

_ A gente não deveria se separar assim! Já pensou se algum fantasma possui o meu irmão também! A gente nem vai ficar sabendo! Ai ele pode nos matar pelas costas sem que a gente perceba que é o inimigo! – argumentava Squall.

Já no corredor, Nailo ouviu as palavras de Squall e teve uma idéia não muito brilhante. O ranger sacou suas espadas e entrou de volta na biblioteca, fazendo uma expressão de ira e gritando.

_ Eu vou matar vocês! Vou pegar todos! – gritou Nailo.

_ Droga capitão! Tá vendo,acabei de falar! Olha só! A culpa é sua! – reclamou Squall.

_ Pare de me amolar e aja! Pessoal, o Nailo foi possuído! Matem-no! Raio Polar!!! – gritou Glorin, direcionando o raio congelante que saia de seu punho de encontro a Nailo.

_ Aaaai!!! Calma, capitão! Sou eu o Nailo! Eu só tava brincando! – Nailo estava desesperado, seu corpo, quase congelado pelo ataque do anão, doía e tremia. O ranger guardou suas espadas e tentou convencer que era tudo uma brincadeira

_ Prove então! Diga alguma coisa que só o Nailo diria! - gritou o anão, já preparando o próximo ataque.

_ Olha! Ouro! Vou pegar pra mim! – respondeu Nailo, rapidamente, e correndo para o corredor.

_ Elfos...! – suspirou Glorin, insatisfeito.

_ Anões...! – suspirou Squall, inconformado com seu capitão.

Nailo retornou para o corredor, para finalmente chamar Anix de volta. Viu Legolas e Lucano indo em direção à entrada do castelo, mas nem sinal do mago. Nailo continuou em frente, procurando por Anix, até que chegou ao salão das armaduras.

Antes de terminar numa porta dupla gigantesca, o corredor virava à esquerda, tornando-se muito mais largo. Seis armaduras de batalha completas decoravam o corredor, montadas sobre pedestais circulares de pedra de cerca de 20 centímetros de altura.

Nailo acendeu uma tocha para poder enxergar. Eram seis belas armaduras, três de cada lado do corredor, empoeiradas, coberta de teias de aranha e com marcas de ferrugem, mas ainda assim belas. Cinco delas seguravam magníficas espadas entre as mãos. A sexta espada, retirada por Anix no dia anterior, estava dentro mochila de Nailo, embrulhada em uma faixa de pano para não rasgar a bolsa.

Nailo começou a caminhar, admirado com a beleza das armaduras, e por um instante esqueceu que tinha ido atrás de Anix. Nailo passou pelas duas primeiras armaduras e chegou ao meio do corredor, quando viu as quatro armaduras que ficavam nas pontas se levantarem de seus pedestais e atacá-lo com suas espadas e punhos.

_ Pessoal! Preciso de ajuda! Tem uns monstros aqui! – disse Nailo sem elevar a voz, talvez por achar que corria pouco perigo, talvez por estar paralisado de medo.

Um após o outro, os heróis ouviram o chamado do ranger e correram para ajudá-lo e para uma vez mais lutarem para defenderem suas preciosas vidas.

maio 25, 2006

Capítulo 209 – Eliot, o guardião

Capítulo 209 Eliot, o guardião

Calmamente, o grupo removeu todas as proteções colocadas dentro do quarto e abriu a porta. Olharam no corredor. Tudo parecia tranqüilo e intocado. Sob ordens de Glorin, Nailo analisou o piso do corredor em busca de pegadas. Segundo ele, ninguém havia passado por ali durante a noite.

Rumaram em direção ao fundo do castelo, caminhando cautelosamente, observando cada detalhe do corredor. Constataram que as portas abertas por eles continuavam tal qual haviam sido deixadas no dia anterior. Sinal de que ninguém tinha passado por ali. Pararam logo após a capela e o salão de festas, diante de duas portas opostas. Duas portas simples e comuns, sem entalhes nem dimensões grandiosas. Glorin olhou meticulosamente cada uma das entradas, pensando nos perigos que elas esconderiam.

_ Capitão! Posso dar uma sugestão? – pediu Nailo

_ Diga garoto! – respondeu o anão.

_ Acho melhor nós irmos primeiro pela porta da direita! A da esquerda já dá pra deduzir o tamanho e o formato, a da direita não! – respondeu o ranger, usando a continuação do corredor á esquerda como justificativa.

_ Eu acho melhor nós irmos pela esquerda! E dessa vez é melhor nós não abrirmos duas portas de uma vez, capitão! – retrucou Legolas.

_ É só você e o Squall não bancarem os imbecis de novo e se meterem a abrir outra porta que não teremos problemas! – ralhou Glorin.

_ Capitão! A porta da esquerda está destrancada! - disse Legolas ao tentar abri-la.

_ A da direita também não está trancada! – completou Nailo.

_ Elfos...! – suspirou Glorin, visivelmente descontente.

_ Vamos deixar que os deuses decidam por nós! – exclamou Anix, tentando resolver sem conflitos qual caminho tomar.

_ Deuses nada! Quem vai decidir isso é meu machado! – bradou o anão, colocando a arma de madeira no chão. Glorin deu um tapa no cabo do machado, fazendo-o girar no chão rapidamente. A arma foi rodopiando cada vez mais devagar até parar completamente com o cabo voltado para a porta da esquerda.

_ Vamos pela esquerda então! E que ninguém ouse abrir a outra porta! – ordenou o anão.

O grupo se posicionou diante da porta, armas em punho, pronto para rechaçar qualquer ameaça. Legolas e Lucano forneciam luz ao grupo com o arco mágico e a lanterna coberta. Nailo abriu a porta sorrateiramente. As armas foram apontadas para dentro da sala, esperando um novo ataque de surpresa. Nada. Tudo estava calmo. Legolas e Lucano iluminaram o interior do aposento e todos adentraram no local.

O salão media quinze metros de largura e mais de vinte de comprimento. Por serem elfos, os heróis percebiam, ainda que com dificuldade, os detalhes mais distantes do local. Duas grandes mesas circulares, rodeadas por oito cadeiras cada, dividiam o espaço central da câmara em duas partes iguais. Antigas estantes de madeira abrigavam centenas de livros, ocupando as paredes à direita e ao fundo. Avia também um grande baú no espaço vazio entre as estantes da direita e a parede do fundo. Estavam em uma biblioteca. Com tantos tomos, talvez encontrassem ali alguma pista que pudesse revelar o que acontecera naquele castelo, centenas de anos atrás.

