outubro 20, 2006

Capítulo 245 – Combate na neve

Capítulo 245 Combate na neve

Legolas continuou seguindo, chamando seus soldados. Com muito custo, conseguiu convencer Kaen Blaco a acompanhá-lo, dizendo ao bárbaro que haveria criaturas fortes para ele combater no caminho. Kaen ficou entusiasmado com a idéia e enterrou o naco de carne de hidra na neve, para mantê-la conservada até a sua volta. Os dois nem imaginavam o quanto Legolas estava certo quando mencionou criaturas fortes.

Eldon deu mais trabalho ao sargento do que o meio-orc. Legolas foi obrigado a arrastar o pequeno e ambicioso halfling, que estava mais preocupado em vender a pele da hidra do que em cumprir sua missão. Eldon só sossegou quando Bóllor prometeu guardar o couro do monstro em segurança até o retorno dos soldados. O halfling aceitou, mas ainda assim não confiava totalmente no anão.

Assim, os bravos soldados seguiram rumo ao norte, rastreando as pegadas deixadas pela hidra e penetrando cada vez mais no território da rainha Belugha. O início da jornada não apresentou quaisquer problemas aos jovens, mas, à medida que avançavam, o frio se tornava cada vez mais intenso, e o terreno ficava mais e mais difícil de ser transposto. O sol se punha no horizonte por trás das montanhas, agravando ainda mais os efeitos do frio. Uma neve fina começou a cair, dificultando a visão dos heróis e tornando sua marcha mais lenta.

Caminharam por quase quatro horas no meio daquela imensidão branca e gelada. Passaram perto de um pequeno bosque de pinheiros esparsos que reconheceram com a segunda mancha que viam no horizonte quando ainda estavam a caminho de Cold Valley. A nevasca aumentou sensivelmente, encobrindo as pegadas da hidra e tornando o clima insuportável para o grupo de viajantes. Precisavam encontrar um refúgio, um lugar para se abrigar daquela intempérie. Como já estavam perto das montanhas ao norte da vila, decidiram que o melhor a fazer era tentar encontrar uma caverna ou saliência onde pudessem se proteger da nevasca. E, já que as pegadas desaparecidas da hidra pareciam vir daquela direção, eles poderiam encontrar novas pistas, além de se proteger do frio.

Caminharam mais alguns minutos, apenas uma centena de metros os separa das montanhas. Conseguiram distinguir a entrada de uma caverna na base de um morro. Devia ser uma caverna grande, para ser vista daquela distância e no meio da nevasca. Aceleraram o passo em direção da caverna, e a nevasca se tornou mais densa, fazendo com que a caverna sumisse da visão dos viajantes. Mesmo sem vê-la, eles sabiam onde a caverna estava, e continuaram rumando para ela.

Mais alguns metros depois, e Legolas ouviu um estranho som à frente. Pareciam passos na neve. O grupo interrompeu a marcha e preparou suas armas, sempre esperando pelo pior. Fitaram o horizonte à frente e viram uma mancha, mais escura que a neve, vindo na direção deles. Legolas disparou a primeira flecha, sem hesitar.

A criatura acelerou e revelou sua forma. Era um urso, um enorme urso de pelagem branca e espessa, correndo sobre suas quatro patas em direção aos soldados, urrando furiosamente.

_ Atacar! – Legolas deu a ordem aos soldados enquanto suas flechas partiam de seu arco em direção ao inimigo. Usava desta vez seu velho arco de madeira Tollon, pois sabia que os poderes congelantes do arco mágico que ganhara na batalha contra Draco não surtiriam efeito contra os habitantes das Montanhas Uivantes.

Os dois projéteis encontraram a carne do urso, enterrando-se profundamente nela, enquanto Eldon corria lateralmente, circundando o urso. As flechas quase desapareceram dentro do corpo do animal. O Halfling se atirou no chão e desapareceu sob a neve. O sangue do urso espirrou e tingiu o chão com um vermelho vivo. A neve onde o halfling havia se enterrado estava imóvel.

Apenas Takezo via o pequeno companheiro rastejando furtivamente sob a camada branca que o cobria. Ignorando as intenções do ladino, Kaen Blaco correu como louco na direção do animal. Ergueu o machado no ar e desferiu o golpe assim que o urso ficou a seu alcance, tentando evitar que o urso o alcançasse primeiro. Mas, Kaen estava mais longe que imaginava, e seu machado deslizou pelo ar sem tocar o inimigo e se enterrou no chão frio.

O Urso se ergueu sobre as patas traseiras, enquanto Kaen tentava retirar seu machado da neve. Logan e Takezo previram o que aconteceria a seguir e correram para tentar ajudar Blaco, mas era tarde. O as poderosas patas do urso branco atingiram com força o corpo do meio-orc, rasgando-o profundamente. Kaen Blaco desabou no chão como uma árvore cortada, e o chão foi adquirindo aos poucos a coloração do sangue que vertia abundantemente. O urso voltou a ficar sobre quatro patas sobre o corpo de Kaen, protegendo sua caça dos outros inimigos que o cercavam. Felizmente Takezo e Logan conseguiram chamar a atenção do animal apenas o suficiente para que ele se preocupasse com suas presenças e não terminasse de devorar Kaen ali mesmo. Ainda restava uma esperança de salvar o bárbaro.

Trevor tentava mirar no urso com sua besta, quando viu mais duas flechas disparadas por Legolas fazer o animal sangrar. Sentindo que seria ineficaz com aquela arma àquela distância e com as parcas condições de visibilidade, o mago abandonou a idéia e correu para ajudar o amigo caído. Em sua mão, Trevor levava uma das poções mágicas fornecidas por Seelan para salvar Kaen da morte.

Druidick conjurou sobre si uma magia que o tornaria invisível aos olhos do urso, enquanto seus amigos continuariam enxergando-o. Entretanto, nem se deu conta de que a neve que caia sobre seu corpo revelaria sua posição para o animal, frustrando seu plano de atacá-lo de surpresa.

Mas, o urso não estava imune ao ataque surpresa de Eldon. O halfling ergueu-se na neve quase ao lado do urso, arremessando nele uma de suas adagas. A arma entrou no peito do animal e o halfling comemorou. Entretanto, apesar do golpe certeiro ter feito um ferimento grave no urso, a batalha ainda não estava ganha. O animal avançou na direção do pequeno ladino, erguendo-se do chão e o golpeou rapidamente com suas garras e depois com suas mandíbulas. O sangue de Eldon se espalhou pelo chão e ele sentiu suas forças abandonando-o. Precisava de cura mágica rápida ou o próximo ataque seria fatal.

Logan passou correndo ao lado do urso, chamando a atenção do animal. Isso permitiu que Takezo se aproximasse e desferisse um potente golpe na fera, rasgando seu peito. Eldon ficou coberto de sangue, mas conseguiu recuar para se curar. O urso urrava, e estava preste a atacar novamente, quando Legolas o alvejou novamente. O pescoço do urso estava todo perfurado pelo arqueiro e vertia muito sangue, deixando- cada vez mais fraco. Trevor aproveitou a chance para correr até Kaen Blaco e puxá-lo para longe do inimigo. Enquanto isso, Druidick continuava a evocar magias de proteção para preparar-se para enfrentar o inimigo.

Extremamente enfraquecido e mortalmente ferido, o animal percebeu que era hora de recuar e fugir. Mas, não sem dar um último ataque. Com um forte golpe de garra, a fera afastou Takezo, deixando o samurai severamente ferido e criando uma oportunidade para fugir. O animal começou a recuar rapidamente, tentando escapar dos inimigos. Mas, em sua fuga desesperada, ele foi em direção a Logan, que estava aguardando por esta chance.

Usando as duas mãos, Logan girou a espada e atingiu o corpo do animal, partindo-o em duas partes. O urso caiu no chão, morto e dividido ao meio, e os heróis comemoraram a vitória. Rapidamente, todos se reuniram novamente. Enquanto Trevor usava as poções mágicas que tinha para ajudar Kaen Blaco, Eldon curava a si mesmo da mesma forma. Legolas viu Takezo ferido e deu a ele uma poção mágica.

