maio 30, 2006

Capítulo 210 – Separação imprudente

Capítulo 210 Separação imprudente

_ Muito bem, pessoal, vamos vasculhar essa biblioteca em busca de pistas! Bibliotecas geralmente são utilizadas para guardar passagens secretas! Além disso, algum desses livros pode nos fornecer alguma pista sobre o que está sendo feito nesse castelo e também sobre seu passado! – gritou Glorin aos seus soldados.

Rapidamente, os jovens, curiosos e ansiosos por encontrar livros valiosos, começaram a investigar o local. Suas mãos deslizavam rapidamente sobre os tomos, puxando cada um deles e recolocando-os de volta, enquanto seus olhos corriam ligeiros lendo cada título, atentos a cada detalhe que pudesse ser relevante.

_ Capitão! Será, por acaso, que a aura mágica que eu senti nas armaduras logo depois dessa sala não pertencia àquele fantasma que nos atacou? Será que ele ia possuir a armadura, como fez com o Legolas e o Squall, para nos atacar? – cabisbaixo e pensativo, Anix puxou Glorin para perto da porta e perguntou-lhe em voz baixa.

_ Não acredito muito, mas é uma possibilidade, devemos ser prevenidos! Enquanto nós estamos vasculhando essa sala, vá até o corredor e veja as armaduras, ou outro inimigo, não se aproxima! – Glorin ponderou por um instante e, sentindo que corriam risco ficando distraídos na biblioteca, designou a Anix a missão de ser a sentinela do grupo.

_ Certo, capitão! Pode deixar comigo! – Anix concordou fazendo um gesto com a cabeça e correndo em direção à porta. Passou por ela saindo da biblioteca para vigiar o corredor como o capitão havia pedido. Entretanto, não foi exatamente isso o que ele fez.

Tudo estava escuro. Mesmo sendo dia lá fora, aquele corredor, sem janelas ou portas para o exterior, era um lugar sombrio e assustador. Anix acendeu uma vela para poder enxergar ao seu redor. Viu que não havia nenhuma ameaça por perto. Ao invés de ficar vigiando a entrada da biblioteca, onde seus amigos estavam vulneráveis, distraídos e feridos, o mago decidiu explorar o corredor. Foi até o fundo do castelo, olhando para a fileira de armaduras que decoravam a porção do corredor que seguia para a esquerda. Tudo imóvel. Então, Anix escolheu uma das três portas que restavam a explorar e a abriu.

A porta estava destrancada, da mesma forma que as duas anteriores. Por precaução, Anix usou sua magia para desaparecer. Só então, o mago entrou, invisível numa grandiosa sala, toda decorada com tapetes, e almofadas espalhadas pelo chão.

Iludido, achando estar protegido por sua invisibilidade, Anix começou a explorar o lugar, sem se lembrar do fato de que a chama de sua vela permanecia visível. Era verdade que só o que se podia ver dele era uma pequena chama brilhando na escuridão, flutuando a um metro e pouco do chão e se deslocando de lá pra cá aleatoriamente. Mas, isso já era o suficiente para denunciar sua presença e para chamar a atenção de possíveis inimigos e expô-lo ao perigo, principalmente se Anix encontrasse em seu caminho alguém que conhecesse o funcionamento da sua magia de invisibilidade. Sem suspeitar do perigo que corria, Anix continuou a explorar o salão, totalmente sozinho e desprotegido.

Estava em uma espécie de jardim muito antigo e abandonado. Almofadas empoeiradas e mofadas amontoavam-se em diversos pontos do chão, próximas das paredes. Também havia grandes tapetes coloridos e felpudos, usados provavelmente como local para descanso e relaxamento. Tapeçarias antigas e desgastadas decoravam as paredes. Na mesma parede da porta, mas no canto oposto a uns 15 metros da entrada, existia uma grande estátua de pedra de uma mulher com as mãos e o rosto voltados para o alto como se cantasse para um pequeno e belo pássaro de pedra pousado sobre sua mão direita. Anix foi caminhando pela câmara, e quando mais profundamente ele ia, mais forte se tornava o cheiro de podridão que sentia. Enquanto caminhava, viu vários vasos, com a terra seca e dura e ramos de plantas secos e ocos, mortos há muito tempo. Naquilo que Anix julgava ser o centro do salão havia uma fonte. Uma mureta baixa, decorada com esculturas de peixes e outros seres aquáticos, formava um círculo de seis metros de diâmetro no centro da sala. Cinco estátuas de pedra, representando a figura de fadas, se distribuíam uniformemente dentro da fonte. Um grande sátiro de pedra que adornava o centro da fonte, trouxe a Anix lembranças de seu amigo Silfo. Todas as estátuas estavam velhas e deterioradas, cobertas de poeira e teias de aranha. Dentro da fonte, apenas os restos de uma água escura e podre permaneciam, exalando um odor insuportável de podridão.

Debruçado sobre a mureta, com metade do corpo caído dentro da fonte, estava o cadáver ressecado de um homem, morto há muitas eras por uma flecha que ainda permanecia encravada em suas costas. Anix começou a circular a fonte, e viu outro corpo caído ao lado dela, com várias costelas partidas e os restos da roupa rasgados como que cortados por uma lâmina afiada.