Tudo parecia normal. Uma nuvem de poeira fina se assentava aos poucos, após ser levantada pelo abrir da porta. Um cheiro de mofo e pó característico inundava as narinas dos aventureiros, causando-lhes certo desconforto. Teias de aranhas tomavam contas dos cantos das paredes e dos móveis. Tudo normal, exceto pelo som. Um estranho ruído chegava a seus ouvidos. Um rangido longo, seguido de uma pancada seca e baixa que se repetiam constantemente e de forma ritmada, tiravam o sossego dos jovens.

Inicialmente, pensaram na tampa do baú. Mas ela estava imóvel. Depois, concluíram que o estranho som vinha do fundo da sala, de perto da segunda mesa, onde um grande tomo jazia aberto, abandonado.

Imediatamente após detectar a origem do som, Nailo caminhou rapidamente até a mesa, enquanto seus companheiros dirigiam suas luzes para o local e focavam sua visão no móvel. Quando o ranger se aproximou da mesa, não só ele, mas todos os outros finalmente entenderam o que causava o estranho barulho. Uma das cadeiras se inclinava, afastando-se da mesa, e logo em seguida retornava á posição original, batendo com força seus pés no chão.

Uma cadeira mágica, deve ter pensado Nailo ao golpear o objeto com sua espada curta, usando toda a força que possuía. A lâmina abriu um corte no objeto que continuava a se mover da mesma forma. Assustado, Nailo decidiu que era o momento de recuar e ficar perto de seus amigos. Mas, já era tarde.

A cadeira interrompeu seu movimento bruscamente. Um estranho calafrio tomou conta do corpo do ranger enquanto ele tentava correr. Seu corpo foi levantado do solo como que por mágica, e Nailo foi arremessado com violência contra as estantes perto da entrada. Sentado na cadeira, estava um homem, vestido como um soldado, portando uma espada bastarda. Seu corpo era translúcido, todos podiam enxergar claramente através dele. Seus olhos brilhavam como duas faíscas, enquanto movia as mãos na direção da estante como se estivesse controlando o corpo de Nailo com mágica. Não tinha pés, e seu rosto estava carcomido com pedaços de pele faltando e ossos e músculos à mostra. O pavor tomou conta de todos nesse momento.

_ Bárbaros invasores!!! Saiam daqui!!! – gritou o fantasma, levantando-se da cadeira e flutuando ameaçadoramente em direção aos heróis.

_ Flecha Infalível de Legolas! – gritou o arqueiro, disparando contra a criatura horripilante que os desafiava. Foram dois disparos certeiros. O primeiro explodiu em gelo ao atravessar o fantasma. O segundo passou por dentro dele sem efeito, indo chocar-se contra os livros ao fundo. O fantasma se contorceu e amaldiçoou Legolas, encarando-o de forma maliciosa e estranha.

Sem hesitar, Squall lançou um poderoso feitiço sobre o inimigo. Uma explosão de chamas em forma de esfera se espalhou numa grande área ao redor do fantasma. Os móveis estremeceram, as páginas do livro sobre a mesa foram viradas e algumas começaram a pegar fogo. O fantasma, contudo, nada sofreu.

_ Quem é você? – gritou Nailo, ainda atordoado com o tombo.

_ Eu sou Sir Eliot, o guardião! E vou expulsá-los daqui seus invasores! Preparem-se para morrer, bárbaros malditos!!! – gritou o ser fantasmagórico, voando em direção aos heróis.

O espírito avançou rapidamente até Legolas, agarrando-o. Legolas se debateu, tentando inutilmente se livrar do inimigo. Subitamente, o fantasma desapareceu, da mesma forma que surgiu sobre a cadeira momentos antes. Apesar do susto, Legolas estava bem, como comprovaram seus amigos.

Com o fantasma desaparecido, os heróis tinham tempo para se prepararem para a luta. Anix protegeu seu corpo com um campo de força mágico e invisível, enquanto Glorin procurava pelo inimigo dentro no fundo da biblioteca. Nailo preparava uma bomba de óleo para lançar no inimigo assim que ele surgisse, foi quando Lucano agiu de forma estranha e inesperada.

_ Em nome de Glórien, eu te esconjuro! Afasta-te criatura das trevas! Abandona este corpo que não te pertence! – gritava o clérigo, avançando na direção de seu amigo Legolas, empunhando o símbolo de sua deusa com fé.

_ Maldito!!! Bárbaro maldito! Vou matá-lo, invasor!!! – gritou Legolas, saltando para trás e chocando-se com Glorin. Legolas sacou uma flecha e disparou-a de encontro ao peito de Lucano, ferindo-o com gravidade.

_ Legolas foi possuído! Ataquem-no! – gritou Glorin, espantado com a atitude do arqueiro. O anão, num ato reflexo, desferiu uma violenta machadada nas costas de Legolas, fazendo o sangue do arqueiro jorrar pelo chão. – Droga! Temos que fazê-lo desmaiar, é o único jeito de tirar o fantasma dele! – concluiu o capitão.

Temendo ferir seu amigo, Squall tentou apenas enfeitiçar sua mente para impedi-lo de atacar os próprios companheiros. Entretanto, era a mente do fantasma que dominava agora, resistindo facilmente ao poder mental do feiticeiro.

O inimigo continuou usando o corpo de Legolas para atacar os heróis, deixando Lucano à beira da morte com várias flechas certeiras. Sem poder fazer nada para reagir, o clérigo foi forçado a se refugiar no corredor para se curar com sua mágica e evitar a morte certa.

O fantasma ainda comemorava vantagem obtida, quando Nailo saltou sobre ele. Os dois pés do ranger se chocaram com violência no peito de Legolas, jogando-o no chão. Nailo dobrou rapidamente as pernas, conseguindo cair em pé no chão. Anix tentou usar seus poderes para levitar Legolas, mas falhou. Entretanto, caído, Legolas era um alvo fácil para Glorin. O anão virou seu machado de lado, atacando de forma a não ferir Legolas, e foi desferindo sucessivos golpes na cabeça do arqueiro até deixá-lo desacordado no chão.

O fantasma desincorporou de sua vítima e era possível vê-lo dividindo o mesmo espaço que o arqueiro. Mesmo assim, aquele espírito atormentado ainda era uma ameaça de grande perigo para o grupo. A criatura soltou um grito carregado de ódio. Seus olhos brilharam intensamente e Glorin e Nailo foram arremessados contra as paredes. Squall, que usava sua varinha mágica para ficar invisível, foi obrigado a se abaixar para não ser atingido por seu capitão. O fantasma sorriu sadicamente e flutuou para fora da sala, atravessando a parede e desaparecendo da visão dos heróis.