Então, Kaen Blaco despertou. Todos ficaram felizes ao ver que o bárbaro estava salvo. Enquanto tentava entender o que tinha acontecido, Blaco notou algo de estranho no céu.

_ Olhem! O que é aquilo?! – gritou o meio-orc, assustado, apontando para cima.

Todos olharam e viram uma enorme mancha escura precipitando-se sobre suas cabeças. Era uma rocha. Não houve tempo para reagir àquilo. Uma pedra tão grande quando o urso que jazia no chão caiu sobre a neve.Felizmente não atingiu nenhum dos heróis, mas isso também não foi necessário.

A rocha afundou na neve fofa e o chão estremeceu além do normal. E desabou. O chão se abriu sob os pés dos soldados numa grande e profunda fenda, até então oculta pela neve. Legolas deu um salto para trás, enquanto a neve desabava, e por pouco não despencou junto com ela. Logan, Trevor e Kaen Blaco, que ainda estava deitado, não tiveram a mesma sorte. Os três caíram doze metros até encontrar o solo novamente. Por sorte, a neve que caiu com eles serviu para amortecer a queda. Mas, apesar disso, Kaen Blaco não resistiu á força do impacto e desmaiou.

Lá em cima, fora do abismo, estavam Legolas, Eldon, Takezo e Druidick. E novamente Legolas ouviu passos. Olhou para o oeste e viu a silhueta de uma pessoa correndo em sua direção. Legolas abaixou o arco ao perceber que, pelas proporções, a pessoa que vinha em sua direção devia ser um anão. Talvez fosse Bóllor ou um de seus amigos. Mas não era. O anão foi se aproximando e sua silhueta foi aumentando de tamanho absurdamente. E aquilo que parecia ser um anão, revelou-se um assustador gigante do gelo.

O gigante corria na direção do grupo, arrastando um machado gigantesco com a mão direita e carregando outra rocha na esquerda. Sem diminuir o ritmo de sua corrida, arremessou a pedra em cima dos heróis e agarrou o machado com as duas mãos, preparando-se para usá-lo nas cabeças dos pequenos aventureiros.

Por sorte, desta vez a rocha arremessada pelo gigante passou direto pelo grupo, indo atingir o solo muitos metros após eles. Relutante e temeroso, Legolas disparou seu arco contra o inimigo. As flechas bateram no corpo colossal do ser, sem no entanto causar-lhe qualquer dano. Druidick arremessou um bastão de fumaça, na esperança de confundir o inimigo. Mas, com seus quase dez metros de altura, o gigante estava muito acima do efeito da fumaça.

Vendo que nada parecia ser capaz de pará-lo, Eldon enterrou-se novamente na neve, ocultando-se da visão do inimigo. Todos pensavam que o halfling atacaria o gigante de surpresa em algum ponto vital. Mas, surpresos ficaram eles ao verem o halfling reaparecendo a metros dali, fugindo desesperadamente na direção da vila e abandonando seus companheiros.

O gigante corria, rodopiando seu machado sobre sua cabeça e gritando algo que nenhum deles era capaz de entender. Ou, quase nenhum. Logan entendeu cada palavra dita pelo gigante no idioma que os de sua espécie usavam.

_ Ele está dizendo que somos ladrões! Que roubamos alguma coisa dele! E que vai nos matar por isso! – gritou Logan, para seus amigos.

_ Abaixem as armas! Logan, diga pra ele que não roubamos nada dele! – gritou Legolas, guardando seu arco.

O gigante parou diante dos heróis, encarando Legolas. Parecia estar irritado por ter sido alvejado pelo arqueiro. Takezo, incapaz de ouvir as ordens de seu sargento por causa de sua surdez de infância, atacou. Sua espada sequer alcançou a pele do gigante, protegida por uma bota feita do couro de muitos animais.

Druidick tentava se comunicar com o gigante, usando todos os idiomas que conhecia. Mas, somente Logan era capaz de entendê-lo e de se fazer entender. Desesperado, o druida também fugiu, assim como Eldon. Enquanto isso, Legolas arremessava bolas de neve em Takezo, tentando fazê-lo parar de atacar o gigante, para que pudessem negociar.

_ Ladrões! Vou matar todos! – gritou o gigante, em seu próprio idioma. O ser rodopiou seu machado e atingiu com força o peito de Legolas, partindo sua armadura como papel.

_ Não somos ladrões! Não roubamos nada! – respondeu Logan, de dentro do abismo, tentando parar o inimigo.

_ São sim, e vou matá-los por isso! – retrucou o gigante.

_ Mas o que foi roubado de você? Nós podemos ajudá-lo a recuperar, isso se você não nos matar! Se você acha mesmo que fomos nós que o roubamos, jamais saberá onde suas coisas estão se nos matar! – sugeriu Logan, orando aos deuses pra que desse certo. O gigante hesitou por um instante, pensativo.

_ Roubaram todo meu tesouro, meu ouro e minhas jóias! E você me deu uma boa idéia! Vou matar todos, menos você! Depois eu faço você contar onde está meu tesouro! Todos vão morrer, e o primeiro será esse imbecil que tentou me furar! – gritou o gigante com um olhar malicioso.

Desferiu um golpe certeiro no estômago de Legolas, terminando de rasgar sua armadura. A lâmina do machado, tão grande quanto uma carroça, subiu novamente de desceu rapidamente, atingindo o arqueiro no peito e jogando-o no chão. O poderoso e destemido arqueiro, orgulhoso por ter um corpo capaz de resistir a todo tipo de ferimento, agora estava caído no chão, todo rasgado, e a apenas um golpe da morte.

O gigante rodou o machado sobre sua cabeça, sem nem se importar com Takezo que tentava rasgar suas pernas com suas espadas. O machado desceu rapidamente. Legolas fechou os olhos e pensou em Liodriel, e quase chorou ao imaginar que nunca mais a veria novamente. O machado atingiu seu alvo, enterrando-se até a metade nele. Legolas abriu os olhos e viu a lâmina ao seu lado, cravada na neve. O gigante o olhava, curioso.

_ Onde conseguiu isso? – disse o gigante, apontando para o peito de Legolas.

_ Sargento, ele está perguntando onde você conseguiu isso! O que é isso que ele está falando? – traduziu Logan.

_ Diga que isso me foi dado pelo capitão Glorin, de Tollon! – gritou Legolas, ofegante.

_ Ele conseguiu isso com o capitão Glorin, do exército de Tollon! O capitão Glorin deu isso pra ele! – gritou Logan, traduzindo as palavras de Legolas para o idioma do gigante.

_ Você é amigo de Glorin? – perguntou o gigantesco homem. Logan traduziu a pergunta para Legolas.

_ Claro que sou! – respondeu Legolas. De dentro do buraco, Logan gritou a tradução das palavras do sargento para o gigante.

_ Então, pouparei suas vidas! Todos vocês, venham comigo! São bem vindos em minha casa! – e o gigante agarrou Legolas com sua mão, cuidadosamente. Depois colocou seu machado dentro do abismo, que para ele era apenas um buraco. Logan e Trevor subiram na arma, e carregaram Kaen Blaco.

_ Isso, levem esse morto também! Vamos comê-lo! – disse o gigante.

_ Não! Ele está vivo! Está apenas desmaiado! Ninguém vai comê-lo! – gritou Logan, assustado.

_ Está bem! Vamos até minha casa, então! – o gigante retirou o machado de dentro da fenda, trazendo os três de volta à superfície e começou a caminhar, na direção da montanha, chamando os demais para acompanhá-lo. Legolas ia carregado por sua enorme mão.

Sem entender direito o que se passava, Takezo guardou suas espadas e seguiu o gigante. Logan, e Trevor fizeram o mesmo, carregando Kaen Blaco com eles. Druidick, que viu tudo à distância, interrompeu sua fuga e correu para junto dos amigos. Não sem antes avisar Eldon, que já estava longe dali.

