novembro 18, 2012

Capítulo 392 – Moóck!


Um som ensurdecedor ecoava pelas ruas de Triunphus. Cornetas soavam por todos os lados, anunciando o perigo, gritos se juntavam a elas, produzindo uma cacofonia caótica. Pessoas corriam de um lado para outro em pânico, tentando se abrigar, buscando a salvação. Entre seus gritos histéricos de desespero apenas uma palavra podia ser entendida: Moóck!

_ Moóck! Moóck! – gritavam os moradores assustados. Ao lado de Nailo, o lobo negro eriçou os pelos de seu corpo, como se pressentisse a tragédia. Nailo, bem como o restante de seus amigos, não entendia o que acontecia. Mas a resposta para sua dúvida surgiu logo, vinda dos céus em uma gigantesca forma alada. O Moóck de Triunphus atacava.
Vindo da cordilheira ao norte da cidade, um colossal pássaro vermelho voava em grande velocidade. Abriu suas asas, tão grandes quanto a igreja de Thyatis, e planou sobre as construções abaixo dele. Suas duas cabeças se agitaram, seus bicos emitindo um som estridente que revelava o porquê de seu nome.
_ Moóck! – gritou o pássaro. As ruas tremeram com seu pio ensurdecedor e o rufar de suas asas. Suas duas caudas com forma de serpente se moveram, chicoteando o ar e seus bicos se abriram, cuspindo duas esferas de chamas sobre a cidade. As bolas de fogo explodiram, destruindo casas e lançando, além das chamas, escombros sobre os cidadãos que tentavam se proteger. O imenso animal avançou, cuspindo mais fogo e entulho sobre a cidade, destruindo construções, ceifando vidas e espalhando o caos.



Em pouco tempo as ruas se tornaram desertas, somente o grupo de aventureiros permanecia na avenida que levava à praça comercial. Sobre a cidade a cavalaria de grifos se movimentava, tentando expulsar o Moóck com seus ataques ineficazes. Sentindo o perigo, Legolas agarrou o braço de Nailo e falou:
_ Nailo, leve-me até um lugar seguro! - o velho conduziu o amigo cego até o interior de uma loja próxima. Lá, Legolas pediu: Agora, leve-me até a porta e direcione meu arco para o inimigo. Depois volte aqui para dentro e se abrigue, amigo.
Do lado de fora, Orion já saltava nas costas de Galanodel, inconsequente como sempre, de espada em punho. Os dois voaram até ficarem cara a cara com o imenso inimigo. A desproporção era gritante, era como se Orion lutasse sozinho contra um castelo. Flechas voavam do alto em direção ao pássaro, tentando obrigá-lo a recuar. Orion e Galanodel, vendo a ineficácia da guarda da cidade, continuaram a voar em direção ao inimigo. Mas, antes de chegar à distância de ataque, Orion foi atingido por uma violenta bicada da cabeça direita do animal, que destruiu parte de sua armadura e quase o derrubou de sua montaria alada. O guerreiro se agarrou às penas com dificuldade, já que tinha apenas um braço para lutar e se segurar.
_ Soul Eater! – gritou Orion. Esta alma está boa para você?
_ SIM! – gritou a espada em resposta.
O guerreiro se aproximou mais do inimigo. Galanodel tremia, mas mesmo assim não abandonava seu amigo e continuava avançando contra o adversário.

Creio que chegou o momento de eu me revelar – pensou Yule. – Minha Senhora tinha razão, eles precisam de muita ajuda. Cinco minutos nesta cidade e já estão em perigo. Por Allihanna, como eu gostaria de não ter vindo a este lugar. Preciso fazer alguma coisa rápido para salvá-los – olhou em volta e viu a situação dos seus protegidos: um cego, outro velho, um dragão morto. – Allihanna, dai-me sua força!

No chão, uma nuvem densa e gélida surgiu ao redor de onde estavam Squall e os outros, envolvendo-os e protegendo-os. – Legolas – pensou Anix, que observava a cena do alto. Seus amigos estariam a salvo dentro da nevasca, abrigados contra o fogo e os estilhaços.

_ Grande Senhora, mãe dos animais e plantas. Sua filha pede seu auxílio nesta hora de necessidade – Yule orava com fervor, oculta dentro da névoa que criara. Esperava que a Deusa mais uma vez entrasse em contato com ela como fizera antes quando pedira que Yule fosse ao encontro dos elfos e do humano. Para sua felicidade, sua prece foi atendida.
_ Diga minha filha – a voz de Allihanna preencheu a mente de Yule, como de uma floresta inteira se manifestasse, mas de forma suave e acalentadora. – Do que precisa, criança?
_ Senhora, peço que impeça este ataque. Fale com o senhor desta criatura e peça a ele que ordene a retirada de sua cria.
_ Isto é algo que está além do meu alcance, menina. Não tenho poderes para intervir nisto. Mas ao menos falarei com a Fênix e pedirei a ele que interceda. Enquanto isto, tente manter todos vivos.
_ Sim, minha senhora – concordou Yule, fazendo uma reverência mental. Sentiu a presença divina se distanciando de sua mente. Saiu do transe e voltou a ouvir o som da batalha. – Agora, salvar aquele humano tolo! – decidiu por fim.

No alto, Orion golpeava com sua espada negra com ferocidade. O som do impacto de cada golpe era como o bater de um martelo em um gongo. Ainda assim, o pássaro parecia não sofrer qualquer dano e continuava planando sobre o céu de Triunphus, agitando suas asas de forma destruidora, arrancando pedaços da cidade com o vento gerado. O pássaro revidou, desferindo poderosas bicadas e coices contra o humano. Partes da armadura negra despencaram no solo, junto com uma torrente de sangue. Orion não sentia dor alguma, mas era capaz de ver e compreender o seu estado. A lateral de seu corpo estava rasgada, ferida pelas poderosas garras do Moóck, e quem o observasse do solo podia ver seus órgãos pulsando dentro de seu corpo, enquanto ele se mexia para atacar e se defender.
Legolas apareceu na porta da loja, guiado por Nailo. O ranger se espantou ao ver que tudo estava coberto por uma densa névoa. Não conseguia enxergar seus amigos, nem mesmo o Moóck.
_ Nesta direção, uns quarenta metros adiante – gemeu Nailo, posicionando o arco de Legolas no meio da bruma. O arqueiro agradeceu e disparou uma saraivada. As flechas saltaram da bruma, rasgando o céu como cometas ascendentes. Três delas colidiram contra o peito do monstro e explodiram em gelo. O Moóck pareceu não se abalar diante do ataque.

Voando um pouco mais atrás, Anix olhou com preocupação para os amigos e viu Próximo dali viu Galarden observando o combate distraidamente, vulnerável a uma estranha mulher que se aproximava dele de forma furtiva, com uma espada nas mãos.
_ Galarden, cuidado! – aviou Anix. O elfo e a mulher começaram um acirrado combate nas ruas, ignorando a ameaça maior que pairava no céu. Anix nada viu disto, pois fechou os olhos, enquanto ganhava altura montado em sua vassoura, e começou uma conjuração. De sua mão voaram duas pequenas esferas brilhantes e em grande velocidade. Os orbes se chocaram contra o Moóck, gerando duas explosões estrondosas. Chamas gélidas se espalharam pelo corpo do animal, envolvendo-o por completo e causando-lhe ferimentos em diversos lugares. O monstro emitiu um grito de dor ante o ataque. Mesmo assim, a fera alada avançou sobre o diminuto alvo em sua frente e continuou atacando-o.
Mais sangue choveu sobre a cidade, junto com pedaços do corpo de Orion. Suas vísceras ficaram dependuradas, pendendo de sua barriga rasgada. O humano revidou, abrindo um grande talho na garganta da criatura, que para ela não passava de um pequeno arranhão.