Nailo pegou suas espadas do chão e começou a procurar pelo inimigo. Anix pensou que era o momento de se proteger, e usou sua mágica para ficar invisível, deixando seus companheiros à mercê do espírito maligno. Glorin andava de um lado para outro, atento a qualquer sinal da aparição. Sem poder ver Anix, o anão se chocou acidentalmente com ele, ficando irritado. Lucano retornou para dentro da biblioteca após curar seus ferimentos e foi ajudar Legolas que jazia no chão inconsciente.

Sem que Lucano soubesse, Squall também tentava ajudar Legolas. O feiticeiro estava parado, agachado ao lado do amigo desmaiado, procurando em suas coisas pela poção mágica que ganhara de Glorin. Enquanto todos se ocupavam com problemas menores, o fantasma passou ligeiro no corredor, indo em direção ao fundo do castelo. O anão passou correndo ao lado do corpo do arqueiro, indo em direção ao corredor com Nailo. Tropeçou em Squall e levou um tombo, ficando ainda mais irritado. Quando Glorin e Nailo chegaram ao corredor, não encontraram mais o espírito. Nailo voltou rápido para a biblioteca, prevendo que o inimigo voltaria para lá através das paredes, e pôs-se a esperá-lo.

Assim como o capitão, Lucano também tropeçou no feiticeiro invisível sem, entretanto, cair. Usou uma magia de cura e trouxe Legolas de volta a si. Assustado com a presença invisível de Squall, Legolas o socou no rosto, pensando que era o fantasma. Squall desfez o mal entendido e entregou ao amigo o frasco com a poção mágica.

Legolas se levantou, ainda meio atordoado, e perguntou o que havia acontecido ao fantasma. Sua pergunta foi rapidamente respondida. Todos viram o espírito sair de dentro da estante, ao lado de Nailo, e tentar possuí-lo. A criatura penetrou no corpo do ranger, da mesma forma que fizera com Legolas, e desapareceu. Nailo começou a se contorcer de forma estranha. Ele estava resistindo. A vontade de Nailo foi mais forte do que a do inimigo, e ele felizmente conseguiu expulsá-lo de dentro de si. O fantasma ficou diante de Nailo, ainda confuso, e o ranger não desperdiçou a oportunidade. Suas espadas se cruzaram velozmente, atravessando a essência da criatura com fúria. Infelizmente, nenhum dos ataques foi capaz de afetar o adversário. As espadas passaram por dentro do fantasma sem feri-lo. O espírito sorriu maliciosamente para Nailo e ameaçou agarrá-lo, mas foi impedido por Glorin. O anão apontou seu punho direito na direção da criatura, disparando seu mortal raio polar contra ele. Gelo e neve atravessaram o fantasma, fazendo-o amaldiçoar Glorin.

De forma semelhante, Lucano lançou um raio luminoso ofuscante contra o inimigo. Entretanto, assim como acontecera com Nailo, o ataque do clérigo transpassou o adversário sem feri-lo.

Legolas teve mais sorte com seu arco, ferindo o inimigo por duas vezes com suas flechas. Todos viram o inimigo amaldiçoar o arqueiro e se enfraquecer após o ataque. Parecia que a vitória estava próxima. Pensando dessa forma, Squall decidiu abrir mão de sua camuflagem e atacar. O feiticeiro se concentrou enquanto proferia palavras mágicas, e de sua mão saiu um jato de chamas, iluminando a biblioteca. Infelizmente, o fogo atingiu as costas de Nailo, que estava entre Squall e o fantasma.

Nailo se torceu, gemendo, enquanto seu cabelo ardia em chamas. O espírito, vendo a dor do oponente, sorriu como se zombasse dele. Seus olhos brilharam mais intensamente e Nailo voou na direção de Squall. O fantasma recuou, penetrando na estante e desaparecendo entre os livros.

Nailo seu chocou nas estantes novamente. Rapidamente, se levantou e correu até perto de onde o espírito desapareceu. Glorin e Lucano correram até o corredor, e viram o inimigo penetrando na parede da biblioteca novamente.

Legolas começou a espreitar entre os livros, com uma flecha apontada na direção deles, pronta para disparar assim que visse o inimigo. Squall, agora visível, decidiu ver o que tinha dentro do baú e o abriu. Para sua surpresa e decepção, a arca estava completamente vazia.

Todos continuaram procurando pelo espírito, enquanto aproveitavam para investigar o ambiente ao redor. Nailo e Squall usavam detecção de magias para tentar localizar um inimigo. Nada. Lucano tentava localizá-lo usando uma versão da magia própria para encontrar mortos-vivos. Nada. Parecia que o fantasma não estava mais naquele mundo. E não estava.

Escondido no plano etéreo, o inimigo observava cada passo dos heróis, esperando a oportunidade certa para atacar. Sem suspeitar de nada, Squall se aproximou do inimigo, atraído por uma aura mágica que emanava de um livro. Era o que sir Eliot esperava. Astutamente, o fantasma guerreiro se manifestou no plano material e tomou posse do corpo de Squall, antes que os heróis pudessem fazer qualquer coisa.

Todos perceberam o plano do inimigo e reagiram rapidamente. Glorin correu, virando seu machado de lado, e desferiu um forte golpe na cabeça do possuído. Em seguida, a lâmina da espada de Lucano passou a poucos centímetros do pescoço de Squall. Legolas aproveitou a chance criada pelo clérigo e disparou suas flechas a queima-roupa, fazendo Squall cair no chão inconsciente. O corpo caiu, ferido, mas o espírito continuava em pé, exposto.

Ao ver a figura de sir Eliot exposta sem a proteção fornecida pelo corpo de Squall, Anix não hesitou e disparou uma rajada de dardos mágicos, encerrando o combate. O fantasma, cambaleante, recuou de encontro à estante, desaparecendo em pleno ar. Em seu lugar, restava apenas uma gosma translúcida e gelatinosa.