_ Qual seu nome? – perguntou Logan.

_ Eu sou Ramassin! – respondeu o gigante. E todos foram até a caverna onde o poderoso Ramassin vivia. E, após alguns minutos, Eldon resolveu acompanhá-los.

outubro 11, 2006

Capítulo 244 – Hidra ataca!!!

Capítulo 244 Hidra ataca!!!

Legolas tomou a dianteira e disparou uma flecha que atingiu um dos pescoços da hidra. A flecha percorreu a distância que separava o arqueiro do monstro em altíssima velocidade, deixando um rastro de cristais de gelo e neve atrás dela. O projétil penetrou profundamente, mas o ferimento começou a se fechar magicamente. O gelo mágico produzido pelo arco de Legolas em nada afetou o monstro.

Eldon saiu de trás da árvore onde ele, Druidick e Dak estavam escondidos. Correu a passos ligeiros e arremessou uma adaga que não conseguiu nem alcançar o local em que o monstro estava, devido à grande distância que os separava. O monstro avançava ao lado de uma cabana na entrada da vila, então o halfling decidiu dar a volta na casa e surpreender a criatura por trás. Takezo, Druidick, Trevor, Kaen e Logan correram na direção do monstro, espalhando-se ao redor dele para atacar logo em seguida. Mas, a criatura reagiu mais rápido que todos e contra-atacou.

Três cabeças do monstro urraram ao mesmo tempo e cuspiram uma coluna de gelo em Takezo. O guerreiro descendente do povo de Tamura tentou se proteger com os braços, enquanto seu corpo era coberto de neve. Por pouco ele não morreu. Vendo o devastador ataque da hidra, Legolas gritou para o samurai e os outros soldados pegarem sua algibeira e usarem as poções de proteção que ele carregava. O arqueiro soltou a bolsa com as poções no chão de neve e feriu o monstro com outra flechada certeira. E novamente a criatura regenerou o ferimento.

Sem perder tempo, o samurai pegou a bolsa no chão e tomou o líquido mágico de um dos três frascos. Kaen Blaco correu até ele, pegando a bolsa e se protegendo atrás da cabana para também toma uma das poções. A hidra voltou a atacar. Suas outras três cabeças cuspiram gelo e neve em Legolas, Takezo e Trevor, que se aproximava pelo flanco esquerdo do monstro. O arqueiro, o mais poderoso dos soldados, resistiu ao ataque com bravura. Takezo contava com a proteção da poção mágica, e não foi afetado pelo ataque, para sua sorte. Já Trevor, se viu obrigado a recuar, enfraquecido e quase congelado pelo ataque. Enquanto se afastava da criatura, disparou um projétil mágico na fera, ferindo, ainda que superficialmente, umas de suas cabeças.

Druidick percebeu que a melhor forma de ferir aquela criatura seria usar o elemento oposto ao que ela usava para atacar. O fogo. O druida liberou a águia que trazia em seu ombro e que sempre o acompanhava em suas aventuras e o pássaro voou para longe, para segurança. O elfo então se concentrou e orou a Allihanna para que a deusa da natureza lhe concedesse o poder para ferir o seu inimigo. Após uma prece curta, uma esfera de chamas de quase dois metros de diâmetro surgiu diante do druida e avançou rolando na direção da hidra. Por onde passava a esfera deixava um rastro de neve derretida para trás. As chamas atingiram o ventre da criatura, arrancando urros e gemidos dela como nenhum dos ferimentos anteriores havia feito.

Legolas aproveitou a chance e colocou a mão na sua bolsa mágica que trazia à cintura. Arremessou a bola peluda que tirou de lá de dentro na direção do monstro. A bola se transformou em um lobo, que atacou a hidra com suas presas e depois recuou, assustado com o tamanho da criatura.

Enquanto o animal recuava, assustado, o valente Takezo avançou sacando suas duas espadas e atacou. As lâminas curvilíneas rasgaram o ventre da hidra profundamente, dando um banho de sangue no samurai. Era quase possível ver o coração do monstro pulsando dentro de seu peito aberto. Porém, nem mesmo este poderoso golpe foi capaz de derrotar a criatura. A hidra atacou, desta vez com suas mandíbulas, arrancando pedaços da carne do samurai e do arqueiro. Legolas sangrava muito, mas aquele ferimento ainda não era capaz de sequer fazê-lo esmorecer. Takezo, entretanto, estava caído ao seu lado, inconsciente e sangrando abundantemente. O monstro abocanhou uma das pernas do guerreiro e o ergueu, usando-o como um escudo. E uma enorme mancha vermelha se formou no solo branco de neve.

Vendo o companheiro em perigo, Logan investiu a toda velocidade contra a hidra, enquanto Trevor tratava suas próprias feridas com uma poção mágica. O monstro tentou impedir o avanço do guerreiro elfo, mordendo seu tórax violentamente. Mas, Logan continuou avançando, carregando sua enorme espada de madeira atrás de si. O guerreiro deu um salto curto, aproveitando o impulso da corrida para dar mais força ao giro que fez com a espada. A lâmina rasgou profundamente a perna do monstro, quase a arrancando. O monstro cambaleou, urrando de dor. Legolas aproveitou a distração e cravou duas flechas infalíveis nos olhos da cabeça que segurava Takezo. A cabeça caiu no chão, inerte, soltando o samurai no chão frio. Até mesmo o lobo de Legolas atacou, mordendo a perna dianteira do monstro firmemente.

Eldon surgiu de trás da casa, veloz como um raio e cravou uma adaga na coxa direita da besta. O monstro deu um novo urro de dor, e o pequenino sentiu que tinha pegado um ponto vital, um tendão ou uma artéria, talvez. Eldon girou e torceu a adaga dentro da carne do monstro, provocando ainda mais dor e fazendo com que todo o veneno que ele tinha imbuído na lâmina se espalhasse pelo corpo da criatura. O monstro, quase não suportando a dor, e já sentindo os efeitos do veneno, recuou para trás, quase caindo.

Kaen Blaco, surgiu de trás de Eldon neste momento, saltando por cima do halfling e gritando furiosamente. O meio-orc cravou a lâmina de seu poderoso machado no ventre da hidra, e por pouco não a jogou ao chão. Druidick controlou mentalmente sua esfera de chamas, fazendo com que ela ficasse embaixo do monstro, queimando-o constantemente.

Desesperada, a hidra reuniu forças para erguer-se. Seus ferimentos começaram a se fechar magicamente, e três das suas cabeças voltaram a cuspir gelo nos heróis. Eldon, saltitou habilmente de um lado para outro, escapando do sopro gelado do monstro ileso. Kaen Blaco foi atingido em cheio no peito, mas estava protegido pelo poder da poção mágica que havia tomado. O meio-orc apenas sorriu e continuou empurrando a lâmina de seu machado para dentro do corpo do monstro. Logan não teve a mesma sorte. Uma coluna de gelo se formou sobre ele, cobrindo-o da cabeça aos pés. O guerreiro caiu no chão, desmaiado e com o corpo congelado. O elfo estava pálido e seu peito movia com extrema dificuldade. Seu estado era visivelmente pior que o de Takezo. Estava morrendo.

Mas, a sorte estava ao lado dos soldados. As chamas invocadas por Druidick continuavam a consumir o corpo da hidra, até que o monstro não resistiu e caiu sobre a bola de fogo. A esfera explodiu, e suas chamas se espalharam e consumiram o corpo do monstro. A hidra foi toda tomada pelas chamas e seu enorme corpo caiu sobre a neve, já sem vida.

Rapidamente, Legolas pegou um frasco de poção e derramou seu líquido mágico dentro da boca de Takezo. O samurai despertou, retornando à vida. Kaen Blaco fez o mesmo com Logan, salvando-o da morte. Aqueles que estavam feridos usaram o poder mágico das poções para se recuperarem, enquanto Eldon retirava a pele da hidra com uma adaga, e Kaen decepava uma das pernas da criatura com olhar de faminto. Legolas recolheu a bola de pelos que tinha deixado de ser um lobo, guardou-a em sua bolsa e começou a seguir as pegadas do monstro, convocando seus soldados para o acompanharem.