Diliel estava espantada. Pega de surpresa pelo ataque repentino do monstro, não se abrigara. Estava espantada. Já testemunhara diversas vezes os efeitos dos ataques do Moóck, mas aquela era a primeira vez que presenciava de tão perto a fúria do animal. Mas outra coisa a espantava: o grupo que avistara ao sair para as ruas enfrentava o pássaro. Ou eram poderosos demais, ou loucos. Diliel viu ao redor deles uma nuvem de neve e gelo surgindo magicamente e pensou ser um ótimo abrigo, além de uma boa oportunidade para se aproximar daquele exótico grupo. Sem hesitar, ela saltou dentro da névoa e, invocando o nome de Thyatis, lançou sobre o Moóck sua magia mais poderosa em auxílio aos insanos combatentes.

Do alto, Anix viu uma mulher, vestida com uma armadura metálica, saltando dentro da proteção que julgava ter sido criada por seu amigo. Segundos depois, viu o Moóck curvar seu corpo, como se sentisse alguma dor, e depois abrir as asas e continuar a atacar Orion. – Alguém tentou feri-lo com magia, mas não conseguiu­ – pensou ele. Viu a misteriosa mulher que atacara Galarden procurando-o após ele desaparecer nas sombras. E viu também quando seu irmão surgiu de dentro da névoa, voando em direção ao inimigo.
Squall colocou o corpo de Mexkialroy no chão cuidadosamente e lançou-se ao ar, batendo as asas com força. Deixou a bruma para trás, abrindo um buraco em sua passagem. Usou seus poderes mágicos e fez surgir cinco cópias mágicas de si mesmo. Lado a lado, os seis Squalls se colocaram diante do Moóck, desafiando-o para dar tempo a Orion de escapar. O imenso pássaro se distraiu por um instante, confuso com tantos inimigos à sua volta. Nunca antes ele havia sido desafiado daquela forma. Legolas usou seu poder para criar uma parede de gelo, ligando dois prédios um no outro, de forma a protegê-los como um escudo. No chão, vendo a cena através do buraco criado por Squall na névoa, Yule percebeu que era chegada a hora de agir.
_ Chegou o momento de eu me revelar. Que Allihanna me guie – sussurrou Yule baixinho. Seu focinho se moveu, murmurando uma prece curta e ela retornou à sua forma original: uma linda mulher cuja aparência mesclava características élficas e dracônica. Seus cabelos eram longos e negros como a noite, seus olhos eram como prata líquida, sua pele alva e macia era coberta por uma túnica vermelho sangue e protegida por uma armadura feita de escamas de dragão vermelho. Adereços diversos, todos de origem dracônica, adornavam seu belo corpo e em sua pontuda orelha direita, um delicado brinco em forma de guizo tilintava suavemente. Yule se concentrou e fez surgirem suas asas que estavam magicamente escondidas. Elas se expandiram, refletindo a luz do sol num brilho prateado. Ela saltou, batendo as asas e serpenteando sua cauda prateada, ganhando altura. Em uma fração de segundo, suas mãos já alcançavam o humano cuja vida se esvaia diante do Moóck.
_ Orion, cuidado! – Gritou Anix ao ver a estranha, porém bela, criatura sair da névoa e avançar contra o amigo. Squall a viu passando ao seu lado e lançando as mãos de garras afiadas sobre o guerreiro. Sem hesitar, o Vermelho a atacou. Os seis dragões vermelhos, o real e suas cópias ilusórias, abocanharam o ombro da mulher com violência.
Yule sentiu seu corpo sendo rasgado. A dor era profunda, mas também prazerosa. Havia muito tempo que não sentia aquilo, o calor da batalha em suas veias. Porém, não era momento para se divertir, ela tinha uma missão urgente. Yule agarrou o humano, que tentou resistir ao seu delicado, porém forte, abraço, e o puxou para trás. Apoiou o pé nas costas da coruja, tomando impulso, e abriu as asas, usando-as como velas ao aproveitar a força do vento criado pelo bater de asas do Moóck. Yule se afastou rapidamente do inimigo, carregando Orion consigo ao mesmo tempo em que cuspia uma rajada congelante contra o animal monstruoso, ferindo-o no peito. Mas então, uma voz invadiu sua mente. Ela tentou resistir, mas o poder investido contra ela era muito grande e ela foi forçada a obedecer.
_ Desça meu amigo devagar até o chão – ordenava Anix mentalmente, usando seus poderes mágicos para controlar as ações de Yule. Enquanto não a agredisse, ela estaria à sua mercê.
Sem opção e seguindo aquilo que já era sua intenção, Yule foi descendo em direção ao chão. Em sua descida, ela ouviu novamente em sua mente uma voz cálida, elevando-se acima da voz do elfo, como o rugido de uma centena de animais.
Está feito, criança! O Moóck irá embora! – disse Allihanna. Yule comemorou em silêncio, mas sua alegria durou pouco.
O Moóck começou a se afastar, como se desistisse do combate. O pássaro bateu suas asas, criando um vendaval poderoso e recuou quase cem metros. Suas duas cabeças se juntaram, abrindo os bicos simultaneamente. Duas bolas de fogo foram cuspidas na direção dos heróis, juntando-se em uma única e devastadora esfera de chamas. A bola explodiu de forma devastadora, derrubando casas, matando cidadãos e atingindo Yule, Orion, Galanodel e Squall. O Vermelho nada sofreu com o ataque, permanecendo imóvel enquanto as chamas se espalhavam ao seu redor lhe causando prazer. Yule tentou defender o corpo de Orion com suas asas, mas não foi rápida o bastante. O fogo os envolveu, queimando seus corpos furiosamente. Ela agarrou Orion com força, vendo-o tornar-se uma massa carbonizada diante de seus olhos. Assistiu também impotente à morte de Galanodel, que se precipitou rumo ao chão como uma bola preta de carvão após ser fulminada pelo ataque do Moóck. O pássaro bateu novamente as asas, afastando-se mais e mais, e a cada recuo que dava, mais fogo ele cuspia sobre a cidade. Parte de Triunphus foi destruída e um grande incêndio se espalhou pela parte mais velha da cidade, tirando tudo daqueles que nada tinham.
Yule finalmente tocou o chão suavemente. Ao seu lado Anix já pousava também, ordenando-a que soltasse o corpo carbonizado de Orion. Distante no horizonte, o Moóck finalmente desaparecia na cordilheira que levava seu nome, onde aguardaria até que sua fúria novamente despertasse. Mais uma vez o pássaro fracassara em seu intento.