Todos respiraram aliviados, ao verem o inimigo se desfazendo e sumindo. Glorin deu a Anix algumas poções mágicas, e o mago prontamente cuidou de trazer seu irmão de volta a si. Squall se levantou, ainda zonzo. Quando soube que tinham conseguido a vitória, foi direto em direção ao livro mágico que detectara. Era um livro fino, de aproximadamente 100 páginas, com capa de madeira embrulhada em couro com a imagem de uma manopla estampado na frente em alto relevo. Suas páginas internas eram todas amareladas e ásperas, e tinham as extremidades rasgadas e deterioradas por água. Por dentro, as páginas exibiam marcas adicionais de deterioração devido a algum tipo de umidade. A tinta dos escritos estava borrada, e todas as páginas eram cheias de ondulações. As inscrições do livro apareciam sob a forma de runas arcanas, de modo que levariam algum tempo para decifrá-las. E uma aura de magias de transmutação emanava do livro. Na sua capa, apenas uma inscrição, o nome do misterioso tomo, o Código de Arnlaug.

Squall olhava curioso para o livro mágico, e notou que ao seu lado estava Nailo, segurando um outro livro em suas mãos, um livro do qual emanava uma tenebrosa aura necromântica. Um livro de capa de couro vermelho sem nenhuma inscrição ou desenho, de aproximadamente 100 páginas. Suas páginas internas, também tingidas de vermelho, tornavam dificílimo de se ler e compreender as runas inscritas em tinta preta sobre ele. Runas arcanas. Ambos os aventureiros tinham em suas mãos grimórios, livros de magia, usados por magos para anotar seus feitiços e rituais.

Legolas também trazia livros em suas mãos, um sobre reis e seus brasões, o outro sobre as religiões e deuses de Arton. Além disso, havia naquela vasta biblioteca muitos outros livros antigos, que talvez pudessem revelar alguma pista para auxiliar os heróis em sua jornada.

maio 23, 2006

Capítulo 208 – Visão...corações perfurados

Capítulo 208 Visão...corações perfurados

Os jovens heróis caíram num sono profundo e pesado. Dormiam como rochas, confiando que a armadilha de Glorin os acordaria caso alguém tentasse invadir seu acampamento. Dormiam todos no fundo do quarto, protegidos por uma barricada feita com as camas e mesas do aposento. Estavam tão confiantes e entorpecidos pelo sono e pelo cansaço, que não seriam capazes de notar a presença de um invasor que chegasse ao castelo da mesma forma que eles haviam chegado, tampouco perceber a passagem de um grupo de zumbis para atacar o vilarejo próximo. Além disso, do pesado sono que os dominava, veio o sonho.

Os heróis se viram diante do castelo em que estavam. Estavam todos lá, Lucano, Squall, Anix, Legolas e Nailo. Todos flutuavam pouco acima do chão. Todos se viam e sentiam a mesma sensação. Sabiam o que estava acontecendo. As visões tinham voltado. Foi então que se lembraram. Já tinham visto aquele castelo antes, numa outra visão, quando ainda estavam lutando nos corredores de Khundrukar em busca de Liodriel.

Sem poder se mexer ou dizer sequer uma palavra, o grupo de aventureiros atravessou os portões do castelo, penetrando em seus corredores sombrios. Pararam no corredor central da fortaleza. Viram a porta do quarto no qual repousavam, e as outras já exploradas e ainda por abrir. Então, subiram, atravessando o teto como se não possuíssem corpos e chegando ao segundo andar do castelo.

Estavam em um outro corredor, também cercado por várias portas, mas muito maior que o do andar inferior. Atravessaram o corredor rapidamente, indo na direção que ficava o portão do castelo. E viram, no final do corredor, um vulto, a sombra de uma criatura sombria e aterrorizante. Não puderam distinguir nada de sua forma, mas conseguiram ver seus olhos claramente. Olhos vermelhos e brilhantes como o próprio sol num fim de tarde. Olhos malignos. Também puderam ver um sorriso. Uma larga arcada dentária brilhava na escuridão, exibindo um sorriso malicioso, sarcástico, sádico.

Sem tempo para distinguir mais nada da criatura, os jovens subiram novamente, atravessando o teto e incontáveis pisos, até que chegaram no topo da torre central do castelo. Lá dentro, perdidos no meio das trevas, puderam ver apenas o vulto negro de seu mais temível inimigo.

_ Então vocês conseguiram chegar até aqui? Bem, então terão que morrer! – disse o vulto. Sua voz era pausada e transmitia calma e tranqüilidade e confiança. Sua fala mansa e suave deu a todos a certeza de que aquele era o misterioso e desconhecido inimigo que sempre viam em suas visões. Era o tal que poderia matá-los, segundo as palavras de Enola, a ninfa. O misterioso inimigo de fala mansa.

Mas havia algo de estranho. Eles já tinham ouvido aquela voz antes. E não apenas em seus sonhos, mas em algum outro lugar que suas mentes não conseguiam se lembrar. Sem ter tempo para pensar, os jovens sentiram uma forte pontada em suas costas. Algo os perfurava. Alguém os apunhalava pelas costas. Alguém os traía. Também já tinham vivido isso em outro sonho, mas dessa vez não puderam ver a figura de chapéu que os apunhalava. Somente a dor da traição que lhes rasgava por dentro podia ser sentida.

_ Morram! – disse o vulto negro, sem alterar o tom de sua voz. Raios negros partiram de suas mãos, atravessando os corações dos heróis, partindo-os em milhares de pedaços.

A dor que sentiam era tamanha, que começaram a desfalecer. Mas, recobraram os sentidos antes de desmaiarem completamente. Todos estavam agora novamente diante do castelo. Todos não. Apenas quatro deles. Squall não estava mais presente. O feiticeiro se encontrava perdido, solitário, num lugar todo branco e frio, observando impotente alguém que caminhava à sua frente levando um pacote nos braços até uma caverna distante. E então, todos despertaram.

Os heróis abriram os olhos, assustados e impressionados, como de costume. Glorin resmungava, amaldiçoando o maldito barulho que o perturbava. Legolas atendeu ao chamado de Liodriel, pelo berloque. Conforme havia pedido, ela o estava acordando bem cedo. Era uma manhã chuvosa de primavera, o 14º dia de Lunaluz, um valag. Enquanto Legolas conversava com sua amada esposa, Squall contava a Glorin sobre o misterioso sonho que tiveram.

_ Oi amor! Bom dia!!! – gritou Liodriel cheia de alegria.

_ Bom dia! – resmungou Legolas.

_ Nossa, que mau humor! O que aconteceu? – perguntou a elfa.

_ Nada não, foi só um sonho ruim que eu tive! – respondeu o arqueiro.

_ Sonho ruim? Como aqueles que você tinha quando foi me salvar? – perguntou Liodriel.

