maio 16, 2006

Capítulo 203 – Sombras dos mortos

Capítulo 203 Sombras dos mortos

_ Capitão! O senhor entende de pedras, certo? Quanto acha que vale essa pepita de ouro que eu encontrei? – perguntou Anix assim que chegou ao corredor.

_ Bem, eu não sou especialista em jóias, então meu julgamento não deve ser interpretado como verdade! Mas, eu acho que essa pepita deve valer algo em torno de 150 a 200 tibares de ouro! – respondeu Glorin ao tomar a pedra em suas mãos.

Lucano, Nailo e Squall chegaram ao corredor nesse instante. Lucano e Nailo tinham deixado suas coisas escondidas em um vaso dentro do quarto feminino, carregando consigo apenas aquilo que fosse realmente necessário para enfrentar os mortos-vivos. Squall, entretanto, se deixou levar pela ganância e desobedeceu a ordem, mais que coerente, de Glorin, para abandonar o que não fosse útil em combate. Squall desejava levar consigo todo o ouro que conseguira juntar a duras penas durante as aventuras pelas quais passara. Fez um acordo com Nailo, para que o ranger carregasse seu peso extra. Nailo possuía maior força física, e além disso contava com uma bolsa mágica que comprara logo após o julgamento de Legolas, e que podia carregar uma infinidade de coisas sem ter seu peso alterado. Nailo colocou todo o ouro e outros objetos de Squall na mochila, que continuava pesando cerca de oito quilos, apesar da quantidade de coisas que havia dentro dela.

Anix viu os companheiros chegando e se lembrou da atração que Nailo sentia pelo ouro, do seu desejo incontrolável de juntar pepitas de ouro quando ainda estavam presos na ilha de Teztal, mesmo arriscando sua própria vida e as dos companheiros. Pensando nisso, Anix ofereceu sua pepita a Nailo por 200 tibares de ouro, o preço máximo estimado por Glorin. Mas, o ganancioso Nailo, estava disposto a pagar apenas a metade desse valor ao companheiro.

_ Não Anix! Se você quiser troca isso comigo, só se for por 100 tibares de ouro! Também quero lucrar em cima de você, oras! Não dou nem um tibar a mais! – Nailo inflou o peito e sorriu, rejeitando com veemência o preço pedido por Anix.

_ Não, deixa pra lá então! Eu mesmo fico com essa pedra! – respondeu Anix, encerrando a negociação.

O Capitão, por sua vez, estava irritado com toda aquela barulheira produzida pelos dois. Sabia que não era o local, nem o momento para esse tipo de conversa. O anão chamou a atenção de todos para aquilo que realmente importava, os mortos-vivos. O grupo abandonou as futilidades e se concentrou em sua importante missão.

_ Muito bem Anix! Você não viu nenhuma ameaça clara lá na frente, certo? – perguntou Glorin, sussurrando.

_ Isso mesmo capitão, somente as armaduras me chamaram a atenção! – respondeu o elfo.

_ Bem, as armaduras não parecem ser um problema enquanto estivermos longe delas! Vamos começar por essas portas aqui! Vamos entrar numa delas, e apenas numa de cada vez! Vamos vasculhar o lugar em busca das pessoas raptadas e de mortos-vivos! Os mortos-vivos encontrados serão exterminados e se encontrarmos alguma coisa de valor, guardaremos para comprar cerveja depois! Qualquer outra coisa não nos interessa aqui! Entenderam? – murmurou o anão ao grupo reunido.

_ Certo, mas não vamos comprar cerveja e sim vinho capitão! – respondeu Lucano.

_ Elfos... – suspirou o capitão.

_ Capitão, sugiro que a gente abra primeiro essa porta sem a viga de proteção! Se tiver alguma coisa na sala ao lado, aquela viga de madeira vai impedir que ela sai de lá e nos ataque! – disse Nailo, apontando para a porta que estava diante deles, uma gigantesca porta de madeira reforçada, com o símbolo de Khalmyr entalhado em alto relevo.

_ Certo! Mas tentemos fazer isso em silêncio! Se algum de vocês é bom com fechaduras, tente abrir esta porta! Preparem-se todos! – concordou Glorin.

Nailo sacou sua adaga e se ajoelhou diante da porta. Tentou forçar a fechadura com a ponta da faca, sem sucesso, enquanto Anix passava uma adaga por baixo da porta, procurando alguma trava ou armadilha.

_ Afastem-se! Eu vou arrombá-la! – bradou o anão, girando seu machado com força.

Com uma pancada forte, Glorin arrebentou a porta no local onde ficava a fechadura. Pedaços de madeira podre voaram pelos ares, enquanto a porta se abria lentamente. Um rangido agoniante ecoou pelo corredor, enquanto a balança entalhada na porta se dividia em duas partes à medida que a porta de quase cinco metros de altura se abria.

Os dois lados da imensa porta em arco terminaram de ser abertos pelas mãos do anão. Glorin se posicionou diante da entrada, com sua arma preparada para atacar, enquanto Squall iluminava os cantos mais distantes do aposento com sua lanterna coberta. Pouco a pouco, os heróis foram entrando e se posicionando dentro da sala, enquanto, aos poucos, as luzes da lanterna de Squall e do arco de Legolas revelavam cada detalhe do ambiente.