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Enquanto as pessoas comuns se escondiam e seus companheiros de viagem enfrentavam o Moóck, Galarden se deparava com um desafio inesperado. Uma nuvem de gás sufocante se formou ao seu redor, cegando-o e envenenando-o. O elfo correu, afastando-se daquela névoa esverdeada que tentava matá-lo, procurando com os olhos quem era o causador daquilo. Sem encontrar o inimigo, ele saltou na sombra de uma casa próxima onde se escondeu e desapareceu da vista do inimigo, graças à sua capa mágica.
Enuma praguejou ao ver o oponente escapar de eu truque mágico. Pegou a espada e foi procurá-lo. O Morcego pagaria por sua traição e seria morto por suas mãos. Ela seguiu os passos do homem que caçava e começou a tatear em busca de seu alvo. Dobrou a esquina, esgueirando-se entre caixotes e barracas destruídas pelo desespero das pessoas em fuga, então sua mão tocou em algo macio. Ela olhou e viu que tocava o peito do inimigo, que estava encostado na parede. Estranhou não tê-lo visto antes ali, mas, como notou que ele não reagira à sua presença, atacou-o com sua espada.
Galarden conseguiu se esquivar da misteriosa mulher que trombara com ele. Achava tratar-se de um morador em fuga, mas percebeu o engano ao ter que escapar do ataque de sua espada. Sem hesitar, ele apanhou o arco mágico e a atacou com suas flechas.
Enuma foi sendo pouco a pouco vencida pelo adversário, que lutava de forma desonrada. Se fosse realmente um membro da ordem, por que ele não usava as técnicas que aprendera lá? Ao invés disso ele cravava flechas em, seu peito, que coruscavam no impacto e lhe causavam potentes choques elétricos. Enuma revidava com sua espada, sem conseguir ferir o homem com gravidade. Sentindo que perderia se continuasse a lutar daquela forma, Enuma recuou e parou em meditação, canalizando a energia de seu corpo para fechar os ferimentos que recebera. O homem mostrou-se realmente desonrado, um traidor dos fundamentos da Sociedade da Lua Crescente, já que continuou atacando-a, mesmo enquanto ela estava em estado de transe.
Enuma foi ao chão, inconsciente, vítima das flechas de Galarden. O elfo notou que ela ainda respirava e, mesmo sem entender porque fora atacado, não teve clemência. Foi até ela, apanhou uma flecha na aljava e espetou a garganta de Enuma. Exausto, recostou-se na parede e sentou para recuperar o fôlego enquanto tentava localizar seus companheiros de viagem.

novembro 17, 2012

Capítulo 391 – Triunphus


No início da manhã do dia dezenove os viajantes avistaram uma floresta mais densa, para onde conduzia a estrada em que estavam. Agora com a luz do sol sobre suas cabeças, podiam ver detalhes da paisagem até então ocultos de seus olhos. Havia uma enorme cordilheira de picos escarpados ao norte da floresta e a noroeste existia uma gigantesca montanha que se erguia quilômetros acima do solo até ultrapassar as nuvens, seu pico era nevado e o topo não podia ser visto, pois estava oculto entre as nuvens. Continuaram a jornada, atravessando a mata. O sol já se aproximava da metade do céu, quando chegaram ao centro da floresta. A estrada se abria numa gigantesca clareira de vários quilômetros de extensão. Erguendo-se no centro da clareira havia uma colina baixa e verdejante e encravada nela uma enorme cidade murada. A muralha erguia-se a mais de vinte metros do solo e seis torres circulares se elevavam mais seis metros rumo ao céu, igualmente dispostas de modo a formar um colossal hexágono de pedras. Era possível ver outra muralha dentro da cidade, que protegia um grande e luxuoso palácio. Suas torres eram ainda mais altas, atingindo facilmente os trinta metros de altitude. Internamente, no porão leste da cidade, havia uma torre ainda mais alta, de topo abobadado no formato de uma gota d’água que refletia a luz do sol de forma ofuscante. À medida que se aproximavam, podiam distinguir mais e mais detalhes. Havia dezenas de soldados circulando no topo da muralha, muitos deles em prontidão, com seus arcos apontando para fora por trás das ameias. Outros soldados guardavam o portão de entrada, que ficava no centro da porção sul da muralha, abordando cada pessoa que tentasse entrar, interrogando-os e revistando seus pertences quando conveniente. Uma cavalaria alada chamava a atenção de todos, vários grifos circundavam a poderosa metrópole, comandados por seus cavaleiros atentos. Finalmente, após a longa caminhada, o grupo chegou diante da entrada de Triunphus. Aguardaram na fila até a sua vez de serem entrevistados, quando foram abordados por dois soldados fortemente armadados.

novembro 13, 2012

Capítulo 390 – rumo a Triunphus


Cerca de um mês havia se passado desde o término da batalha final na torre de Gulthias em Galrasia, era o décimo oitavo dia de Pace, o mês dedicado a Marah, a Deusa da Paz. Dois dias antes, o mundo todo parara num grande feriado, no qual nenhuma luta era travada, mesmo nas culturas guerreiras, como se a própria Deusa da Paz descesse ao mundo e espalhasse sua influência por todos os seus cantos. Legolas, Anix, Orion, Squall e Nailo, entretanto, não festejaram. Os Escolhidos tinham enfrentado uma dura provação. Seus corpos estavam mais que feridos, mutilados; suas mentes perturbadas, atormentadas pela maldade com a qual tinham convivido por tantos dias e suas almas feridas, corrompidas e sem esperanças. O tempo que tinham passado aprisionados dentro do círculo de pedras sob os cuidados do misterioso lobo negro e seu dinossauro companheiro, servira para aliviar suas dores e reduzir seus temores. Suas feridas agora estavam cicatrizadas, o mal que os corrompia tinha sido dissipado quase que completamente, suas mentes estavam mais calmas e confiantes, suas esperanças estavam renovadas. Tinham agora um rumo, um norte para perseguir. Estavam a caminho de Triunphus, em busca do conselho do famoso oráculo da cidade que, esperavam, lhes revelaria o paradeiro de Teztal e seus asseclas. Com este conhecimento, seriam capazes de encontrar as jóias que guardavam as almas das pessoas que mais amavam, para libertá-las e finalmente por fim àqueles dias de batalhas cruéis e intermináveis.

Sam Rael os havia guiado até o local onde se encontravam agora, suas instruções tinham sido suficientemente precisas para não atirá-los dentro de uma montanha ou coisa pior. Estavam à beira de uma estrada de terra batida, cercada por matas ralas de pinheiros. O clima era agradável, uma brisa fresca soprava dentre as árvores, refrescando seus corpos já acostumados ao calor sufocante de Galrasia. Não sabiam em que parte do reinado estava, mas estavam felizes por estarem ali, longe da ilha pré-histórica e sua torre amaldiçoada. Restava apenas saberem o quão distantes estavam de seu destino final.
Havia um pequeno vilarejo a cerca de trinta minutos de caminhada a norte de onde se encontravam. Com certeza não era a cidade que buscavam, mas lá poderiam obter informações e, talvez, um mapa que os conduzisse até o destino. Prepararam-se para a jornada, entusiasmados. Seria bom caminhar naquele início de noite, sem correr riscos, sem preocupações. Deram os primeiros passos rumo à pequena vila quando um som familiar e inesperado os deteve. Era um trotar pesado, de um animal muito grande que os acompanhava. Olharam para trás e viram, com espanto, que não estavam sozinhos. O imenso lagarto que os protegera em Galrasia estava seguindo-os, acompanhado de seu inseparável amigo peludo. Lobo e dinossauro continuaram andando, passando pelo grupo pasmo e tomaram a dianteira. À frente do grupo, reduziram a marcha e olharam para trás, como se esperassem que os demais os seguissem. Sem entender como aquilo acontecera, já que Anix não tinha usado sua magia de teleporte nos dois animais, o grupo retomou a caminhada lentamente. Algo estranho acontecia, como se os Deuses brincassem com eles.