_ Mais ou menos! Sonhei com esse castelo em que estamos! Aquele cara da fala mansa está aqui! – continuou Legolas.

_ Ai amor, então sai daí! É perigoso! – pediu a donzela.

_ Não posso! Temos que salvar algumas pessoas aqui! Mas não se preocupe, tudo vai ficar bem! Olha amor, avisa aos construtores da nossa casa pra eles dividirem o dinheiro pela metade e fazer duas casas separadas! Diz pra eles continuarem com o projeto da parte de baixo, que será a casa do Nailo! A nossa casa, você escolhe um lugar ai na vila e mande-os fazerem a casa lá! Meu pai ficou com uma cópia da planta que eu fiz, entregue pros carpinteiros! – disse Legolas, já mais acordado.

_ Tudo bem! Mas por que você mudou de idéia? – perguntou Liodriel.

_ Não quero morar junto do Nailo! Ele é muito chato! Quero ficar sozinho com você, meu amorzinho! – continuou Legolas.

_ Tudo bem então! Mas, posso dar alguns palpites na casa? – indagou a moça.

_ Ai...tá bom! Mas olha lá! Não vai fazer nenhuma besteira! – respondeu Legolas, meio contrariado.

_ Fazer besteira? Você tá me chamando do que? De burra? Quem você tá pensando que eu sou! Tá dizendo que eu tenho mau gosto é? – gritou Liodriel, irada, antes de desligar o berloque.

Legolas acionou novamente o item mágico, fazendo com que seu par, na distante vila de Darkwood, tocasse nas mãos de Liodriel.

_ Oi amor! Desculpa! É claro que você tem um ótimo gosto! Pudera, você casou comigo! Olha, eu te amo! Só quis dizer pra você não exagerar muito porque senão o dinheiro não vai dar! Não fica zangada não! – disse Legolas, com uma voz doce e melodiosa, tentando acalmar sua amada.

_ Tá bom! Prometo que nossa casa vai ficar linda! Tchau então! – disse Liodriel, desligando o aparelho novamente.

Legolas já estava guardando o berloque em sua bolsa, quando ele voltou a tocar e vibrar. O arqueiro atendeu rapidamente ao chamado, preocupado com o que poderia estar acontecendo com sua esposa querida.

_ Pronto! O que aconteceu amor? – perguntou Legolas.

_ Nada não! É que eu esqueci de te dizer uma coisa! Eu te amo, viu? TE AMO!!! – respondeu a elfa.

_ Ah..tá...também te amo! – respondeu Legolas, desgostoso.

_ Então tchau amor! Toma cuidado! Eu te amo! Tchau! – despediu Liodriel.

_ Até amanhã então amor! Eu também te amo! – respondeu Legolas, desligando o aparelho contrariado. Por causa de uma discussão boba o casal já o havia utilizado por três vezes naquele dia, o limite mencionado por Sam. Agora, só poderiam voltar a se falar no dia seguinte. Legolas suspirou profundamente e se voltou para seus amigos reunidos.

_ Bem rapazes! Não se preocupem! O destino não está escrito ainda! Ele pode ser mudado! Não precisam se preocupar! Eu estou aqui com vocês, então nada de ruim irá acontecer! Agora vamos andando, temos vidas a salvar e mortos a exterminar! – disse Glorin, confiante e sorridente, ao terminar de ouvir o relato dos sonhos do grupo e sobre como as visões invariavelmente se tornavam realidade.O anão pegou suas coisa, vestiu sua armadura e se preparou para sair. Todos fizeram o mesmo, se alimentaram, se vestiram e se prepararam. Anix pediu ao capitão que esperasse algum tempo, para que ele pudesse terminar de preparar as magias que usaria naquele dia. E o mago tinha uma surpresa para o grupo. Finalmente ele conseguira terminar de desenvolver uma nova magia, na qual vinha trabalhando há meses. Ansiosos por conhecer os novos poderes do mago, e por desvendar o significado das misteriosas visões, após duas horas de espera e preparação, os heróis finalmente prosseguiram em sua jornada.

maio 22, 2006

Capítulo 207 – Festa interrompida

Capítulo 207 Festa interrompida

_ Maldito! Seu monte de ossos desgraçado! – rugiu Glorin carregado de ódio. O anão se levantou, batendo a poeira de ossos que cobria seu corpo e, muito irado, começou a chutar o que restara do crânio do monstro de ossos.

Havia ossos espalhados por todos os lados. O gigantesco esqueleto se reduzira a pedaços ao despencar sobre Glorin e Anix. Somente os ossos maiores e mais resistentes, como o crânio e grandes ossos das pernas do animal, permaneciam inteiros.

_ Muito bem pessoal! Nailo, Lucano e Legolas, tratem de cuidar dos seus ferimentos logo! Squall e Anix venham comigo! Vamos explorar o resto desse salão logo! Não quero ser surpreendido por nenhum monstro escondido! Nailo, feche a porta rápido! Anix, cadê o Squall? – ordenou Glorin, esbaforido. O escudo pendia em direção ao chão, inclinando o corpo cansado e ferido do anão.

_ Estou aqui capitão! – respondeu Squall, ainda invisível, ao lado do anão.

Não demorou até que o feiticeiro voltasse a ficar visível, revelando a duração dos poderes de sua nova varinha mágica. Anix, Squall e Glorin olharam cada canto do salão, procurando monstros que pudessem ameaçá-los, enquanto os demais cuidavam de suas feridas. Não havia mais monstros no aposento, de modo que podiam agir com mais liberdade e tranqüilidade.

_ Muito bem pessoal! Vamos revirar esse lugar! Vamos procurar por pistas que possam nos trazer conhecimento sobre esse lugar e o que aconteceu aqui! Esse esqueleto que enfrentamos veio de Galrasia! Era de um dinossauro, um tipo de réptil daquela ilha sinistra! Isso significa que, como suspeitávamos, alguém está juntando cadáveres de diferentes partes do mundo para, provavelmente, criar um exército de mortos-vivos! Seja quem for, está fazendo experiências com esses cadáveres, aqueles estranhos mortos cujos pedaços ainda se mexiam depois de decepados são a prova disso! Aquela viga na porta dá a entender que aquele monstro estava guardando alguma coisa, ou estava sendo guardado aqui! Se a primeira hipótese for verdadeira, devemos encontrar o que ele guardava! Dessa forma conheceremos nosso inimigo, isso será útil para quando formos enfrentá-lo! E se encontrarmos algo de valor guardaremos para vender e encher a cara mais tarde! – Glorin falava sério aos elfos que o cercavam, mas terminou seu discurso com um largo sorriso no rosto.

