outubro 22, 2012

Capítulo 378 – Bem vindos ao culto!


_ Mas o senhor precisa confiar em mim – insistiu Legolas. – O corpo de Anix está muito ferido, e se não o curarmos logo, tanto ele quanto o senhor podem morrer.
Chafurdando no cadáver da bruxa, o beholder que agora dominava Anix, não deu qualquer atenção a Legolas.
_ Legolas, afinal, o que está acontecendo? – perguntou Yczar, espantado. O Cavaleiro da Luz ficou ainda mais chocado ao ouvir a explicação dada pelo elfo a respeito do que acontecera a Anix em Vectora. Enquanto o arqueiro narrava os fatos para os amigos, a criatura terminou sua grotesca refeição.

_ Vamos lá, elfo – disse o observador. – Dê-me um daqueles frascos mágicos, para curar o corpo de meu hospedeiro.
Legolas entregou uma poção mágica à. O monstro apanhou o frasco e o atirou na boca com desleixo. Mastigou o vidro como se devorasse um alimento, as gengivas de Anix se rasgavam e sangravam ao mesmo tempo em que eram curadas pelo líquido mágico. O tempo passou, a poção cumpriu sua função, mas Anix não despertou. Confuso e preocupado, Legolas pedia ao monstro para libertar o amigo e deixá-lo despertar. Entretanto, o observador parecia tão confuso quanto Legolas, alegando não saber por qual motivo Anix não retornara à consciência. Foi quando Yczar decidiu agir.
_ Com licença! Permita que eu tente curá-lo – pediu o cavaleiro, gentilmente. Sua mão direita tocava o ombro de Anix com suavidade.
_ Tire suas patas de mim, humano – resmungou o beholder.
_ Calma! Não vou lhe fazer mal, meu amigo. Desejo apenas curá-lo – disse Yczar.
_ Está bem, então­ – respondeu o monstro. Yczar murmurou uma prece ao Deus da Justiça, sua mão brilhou placidamente e seu brilho envolveu o corpo de Anix. O elfo cambaleou como se desmaiasse e despertou antes de ir ao solo.
_ O que aconteceu? Por que estão todos me olhando? – perguntou Anix, de volta ao controle sobre seu corpo.
_ Nada, não. Depois eu explico – respondeu Legolas, aliviado por ter o amigo de volta. Depois num sussurro: O que você fez, Yczar?
_ Apenas uma magia para protegê-lo contra o mal. Sua mente não poderá ser controlada agora.
_ Bem, se tudo está bem agora, vamos voltar então. Os outros devem estar preocupados – sugeriu o anão.
_ Sim, Guiltespin. Vamos voltar e chamar os outros – disse Legolas. – Mas antes vou bloquear estas portas, e garantir que quando retornarmos aqui, não sejamos surpreendidos novamente. – Legolas usou seus poderes sobrenaturais para congelar as portas que levavam para fora do salão em que estavam. Depois se reuniu com os amigos e todos retornaram pela câmara de teletrasnporte.
O grupo retornou pelo corredor. Estavam todos mudos. Orion olhava com curiosidade para a luva que encontrara numa das salas onde Squall deveria estar naquele momento. Tentando quebrar o clima pesado que tomara conta de todos, Guiltespin se aproximou do rapaz, explicando-lhe a função do item. Segundo ele, a era uma luva de armazenamento, capaz de encolher uma arma até ela quase desaparecer na superfície da luva. Nestas condições a arma não tinha qualquer peso e bastaria usar novamente a palavra de comando para que ela retornasse ao tamanho normal, já na mão de seu dono. Entretanto, para surpresa do anão, Orion continuou calado, sem nem ao menos esboçar um sorriso ao descobrir que possuía um item tão útil. Guiltespin deu um longo suspiro e se calou também.

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_ Foi um belo saque, Vermelho! Agora abandona logo esta aparência lastimável e volta ao normal – disse Mexkialroy. Seus olhos brilhavam, admirando o os tesouros que conseguira nas criptas. Squall guardava o resto dos objetos em sua mochila mágica de espaço quase infinito, também satisfeito com a pilhagem. Ao completar a tarefa, o elfo acionou mentalmente o poder de seu anel e voltou a transformar-se em dragão. Estava um pouco maior do que antes, a cada nova transformação, Squall crescia em tamanho, poder e arrogância.
_ Saiam da frente, humanos! – gritou o Vermelho. – Fiquem longe daqui e não se metam! – o imenso corpo reptiliano de Squall ganhou o corredor, afugentando os soldados que montavam guarda. Squall fiou a última porta a abrir e avançou contra ela, arrombando-a sem qualquer precaução.
Atrás da porta havia um salão, cheio de poeira como todos os outros, onde um grande altar de pedra aguardava para ser novamente utilizado após séculos de abandono. O altar ficava à direita, cerca de dez metros distante da entrada. Além dele, uma porta dupla ocultava alguma outra sala ou corredor e acima do altar, presa ao teto, havia uma estátua metálica de um dragão de asas abertas, com a cabeça projetada para frente, encarando os visitantes com as presas à mostra. Runas entalhadas no mármore envelhecido chamaram a atenção dos dois dragões. Squall foi até o altar e leu em voz baixa as inscrições.

“O que pode sobrepujar Ashardalon?
O que é mais terrível que o Grande Ancião?
Todos os pobres o têm,
É tudo que os ricos precisam;
Quando ingerido, provoca a morte.”