A caminhada seguiu sem incidentes. Legolas e Nailo andavam juntos, um dando apoio ao outro. Anix voava baixo com sua vassoura, acompanhando o grupo atento a possíveis perigos. Squall andava pesaroso, carregando o cadáver de seu companheiro de escamas azuis, enquanto Orion estava absorto, conversando mentalmente com sua espada que, finalmente, voltava a dar sinais fracos de vida, assim com a consciência do ser que dividia o corpo com Anix.
O povoado era pequeno, apenas umas duas dúzias de casas ao redor da estrada e algumas pequenas fazendas próximas. A estradinha cortava a vila numa linha reta, interrompida apenas por um poço comunitário encravado no centro do vilarejo. As casas eram simples, pequenos sobrados de madeira e teto de palha, e as que ficavam à beira da estrada eram em sua maioria pontos comerciais. Havia uma única taverna, um curtidor de couros, uma estrebaria, um armazém, e outras lojas menores. Era estranho uma vila tão isolada não ter prosperado mais. Havia pouco movimento na rua àquela hora e as poucas pessoas que circulavam se afastavam rapidamente ao avistar o grupo incomum que adentrava em seu território.
Pararam diante do poço. Nailo se encostou em sua beirada para descansar, enquanto seus amigos tratavam de conseguir o que precisavam. Squall deixou Mex ao lado do idoso amigo e partiu em busca de suprimentos. Orion pediu licença aos companheiros e partiu com Galanodel para caçar; precisava alimentar sua amiga e sua espada. Anix foi em busca de informações que lhes dissessem onde estavam e quão longe estavam do lugar aonde iriam. Uma pele pendurada diante da casa do coureiro chamou sua atenção, fazendo com que ele caminhasse em sua direção sem se dar conta disto. Era um couro cinzento e liso, de algum animal que ele não conhecia, mas que possuía um par de chifres e um bico córneo em sua cabeça, cuidadosamente mantidos presos à pele pelo caprichoso curtidor. Quando voltou a si, Anix estava diante da porta do coureiro. Bateu.
_ Quem está ai? – gritou uma voz dentro da casa. Segundos depois a porta se abriu e surgiu um homem de meia idade, calvo e de barba grossa, vestido com roupas simples de cânhamo, já preparado para ir dormir. O homem olhou para Anix com espanto. Vestes pesadas e elaboradas, três olhos, uma máscara em forma de caveira cobrindo parte da face eram algo evidentemente incomum para ele. Correu os olhos rapidamente pela rua e viu o dinossauro deitado ao lado do poço e o dragão, que era Squall, perambulando pela rua. Assustado, o homem fechou lentamente a porta, deixando apenas uma pequena fresta aberta, por onde fitava Anix. – O que você quer? – perguntou com voz trêmula.
_ Não se assuste, senhor. Quero apenas uma informação. Meus amigos e eu – Anix deu uma pausa, apontando para os companheiros na rua e assustando ainda mais o humano – estamos indo para Triunphus e gostaria de saber como faço para chegar lá!
Temeroso, o homem estreitou mais a fresta da porta e respondeu:
_ Fica a norte daqui, a um ou dois dias de viagem. Não sei direito, pois nunca fui para lá, nem quero.
_ E o senhor... – começou Anix, sendo interrompido.
_ Não sei. Se quiser mais informações, procure pelo Joe – o homem fechou bruscamente a porta enquanto Anix tentava agradecer. O mago retornou para junto dos companheiros e relatou o que acontecera enquanto retirava a máscara do rosto para evitar novas confusões. Viu um homem vindo pela rua e desviando deles para entrar na taverna, foi até ele e o abordou, perguntando onde poderia encontrar o tal Joe.
_ Ora, é só olhar atrás do balcão! – respondeu o homem, apontando para o interior da taverna.
Anix e Legolas foram até lá. Entraram no recinto e o encontraram quase vazio. Havia apenas quatro fregueses dentro da taverna: o homem que entrara há pouco e que dividia uma mesa com um halfling com o qual disputava um acirrado jogo de cartas, um homem de capa negra, isolado em uma mesa no fundo do salão, e outro halfling sentado num banco alto diante do balcão. Em sua frente esta o tal Joe, um homem alto, de cabeça e braços estranhamente pequenos, que limpava animadamente uma caneca enquanto conversava com o pequenino. Ao botar os pés dentro do salão, todos os olhares se voltaram para os dois. Anix pegou a venda que cobria os olhos cegos de Legolas e a usou para esconder seu terceiro olho, tentando não chamar tanto a atenção. Os dois aventureiros foram até o balcão e tomaram assentos. Joe se voltou para eles.
_ Pois não? – disse o taverneiro. Anix notou neste momento que o próprio Joe era um halfling. Seu bar fora todo construído para atender fregueses de tamanho humano que por ali passavam. Atrás do balcão, para servir às necessidades de seu diminuto dono, havia um tablado que circundava todo o balcão e escadinhas que subiam e desciam, permitindo que Joe conseguisse chegar ao chão e alcançar as bebidas mais altas em sua prateleira. O pequeno se deslocava sobre o tablado enquanto servia aos clientes, ficando da altura de um humano. Espantado com a engenhosidade do pequeno atendente, Anix demorou um instante antes de responder:
_ Preciso de uma informação. Por acaso você teria as coordenadas da cidade de Triunphus? – perguntou o elfo.
_ Coordenadas? Por acaso tenho cara de cartógrafo – respondeu o pequenino, sorrindo.
_ Bem Se tiver um mapa ou souber de alguém que tenha. Estou indo para lá e preciso saber como chegar até ela.
_ Ah bom! Isso é muito fácil. Basta você seguir a estrada rumo ao norte. Dá menos de um dia de viagem daqui até lá.
_ Muito obrigado – disse Anix. – Legolas, quer molhar a garganta antes de irmos?
_ Sim, experimentem o vinho seco, está ótimo – disse o halfling entusiasmado.
_ Está gelado? – perguntou Legolas.
_ Claro que não, amigo. Estamos na primavera, como poderia estar gelado?
_ Então me traga uma garrafa que eu vou mesmo vou gelá-la!
_ Está brincando comigo? Por acaso está trazendo neve em sua bolsa amigo? – riu o pequeno.
_ Traga a garrafa e verá. Se duvida, faço uma aposta com você. Cem moedas de ouro, que tal?
_ Está louco! Eu não tenho este dinheiro.
_ Então vamos fazer o seguinte. Eu lhe dou cem moedas, e se eu ganhar a aposta você me paga cem moedas por ela. E eu não pago pelo vinho.
Joe pensou por um instante. A proposta do elfo era muito inusitada, ele não tinha como perder. Ainda um tanto hesitante ele concordou. Correu até o fundo da taverna e voltou com uma garrafa empoeirada, limpou-a e a colocou no balcão, diante de Legolas.
O arqueiro segurou a garrafa com a mão direita e se concentrou. Canalizou seu poder glacial para dentro do recipiente, fazendo-o quase congelar. Uma nuvem de vapor frio saiu do gargalo, deixando todos espantados. Legolas deu uma golada, satisfeito. O vinho era horrível, ao que parece a taverna estava abarrotada dele e Joe o estava empurrando para todos os clientes.
_ Incrível! – admirou-se Joe. – Consegue fazer isto novamente? Dou-lhe outra garrafa se o fizer.
_ Claro – respondeu Legolas.
Joe trouxe mais duas garrafas. Legolas resfriou-as e o pequenino pegou a que lhe pertencia e correu até a porta do estabelecimento aos berros:
_ Venham, venham! Somente hoje, vinho gelado a duas pratas a caneca. Venham antes que acabe.
Legolas riu e depois pediu para ver a adega do pequenino. Lá usou seus poderes para resfriar todas as bebidas, arrancando gritos histéricos e gargalhadas de Joe. Aquela noite seria muito lucrativa para o pequeno.
Legolas a Anix foram para a saída, enquanto mais fregueses começavam a chegar, curiosos pelo anúncio do halfling. Enquanto saiam, foram abordados pelo homem de capuz negro.
_ Com licença, ouvi dizerem que estão indo a Triunphus. É verdade?
_ Sim. Por que quer saber? – disse Anix.
_ É que também estou indo para lá. Será que se importariam em dividir a fogueira na estrada comigo? – perguntou o homem, enquanto retirava o capuz que cobria o rosto. Duas orelhas pontudas se revelaram, era também um elfo. – Sou Galarden! – apresentou-se, por fim.
Anix olhou desconfiado para o estranho. Pensou por um tempo e depois falou:
_ Vamos consultar meus amigos. Mas antes quero saber quem é você e o que quer em Triunphus.
_ Estou viajando pelo Reinado, conhecendo-o. Ouvi falar desta cidade e decidi conhecê-la. Sou um arqueiro, nasci em Lenórienn e agora estou viajando pelo norte.
Anix e Legolas voltaram ao poço, acompanhados de Galarden. Squall e Orion já tinham retornado e os aguardavam junto com os outros. O feiticeiro havia conseguido rações para a viagem e o guerreiro exibia, orgulhoso, sua espada novamente em chamas e viva após petiscar a alma de uma pobre lebre.
_ Amigos! Este é Galarden. Nós o encontramos na taverna e ele também está indo para Triunphus e pediu para nos acompanhar até lá – disse Anix, apontando para o elfo que os acompanhava. – O que vocês acham?
_ Você pode até nos acompanhar até lá, mas estaremos de olho em você – disse Nailo, ofegante.
_ Sim. Vê este dragão azul. Nós o matamos e faremos o mesmo com você se tentar qualquer gracinha – Ameaçou Squall, após usar seu anel para assumir sua forma dracônica e cuspir uma rajada de chamas para o alto.
Galarden observava atônito à demonstração de poder daquelas pessoas. Tinha visto muitas coisas estranhas desde que deixara a terra natal, o lar destruído dos elfos. Mas algo o dizia que se ficasse junto daquele grupo, veria coisas que sua imaginação sequer seria capaz de pensar. Ainda intimidado pelas ameaças, ele concordou com um aceno de cabeça. O grupo juntou seus pertences e partiu. Dinossauro e lobo já os aguardavam na saída da cidade. Era possível ver na expressão do lobo a sua inquietação, como se o animal pressentisse problemas. E pressentia.