Os heróis começaram então a explorar o local em busca de tesouros e pistas. Estavam em um antigo salão de festas. Os entalhes da porta, as pinturas antigas e desbotadas que decoravam as paredes, os instrumentos musicais presentes, e a enorme mesa de jantar do aposento, não deixavam dúvidas quanto a isso. Mas, havia algo muito intrigante naquele lugar. Não havia nenhum cadáver em todo o salão, nem marcas de sangue ou de batalha. Vasos com plantas secas e ocas, e cuja terra endurecera como rocha após séculos sem receber uma única gota d’água, adornavam os cantos do salão. A mesa, um tablado de madeira com mais de seis metros de comprimento, estava ricamente decorada com toalha bordadas e rendadas, já apodrecidas e sem cor após séculos de esquecimento. Várias cadeiras rodeavam a mesa, e os restos de uma farta refeição estavam presentes sobre ela, intactos, mesmo após muitos anos. Somente ratos, vermes e baratas, se ocuparam de devorar toda a comida que existia ali, deixando apenas vestígios do que teria sido um enorme banquete. Alguns desses ratos, inclusive, jaziam mortos sobre a mesa e pelo chão. Suas carcaças ressecadas pelo passar das eras, não apresentavam nenhuma marca de ferimento, nem de velhice, que pudesse revelar o motivo de suas mortes. Havia pratos, nos quais podia se ver restos de comida, ossos de aves e talheres usados, como se alguém que estava presente na festa, tivesse comido ali. Era evidente que uma grande festa estava ocorrendo naquele lugar há muitas eras atrás, e que a festa fora interrompida antes de seu fim, de forma misteriosa, deixando para os ratos a tarefa de devorar toda a comida. Porém, não havia vestígios de luta no lugar, nem de correria ou coisa parecida, de modo que os heróis concluíram que o local não tinha sido invadido por alguém para matar os convidados da festa. A menos, como disse Glorin, que fosse uma criatura incorpórea, poderosa e desconhecida, capaz de sumir com os corpos dos convidados de forma sobrenatural.

Além da mesa, existiam também bancos de madeira espalhados pelas laterais do salão, deixando o meio do aposento livre, permitindo que fosse usado como um salão de baile. Também havia os instrumentos. Além do grande órgão, feito de madeira, e teclas de marfim, como descobriu Legolas, havia também outros instrumentos musicais. Bandolins, alaúdes, flautas e outros se espalhavam pelo chão, diante da parede ao fundo do salão.

Os instrumentos estavam depositados no chão, intactos por eras. Teias de aranha e grossas camadas de pó cobriam os objetos. Alguns estavam danificados, com avarias pequenas, como se tivessem caído de uma altura não muito elevada. A impressão que se tinha era de que uma orquestra tocava naquele local, antes de soltar todos os seus instrumentos sem qualquer cuidado. Mas, por que? Isso eles não sabiam. Não havia corpos, não havia marcas de sangue, nenhum sinal de um ataque, batalha ou qualquer outra ameaça que pudesse ter interrompido a festa, fazendo com que seus convidados deixassem a comida nos pratos e com que os músicos soltassem seus instrumentos no chão, quebrando alguns deles. Não havia talheres espalhados pelo chão. Nenhuma cadeira caída ou desarrumada, nada que pudesse indicar uma fuga do lugar. A festa havia sido interrompida de maneira misteriosa, e não havia pistas de nenhum dos seus integrantes.

Mais uma coisa chamava a atenção dos heróis, rastros. Vários rastros se espalhavam pelo salão. Eram rastros contínuos e homogêneos de alguém ou algo se arrastando pelo chão e levando consigo a camada mais antiga de pó. Eram rastros recentes, de apenas alguns meses ou anos, como confirmou Nailo. Rastros muito mais novos do que o castelo ou o misterioso evento que levou ao seu abandono. Mas, como indicou Nailo, não eram de nenhuma criatura rastejante. As marcas eram retas, sem ondulações nas bordas, indicando que não pertenciam a algum tipo de criatura rastejante como uma cobra ou algo do gênero. Tampouco pertenciam a mortos-vivos, ou aos convidados da festa, como suspeitou Lucano. Pareciam mais rastros de algo sendo arrastado, algo como um saco, ou corpo, como sugeriu Squall.

_ Ninguém toque na comida! Ela deve estar envenenada! Acho que as pessoas da festa foram traídas por alguém, e envenenadas por essa pessoa! – disse Legolas, sobressaltado.

_ Hum...você tem razão! A comida deve ter sido envenenada, por isso o castelo ficou abandonado! E alguém deve ter arrastado os corpos para fora daqui! Alguém que esteja construindo um exército de mortos-vivos! – concluiu Glorin.

Squall seguiu os rastros até a porta, e viu que rumavam para o fundo do castelo, confirmando as suspeitas de todos. A primeira peça do quebra-cabeça começava a fazer sentido. Os heróis continuaram sua investigação. Olharam embaixo do órgão, procuraram por passagens secretas e reuniram tesouros. Nailo e Legolas arrancaram alguns dentes do esqueleto do terrível dinossauro, e também ossos grandes e resistentes para usarem como armas. Os ossos serviriam como clavas e seriam muito mais efetivos contra esqueletos do que suas espadas e flechas. Lucano, além dos dentes, pegou para si as poderosas garras das patas inferiores do monstro. Aquelas enormes unhas curvilíneas mais pareciam chifres ou foices afiadas. Glorin juntou todos os talheres da mesa da festa, várias facas, garfos e colheres feitos de prata pura, e, com exceção de uma faca que deixou para Nailo, guardou tudo em sua mochila. Lucano se encarregou de pegar todas as canecas que existiam na mesa, também de prata. Ainda havia um belíssimo cálice de cristal, que o anão guardou consigo para que os ”elfos de mão mole” não o quebrassem como ele mesmo disse.

Anix olhava para a pilhagem revoltado. Tentava convencer seu capitão a não levar nenhum dos objetos pois, segundo ele, nada daquilo lhes pertencia. Entretanto, quando viu Nailo e Squall guardando em suas bolsas uma flauta e um alaúde, respectivamente, o mago mudou de idéia rapidamente e também pegou uma flauta para si.