Uma sala escura e muito grande, como as anteriores. Pinturas descascadas e desbotadas cobriam as paredes e o teto, retratando a figura do deus da justiça combatendo o mal, julgando as almas dos mortos, destruindo o deus serpente Zzssaas, entre outras coisas. Seis enormes bancos de madeira se distribuíam em duas fileiras, uma de cada lado da sala, deixando uma passagem central de três metros de largura entre eles. No fundo, uma mesa de pedra imponente servia de repouso para alguns objetos que brilhavam ao refletir a luz do lampião. Nos cantos ao fundo, duas enormes figuras humanóides, com três metros de altura intimidavam os heróis. Uma olhada mais atenta revelou a natureza dos dois vultos, eram estátuas do deus Khalmyr, esculpidas em pedra sólida, verdadeiras obras de arte. Estavam em uma igreja, um templo dedicado ao deus da justiça, isso estava mais do que óbvio para eles agora. A não ser pelo altar, as estátuas e pelos bancos, o lugar estava completamente desocupado. Entretanto, de forma semelhante aos outros aposentos, todas as janelas, que ficavam próximas ao teto na parede atrás do altar, estavam lacradas por tábuas de madeira e pregos.

_ Muito bem! Vamos investigar atrás dos bancos, das estátuas e do altar! Se não tiver nenhum zumbi aqui, iremos para a sala seguinte sem perder tempo! – sussurrou Glorin.

O grupo foi avançando cuidadosamente em direção ao fundo da capela. Legolas e Lucano se separaram, caminhando respectivamente pelos flancos esquerdo e direito do templo. Os dois iam ziguezagueando ao redor dos assentos, enquanto Glorin e Squall avançavam pelo meio do salão. Glorin olhava ao redor, atento para cada detalhe, sempre com seu escudo e seu machado em posição de ataque. Squall caminhava à frente do anão, usando seus poderes para detectar a existência de magia no lugar. Nailo aguardava perto da porta, com suas espadas em punho, dando cobertura à distância aos amigos. Anix seguia mais lentamente, fazendo o mesmo caminho de Lucano, intrigado com as duas estátuas.

Squall sentiu auras mágicas emanando dos objetos no altar, e alertou seus companheiros disso. Não havia nenhum inimigo no local, desta forma, o altar se tornou o objetivo do grupo. Entretanto, ao passar diante da última fileira de bancos antes do altar, Legolas despertou a atenção das criaturas que espreitavam além do alcance dos heróis.

Três criaturas disformes, compostas de uma essência negra, aglomerada numa forma que lembrava vagamente uma criatura humanóide. Aquelas sombras negras surgiram magicamente à frente de Legolas, do outro lado do salão, perto de Lucano, e atrás do altar. As criaturas se deslocaram pelo ar, atravessando objetos sólidos como se eles não existissem e foram em direção a Lucano e Squall. Legolas inclinou o corpo para trás instintivamente, tentando se afastar da mão fantasmagórica que penetrava em sua armadura. Sentiu um calafrio que percorreu todo o seu corpo enquanto o monstro tentava tocar em seu peito.

Sem perder tempo, o arqueiro apoiou sua mão direita sobre o banco e jogou seu corpo para trás, dando uma pirueta em pleno ar e caindo em pé atrás do banco. Rapidamente Legolas sacou uma flecha de sua aljava e a disparou de seu arco em cheio no centro do corpo da criatura. A flecha penetrou na criatura até desaparecer envolta em trevas. O monstro se contorceu numa expressão de dor, mas parecia que aquele ataque não era suficiente para detê-lo.

Anix e Nailo correram para ajudar os amigos. Os dois avançaram pelas laterais da igreja, Nailo com suas espadas e Anix disparando mísseis mágicos para proteger Lucano. Enquanto a sombra se retorcia e se deformava com o ataque mágico, Nailo usava um dos pergaminhos mágicos comprados por ele em Follen para aumentar sua velocidade e seus reflexos em combate.

Glorin auxiliava Lucano, usando seu poderoso machado na criatura surgida próximo ao clérigo. Mas nem toda a força do anão foi capaz de destruir o monstro. A lâmina de madeira atravessou a sombra, sem causar-lhe dano algum. Então, foi a vez dos inimigos revidarem.

A primeira sombra a aparecer atravessou o banco da igreja e levou sua mão tenebrosa ao peito de Legolas. O arqueiro empalideceu, e todos viram-no bambear e quase soltar o arco das mãos. Um calafrio mórbido percorria sei corpo, à medida que suas forças eram drenadas pela criatura.

O segundo monstro, saído de trás do altar, atacou Squall com suas mãos. O feiticeiro se encolheu de medo, escapando por pouco dos dedos gélidos do espírito. A criatura abandonou o feiticeiro, passando por dentro de seu corpo e foi até onde estava Anix.

Ao mesmo tempo, a terceira aparição sugava as forças de Glorin, deixando o anão ofegante e visivelmente enfraquecido. Da mesma forma que a outra, a sombra atravessou o corpo do anão e cercou Anix.

Vendo seu amigo cercado e correndo perigo, Lucano apontou o símbolo sagrado de Glórien na direção das duas criaturas.

_ Criaturas das trevas! Em nome de Glórien, eu as esconjuro!!!! – gritou o clérigo.

Os monstros olharam na direção do sacerdote, deformando-se e gemendo, até desaparecerem por completo da faze de Arton. Restava apenas um inimigo agora. Mesmo assim, Squall não foi capaz de controlar seu medo e correu, desesperado, em direção ao altar. O feiticeiro se atirou sobre o balcão de pedra, deslizando por cima dele, derrubando os objetos sobre ele e indo parar no chão, atrás do altar.

_ Elfos...! – bufou Glorin, demonstrando exaustão.

Legolas se afastou do último espírito maligno que restava em pé. Disparou mais uma flecha contra o inimigo, mas desta vez, o projétil atravessou pelo corpo da criatura sem causar-lhe qualquer dano, indo se chocar na parede adjacente. Coube a Anix destruir a sombra, com uma rajada de energia mágica na forma de dardos. O monstro explodiu, espalhando pedaços de sua essência por todos os lados. Pedaços que desapareciam em pleno ar logo após se separarem do corpo principal da criatura.

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