novembro 12, 2012

Capítulo 389 – Confinados – os últimos dias em Galrasia


O sol estava alto no céu quando todos despertaram. Era uma manhã ensolarada, Azgher imperava radiante no céu, apesar disso a temperatura estava agradavelmente fresca. Estavam todos ainda atordoados e confusos, num estado de semi-torpor devido ao cansaço, aos ferimentos e a influência maligna da energia liberada pelo coração no momento de sua explosão. Novamente, havia mais comida esperando por eles no centro da clareira e, sem hesitar, o grupo se reuniu ao redor dela para o desjejum. Comeram calados, cabisbaixos, ainda deprimidos pela situação em que tudo terminara: todos mutilados de alguma forma, o grupo dividido e o mal se regenerando pouco a pouco dentro da torre. Depois de comerem, Anix pediu a Orion o seu colar emprestado e chamou por Sam. A jóia brilhou como de costume, mas a imagem do menestrel não surgiu dentro dela como era esperado. Apenas uma névoa difusa podia ser vista na pedra. A voz do bardo ecoou em meio a um chiado, como se Sam falasse no meio de uma forte chuva. A comunicação era confusa e partes da conversa se perdiam no meio da chiadeira. Era evidente que algum poder extremamente grande interferia no objeto.

novembro 05, 2012

Capítulo 388 – O coração vive – separação e fuga... e consolo


Anix despertou com dor. Algo o golpeava no rosto. Ergueu o corpo com dificuldade, pronto para atacar, quando viu que Yczar o acordava. Xingou o amigo pelos tapas no rosto e olhou ao redor. Viu o corpo de Gulthias no chão, logo após ter despencado de dentro do coração explodido, ser degolado por Orion. Levantou.
_ Depressa! Vocês tem que ir embora daqui o quanto antes – alertou Yczar.
_ Por que?­ – quis saber Anix.