Glorin usou seu machado para retirar as teclas de marfim do órgão. Nailo ia recolhendo e guardando cada uma das teclas em um saco, enquanto Legolas insistia em tentar carregar o instrumento. Após o anão finalmente conseguir convencer Legolas a abandonar seu piano para trás, o grupo abandonou o salão de baile. Fecharam o salão, deixando-o exatamente como o haviam encontrado para não levantar suspeitas, caso alguém, um possível inimigo, passasse por ali. Refugiaram-se no alojamento feminino. Usaram alguns dos bancos do salão de festas para trancar a porta por dentro. Glorin empilhou alguns pratos de maneira que se alguém abrisse a porta caíssem e alertassem o grupo da presença de estranhos. Ainda sob instruções de Glorin, Nailo quebrou as tábuas que fechavam uma das janelas e deixou uma corda presa a ela. Dessa forma, caso precisassem fugir, o grupo teria uma saída alternativa. Depois de tudo pronto, os heróis retiraram suas pesadas armaduras e mochilas e se entregaram a um merecido repouso.

maio 18, 2006

Novo depósito de arquivos

Arrumei um local melhor que a Toca do Dragão Rei para disponibilizar os meus arquivos.
Nesse site cabe 500 mb, muito melhor que os 25 que eu tinha no tripod. Já coloquei uma porção de ferramentas úteis pra quem joga D&D lá, confiram em:

http://www.4shared.com/dir/412607/e830db7b/DDsharing.html

Capítulo 206 – Megarraptor...um inimigo de longe

Capítulo 206 Megarraptor...um inimigo de longe

Legolas e Squall rapidamente entraram no salão, ficando do lado direito dele. Squall usou a varinha mágica para tornar Legolas invisível também. Apenas o brilho do arco era visível no meio da escuridão. Nailo e Glorin estavam diante da entrada, alguns passos dentro do aposento, enquanto Lucano se posicionava do lado esquerdo da sala. Anix aguardava do lado de fora, iluminando o caminho à frente com a lanterna de Squall. Então, todos ouviram o som de ossos estalando e viram duas luzes vermelhas, do tamanho de um punho, vindo na direção do grupo, a uma altura de quase cinco metros. As luzes se aproximaram rapidamente, sem que houvesse chance de reagir a tempo de evitar o ataque. Um vulto negro que acompanhava as luzes foi tomando forma e se revelando nas luzes da lanterna e do arco. O esqueleto de uma criatura bípede, caminhava sobre duas poderosas patas que terminavam em garras gigantescas e afiadas. Seu corpo era muito grande, tinha uns cinco metros de altura e uns seis ou sete de comprimento do focinho ao fim da cauda. Sua cauda óssea se agitava ereta, mantendo o equilíbrio do corpo que tombava para frente na direção dos heróis. Suas mandíbulas, repletas de dentes tão grandes e afiados quanto adagas, se fecharam sobre a cabeça de Glorin, enquanto um par de pequenas patas dianteiras tentava alcançar o corpo do anão com suas garras.

Glorin gritou. O sangue do anão escorria pelas presas do imenso esqueleto, enquanto Glorin gritava de dor e ódio, ao ser abocanhado por aquela criatura macabra. O esqueleto de uma terrível fera, que conheciam apenas através das canções dos bardos. Uma criatura bestial e perigosa que somente podia ser encontrada muito longe dali, em Galrasia. Um lendário dinossauro, ou melhor, a ossada de um deles animada magicamente, era isso que deveriam enfrentar agora.

Nailo deu um passo à frente e atacou com suas espadas, enquanto o capitão tentava se livrar dos dentes do monstro. Conseguiu atingi-lo com dois poderosos golpes. Mas a criatura, composta apenas de ossos, era muito resistente a armas cortantes. Não havia carne para ser rasgada, somente ossos para serem esmagados, e suas espadas não serviam para isso.

O monstro soltou Glorin ao receber os ataques do ranger, e revidou com violência e força excepcionais. As garras das patas inferiores, que eram curvadas e grandes como uma foice, rasgaram o peito de Nailo e de Glorin, como se os dois fossem feitos de papel. Logo em seguida vieram os ataques com as garras superiores e a poderosa mordida. Desta vez, entretanto, por sorte os dois conseguiram se esquivar e evitar novos ferimentos.

_ Preparem-se! Eu vou distraí-lo!!! – gritou Glorin, passando por debaixo do monstro.

O anão correu por entre as pernas da criatura, escapando por pouco de suas garras mortais. Parou a alguns metros dele e tentou em chamar sua atenção. O monstro voltou sua atenção na direção de Glorin, dando tempo para que os outros pudessem agir. Legolas, que estava invisível, pegou seu antigo arco de madeira negra e correu até o monstro, golpeando-o com força. A madeira do arco envergou até quase se partir, explodindo um pequeno pedaço do osso da criatura. Logo após o ataque, Legolas voltou a ficar visível, sendo avisado por seus companheiros e perdendo a vantagem que possuía contra a criatura.

Assustado com o tamanho do morto-vivo que enfrentava seus amigos, Squall não conseguiu fazer outra coisa senão fugir. O feiticeiro se afastou da criatura, indo para o fundo do salão, onde existia um grande órgão. Squall se chocou no instrumento musical, tocando um som descompassado conforme pressionava suas teclas. Acuado no canto, sob o órgão, o feiticeiro assistia em pânico à luta de seus amigos.

_ Poderosa Glórien, mães de todos os elfos! Que vossas bênçãos preencham este local profano e ajude meus irmãos elfos! – gritou Lucano.

Um círculo luminoso se formou no chão ao redor do monstro, deixando-o visivelmente mais fraco. Enquanto Lucano usava o poder de sua deusa para enfraquecer a criatura, ao seu lado Anix já se preparava para explodi-la com uma bola de fogo. O mago esperava apenas que a criatura se afastasse de seus amigos para não feri-lo também.

Mas, Nailo não dava folga para o monstro. Lutava com todas as suas forças, desferindo sucessivos golpes de espada que, apesar de ineficientes, iam aos poucos minando a energia da fera. Porém, num desses ataques, Nailo escorregou, batendo seu ombro nas pernas do monstro e deslocando-o. O ranger gritou de dor, soltando sua espada curta no chão.

Pra sua sorte, o monstro não se importou com sua presença, voltando suas atenções para o anão Glorin que, mesmo seriamente ferido, fazia de tudo para atrair o inimigo para si. Anix não podia esperar mais, sem hesitar ele lançou a bola de enxofre que tinha nas mãos em direção ao teto. Uma forte explosão se formou, espalhando chamas ao redor da criatura e atingindo também Nailo, Legolas e Lucano.