A mensagem inscrita em dracônico entrou na mente de Squall assim que ele a leu, tomando conta de seus pensamentos, sem dar espaço a qualquer outro. Squall ficou atônito, dominado por alguma magia estranha que o impedia de fazer qualquer coisa a não ser ouvir a mensagem em sua mente, retumbando, exigindo uma resposta.
_ O que está havendo, Vermelho?  O que tens? – perguntou Mexkialroy, ao notar o estranho comportamento catatônico de Squall.
_ Nada – foi a resposta do feiticeiro, após um longo tempo de silêncio e totalmente indiferente à preocupação do azul.
_ Bem vindo ao culto! – falou uma voz na mente se Squall, a mesma que lhe repetia a charada inscrita no altar. Os olhos da estátua no teto brilharam sombriamente. Squall foi envolvido por uma aura escura e maléfica. O ar foi roubado de seus pulmões e seu coração pareceu parar. Squall agarrou-se ao fio de consciência que lhe restava e livrou-se no último instante das garras da morte.
_ O que tens, Vermelho? Estais estranho. O que lestes neste altar que te deixaste tão abalado? – indagou com escárnio o dragão azul.
_ Pois leia e descubra você mesmo, Mex! Isto é, se não estiver com medo – desafiou Squall.
Irritado, o dragão azul avançou até o altar, erguendo-se sobre duas patas e lendo mentalmente as runas. E tal qual acontecera a Squall, Mexkialroy foi apanhado pela armadilha mágica, e se viu forçado a responder à charada que martelava em sua mente.
_ Isto é muito fácil de responder! Sou EU! – disse o dragão com orgulho. Os olhos da estátua acima de sua cabeça brilharam como rubis e a boca metálica cuspiu chamas que tomaram conta de todo o salão, queimando tudo que estava em seu caminho.
_ Maldição! – gritou Mexkialroy, voando para o corredor, lambendo as escamas chamuscadas.
_ O que está acontecendo? – perguntou Anix, que acabara de chegar com Legolas após atravessar o abismo a bordo da vassoura voadora.  Orion vinha logo atrás, aguardando o retorno de Galanodel que carregava Yczar sobre o despenhadeiro escuro.
_ Descubra você mesmo, elfo! Aquelas inscrições são amaldiçoadas – respondeu o azul, apontando para o altar.
Anix entrou no salão, seguido de Legolas. Deu uma olhada para as runas, sem compreender seu significado, e retornou em direção à entrada, confuso. Legolas, entretanto, parou diante da plataforma de pedra e começou a ler em voz alta suas inscrições. Tanto ele, quanto Squall, que já tentava abrir a porta atrás do altar, foram apanhados na armadilha.
_ Elfo idiota! – resmungou Mexkialroy. Anix, sem entender nada, ia pedir ao dragão que explicasse o que acontecia, quando foi interrompido por ele. – Cala-te e observa, elfo!
Orion entrou na sala, curioso, sem compreender porque Squall e Legolas pareciam paralisados. Viu as runas sobre a pedra e lembrou-se do que sua espada mágica lhe contara na noite anterior.
_ Soul Eater! – chamou mentalmente o guerreiro. – Você disse que era capaz de entender qualquer língua. Por favor, leia para mim estas inscrições.
A espada maldita transmitiu telepaticamente o texto ao humano. Tal qual acontecera com Mex, Squall e Legolas, Orion sentiu seu corpo formigando, porém, resistiu aos efeitos da armadilha mágica e libertou sua mente a tempo para sua sorte. Uma sorte que Legolas e Squall não compartilhavam no momento.
_ Gehörnt! – respondeu o Vermelho.
_ Nada – murmurou Legolas simultaneamente. E novamente labaredas se projetaram da boca da estátua e tomaram conta da pequena capela. Ao mesmo tempo, Legolas recebia as boas vindas ao desconhecido culto e lutava contra a morte. Quando as chamas se dissiparam, os heróis felizmente continuavam vivos.
_ O que foi isso? – perguntou Legolas.­ – Ouvi uma voz na minha mente, dizendo que eu era bem vindo ao culto. Depois senti a morte tocando meu peito, como se um espectro me atacasse.
_ Tolos! – rugiu Mexkialroy, invadindo a sala. – Isto é uma armadilha mágica. Se responderes corretamente à pergunta, poderás fazer parte do culto daquele desgraçado do Gulthias. O que significa que te tornarás um morto-vivo como ele. Mas se errares a resposta, serás queimado vivo. Como dei uma resposta diferente da tua, elfo, fui chamado de invasor, e esta estátua tentou assar-me.
_ Quer dizer que estas runas na verdade são uma armadilha? – Perguntou Anix, aproximando-se do altar. – Mas o que está escrito ai?
_ Idiota! – gritou o dragão azul enquanto subia no altar e o cobria com seu corpo. – Afasta-te destas runas e não ouses lê-las, ou todos nós seremos afetados pelo efeito mágico.
­_ Não se preocupe, Mex. Eu não sei ler este idioma não – sorriu Anix.
Então és um analfabeto inútil – pensou o dragão.
Yczar e Guiltespin chegaram ao salão neste momento, e viram Orion e Squall empurrando a porta além do altar. Mexkialroy esticava seu corpo sobre o altar, encarando o humano e o anão, esperando que estes sequer pudessem ver as runas sob suas escamas.
_ Tesouro! – exclamou Guiltespin. Além da porta aberta por Orion havia um salão de proporções parecidas ao que abrigava o altar. Duas estátuas de mármore em formato de dragões, uma de cada lado do salão, de frente uma para a outra, vigiavam uma pilha de ouro e objetos valiosos ao fundo da câmara. Sobre a pilha reluzente havia um baú dourado.
_ A outra chave deve estar dentro daquele baú! – disse Orion, eufórico. O humano invadiu a sala do tesouro, e despertou seu guardião.


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