Anix não se importou com os corpos e continuou sua exploração. Deu a volta ao redor da fonte, observando calmamente tudo ao sem redor, sem tocar em nada. Encontrou um outro cadáver, caído após a fonte, também vítima de uma morte violenta e sofrida. Anix desejava permanecer ali, investigando, mesmo correndo risco de vida por estar sozinho, sem seus amigos para ajudarem. Mas, sua investigação foi interrompida, quando os gritos de Nailo pedindo por socorro, ecoaram pelo corredor.

· · · · · ·

Anix já estava fora há uns quinze minutos. Squall, seu irmão, estava irritado com sua ausência e foi tirar satisfações com Glorin, o líder do grupo. Lucano e Legolas, já fora da biblioteca, se dirigiam até o salão de festas, onde Lucano usaria sua mágica para terem certeza se de fato a comida estava envenenada. O clérigo caminhava, eufórico, com sua nova descoberta bem guardada em sua mochila. Um livro de capa metálica, lacrado por vários anéis, em cuja capa podia se ver o entalhe de um dragão e os dizeres: Manual do dragão. Nailo, na biblioteca, observava calado, à discussão de Squall.

_ Capitão, que raio de líder é você, que deixa o nosso grupo se separar assim? O Legolas e o Lucano saíram com sua permissão! Meu irmão, já faz um tempão que está sumido! Se alguma coisa acontecer com ele, a culpa vai ser sua! – resmungava Squall, irritado e inconformado com a calma do anão.

_ Ora, não me aborreça!Os dois só foram até o salão de baile! Nós já estivemos lá e eliminamos todas as ameaças de lá! E o seu irmão está no corredor vigiando pra nós! – respondeu Glorin, com tranqüilidade.

_ Quer que eu vá chamá-lo, capitão? – se ofereceu Nailo.

_ Pode ir! – concordou o anão.

Nailo saiu para buscar Anix, enquanto que Squall, ainda inconformado, continuava a discutir.

_ A gente não deveria se separar assim! Já pensou se algum fantasma possui o meu irmão também! A gente nem vai ficar sabendo! Ai ele pode nos matar pelas costas sem que a gente perceba que é o inimigo! – argumentava Squall.

Já no corredor, Nailo ouviu as palavras de Squall e teve uma idéia não muito brilhante. O ranger sacou suas espadas e entrou de volta na biblioteca, fazendo uma expressão de ira e gritando.

_ Eu vou matar vocês! Vou pegar todos! – gritou Nailo.

_ Droga capitão! Tá vendo,acabei de falar! Olha só! A culpa é sua! – reclamou Squall.

_ Pare de me amolar e aja! Pessoal, o Nailo foi possuído! Matem-no! Raio Polar!!! – gritou Glorin, direcionando o raio congelante que saia de seu punho de encontro a Nailo.

_ Aaaai!!! Calma, capitão! Sou eu o Nailo! Eu só tava brincando! – Nailo estava desesperado, seu corpo, quase congelado pelo ataque do anão, doía e tremia. O ranger guardou suas espadas e tentou convencer que era tudo uma brincadeira

_ Prove então! Diga alguma coisa que só o Nailo diria! - gritou o anão, já preparando o próximo ataque.

_ Olha! Ouro! Vou pegar pra mim! – respondeu Nailo, rapidamente, e correndo para o corredor.

_ Elfos...! – suspirou Glorin, insatisfeito.

_ Anões...! – suspirou Squall, inconformado com seu capitão.

Nailo retornou para o corredor, para finalmente chamar Anix de volta. Viu Legolas e Lucano indo em direção à entrada do castelo, mas nem sinal do mago. Nailo continuou em frente, procurando por Anix, até que chegou ao salão das armaduras.

Antes de terminar numa porta dupla gigantesca, o corredor virava à esquerda, tornando-se muito mais largo. Seis armaduras de batalha completas decoravam o corredor, montadas sobre pedestais circulares de pedra de cerca de 20 centímetros de altura.

Nailo acendeu uma tocha para poder enxergar. Eram seis belas armaduras, três de cada lado do corredor, empoeiradas, coberta de teias de aranha e com marcas de ferrugem, mas ainda assim belas. Cinco delas seguravam magníficas espadas entre as mãos. A sexta espada, retirada por Anix no dia anterior, estava dentro mochila de Nailo, embrulhada em uma faixa de pano para não rasgar a bolsa.

Nailo começou a caminhar, admirado com a beleza das armaduras, e por um instante esqueceu que tinha ido atrás de Anix. Nailo passou pelas duas primeiras armaduras e chegou ao meio do corredor, quando viu as quatro armaduras que ficavam nas pontas se levantarem de seus pedestais e atacá-lo com suas espadas e punhos.

_ Pessoal! Preciso de ajuda! Tem uns monstros aqui! – disse Nailo sem elevar a voz, talvez por achar que corria pouco perigo, talvez por estar paralisado de medo.

Um após o outro, os heróis ouviram o chamado do ranger e correram para ajudá-lo e para uma vez mais lutarem para defenderem suas preciosas vidas.

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