_ Este lugar os corrompeu por demais – começou a explicar o paladino. – Veja o estado em que vocês estão. Se ficarem mais tempo aqui, com certeza morrerão. Além disso, olhe para aquilo – Yczar apontou para o alto. Uma esfera negra flutuava, em chamas, e pulsava. O coração estava se regenerando. Yczar apontou para Squall, no chão. O dragão sufocava e tinha espasmos cada vez mais fortes a cada batida do coração negro. – O coração está drenando as suas forças. Vocês tem que ir embora, devem ficar afastados deste lugar antes que seja tarde.
_ E quanto a você?
_ Eu ficarei aqui. Minha missão aqui ainda não terminou. Vou purificar este lugar, expurgar o mal que o habita. Encontrarei vocês quando for possível.
_ Não! Nós ficaremos para ajudar! – protestou Anix.
_ Impensável! Vocês devem primeiro cuidar de vocês. Veja o estado de seus amigos – Anix olhou ao redor e viu como seus companheiros estavam. Legolas, cego, era guiado por um dos cavaleiros. Nailo era praticamente carregado. Orion guardava seu braço decepado na mochila, a carne de seu ombro estava queimada numa tentativa precária de estancar a hemorragia. Squall, desacordado, voltava a ser elfo após um dos soldados retirarem o anel de seu dedo e era carregado para o andar inferior. Galanodel carregava o corpo de Mexkialroy para fora. O paladino continuou: Vocês devem sair daqui e tratarem de seus ferimentos. Além disso, tem outra missão a cumprir: devem localizar Teztal, descobrir para onde o maldito foi. Ficarei aqui com os soldados e iremos expurgar o mal deste local. Tentarei encontrar vocês depois disso.
_ Está certo. Mas fique com isto – Anix entregou a Yczar um medalhão em forma de pena. – Você sabe como usá-lo. O pássaro nos encontrará.
_ Está bem! Agora parta, meu amigo. E que Khalmyr guie seus passos.
Yczar e Anix se despediram. Dois soldados vieram ajudar o elfo a caminhar. Estava enfraquecido e sua cabeça doía muito. Seu corpo continuava negro e os olhos estavam fechados. Antes de sair, voou com a vassoura, e notou que necessitava de um tremendo esforço para controla-la. Colocou o pequeno coração dentro de um frasco de vidro e tentou movê-lo, mas não conseguiu. Desistindo, o mago desceu, extremamente exausto. Anix deixou o salão, ajudado pelos cavaleiros. Caminharam pelos corredores escuros das catacumbas e subiram de volta à torre, atravessando a saída aberta por Guilterpin. Batloc liderava o pelotão, sempre atento com seu poderoso machado em punho, até que finalmente chegaram ao lado de fora.
_ Amigos, aqui me despeço de vocês novamente – disse o genasi. – Retornarei para junto de Yczar. Ele precisará de todo o poder divino que dispuser para destruir este local impuro – Batloc se despediu rapidamente dos amigos e retornou para o interior da torre. Um a um, os soldados repetiam os passos do genasi. Deixavam os objetos dos companheiros aos seus pés, se despediam e partiam. Por fim, quatro soldados depositaram o corpo de Gulthias no chão e partiram. O céu estava nublado, mas a fraca luminosidade que atravessava as nuvens foi suficiente para dissolver o corpo do vampiro lentamente, até ele se transformar numa nuvem de fumaça que se dissipou com o vento. Então, foi a vez de Lucano se despedir.
_ Amigos, é hora de nos separarmos – disse o clérigo. – O mal deste lugar nos afetou e está matando o Squall agora. Batloc está certo. Yczar precisará de todo o poder divino disponível e eu tenho que ajudar a parar isto antes que seja tarde. Fujam para longe da torre e protejam-se. E encontrem as jóias das almas o mais depressa possível, elas não podem ficar nas mãos de Teztal. Eu voltarei a me reunir com vocês tão logo seja possível. Adeus! – com lágrimas nos olhos, Lucano se virou e partiu escuridão adentro.
_ Nós também ficaremos – anunciou Luskan. – O poder de Kátia também será útil agora. E nós não a abandonaremos, é nossa companheira. Adeus amigos e até breve. E foi uma honra trabalhar ao seu lado, Nailo. – os quatro jovens aventureiros correram para dentro da espiral. Restava apenas o anão.
_ Bem, é óbvio que eles vão precisar de poder arcano também. Então também ficarei. Protejam-se, amigos, e nos veremos em breve – disse Guiltespin, com um sorriso. - Ah! Isto aqui estava na bancada do da torre, deve pertencer ao vampiro. Fique com você, Anix. Poderá ser útil – o anão entregou ao elfo dois tomos. Um de capa de couro negro, dentro do qual Anix viu várias inscrições em idioma arcano. Era um grimório, provavelmente de Gulthias ou de Zulil. O outro livro, de capa marrom com detalhes que faziam o couro parecer pedra, tinha em seu interior diversas figuras e escritos ensinando como montar uma criatura de pedra. Era um manual completo com instruções para se fabricar um golem de pedra. Guiltespin girou nos calcanhares e deu um passo, mas voltou imediatamente. – Ah! Quase esqueço. Vocês estão fracos e se precisarem de ajuda na floresta, basta chamem por khashiyrk e ela os ajudará – Guiltespin entregou a Anix uma pequena estátua de marfim em formato de grifo. Despediu-se de todos e partiu.
Orion e Nailo já tinham recolhido os pertences de Gulthias do chão que, agora que sua morte era definitiva, tinham finalmente se desprendido dele. Sem mais demora, o grupo partiu, indo em direção à rampa que conduzia para fora do vale. Anix sentia-se fraco e não conseguia usar sua magia. Com muita dificuldade era capaz de ativar o poder mágico de seu cajado e comandar a vassoura voadora, mas nada além disso. Nailo guiava Legolas e se apoiava nele. Orion carregava Squall no ombro, calado. E Galanodel carregava o corpo do dragão azul, voando baixo ao lado dos amigos. A caminhada até a rampa demorou um longo tempo. Quando chegaram até ela, Squall despertou e pode caminhar, embora tivesse que ser ajudado por Orion. O feiticeiro sentia seu corpo dolorido e respirava com dificuldade, sua mente estava confusa.
A subida foi ainda mais dura. Contornavam com dificuldade as pedras que se espalhavam pelo caminho e o céu voltou a ameaçá-los com trovões e relâmpagos. Quando finalmente chegaram perto do topo da rampa, um vulto surgiu rápido, vindo da floresta na direção do grupo. Anix reagiu rápido e com grande esforço usou o poder de seu cajado. Cuspiu uma baforada de fogo, obrigando o inimigo a deter sua carreira antes deles. Quando as chamas se dissiparam, puderam ver quem se aproximara.
Era uma criatura enorme. Tinha três metros de altura e mais de seis de comprimento. Seu corpo era protegido por uma couraça de escamas e por saliências ósseas pontiagudas. Sua cabeça era envolta por uma coroa óssea cheia de pequenos espinhos ósseos. A criatura estava parada, diante deles, observando-os, apontando-lhes três enormes chifres que saiam de sua cabeça, como se os ameaçasse ou se se protegesse de um novo ataque.
_ Não ataquem – Nailo tomou a dianteira, encarando o dinossauro tentando não mostrar hostilidade. Tirou as espadas de suas bainhas e as depositou no chão em sinal de paz. Olhou para o animal, um enorme tricerátops e usou o dom de Allihanna para falar com ele. – Somos amigos! Não queremos fazer mal. O que você quer com a gente? Só queremos passar. - A fera continuava a observar, sem nada responder, embora Nailo tivesse certeza de que fora entendido.
Então outro vulto surgiu do meio das árvores, ainda mais veloz que o dinossauro, e saltou sobre as costas dele. Era um grande lobo, negro como a noite, de olhos prateados como se fosse feitos de prata líquida. O animal farejou o ar, como se cheirasse o grupo. Tinha os pelos eriçados, as orelhas esticadas para trás, estava totalmente tenso. Começou a rosnar e a encarar cada um deles lentamente, como se os medisse de cima abaixo. Depois ergueu a cabeça para o alto e deu um longo e profundo uivo. O som do animal podia ser ouvido a quilômetros, pensavam os heróis. Não era um som comum de um animal caçando ou chamando seus companheiros, ou mesmo prestando homenagem à lua. Era algo triste, um lamento em forma de uivo, como se o lobo, sensibilizado pelo estado lastimável dos aventureiros, chorasse por sua desgraça. O animal se virou e saltou do dorso do dinossauro e pousou suavemente no chão da mata. Depois olhou para trás, como se chamasse os heróis e correu para dentro da floresta. O tricerátops o acompanhou em seguida.
_ Acho que eles querem que nós os sigamos – sussurrou Nailo, exausto.
_ Você acha que é seguro? – perguntou Anix.
_ Não tenho certeza, mas acho que sim. Se quisessem nos atacar, eles já o teriam feito. Só o que posso dizer é que isto é muito estranho.
_ Vamos segui-los então, e descobrir o que está se passando. - Disse Anix. Lentamente todos deixaram a rampa, seguindo os dois. Uma pesada chuva começou a cair, como se os próprios deuses pranteassem o infortúnio dos heróis.
O grupo caminhou por quilômetros, seguindo o lobo e o dinossauro. Nailo tentava se comunicar com os dois, mas não tinha resposta alguma. Os animais pareciam não querer conversar com ele. Fora isso, nenhuma palavra era dita. Apenas o som dos passos e da respiração forçada dos aventureiros podia ser ouvido na mata em meio à chuva. Depois de um longo tempo, avistaram uma clareira. Nela, no topo de uma pequena colina ficava um círculo de pedras gigantescas, semelhante àquele em que tinham conversado com Marah e Lena.
O lobo entrou no círculo e se deitou ao lado do monólito central, observando os heróis, como se esperasse que os seguissem. O dinossauro o acompanhou e deitou mais atrás. Um a um os combatentes entraram no círculo e se entregaram ao cansaço. Todos se deitaram na relva verdejante que crescia na colina. Nailo tentou se aproximar do lobo, para afagar seu pelo, mas o animal recuou rosnando e se afastou. O ranger encostou seu corpo no monólito e, tal qual seus amigos, adormeceu.
Despertaram tempos depois, sem ter noção de quanto tempo tinham ficado desacordados. Uma música suave ecoava pela mata, como uma prece, trazendo consolo aos seus corações e espíritos atormentados. No centro da clareira, frutas frescas e água jaziam sobre a grama, um verdadeiro banquete apetitoso. Sem pestanejar, os heróis combalidos lançaram-se sobre a comida, gratos por aquela bênção.