_ É, agora vejo porque Glorin os escolheu! Vocês são as pessoas certas para esta missão! – disse Bóllor. O líder da aldeia observava os soldados com admiração, assim como seus companheiros Dak e Morur. Outros moradores espreitavam das janelas de suas casas e algumas portas começavam a se abrir timidamente.

_ Sim, ele escolheu bem! Não se preocupe! Nós iremos acabar com esses monstros! – respondeu Legolas, com firmeza, dando as costas para o anão e caminhando rumo ao norte.

outubro 10, 2006

Capítulo 243 – Vilarejo atacado

Capítulo 243 Vilarejo atacado

Alegres por finalmente chegarem a algum lugar habitado naquele imenso deserto gelado, e ansiosos por descerem dos cavalos e se aquecerem em alguma taverna aconchegante, os soldados aceleraram o trote rumo à vila. À medida que se aproximavam, notaram que pequenos vultos se deslocavam entre as raras árvores que existiam na vila e entre as casas. Temendo uma emboscada, Legolas pegou seu arco e acionou seu poder mágico, ficando pronto para atacar. Todos os seguiram o exemplo do sargento, e se prepararam para o combate.

Avançaram mais alguns metros, então um virote passou por entre o grupo, indo se perder no meio da neve. Continuaram avançando e veio outro virote, depois outro e mais um. Choviam projéteis na direção dos soldados, sem no entanto, atingi-los. Parecia que alguém queria apenas que eles fossem embora dali. Irritado, Kaen Blaco começou a xingar e a desafiar os atiradores.

_ Parem com isso! Ou eu vou matar todos com meu machado! – urrava o meio-orc.

Um novo virote foi disparado, desta vez bem no peito do bárbaro que empunhava o machado. Kaen Blaco urrou ainda mais, desta vez tomado pela fúria. Enquanto o meio-orc amaldiçoava os inimigos, Legolas viu um deles se ocultando atrás de uma casa. Era um anão.

_ Viemos em missão de paz! Somos do exército de Tollon! Somos amigos de Glorin! – anunciou o arqueiro em voz alta para que pudesse ser ouvido por todos. Depois, guardou seu arco e fez um gesto para que seus soldados fizessem o mesmo com suas armas.

_ E como você prova isso! – gritou uma voz de trás de uma das casas. Provavelmente deve ter pensado “Glorin jamais seria amigo de elfos”.

_ Eu tenho isto para provar! – Legolas estendeu o colar que trazia em seu pescoço, exibindo a bela jóia a todos. Parecia um pedaço de gelo preso a uma corrente prateada.

_ Isso não significa nada! Você pode ter roubado isso dele, ou até mesmo o matado enquanto ele dormia e tomado o colar! – retrucou a voz, enquanto a cabeça de um anão olhava por trás de uma cabana.

_ Bom, ele mandou um recado também! Digam a Bóllor que ele ainda não se esqueceu e que ainda vai raspar a barba dele! – disse o arqueiro.

_ Aquele desgraçado, ele ainda não esqueceu disso! Espere, como você sabe disso? – praguejou um dos anões.

_ Foi o próprio capitão Glorin quem me disse isso! Podem confiar em mim, eu fui mandado por ele! – respondeu Legolas, já descendo do cavalo.

Quatro anões saíram de seus esconderijos atrás das cabanas da vila. Outros três desceram das árvores próximas e mais seis surgiram debaixo da neve, cercando o pelotão, com bestas apontadas para os soldados. Um deles, que estava atrás de uma casa, tomou a dianteira.

_ Podem baixar as armas, companheiros! Ele diz a verdade! Nosso amigo Glorin atendeu ao nosso chamado! Sejam bem vindos! Eu sou Bóllor Trollback!

O pequeno anão deu as boas vindas aos soldados, agradecendo aos deuses por sua presença na vila. Os aventureiros desmontaram e rapidamente os anões pegaram os cavalos e os levaram para um estábulo, onde seriam tratados. Bóllor e os outros anões escoltaram os soldados até o interior da vila. Por onde passavam, os aventureiros viam marcas de destruição. Pegadas imensas de monstros e casas danificadas estavam por todos os lados. Aos poucos os anões foram se dispersando e se dirigindo às suas casas, até que sobraram apenas os soldados, Bóllor e mais dois anões. O pequenino, que parecia ser o líder da aldeia, convidou o grupo de Legolas para sua casa.

Lá dentro, Bóllor pediu a sua esposa, Belala, que preparasse algo para eles comerem, o que deixou Kaen Blaco extremamente ansioso. Todos se sentaram ao redor de uma mesa rústica, diante de uma lareira que aquecia o ambiente e começaram a ouvir a história de Bóllor.

_ Bem, imagino que Glorin já tenha contado por que os chamamos aqui! Vários monstros estão atacando nossa vila ultimamente! Tudo começou há uns doze dias atrás! Apareceu um urso branco enlouquecido na vila, atacando tudo e todos! O animal estava enfurecido, e atacava sem motivo! Sabemos que os animais só atacam quando ameaçados ou quando se sentem ameaçados, mas aquele urso agia muito estranho! Bem, nós juntamos todos os combatentes da vila e conseguimos matá-lo! Pensávamos que tinha sido um fato isolado, mas no dia seguinte apareceu um troll, e depois outros nos dias seguintes! Com muita sorte nós conseguimos apenas espantar os trolls! Então, decidimos que seria melhor buscar ajuda! – disse Bóllor.

O anão falava calmamente, com sua voz grave, enquanto todos prestavam atenção. Interrompeu sua narrativa por um instante para dar uma golada numa caneca de leite de mamute servida por sua esposa a ele e a seus convidados. Kaen Blaco não entendia nada do que Bóllor dizia, nem fazia questão de entender. Estava interessado apenas em comer e em matar, quem quer que fosse. Druidick e Eldon aproveitaram a pausa para saírem.

_ Sargento! Se não se importar, nós dois iremos dar uma olhada ao redor da aldeia, pra analisar as pegadas dos monstros, reconhecer o terreno e procurar alguma outra pista! – pediu o servo de Allihanna.

_ Está bem, mas tome cuidado! – respondeu o sargento.

_ Dak e Morur irão com vocês, eles os ajudarão! – disse Bóllor, fazendo um sinal para os outros dois anões que prontamente se colocaram ao lado dos dois soldados.

_ Muito prazer, eu sou Dark Firehead! – disse o anão de cabelos ruivos, cumprimentando os dois.

_ E eu sou Morur Platetearer! Nós iremos lhes mostrar toda a vila e os locais atacados! Venham conosco! – disse o outro anão, de cabelos louros amarrados em duas longas tranças, assim como sua barba.

_ Cadê minha comida? Eu quero comer! Estou com fome – reclamava Kaen Blaco.

_ Já está sendo preparada, amigo! Aguarde só mais um momento! – respondeu Bóllor.

_ Olha Kaen! Eu sei por experiência própria o quão desagradável deve estar sendo pra você ficar no meio de um monte de elfos e ainda por cima receber ordens de um elfo! Mas, procure se comportar, que eu prometo não pegar no seu pé, nem ficar lhe dando ordens! Está certo? – disse Legolas.

Kaen Blaco pensou por um instante e ameaçou reclamar novamente, mas resolveu se calar no último instante. Trevor e Logan apenas observavam e vez ou outra arriscavam um palpite, ou comentavam algo com relação aos acontecimentos da vila. Takezo somente olhava calado. Legolas pediu a Bóllor que continuasse.

