maio 23, 2006

Capítulo 208 – Visão...corações perfurados

Capítulo 208 Visão...corações perfurados

Os jovens heróis caíram num sono profundo e pesado. Dormiam como rochas, confiando que a armadilha de Glorin os acordaria caso alguém tentasse invadir seu acampamento. Dormiam todos no fundo do quarto, protegidos por uma barricada feita com as camas e mesas do aposento. Estavam tão confiantes e entorpecidos pelo sono e pelo cansaço, que não seriam capazes de notar a presença de um invasor que chegasse ao castelo da mesma forma que eles haviam chegado, tampouco perceber a passagem de um grupo de zumbis para atacar o vilarejo próximo. Além disso, do pesado sono que os dominava, veio o sonho.

Os heróis se viram diante do castelo em que estavam. Estavam todos lá, Lucano, Squall, Anix, Legolas e Nailo. Todos flutuavam pouco acima do chão. Todos se viam e sentiam a mesma sensação. Sabiam o que estava acontecendo. As visões tinham voltado. Foi então que se lembraram. Já tinham visto aquele castelo antes, numa outra visão, quando ainda estavam lutando nos corredores de Khundrukar em busca de Liodriel.

Sem poder se mexer ou dizer sequer uma palavra, o grupo de aventureiros atravessou os portões do castelo, penetrando em seus corredores sombrios. Pararam no corredor central da fortaleza. Viram a porta do quarto no qual repousavam, e as outras já exploradas e ainda por abrir. Então, subiram, atravessando o teto como se não possuíssem corpos e chegando ao segundo andar do castelo.

Estavam em um outro corredor, também cercado por várias portas, mas muito maior que o do andar inferior. Atravessaram o corredor rapidamente, indo na direção que ficava o portão do castelo. E viram, no final do corredor, um vulto, a sombra de uma criatura sombria e aterrorizante. Não puderam distinguir nada de sua forma, mas conseguiram ver seus olhos claramente. Olhos vermelhos e brilhantes como o próprio sol num fim de tarde. Olhos malignos. Também puderam ver um sorriso. Uma larga arcada dentária brilhava na escuridão, exibindo um sorriso malicioso, sarcástico, sádico.

Sem tempo para distinguir mais nada da criatura, os jovens subiram novamente, atravessando o teto e incontáveis pisos, até que chegaram no topo da torre central do castelo. Lá dentro, perdidos no meio das trevas, puderam ver apenas o vulto negro de seu mais temível inimigo.

_ Então vocês conseguiram chegar até aqui? Bem, então terão que morrer! – disse o vulto. Sua voz era pausada e transmitia calma e tranqüilidade e confiança. Sua fala mansa e suave deu a todos a certeza de que aquele era o misterioso e desconhecido inimigo que sempre viam em suas visões. Era o tal que poderia matá-los, segundo as palavras de Enola, a ninfa. O misterioso inimigo de fala mansa.

Mas havia algo de estranho. Eles já tinham ouvido aquela voz antes. E não apenas em seus sonhos, mas em algum outro lugar que suas mentes não conseguiam se lembrar. Sem ter tempo para pensar, os jovens sentiram uma forte pontada em suas costas. Algo os perfurava. Alguém os apunhalava pelas costas. Alguém os traía. Também já tinham vivido isso em outro sonho, mas dessa vez não puderam ver a figura de chapéu que os apunhalava. Somente a dor da traição que lhes rasgava por dentro podia ser sentida.

_ Morram! – disse o vulto negro, sem alterar o tom de sua voz. Raios negros partiram de suas mãos, atravessando os corações dos heróis, partindo-os em milhares de pedaços.

A dor que sentiam era tamanha, que começaram a desfalecer. Mas, recobraram os sentidos antes de desmaiarem completamente. Todos estavam agora novamente diante do castelo. Todos não. Apenas quatro deles. Squall não estava mais presente. O feiticeiro se encontrava perdido, solitário, num lugar todo branco e frio, observando impotente alguém que caminhava à sua frente levando um pacote nos braços até uma caverna distante. E então, todos despertaram.

Os heróis abriram os olhos, assustados e impressionados, como de costume. Glorin resmungava, amaldiçoando o maldito barulho que o perturbava. Legolas atendeu ao chamado de Liodriel, pelo berloque. Conforme havia pedido, ela o estava acordando bem cedo. Era uma manhã chuvosa de primavera, o 14º dia de Lunaluz, um valag. Enquanto Legolas conversava com sua amada esposa, Squall contava a Glorin sobre o misterioso sonho que tiveram.

