maio 22, 2006

Capítulo 207 – Festa interrompida

Capítulo 207 Festa interrompida

_ Maldito! Seu monte de ossos desgraçado! – rugiu Glorin carregado de ódio. O anão se levantou, batendo a poeira de ossos que cobria seu corpo e, muito irado, começou a chutar o que restara do crânio do monstro de ossos.

Havia ossos espalhados por todos os lados. O gigantesco esqueleto se reduzira a pedaços ao despencar sobre Glorin e Anix. Somente os ossos maiores e mais resistentes, como o crânio e grandes ossos das pernas do animal, permaneciam inteiros.

_ Muito bem pessoal! Nailo, Lucano e Legolas, tratem de cuidar dos seus ferimentos logo! Squall e Anix venham comigo! Vamos explorar o resto desse salão logo! Não quero ser surpreendido por nenhum monstro escondido! Nailo, feche a porta rápido! Anix, cadê o Squall? – ordenou Glorin, esbaforido. O escudo pendia em direção ao chão, inclinando o corpo cansado e ferido do anão.

_ Estou aqui capitão! – respondeu Squall, ainda invisível, ao lado do anão.

Não demorou até que o feiticeiro voltasse a ficar visível, revelando a duração dos poderes de sua nova varinha mágica. Anix, Squall e Glorin olharam cada canto do salão, procurando monstros que pudessem ameaçá-los, enquanto os demais cuidavam de suas feridas. Não havia mais monstros no aposento, de modo que podiam agir com mais liberdade e tranqüilidade.

_ Muito bem pessoal! Vamos revirar esse lugar! Vamos procurar por pistas que possam nos trazer conhecimento sobre esse lugar e o que aconteceu aqui! Esse esqueleto que enfrentamos veio de Galrasia! Era de um dinossauro, um tipo de réptil daquela ilha sinistra! Isso significa que, como suspeitávamos, alguém está juntando cadáveres de diferentes partes do mundo para, provavelmente, criar um exército de mortos-vivos! Seja quem for, está fazendo experiências com esses cadáveres, aqueles estranhos mortos cujos pedaços ainda se mexiam depois de decepados são a prova disso! Aquela viga na porta dá a entender que aquele monstro estava guardando alguma coisa, ou estava sendo guardado aqui! Se a primeira hipótese for verdadeira, devemos encontrar o que ele guardava! Dessa forma conheceremos nosso inimigo, isso será útil para quando formos enfrentá-lo! E se encontrarmos algo de valor guardaremos para vender e encher a cara mais tarde! – Glorin falava sério aos elfos que o cercavam, mas terminou seu discurso com um largo sorriso no rosto.

Os heróis começaram então a explorar o local em busca de tesouros e pistas. Estavam em um antigo salão de festas. Os entalhes da porta, as pinturas antigas e desbotadas que decoravam as paredes, os instrumentos musicais presentes, e a enorme mesa de jantar do aposento, não deixavam dúvidas quanto a isso. Mas, havia algo muito intrigante naquele lugar. Não havia nenhum cadáver em todo o salão, nem marcas de sangue ou de batalha. Vasos com plantas secas e ocas, e cuja terra endurecera como rocha após séculos sem receber uma única gota d’água, adornavam os cantos do salão. A mesa, um tablado de madeira com mais de seis metros de comprimento, estava ricamente decorada com toalha bordadas e rendadas, já apodrecidas e sem cor após séculos de esquecimento. Várias cadeiras rodeavam a mesa, e os restos de uma farta refeição estavam presentes sobre ela, intactos, mesmo após muitos anos. Somente ratos, vermes e baratas, se ocuparam de devorar toda a comida que existia ali, deixando apenas vestígios do que teria sido um enorme banquete. Alguns desses ratos, inclusive, jaziam mortos sobre a mesa e pelo chão. Suas carcaças ressecadas pelo passar das eras, não apresentavam nenhuma marca de ferimento, nem de velhice, que pudesse revelar o motivo de suas mortes. Havia pratos, nos quais podia se ver restos de comida, ossos de aves e talheres usados, como se alguém que estava presente na festa, tivesse comido ali. Era evidente que uma grande festa estava ocorrendo naquele lugar há muitas eras atrás, e que a festa fora interrompida antes de seu fim, de forma misteriosa, deixando para os ratos a tarefa de devorar toda a comida. Porém, não havia vestígios de luta no lugar, nem de correria ou coisa parecida, de modo que os heróis concluíram que o local não tinha sido invadido por alguém para matar os convidados da festa. A menos, como disse Glorin, que fosse uma criatura incorpórea, poderosa e desconhecida, capaz de sumir com os corpos dos convidados de forma sobrenatural.

Além da mesa, existiam também bancos de madeira espalhados pelas laterais do salão, deixando o meio do aposento livre, permitindo que fosse usado como um salão de baile. Também havia os instrumentos. Além do grande órgão, feito de madeira, e teclas de marfim, como descobriu Legolas, havia também outros instrumentos musicais. Bandolins, alaúdes, flautas e outros se espalhavam pelo chão, diante da parede ao fundo do salão.