_ Como vocês devem saber, as Montanhas Uivantes não são um reino, mas sim o território de um dragão, ou melhor de Belugha, a rainha dos dragões brancos! Muitos contam teorias sobre ventos, ou sobre demônios do gelo adormecidos sob as montanhas, mas a verdade é que o poder de Belugha é o verdadeiro responsável pelo frio que existe aqui nas Uivantes! Sendo assim, este território não é como os demais reinos que vocês estão acostumados a ver! Aqui não há grandes cidades, nem exército ou milícia! Por conta disto, e pela proximidade da nossa vila de do reino de vocês, é mais fácil para nós pedirmos ajuda a Tollon do que dentro das Montanhas Uivantes! E, como vocês já sabem, Glorin é um grande amigo de nossa aldeia, e por isso recorremos a ele! Nós precisamos que vocês descubram porque esses monstros têm nos atacado e que vocês derrotem essas criaturas para que esses ataques cessem! – concluiu o anão.

_ Não se preocupe, Bóllor, nós iremos cuidar de tudo! – disse Legolas.

_ Ótimo, ficamos muito gratos! Bem, agora vamos comer, Belala está trazendo o almoço de vocês!!!

A anã serviu a refeição aos soldados, um apetitoso ensopado de carne de mamute com castanhas e pinhões. Kaen Blaco enfiou sua cara em um pedaço de pernil e pôs-se a devorá-lo feito um animal. Enquanto comiam, foram surpreendidos pela porta que se abriu abruptamente.

_ Bóllor! Está começando novamente! Um monstro está atacando, e esse é dos grandes! – Morur entrou pela porta, junto com o vento frio, gritando para todos o que estava acontecendo.

Lá fora, Druidick e Eldon, após percorrer quase toda a vila analisando as marcas da destruição causada pelos monstros, corriam entre as casas para tentar cercar a criatura e atacá-la de surpresa pelas costas. Dak Firehead estava com eles, um pouco mais atrás, observando com espanto a criatura que invadia a vila.

Legolas e seus soldados abandonaram a refeição e correram para fora, com armas em punho, para enfrentar a criatura. Kaen Blaco relutou em deixar seu almoço, mas mudou rapidamente de idéia ao saber que enfrentaria uma criatura poderosa e acompanhou os demais.

Todos se reuniram do lado de fora da cabana e puderam ver o que enfrentariam. Era um monstro gigantesco de quase cinco metros de altura e dez de comprimento. Tinha o corpo semelhante ao de um réptil, com uma cauda bifurcada que se agitava freneticamente, derrubando árvores e pedaços de casas. Seis enormes cabeças de serpente ligavam-se ao corpo por longos pescoços que se agitavam de um lado para o outro enquanto suas bocas rugiam e soltavam gelo. Um hidra do gelo, um crio-hidra, invadia Cold Valley.

outubro 09, 2006

Capítulo 242 – Missão no gelo

Capítulo 242 Missão no gelo

Glorin e seus amigos se dirigiram até o portão, para receber os soldados que retornavam. Todos estavam ansiosos para saber como tinha sido a aventura daquele grupo. Glorin foi o primeiro a se manifestar.

_ E ai garoto! Seja bem vindo de volta! E então, como foi a missão? Conte-nos todos os detalhes! – disse o anão.

Legolas agradeceu as boas vindas e cumprimentou os seus amigos. Depois, começou a contar, em detalhes, tudo aquilo que ele e seus homens haviam enfrentado.

· · · · · ·

Alguns dias antes, no dia 10 de pace, kalag. Glorin começava a distribuir as novas tarefas aos sargentos, quando Legolas pediu para ir para as Uivantes, no lugar de Squall. O anão concordou com o pedido do elfo e permitiu que fosse ele o responsável pela missão na cordilheira congelada. Após instruir Anix sobre a sua missão em Rutorn e dispensá-lo para preparar seu pelotão, o Anão chamou Legolas para uma conversa particular afastada dos outros heróis.

_ Legolas, você irá para Cold Valley! É uma pequena vila no território das Montanhas Uivantes onde vivem alguns amigos pessoais meus! Eles estão com um sério problema de ataques de monstros! Vários monstros têm atacado aquela vila nos últimos dias sem motivo aparente! Quero que você leve os soldados que estão sob sua responsabilidade com você e investigue o que está acontecendo por lá! Se você sentir que o caso é pesado demais para seu grupo, retorne para cá para buscar ajuda! Entendeu? – disse Glorin.

_ Sim capitão! – respondeu Legolas.

_ Outra coisa, tome muito cuidado por lá! Eu sei que você está interessado em treinar no meio do gelo e que você quer aprender a usá-lo como eu! Mas, aquele território é muito traiçoeiro, tome muito cuidado por lá! E tome, leve isto com você! – o anão retirou um colar que estava oculto sob sua armadura e o entregou a Legolas. Era uma bela corrente prateada, presa a uma gema translúcida de tonalidades azuladas e alvas.

_ Obrigado, capitão! – os olhos do arqueiro brilharam ao receber a bela jóia do anão. Ele pegou o colar em suas mãos e o colocou no pescoço, guardando-o embaixo de sua roupa e armadura.

_ Não, não! Deixe isso à mostra! Isso poderá salvar sua vida em caso de problemas! Se tiver algum problema enquanto estiver nas Uivantes, mostre essa pedra! Isso o identificará como um amigo meu e poderá evitar encrencas para vocês! E quando chegar a Cold Valley, se for necessário, diga a Bolor que eu ainda não me esqueci e que vou raspar a barba dele algum dia! Agora vá preparar sua tropa, sargento Legolas! – completou o anão.

Legolas bateu continência e se retirou. Glorin saiu logo depois, indo em direção à taverna. Anix terminava os preparativos para sair em sua jornada. Legolas, foi até o campo de treinamento do forte, reunir seus homens para a tarefa.

O pelotão do arqueiro era composto de seis soldados. Eles eram: Trevor, um mago elfo ainda iniciante no caminho das artes arcanas; Druidick, um jovem elfo seguidor da deusa Allihanna; Takezo, um humano de descendência tamuraniana e um espadachim promissor; Kaen Blaco, um meio-orc indisciplinado, rude e pouco inteligente, porém muito forte; Logan, guerreiro elfo portador de uma poderosa espada de madeira negra; Eldon, um pequeno halfling arremessador de adagas e grande batedor de carteiras. O sargento reuniu o pelotão e ordenou que se preparassem para partir. Instruiu-os a levar roupas de frio, cobertores e tantas camadas de pano quanto coubessem sob suas armaduras. Kaen Blaco, como de costume, mostrava-se um problema. Recusava-se a obedecer as ordens do sargento e desafiava sua autoridade constantemente, zombando de sua masculinidade inclusive. Tratava o arqueiro por orelhudo, ao invés de chamá-lo pelo nome. Legolas tentou intimidá-lo, disparando uma flecha no pé de Kaen Blaco, sem no entanto feri-lo. Mas, o meio-orc apenas pegou seu machado e desafiou Legolas para um combate. O arqueiro então adotou outra tática, ameaçando deixar o soldado para trás, convencendo-o assim, a se preparar para a missão.

Enquanto seus subordinados iam se preparar, Legolas foi até o laboratório, ao encontro de Seelan. Anix acabara de sai de lá, levando consigo o equipamento que usaria em Rutorn. Legolas explicou ao mago pra onde iria e o que precisaria para sobreviver aos rigores das Montanhas Uivantes.

Seelan entregou ao arqueiro vários frascos com poções mágicas. Vinte delas eram para curar ferimentos superficiais, e cinco para tratar de feridas mais graves. Já que Legolas não contava com clérigos em seu pelotão, precisaria do maior número possível de cura mágica. Cinco pergaminhos contendo poderosas magias de cura também foram dados ao arqueiro, para que o druida do grupo pudesse usá-los em caso de necessidade. Legolas também recebeu três frascos contendo um tipo de líquido mágico que poderia tornar ele e seus homens mais resistentes ao frio, extremamente úteis para quem estava indo para a parte mais fria de Arton. Seelan pediu a Legolas que chamasse o mago do grupo para conversar com ele.