Sentiram o castelo estremecer com o poder da magia de Anix. Mas, nem isso foi capaz de derrotar o esqueleto. O monstro revidou o ataque, rasgando com suas garras e presas todos que estavam ao seu redor. Nailo, Lucano e Legolas ficaram seriamente feridos. Lucano era o que estava em pior estado. Se outro golpe o atingisse, ele certamente morreria.

Para ajudá-lo, Glorin correu, protegendo-se com seu escudo, passando ao lado da criatura. O anão parou embaixo do monstro, enquanto ele tentava mordê-lo. Enquanto mantinha seu escudo no alto, protegendo seu corpo, atacou por baixo com seu machado, destruindo parte da perna da criatura.

Enquanto a fera lutava contra Glorin, os heróis tiveram tempo para se reorganizar. Legolas aproveitou a distração do monstro para agarrar sua cauda óssea e subir em suas costas. Agora, além de cavalos e lagartos, Legolas cavalgava um dinossauro morto-vivo.

Enquanto se segurava com dificuldade, o arqueiro tentava quebrar os ossos da criatura com sua adaga. Mas, parecia impossível destruí-lo daquela forma, e Legolas se arrependeu de ter abandonado seus arcos no chão.

Lucano, muito ferido, ainda tentou esconjurar a criatura, apontando seu símbolo sagrado e evocando o nome de Glórien. Falhou. Fraco devido aos ferimentos, Lucano não conseguiu se concentrar para afetar o monstro com seu poder. A fera, sem se importar com os outros inimigos, avançava com suas presas na direção do clérigo. Era o fim. E teria sido, não fosse a ajuda de Nailo. Mesmo com o ombro esquerdo deslocado, o ranger saltou até Lucano, puxando-o para fora do aposento, no momento exato em que as mandíbulas do monstro se fechavam sobre a cabeça do clérigo.

Anix aproveitou a chance e ficou invisível. Correu até Glorin, escapando por pouco das garras da criatura. Mesmo invisível, o mago agitava a poeira do chão, ao se deslocar e movimentar o ar, permitindo que o monstro detectasse sua presença e atacasse. Parou ao lado do capitão, que estava severamente ferido, e se concentrou para usar um feitiço que poderia resultar na derrota do inimigo.

Novamente o monstro atacou com suas poderosas garras. Por estar invisível, Anix conseguiu desviar facilmente do ataque. Glorin se encolheu atrás do escudo, suportando bravamente o peso do ataque. Legolas já não teve a mesma sorte. Montado sobre a criatura, o arqueiro era um alvo fácil. O monstro se contorceu e agarrou a perna do arqueiro com sua mandíbula. Legolas tentou se segurar, mas a criatura foi mais forte que ele. O esqueleto arremessou Legolas contra a parede. Seu corpo se chocou violentamente na parede e depois caiu desajeitadamente sobre uma mesa que havia embaixo. Pratos, canecos e talheres voavam pelos ares, enquanto Legolas gemia e tentava recuperar o fôlego. Legolas, assim como Lucano, também estava a apenas um ataque do fim.

Glorin continuava combatendo com firmeza. Protegido pelo escudo sobre sua cabeça, o anão golpeava por baixo com seu machado, sucessivas vezes, até que conseguiu destruir uma das garras em forma de foice do esqueleto.

A coragem do capitão inspirou Legolas, que reuniu suas últimas forças para continuar a lutar. O arqueiro saltou da mesa ao mesmo tempo em que sacava sua espada e, correndo até seu capitão, quebrou um dos ossos da fera com sua espada.

_ Sai daqui garoto! Você está muito ferido, vai acabar sendo morto! – gritou Glorin, bloqueando as garras do monstro com seu escudo.

_ Não capitão! Não vou abandoná-lo! Mesmo que eu morra! – respondeu Legolas. Glorin esboçou um sorriso e voltou a atacar.

Enquanto isso, no corredor, Lucano usava sua mágica para minimizar seus ferimentos. Ao mesmo tempo, Nailo lançava um frasco de óleo em chamas sobre o dinossauro. O pote bateu no teto, explodindo e espalhando óleo por uma grande área. O fogo do pano que tampava o vidro incendiou o óleo no teto, fazendo com que enormes respingos de óleo incandescente atingissem o morto-vivo.

As chamas distraíram o monstro por um breve instante, dando a Anix a chance que ele esperava. O mago tocou a criatura e gritou uma palavra mágica. Sua esperança era poder drenar toda a força do monstro com sua magia. Infelizmente, a criatura era mais resistente do que esperava, e quebrou facilmente o feitiço do mago. Anix recuou, espantado com o poder daquele “simples” esqueleto e, já visível novamente, foi obrigado a se defender.

Anix saltou para trás, vendo a garra do monstro perfurar o chão onde ele estava. Legolas aparou os golpes das garras menores do monstro com sua espada, e Glorin, se encolheu atrás do escudo, enquanto o monstro tentava mordê-lo em vão.

Glorin ergueu ainda mais o escudo, aumentando sua visão, e atacou com todas as forças. Seu machado despedaçou a outra garra em forma de foice do monstro, e destruiu quase metade do osso principal da perna. O monstro começou a cambalear para os lados, com sua base de apoio fragilizada pelo anão. Legolas abaixou e pegou seus arcos, pronto para atacar, mesmo sacrificando suas armas adoradas. Anix já começava a murmurar um outro feitiço, enquanto Nailo preparava uma nova bomba de óleo e Squall tremia embaixo do órgão.

_ Glórien!!! – gritou Lucano.

Diante da porta de entrada, o clérigo chamava por sua deusa. Uma espada longa mágica formada por uma luz intensa e cálida, flutuava ao seu lado. A espada espiritual se inclinou na direção do monstro, e um raio mágico brilhante partiu de sua lâmina abençoada em direção ao inimigo. O raio mágico atravessou a cabeça da criatura, partindo-a em dois pedaços e dando início ao uma reação em cadeia. Os olhos vermelhos do monstro deixaram de brilhar e seu corpo gigantesco se precipitou sobre Glorin e Anix. O esqueleto se despedaçou, espalhando seus ossos por todo o salão. Anix e Glorin se levantaram do chão, tirando a poeira que cobria seus corpos. Estavam vivos. Muito feridos, principalmente Glorin e Legolas, mas vivos. Mais um duro desafio tinha sido superado pelos heróis.