_ Oi amor! Bom dia!!! – gritou Liodriel cheia de alegria.

_ Bom dia! – resmungou Legolas.

_ Nossa, que mau humor! O que aconteceu? – perguntou a elfa.

_ Nada não, foi só um sonho ruim que eu tive! – respondeu o arqueiro.

_ Sonho ruim? Como aqueles que você tinha quando foi me salvar? – perguntou Liodriel.

_ Mais ou menos! Sonhei com esse castelo em que estamos! Aquele cara da fala mansa está aqui! – continuou Legolas.

_ Ai amor, então sai daí! É perigoso! – pediu a donzela.

_ Não posso! Temos que salvar algumas pessoas aqui! Mas não se preocupe, tudo vai ficar bem! Olha amor, avisa aos construtores da nossa casa pra eles dividirem o dinheiro pela metade e fazer duas casas separadas! Diz pra eles continuarem com o projeto da parte de baixo, que será a casa do Nailo! A nossa casa, você escolhe um lugar ai na vila e mande-os fazerem a casa lá! Meu pai ficou com uma cópia da planta que eu fiz, entregue pros carpinteiros! – disse Legolas, já mais acordado.

_ Tudo bem! Mas por que você mudou de idéia? – perguntou Liodriel.

_ Não quero morar junto do Nailo! Ele é muito chato! Quero ficar sozinho com você, meu amorzinho! – continuou Legolas.

_ Tudo bem então! Mas, posso dar alguns palpites na casa? – indagou a moça.

_ Ai...tá bom! Mas olha lá! Não vai fazer nenhuma besteira! – respondeu Legolas, meio contrariado.

_ Fazer besteira? Você tá me chamando do que? De burra? Quem você tá pensando que eu sou! Tá dizendo que eu tenho mau gosto é? – gritou Liodriel, irada, antes de desligar o berloque.

Legolas acionou novamente o item mágico, fazendo com que seu par, na distante vila de Darkwood, tocasse nas mãos de Liodriel.

_ Oi amor! Desculpa! É claro que você tem um ótimo gosto! Pudera, você casou comigo! Olha, eu te amo! Só quis dizer pra você não exagerar muito porque senão o dinheiro não vai dar! Não fica zangada não! – disse Legolas, com uma voz doce e melodiosa, tentando acalmar sua amada.

_ Tá bom! Prometo que nossa casa vai ficar linda! Tchau então! – disse Liodriel, desligando o aparelho novamente.

Legolas já estava guardando o berloque em sua bolsa, quando ele voltou a tocar e vibrar. O arqueiro atendeu rapidamente ao chamado, preocupado com o que poderia estar acontecendo com sua esposa querida.

_ Pronto! O que aconteceu amor? – perguntou Legolas.

_ Nada não! É que eu esqueci de te dizer uma coisa! Eu te amo, viu? TE AMO!!! – respondeu a elfa.

_ Ah..tá...também te amo! – respondeu Legolas, desgostoso.

_ Então tchau amor! Toma cuidado! Eu te amo! Tchau! – despediu Liodriel.

_ Até amanhã então amor! Eu também te amo! – respondeu Legolas, desligando o aparelho contrariado. Por causa de uma discussão boba o casal já o havia utilizado por três vezes naquele dia, o limite mencionado por Sam. Agora, só poderiam voltar a se falar no dia seguinte. Legolas suspirou profundamente e se voltou para seus amigos reunidos.

_ Bem rapazes! Não se preocupem! O destino não está escrito ainda! Ele pode ser mudado! Não precisam se preocupar! Eu estou aqui com vocês, então nada de ruim irá acontecer! Agora vamos andando, temos vidas a salvar e mortos a exterminar! – disse Glorin, confiante e sorridente, ao terminar de ouvir o relato dos sonhos do grupo e sobre como as visões invariavelmente se tornavam realidade.O anão pegou suas coisa, vestiu sua armadura e se preparou para sair. Todos fizeram o mesmo, se alimentaram, se vestiram e se prepararam. Anix pediu ao capitão que esperasse algum tempo, para que ele pudesse terminar de preparar as magias que usaria naquele dia. E o mago tinha uma surpresa para o grupo. Finalmente ele conseguira terminar de desenvolver uma nova magia, na qual vinha trabalhando há meses. Ansiosos por conhecer os novos poderes do mago, e por desvendar o significado das misteriosas visões, após duas horas de espera e preparação, os heróis finalmente prosseguiram em sua jornada.

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