O arqueiro saiu para aprontar seu equipamento e dividiu as poções mágicas entre seus homens. Entregou os pergaminhos a Druidick e ordenou que Trevor fosse ao encontro de Seelan. No laboratório, Seelan entregou dois pergaminhos a Trevor.

­_ Bem, Trevor! Você ainda é um mago em início de carreira, portanto as magias nesses pergaminhos ainda são poderosas demais para você! Entretanto, se você se concentrar bem e seguir minhas instruções, você conseguirá ativá-los sem problemas! Esses pergaminhos contêm uma magia de altíssimo nível, que poderá salvar a vida de vocês quando estiverem nas Uivantes! Quando você sentir necessidade, use-os sem hesitar! Esses pergaminhos têm o poder de criar um abrigo mágico para proteger você e seus amigos dos rigores das Uivantes! Guarde-os muito bem, pois eles poderão ser a salvação de todos vocês! – Seelan explicou ao jovem mago como ativar os itens mágicos, pacientemente. Depois, despediu-se dele e deixou o laboratório. Queria se despedir de mais alguém.

Legolas riu, assim como todos os outros, ao ver Seelan dando adeus a Anix que partia com seu grupo. O mago abandonou sua postura afeminada e retornou para dentro do forte, conversando com Glorin. Legolas, Squall, Lucano e Nailo assistiram a tudo e entenderam que Seelan se fingia de homossexual apenas para brincar com Anix e deixá-lo envergonhado diante de todos. Legolas sorriu e entrou no estábulo do forte. Lá, despediu-se de Rassufel, seu estimado cavalo. Legolas detestava ter que se separar dele, mas preferia deixá-lo no forte, em segurança, ao invés de levá-lo para as Montanhas Uivantes, onde, sabia, correriam grandes riscos.

Assim, o grupo partiu, minutos após Anix também partir. Cavalgaram cerca de um dia entre as florestas negras de Tollon, sem encontrar qualquer dificuldade. Após um dia de jornada, entraram no inóspito ambiente das Montanhas Uivantes. Sabiam disso, pois as árvores que recobriam todo o território de Tollon tinham ficado para trás. Em seu lugar, apenas uma paisagem branca e gélida que ofuscava os olhos dos soldados através do reflexo do sol. O próprio sol, antes quente o suficiente para vencer o frio no reino da madeira mágica, agora era apenas um astro apático no céu, que servia apenas para cegar os aventureiros. Seu calor cálido e gentil era agora pouco mais que uma lembrança. Um vento congelante sobrava do norte, parecendo cortar as peles do grupo, que endureciam e perdiam o tato pouco a pouco. As patas dos cavalos, que até então avançavam velozmente pela trilha entre as florestas, agora se moviam lenta e pesadamente, afundando vários centímetros na neve a cada passada. Os animais se deslocavam lentamente, e era preciso parar várias vezes ao dia para que eles pudessem descansar. Suas patas, e seus corpos foram revestidos por várias camadas de pano, para protegê-los do frio que os cercava.

Os heróis sentiam na carne os terríveis efeitos do frio que os castigava. As condições eram mais terríveis que se podia supor, e minavam aos poucos a determinação dos mais valentes viajantes. Apenas Kaen Blaco conseguia quebrar o gelo, reclamando de tudo e de todos, colocando apelidos nos companheiros de grupo e provocando todos eles. Para ele, Druidick era o “boa fruta”. Eldon era o “tampinha”, Takezo o “mudinho” (já que o samurai era surdo e mudo de nascença). E o sargento Legolas era o orelhudo. O grupo se esforçava para não perder a paciência com o meio-orc e para não se deixar vencer pelo frio implacável que os atingia. Corajosamente, os soldados continuaram avançando por aquele interminável mar de neve. Neve. Neve branca e gelada. Neve mortal, por todos os lados. Somente ela cercava os aventureiros nos quatro dias que se seguiram, até que, eles finalmente avistaram duas manchas negras no horizonte.

Eram não mais que dois borrões escuros que manchavam a paisagem branca que os rodeava. Um estava bem ao norte deles, enquanto o outro se desviava um pouco para o leste. Atrás das manchas, havia uma cadeia montanhosa, muito mais alta que as colinas geladas que eles haviam transposto nos últimos dias. Legolas conferiu o mapa entregue pelo capitão Glorin, e confirmou que um dos pontos poderia ser o destino que eles buscavam. Esporearam os cavalos e cavalgaram o mais rápido que o frio permitia em direção ao norte, até que no final do quinto dia de viagem, eles finalmente conseguiram distinguir o que era aquele ponto negro. Um vilarejo. Era o entardecer do 15º dia de pace, um tirag, Legolas e seu grupo finalmente haviam chegado a Cold Valley.

outubro 06, 2006

Forte Rodick

Capítulo 241 – A partida de Lars Sween

Capítulo 241 A partida de Lars Sween

_ Soldados! Recolham o corpo do Jack e coloquem-no na carroça! Vamos partir imediatamente daqui! Isso é uma ordem! – Lars enxugou as lágrimas e se levantou. Já não tinha mais o sorriso de antes, e sua expressão era séria e sombria.

_ Ir embora? Mas por que, capitão? O que aconteceu com o senhor? – perguntou Lee Wood.

_ Temos que chegar ao forte rapidamente! Thyatis me abandonou! Não posso mais garantir a segurança de ninguém! Apressem-se! – Lars concluiu seu diálogo com pesar. Deu as costas para o grupo e retornou para a carroça. – Anix! Prepare as coisas! Estamos partindo!

Os soldados recolheram o corpo carbonizado de Jack. Estava irreconhecível, apenas uma massa negra e disforme sobrara do pirata. Colocaram-no na carroça, montaram em seus cavalos e partiram para o forte Rodick. Durante os dias que se seguiram, viajaram quase sem parar, apenas o mínimo necessário para se alimentarem e para os cavalos recuperarem suas energias. Nos dias que se seguiram, Lars permaneceu calado o tempo todo, preocupado com tudo à sua volta. Um sentimento de culpa ardia em seu peito, apesar de Anix e os outros tentarem convencê-lo de que Lars não era responsável pela morte de Jack.

Finalmente, no dia 27 de pace, um lanag, eles finalmente chegaram ao forte. Lars desceu apressado da carroça e deu ordens aos soldados para que cuidassem do corpo de Jack. Depois, se separou deles e se dirigiu ao centro de comando do forte. Lee e Anix tentaram conversar e até acompanhar Lars, mas foram proibidos de fazê-lo. O clérigo se afastou deles e entrou no prédio, sério e melancólico.

Anix e os demais soldados desceram da carroça e dos cavalos. Outros soldados se aproximaram para ver o que estava acontecendo, e Anix os deixou encarregados de cuidarem do corpo do pirata. O elfo perguntou sobre seu capitão, e foi informado por um dos soldados que Glorin estava na taverna. Sem perder tempo, Anix correu para lá, ao encontro do anão.

_ Capitão! Capitão! Preciso falar com o senhor! Urgente! – gritou Anix, adentrando na taverna.

_ Calma ai, garoto! Não vê que estou ocupado? Belie, me traz mais uma cerveja! – respondeu, tranqüilamente, Glorin.

_ É sério capitão! Não há tempo pra isso agora! Um soldado morreu! – continuou o elfo. Todos na taverna pararam para prestar atenção.

_ Quem morreu? – perguntou Glorin.

_ O Jack, capitão! O Jack morreu! – lamentou o mago.

_ Aquele pirata alcoólatra? Ótimo, um problema a menos! Belie, duas cervejas, pra comemorar o acontecido! Vamos beber em homenagem ao defunto!

_ Mas capitão! Isso não é hora pra piadas! Além disso, quem matou o Jack, foi o capitão Lars! – insistiu Anix.

_ O Lars?! Isso é grave! Belie, cancele as cervejas! Onde ele está, garoto? Onde está o Lars? – Glorin ficou sério repentinamente, parecia tão transtornado quanto o próprio Lars.

_ Ele está no comando, com o general!

_ Eu vou até lá!

_ Posso ir junto, capitão!