Capítulo 387 – O coração negro sob a montanha


Pendurado na corda dos cavaleiros, Legolas foi o primeiro a atingir o topo do coração da espiral. Num salto ele atingiu o último nível, sendo alvejado por uma esfera de chamas, lançada por Gulthias, que explodiu em seu peito. Lá ele pode entender porque aquele lugar era conhecido como coração e imediatamente lembrou-se dos sonhos premonitórios que Allihanna lhes havia dado. Um coração negro, sem corpo, do tamanho de uma pequena cabana, flutuava próximo ao teto, cerca de dez metros acima da passarela que rodeava a abertura central. Queimava com labaredas negras e azuladas que de alguma forma sombria forneciam iluminação ao lugar. E estava vivo. O coração pulsava de maneira bizarra diante dos olhos de Legolas. Era o coração de Ashardalon.

outubro 22, 2012

Capítulo 386 – O retorno do inimigo


Mal abriu os olhos e saudou seus companheiros, Anix sentiu a torre tremer.  Orion já se acostumara com aquilo durante a noite, mas mesmo assim seu coração disparava a cada chacoalhar da construção. Os tremores pareciam ficar cada vez mais fortes.
Em silêncio, cada um dos aventureiros se preparou para o combate iminente. Seria, esperavam, o último naquela torre amaldiçoada. Desejavam que fosse o último em suas vidas. Após tantas batalhas, tanto sofrimento e tanto sangue em suas mãos, aqueles jovens heróis desejavam um pouco de paz em suas vidas.

Capítulo 385 – Pacto com o monstro


Anix adormeceu e, como já se tornara rotina, o ser que abrigava em seu corpo despertou.
_ Onde estou? – perguntou o beholder. – Aqui não é a floresta!
_ Estamos dentro da torre, no subsolo – respondeu Legolas.
_ E onde é a saída? – quis saber o monstro. - Vou me alimentar.
_ Espere! Não pode sair ainda. O sol ainda não se pôs, ainda é dia.
_ Não importa! Tenho um trato com meu hospedeiro. Quando ele dorme eu fico livre. Não se intrometam.

Capítulo 384 – A última porta


_ Halfling maldito! – xingou Orion. – Onde este desgraçado escondeu a chave?
_ Só pode estar com ele – deduziu Anix depois de pensar por alguns instantes. – Convencido como era, para ele o lugar mais seguro era com ele mesmo. Vamos voltar até a caverna e revirar o corpo dele.

Capítulo 383 – Ancião de Ferro


Orion foi o primeiro a descer, seguido por Legolas e depois por Yczar. Depois vieram Anix e Guiltespin, voando na vassoura mágica. Os demais ficariam aguardando, já que não era prudente todos se arriscarem naquela missão. O objetivo era claro, evitariam o confronto direto e buscariam obter a chave que faltava. Lutar contra o dragão seria feito apenas se fosse inevitável. Como o monstro metálico demonstrara ser lento, chegar até o baú da chave não seria tarefa complicada, esperavam os heróis.

Capítulo 382 – A última chave


Orion, já de volta ao estado normal após testemunhar a morte do inimigo, tomou a caixa em suas mãos e a abriu. Chamas se elevaram de dentro do baú numa explosão e atingiram o rosto do guerreiro. Sem sentir qualquer dor devido às queimaduras, Orion continuou sua tarefa assim que o momento de ofuscação passou. Pegou a terceira peça metálica, semelhante às demais em composição e cor, confirmando que de fato tratavam-se de partes da chave que necessitavam, e um pequeno bilhete que estava sob ela, no qual leu a seguinte mensagem:

Capítulo 381 – Chifres diabólicos


_ Acordem! É hora de retornarmos – chamou Legolas, após o raiar do dia. O sol já ia alto, trazendo calor para o vale. Anix e Mexkialroy despertaram, ambos ensopados de sangue, e foram se preparar para o dia de batalhas. O mago começava a se acostumar com aquela situação incomoda. Lavou rosto e mãos com a água do cantil, comeu um naco de ração de viajante e abriu seu livro de magias, como fazia todas as manhãs. Estudou os feitiços que usaria naquele dia, adicionou mais algumas linhas aos novos encantos que desenvolvia e alegrou-se ao finalmente concluir o aprendizado de alguns truques novos e poderosos. Seus inimigos que o aguardassem, pois teriam uma bela surpresa. Todo prontos, os três aventureiros voaram de volta para a espiral no meio do vale e desceram seus vários andares até chegarem ao subsolo, onde seus amigos os aguardavam.

Capítulo 380 – Contra-ataque


_ Intrusos! Tirem suas mãos do tesouro de Ashardalon! – a voz do fantasma ecoou sombria de trás da parede além do tesouro. Numa fração de segundo o guardião do tesouro a atravessou e atacou. Sua mão espectral atravessou o rosto de Orion num tapa violento. O guerreiro sentiu suas forças sendo sugadas, como se sua alma fosse arrancada de seu corpo. Antes que o humano pudesse entender o que lhe acontecia, dois outros inimigos surgiram ao seu lado, saídos das sombras no chão. Suas peles eram douradas como ouro, mas num tom estranhamente pálido. Exibiram seus caninos pontudos, voando para cima de Mexkialroy e da cópia ilusória de Guiltespin. Um dos genasis vampiros cravou seus dentes pontudos no pescoço de Mex e começou a sugar o sangue do dragão. O outro quase foi ao chão, ao tentar segurar a imagem falsa à sua frente.