Os instrumentos estavam depositados no chão, intactos por eras. Teias de aranha e grossas camadas de pó cobriam os objetos. Alguns estavam danificados, com avarias pequenas, como se tivessem caído de uma altura não muito elevada. A impressão que se tinha era de que uma orquestra tocava naquele local, antes de soltar todos os seus instrumentos sem qualquer cuidado. Mas, por que? Isso eles não sabiam. Não havia corpos, não havia marcas de sangue, nenhum sinal de um ataque, batalha ou qualquer outra ameaça que pudesse ter interrompido a festa, fazendo com que seus convidados deixassem a comida nos pratos e com que os músicos soltassem seus instrumentos no chão, quebrando alguns deles. Não havia talheres espalhados pelo chão. Nenhuma cadeira caída ou desarrumada, nada que pudesse indicar uma fuga do lugar. A festa havia sido interrompida de maneira misteriosa, e não havia pistas de nenhum dos seus integrantes.

Mais uma coisa chamava a atenção dos heróis, rastros. Vários rastros se espalhavam pelo salão. Eram rastros contínuos e homogêneos de alguém ou algo se arrastando pelo chão e levando consigo a camada mais antiga de pó. Eram rastros recentes, de apenas alguns meses ou anos, como confirmou Nailo. Rastros muito mais novos do que o castelo ou o misterioso evento que levou ao seu abandono. Mas, como indicou Nailo, não eram de nenhuma criatura rastejante. As marcas eram retas, sem ondulações nas bordas, indicando que não pertenciam a algum tipo de criatura rastejante como uma cobra ou algo do gênero. Tampouco pertenciam a mortos-vivos, ou aos convidados da festa, como suspeitou Lucano. Pareciam mais rastros de algo sendo arrastado, algo como um saco, ou corpo, como sugeriu Squall.

_ Ninguém toque na comida! Ela deve estar envenenada! Acho que as pessoas da festa foram traídas por alguém, e envenenadas por essa pessoa! – disse Legolas, sobressaltado.

_ Hum...você tem razão! A comida deve ter sido envenenada, por isso o castelo ficou abandonado! E alguém deve ter arrastado os corpos para fora daqui! Alguém que esteja construindo um exército de mortos-vivos! – concluiu Glorin.

Squall seguiu os rastros até a porta, e viu que rumavam para o fundo do castelo, confirmando as suspeitas de todos. A primeira peça do quebra-cabeça começava a fazer sentido. Os heróis continuaram sua investigação. Olharam embaixo do órgão, procuraram por passagens secretas e reuniram tesouros. Nailo e Legolas arrancaram alguns dentes do esqueleto do terrível dinossauro, e também ossos grandes e resistentes para usarem como armas. Os ossos serviriam como clavas e seriam muito mais efetivos contra esqueletos do que suas espadas e flechas. Lucano, além dos dentes, pegou para si as poderosas garras das patas inferiores do monstro. Aquelas enormes unhas curvilíneas mais pareciam chifres ou foices afiadas. Glorin juntou todos os talheres da mesa da festa, várias facas, garfos e colheres feitos de prata pura, e, com exceção de uma faca que deixou para Nailo, guardou tudo em sua mochila. Lucano se encarregou de pegar todas as canecas que existiam na mesa, também de prata. Ainda havia um belíssimo cálice de cristal, que o anão guardou consigo para que os ”elfos de mão mole” não o quebrassem como ele mesmo disse.

Anix olhava para a pilhagem revoltado. Tentava convencer seu capitão a não levar nenhum dos objetos pois, segundo ele, nada daquilo lhes pertencia. Entretanto, quando viu Nailo e Squall guardando em suas bolsas uma flauta e um alaúde, respectivamente, o mago mudou de idéia rapidamente e também pegou uma flauta para si.

Glorin usou seu machado para retirar as teclas de marfim do órgão. Nailo ia recolhendo e guardando cada uma das teclas em um saco, enquanto Legolas insistia em tentar carregar o instrumento. Após o anão finalmente conseguir convencer Legolas a abandonar seu piano para trás, o grupo abandonou o salão de baile. Fecharam o salão, deixando-o exatamente como o haviam encontrado para não levantar suspeitas, caso alguém, um possível inimigo, passasse por ali. Refugiaram-se no alojamento feminino. Usaram alguns dos bancos do salão de festas para trancar a porta por dentro. Glorin empilhou alguns pratos de maneira que se alguém abrisse a porta caíssem e alertassem o grupo da presença de estranhos. Ainda sob instruções de Glorin, Nailo quebrou as tábuas que fechavam uma das janelas e deixou uma corda presa a ela. Dessa forma, caso precisassem fugir, o grupo teria uma saída alternativa. Depois de tudo pronto, os heróis retiraram suas pesadas armaduras e mochilas e se entregaram a um merecido repouso.

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