_ Não!

Glorin abandonou o estabelecimento rapidamente, deixando Anix sem explicações, e rumou para o centro de comando. Anix ficou desconcertado, sem saber o que fazer, e saiu vagando pelo forte. No meio do caminho, parou para conversar com um dos soldados.

­_ Ei recruta! Você viu o meu irmão por ai?

_ Sim, senhor! O sargento Squall está descansando no alojamento!

_ E o capitão Seelan?

_ Ele está no laboratório arcano, senhor!

_ Ótimo, preciso falar com os dois! Ah, soldado, quem cuida da limpeza aqui no forte?

_ Bem senhor... – o soldado não teve tempo de terminar.

_ Ah, já sei o que vou fazer! Estou com as roupas sujas, e vou pedir para o Seelan lavar elas pra mim! Vou me aproveitar dele! – disse Anix.

O soldado olhou de maneira estranha para Anix, e levou a mão à boca, segurando o riso.

_ O que foi soldado? Está achando graça de alguma coisa?

_ Não senhor! – respondeu o rapaz, tentando não rir.

_ Pode rir soldado! – autorizou o mago.

_ Sim senhor! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! O senhor vai abusar do Seelan! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há! Há!

_ He! He! He! He! Muito engraçado, mesmo, eu sei! Agora pare de rir! Não é nada do que você está imaginando! Eu sou um elfo macho, e gosto de elfas, não sou como o Seelan!

_ Sim senhor!

O soldado continuou tentando não rir, enquanto Anix se afastava. Quando o mago já estava distante, correu para contar para outros sobre a novidade: Anix ia abusar de Seelan. E todos riram novamente às custas do mago.

Anix conversou com Squall e contou sobre o que tinha acontecido com Jack. Viu Cloud já forte novamente posado no ombro do feiticeiro e ficou feliz por seu irmão. Depois, foi até o laboratório, falar com Seelan.

_ Aniiiix!!! Que bom que você voltou, amiguinho!!! – Seelan saltou sobre Anix, agarrando-o num abraço apertado.

_ Para com isso Sélan! Eu vim aqui pra contar uma coisa importante pra você!

_ É Seelan, Seelan!!! E o que você quer me contar, amiguinho? – Seelan continuava se esfregando em Anix enquanto falava com sua voz aguda e afeminada.

_ O soldado Jack morreu! E quem o matou foi o capitão Lars! – respondeu Anix, tentando se livrar das mãos de Seelan.

_ O quê??!! Lars matou Jack?! Isso é grave! Onde ele está? – Seelan empurrou Anix. Sua voz era agora grave e séria, assim como seu olhar.

_ Está no centro de comando! O capitão Glorin foi pra lá também!

_ Eu vou até lá! Phalfe busjiamxusamer!!! – Seelan se afastou de Anix, indo em direção à porta do laboratório. Sussurrou algumas palavras no idioma dos dragões e desapareceu através de um portal mágico.

Inconformado por novamente ter sido deixado para trás, o mago decidiu ir até o centro de comando. A notícia da morte de Jack já tinha se espalhado pelo forte inteiro, bem como a notícia de que Anix e Seelan tomariam banho juntos e que um esfregaria as costas do outro. Quando chegou ao prédio de comando, encontrou Nailo, Squall e Lee Wood, que também queriam saber o que acontecia na reunião dos capitães com o general Wally Dold. Dois soldados barraram a entrada dos quatro na sala do general, dizendo que eram ordens expressas do capitão Glorin, e que não poderiam ser desobedecidas. Após vários minutos de suspense, a porta finalmente se abriu.

Glorin, Seelan, Jonathan, Todd, Lars e o general Dold foram saindo um a um da sala. Aflitos e ansiosos, Anix e os outros perguntavam o que tinha acontecido.

_ Lars está partindo do forte! – disse Seelan, com a voz suave e grave.

_ Partindo pra onde? Por que? – perguntou Anix.

_ Pra longe! Ele deve ir para o reino de Tyrondir, reencontrar sua fé! – era Jonathan Wilkes.

_ E quem vai com ele? – era Squall.

_ Ninguém! Eu devo ir sozinho! – respondeu Lars.

_ Não, é perigoso! Nós iremos com você! – disse Nailo.

_ Não garoto! Isso é uma coisa que ele deve fazer sozinho! Agora chega de enrolação! Vamos até a taverna! Eu pago uma cerveja pra vocês e lá eu explico tudo que vocês quiserem saber! Não devemos atrasá-lo ainda mais! – era Glorin. O anão bateu no ombro de Nailo e o puxou para fora dali, chamando também Squall e Lee.

Os três saíram, assim como os demais capitães. O general voltou para sua sala, e Anix foi conversar com Seelan.

_ Seelan, queria lhe pedir uma coisa! Minhas roupas estão sujas, pode lavá-las pra mim? – disse Anix.

_ O que? Você está querendo que eu, um capitão do exército, lave suas roupas imundas? Claro que sim, amiguinho, venha comigo, vou ensiná-lo a lavar suas roupas! – Seelan começou a responder com seriedade. Depois sua voz afinou, sua mão requebrou e ele sorriu e agarrou Anix. – Venha comigo, amiguinho, vamos!!!

Seelan arrastou Anix para o laboratório e começou a despi-lo. Anix tentou impedi-lo, dizendo que tinha vergonha de ficar nu. Mas, Seelan o tranqüilizou, dizendo que ficaria nu também, para que Anix se sentisse mais à vontade. Anix apenas suspirou, desgostoso. Enquanto lavavam as roupas e conversavam, Anix fez um pedido a Seelan.

_ Seelan! Você sabe onde eu poderia encontrar uma fada? – perguntou Anix.

_ Fada? Por que?

_ É que eu gostaria muito de conhecer uma fada! Nunca vi uma! O mais próximo disso que eu vi foi uma ninfa, a Enola! Eu sou apaixonado por ela e vou casar com ela um dia!

_ Bom, se você quer mesmo conhecer uma fada, eu vou te ajudar então! Tem uma aqui mesmo no forte! Venha comigo! – Seelan sorriu maliciosamente, e saiu correndo, arrastando Anix pelas ruas do forte. E os dois ainda estavam nus.

Os dois elfos passaram correndo, sem roupa, entre os soldados que estavam treinando. Todo o pelotão gargalhou ao ver aquela cena extremamente ridícula. Nailo, que passava por perto, para ir até a taverna conversar com Glorin, tentou impor ordem na tropa. A mando do ranger, os soldados tiveram que fazer flexões, como punição. Mas, os soldados mais riam do que curvavam seus braços, tendo que recomeçar a contagem várias vezes, até que Nailo desistiu e foi para a taverna.

Seelan e Anix passaram entre os estábulos do forte e foram em direção à muralha de pedra que cercava a fortaleza. Viraram à direita e passaram por algumas árvores e vegetação densa que se estendiam desde a muralha até a parede do estábulo. Após as árvores, Anix sentiu que estava em algum tipo de paraíso.

Estavam agora em um jardim todo florido, repleto de árvores frutíferas, flores de todos os tipos e cheio de animais. Esquilos, pássaros e outros animais vagavam livremente pelo lugar sem se preocupar com a presença dos dois elfos. Parecia um santuário. Parecia com o bosque onde Anix havia se despedido de Enola. O lugar era silencioso e pacato. Apenas o canto dos pássaros ecoava por entre as árvores. Pequenos coelhos, e até mesmo um servo pastavam e saciavam sua sede em um pequeno lago de águas cristalinas no centro do jardim. Um pequeno pássaro, mais parecido com um inseto grande, voou na direção de Anix e Seelan e os cumprimentou.

_ Olá Seelan! – disse a criaturinha.

_ Idor! Era justamente você que eu estava procurando! Este aqui é o Anix, e ele estava louco pra te conhecer! – disse Seelan.