Capítulo 379 – Guardião fantasmagórico


_ Intrusos! Ousaram invadir a câmara sagrada! Eu, o guardião do tesouro de Ashardalon, matarei a todos! – gritou a criatura que surgira magicamente diante dos heróis. Era um ser translúcido, que lembrava um humano com características de dragão. Porém, diferente de Squall e dos outros meio-dragões que já haviam visto, este possuía algo mais. Suas escamas eram vermelho enegrecidas e sua cabeça adornada com um par de chifres afiados. Seus olhos brilhantes e vermelhos eram puramente malignos. Asas de morcego se projetavam das costas da aparição, e uma cauda comprida, delgada e pontuda como uma lança, agitava-se de um lado para o outro. A criatura era de alguma forma parte dragão e também parte demônio, para espanto de todos. E, como a maioria das coisas naquela torre maldita, não estava viva. Era um fantasma.

Capítulo 378 – Bem vindos ao culto!


_ Mas o senhor precisa confiar em mim – insistiu Legolas. – O corpo de Anix está muito ferido, e se não o curarmos logo, tanto ele quanto o senhor podem morrer.
Chafurdando no cadáver da bruxa, o beholder que agora dominava Anix, não deu qualquer atenção a Legolas.
_ Legolas, afinal, o que está acontecendo? – perguntou Yczar, espantado. O Cavaleiro da Luz ficou ainda mais chocado ao ouvir a explicação dada pelo elfo a respeito do que acontecera a Anix em Vectora. Enquanto o arqueiro narrava os fatos para os amigos, a criatura terminou sua grotesca refeição.

Capítulo 377 – Fogo e bruxaria


Um brilho inundou a alcova onde o guerreiro e o mago tinham aparecido e seus aliados saltaram de lá de dentro velozmente ao avistarem o perigo. Os rugidos de Orion pareciam estremecer as paredes.

Capítulo 376 – Além do abismo – tesouros e fúria


Deitado sobre uma rocha, enrolado em seu próprio rabo, Mex observava, risonho, o resultado da batalha. Dezenas de corpos estavam espalhadas aos pedaços por todo o chão rochoso da gruta. Havia cadáveres de humanos, elfos, goblins e criaturas nativas da ilha, como as dragoas-caçadoras, e havia também corpos de monstros como ogros, trolls e outros. Estavam agora todos inertes, alguns congelados, outros queimados até os ossos e muitos deles retalhados por lâminas e garras. Legolas, Squall e Orion comemoravam a vitória como se tivessem derrotado o próprio Zulil. De certa forma, o necromante sofrera uma grande derrota ali ao perder seu exército.

outubro 18, 2012

Capítulo 375 – À procura das chaves


Legolas tomou a dianteira, liderando o agora numeroso grupo até o subterrâneo. Atravessaram as catacumbas até chegarem ao corredor onde tinham travado o combate conta Flint. No caminho, foram abrindo todas as portas que encontraram. Eram oito salas ao longo do corredor, todas pequenas de não mais que nove metros quadrados, algumas cheias de entulho, outras recheadas de tesouros que os heróis deixaram para recolher mais tarde, pois havia inimigos por perto que deveriam enfrentar. Na primeira das portas uma armadilha mágica quase congelou o corpo de Orion com um sopro frio e todos suspeitavam que mais armadilhas os aguardavam nas demais saletas, mas havia algo mais urgente a resolver. Anix encontrara o inimigo e o atraia para uma armadilha. A poucos metros do pelotão, o golem que os ameaçara na noite anterior perseguia o mago a passos vagarosos e pesados.

outubro 14, 2012

Capítulo 374 – Ordem da Luz


Amanheceu. Era o vigésimo quinto dia do mês de Lunaluz, o sol brilhava forte naquela manhã de primavera. Não fosse pelo lugar e situação em que se encontravam, os aventureiros poderiam alegrar-se com aquele clima.

outubro 12, 2012

Capítulo 373 – Pactos demoníacos



De súbito, o grupo estava do lado de fora da torre, a vários metros do chão. A magia de teletransporte de Anix os arremessara aleatoriamente no espaço, afetada pela força maligna que dominava a espiral negra. Orion tivera menos sorte e materializou-se dentro da parede da torre, sendo cuspido para fora dela por uma força poderosa. Com seu corpo todo ferido pelo atrito com a rocha da parede, o guerreiro juntou-se aos demais para com eles despencar rumo ao solo. Ainda atordoados, levantaram-se e rumaram o mais rápido que conseguiam para a caverna que usavam como acampamento. Estavam feridos, cansados e humilhados. Apenas o pequeno Flint, praticamente sozinho, causara a todos tamanho estrago. Não supunham que alguém tão diminuto, de aparência tão frágil, pudesse ser tão poderoso. Subestimar Flint provara-se um erro. E para piorar a situação, o coração de Legolas parara de bater.

setembro 06, 2012

Capítulo 372 – Céu rubro


Os olhos de Legolas se abriram lentamente e se depararam com a luz solar invadindo-os com ternura. O elfo mexeu a cabeça e, com as mãos, apalpou o corpo, checando os ferimentos. Não estavam mais lá. Seu corpo estava ileso, sem marcas, sem dores. Algo estava errado.
Legolas levantou-se, ainda meio tonto, a mente confusa, tentando recordar-se do que acontecera, de como tinham derrotado Flint. Olhou ao redor e viu que estava em um lugar diferente e belo. Estava em uma grande floresta de árvores milenares, mas, ao contrário do que acontecera quando estivera no Bosque de Livara Austini, o ar ali não era pesado. Ao contrário, Legolas sentia-se muito à vontade naquele lugar, aconchegado, como se estivesse em casa. Algo estava errado.

Capítulo 371 – Moscas na teia


Dezenas de metros abaixo o grupo encontrou novamente o solo. Atravessaram o longo escuro túnel voando. Legolas e Lucano montados na vassoura mágica, Orion carregado por Galanodel, Nailo transportado por Squall, que ainda mantinha a forma dracônica após o embate contra o elemental, e Mexkialroy voando sozinho ao lado de Alven e Cloud. Por fim, a coruja gigante retornou mais duas vezes, até trazer Katia e seus companheiros para baixo.

agosto 24, 2012

Capítulo 370 – Soul Eater


Orion recuperou o fôlego, refeito dos golpes que haviam rasgado sua carne. Ingeriu uma poção mágica para minimizar os efeitos dos ferimentos que se fecharam instantaneamente. Ouviu um gemido ao seu lado e reconheceu a voz de Anix.
_ Anix! Onde estamos?
_ Não sei. Acho que dentro da torre ainda. Em algum tipo de caverna, eu acho. Devemos estar no subsolo.

Capítulo 369 – Fogo! – a aparição do halfling


A sala em frente ficava na borda leste da torre. Era de formato triangular, com uma das paredes curvilínea acompanhando o contorno externo da construção. Por todos os lados havia mais urnas funerárias empilhadas, várias delas estavam pelo chão, aos pedaços. Uma das ânforas despertou a atenção do grupo, era dourada, feita de ouro maciço e nela podia se ler em dracônico o nome de seu ocupante. Trossurkan, o Vermelho, era o nome inscrito com runas no jarro de ouro. Deveria ter sido alguém importante, um descendente de Ashardalon talvez, assim como Squall que coincidentemente partilhava a mesma alcunha. A urna foi recolhida pelos aventureiros, seus vários quilos de ouro seriam úteis quando todos estivessem de volta à civilização.