Anix cumprimentou a pequena criatura e notou, agora mais perto, que não era um pássaro ou um inseto, mas sim um tipo de fada, um sprite. Anix suspirou, descontente, e reclamou, dizendo que queria conhecer uma fada fêmea, não Idor. O pequeno sprite ficou contrariado ao ser desprezado daquela forma, mas Seelan conseguiu fazer com que os dois conversassem pacificamente.

Então, o canto dos pássaros silenciou de repente. Anix ficou calado, pois sentiu uma forte presença se aproximando. Olhou para o fundo do jardim e viu um outro elfo se aproximando. Tinha longos cabelos prateados, e orelhas muito mais pontudas que o normal de um elfo. Trajava um manto branco amarrado na cintura por uma faixa. Movia-se com graça, e por onde ele passava as flores pareciam ficar mais viçosas e belas. Pássaros e outros animais saltitavam em seu ombro e o cercavam. Seu olhar era frio e assustador, mas ao mesmo tempo, não tinha aspecto maligno.

_ Então é você Seelan? O que está acontecendo? Posso ajudar em algo? – perguntou o elfo, sua voz era suave e ele falava pausadamente.

_ Ah! Olá Kuran, até tinha esquecido de você! Foi te encontrar, preciso lhe contar uma coisa! – a voz e a postura de Seelan mudaram completamente, agora ele não tinha mais aquele jeito afeminado de antes.

_ Quem é ele? – perguntou Anix ao pequeno Idor.

_ Ah! Perdoe minha indelicadeza! Eu sou Kuran Namino! Muito prazer! – disse o elfo, estendendo a mão para Anix.

_ Muito prazer, eu sou Anix! Por que você fica neste lugar, Kuran?

_ Eu me sinto mais à vontade aqui, entre as plantas e os animais! Bem, diga-me Seelan! O que você tem pra me contar?

_ É o Lars! Uma pessoa morreu pelas mãos dele! Ele está de partida para Tyrondir! – respondeu o mago, sem frescuras.

_ Hum! Isso é grave! Vou falar com ele! Com licença! – Kuran se despediu e partiu por entre as árvores. Parecia que os galhos e folhas se curvavam para abrir-lhe passagem.

_ Espere, Kuran! Você não tem uma roupa aqui pra me emprestar? Só para eu poder voltar ao laboratório? – gritou Anix.

O elfo retornou e olhou para o jovem mago. Moveu sua cabeça positivamente e retirou de um bolso uma espécie de pó. Eram minúsculas sementes, quase tão pequenas quanto o pólen de alguma flor. Kuran sussurrou algumas palavras que Anix não pode ouvir e assoprou as sementes sobre o mago. As sementes rodearam o corpo de Anix, agitadas pelo sopro de Kuran e começaram a brilhar. Em uma fração de segundo, as pequenas sementes germinaram, transformando-se em cipós que envolveram e cobriram o corpo de Anix.

Kuran partiu, deixando Anix, Idor e Seelan no jardim. O mago conversou um pouco com o pequeno sprite, saciando sua curiosidade sobre ele. Depois ele e Seelan retornaram para o laboratório.

_ Seelan! Eu vi que você sabe fazer magias de teletransporte! Posso lhe pedir um favor? – perguntou Anix.

_ Claro Anix! – respondeu Seelan.

_ Me leva pra ver a Enola! Estou com saudades dela! Por favor! Ela mora num bosque perto de Vallahim! Por favor! – implorou o mago mais jovem.

_ Vou pensar no seu caso! – respondeu o mais velho, divertindo-se com a ansiedade do outro.

Enquanto isso, na taverna, Glorin explicava a Nailo, Squall e Lucano o que tinha acontecido a Lars.

_ Bem, entendam! O Lars violou o dogma de seu deus! Sendo um servo de Thyatis, ele jamais poderia matar uma criatura inteligente! E por causa da magia que ele fez, o Jack acabou morrendo! Eu sei que vocês vão dizer que foi o Jack que se atirou no fogo porque quis, mas as coisas não são bem assim! Lars sabia que se o Jack tentasse fugir ele morreria, e mesmo assim ele decidiu arriscar! Por isso, ele é o culpado da morte daquele pirata, e, apesar de eu não considerá-lo muito inteligente, Thyatis considerou que lars violou seus votos! Por conta disso, o deus dele o abandonou, e ele perdeu todos os poderes que possuía! Agora ele terá que provar seu valor novamente para Thyatis para reaver seus poderes! Para isso, ele deve ir até Tyrondir, onde está o clérigo que o ordenou, e se confessar! Essa confissão sempre deve ser feita a um clérigo superior na hierarquia da ordem! Somente após isso, ele poderá recuperar os poderes que tinha! Isso é um teste, uma provação! É algo que ele deve fazer sozinho, sem a ajuda de ninguém, mesmo que seja arriscado! Só assim ele poderá se mostrar digno de receber a benção e o poder do seu deus! – disse Glorin, entre um gole e outro de cerveja.

A porta do bar se abriu e junto com o sol da tarde entrou Lars Sween. Caminhou lentamente em direção a Glorin e aos outros. Todos o observavam, como se não acreditassem que aquele homem pudesse ter perdido todos os incríveis poderes que possuía. Lars olhava a todos, e acenava com a cabeça como se dissesse “Sim, é verdade”.

_ Estou indo, meu velho amigo! – disse o sacerdote, pousando a mão no ombro de Glorin.

_ Eu sei! Boa sorte amigo! Cuide-se bem! Espero vê-lo em breve! – respondeu o anão, apertando a mão do clérigo.

_ Se essa for a vontade de Thyatis! – completou Lars.

_ Lars, tem certeza de que a gente não pode acompanhá-lo? Gostaríamos de ajudar você! – disse Nailo, inconformado com a situação.

_ Não, meu amigo! Isso é uma coisa que eu devo fazer sozinho! – respondeu o clérigo.

_ Bem, ao menos leve isso com você! Você poderá precisar! – Nailo abriu sua algibeira e retirou cinco pequenos frascos de vidro, com um líquido verde dentro deles. Eram poções mágicas de cura.

_ Obrigado Nailo!

_ Lars! Eu não tenho nada que possa ajudá-lo tanto quanto essas poções, mas quero que você fique com isto! É um carvão da Noite da Alegria! Um grande amigo nosso, o Sam, nos disse que um carvão de uma fogueira feita na noite da alegria traz boa sorte! Quero que você fique com ele, e espero que ele lhe traga muita sorte! – Squall quase não conseguia conter as lágrimas. Retirou de sua bolsa de componentes mágicos o tal carvão e entregou-o a Lars Sween.

_ Obrigado Squall! – agradeceu o clérigo – Agora, tenho que ir! Adeus meus amigos! – Lars se despediu de cada um dos presentes. Quando se virou para a porta, pronto para partir, viu um homem parado na entrada da taverna.

_ Pretendia partir sem se despedir de mim Lars? – disse a figura na porta.

_ Kuran, meu amigo! Claro que não! Jamais esqueceria de você amigo! – Lars esboçou um sorriso tímido.

Lars despediu-se de Kuran com um aperto de mãos caloroso. O clérigo andou em direção à porta lentamente, como se dissesse adeus a cada cadeira, cada mesa da taverna.

_ Ei Lars! Tome cuidado! E vê se não morre! – disse Glorin, sorrindo.

Lars parou na entrada da taverna por um instante, virou-se novamente para dentro. Seus olhos brilharam e ele sorriu.

_ Não se preocupe! Não há mal que não possa ser desfeito e não há pessoa que não mereça uma segunda chance! Até um dia, amigos!

Lars partiu, deixando para trás o forte Rodick e grandes e inesquecíveis amigos.

_ E ai, plantador de florzinha? Como tem passado, Kuran? – perguntou Glorin, na taverna.

Os dois começaram a conversar, e Kuran se apresentou a Squall, Nailo e Lucano. Alguns minutos após a partida de Lars, um dos soldados entrou na taverna gritando:

_ Eles chagaram! O sargento Legolas retornou de sua missão!

Finalmente, após dias nas Montanhas Uivantes, Legolas e seus soldados retornavam de sua missão.