outubro 22, 2012

Capítulo 381 – Chifres diabólicos


_ Acordem! É hora de retornarmos – chamou Legolas, após o raiar do dia. O sol já ia alto, trazendo calor para o vale. Anix e Mexkialroy despertaram, ambos ensopados de sangue, e foram se preparar para o dia de batalhas. O mago começava a se acostumar com aquela situação incomoda. Lavou rosto e mãos com a água do cantil, comeu um naco de ração de viajante e abriu seu livro de magias, como fazia todas as manhãs. Estudou os feitiços que usaria naquele dia, adicionou mais algumas linhas aos novos encantos que desenvolvia e alegrou-se ao finalmente concluir o aprendizado de alguns truques novos e poderosos. Seus inimigos que o aguardassem, pois teriam uma bela surpresa. Todo prontos, os três aventureiros voaram de volta para a espiral no meio do vale e desceram seus vários andares até chegarem ao subsolo, onde seus amigos os aguardavam.

Encontraram todos reunidos no local combinado. Orion, e os que o acompanhavam, terminavam de quebrar o gelo que lacrava a porta do salão onde tinham passado a noite. Nas outras salas, Yczar, Nailo, Batloc e os demais se dividiam entre turnos de descanso e de vigília.
_ É bom vê-lo novamente, Nailo – sorriu Legolas. – Como foi ontem, tudo correu bem?
_ Mais ou menos – respondeu o Guardião. – Encontrei uma das chaves, mas não pude pegá-la!
_ Por que não? – indagou Anix.
_ Está numa sala lacrada – disse Lucano que acabava de levantar.
_ Além disso, tivemos outro problema – completou Nailo. – Lembram-se daqueles gorilas que chamavam o Squall de mestre? Bem, encontramos uma tribo inteira deles aprisionada aqui embaixo. A situação ficou um pouco tensa no início, mas depois conseguimos convencê-los de que não éramos inimigos. Felizmente, alguns dos gorilas que o Squall libertou apareceram e nos reconheceram, então a líder deles decidiu confiar em nós. Ela nos mostrou a sala onde a chave está e nos disse que são realmente quatro chaves ao todo. Elas devem ser unidas para formar uma única peça, que pode abrir a porta que dá acesso ao centro da torre, onde Zulil está. Nós libertamos todos os macacos, devia ter uns cinqüenta deles, e os levamos para fora da torre em segurança. Depois voltamos para cá e encontramos o Yczar.
_ Você o que? Levou os gorilas para fora? – gritou Legolas. O elfo estava pálido de medo. – Mex, por acaso vocês não comeram os gorilas, comeram?
_ Ora, isso você nunca saberá, elfo! – respondeu Mexkialroy. O dragão sorriu, irônico, e foi se deitar em cima de uma das tumbas.
_ Bem, o que está feito está feito – Disse Squall, espreguiçando-se. – Se os gorilas se deixaram apanhar, azar deles. Agora vamos logo em frente. Vamos buscar essa chave que o Nailo falou.
_ Sim, não há tempo a perder. Guie-nos, Nailo – disse Orion, todos concordaram com um aceno de cabeça.
Nailo conduziu seus companheiros pelos corredores, através de várias catacumbas, até chegarem a uma caverna natural ampla, poucos metros abaixo do piso, onde os gorilas eram mantidos prisioneiros atrás de grades de ferro enferrujado agora já destruídas pelo ranger e seus amigos. Um túnel sinuoso e irregular seguia para o leste escuridão adentro. Ao norte, diante das grades da antiga cela dos escravos de Gulthias, havia uma porta que se abria para um corredor. Quatro portas ao longo do corredor davam acesso a velhas criptas abandonadas e há muito saqueadas. No centro de cada cripta havia sarcófagos abertos e cheios de pó e entulho. A última sala à esquerda possuía uma porta que levava a outro corredor, pequeno, que terminava em um salão onde uma única porta lacrada separava os aventureiros do objeto que buscavam.
Orion tomou a frente e, com sua espada devoradora de almas, cortou a pedra sem dificuldade. A porta veio abaixo ruidosamente, revelando uma pequena sala além dela. Um pedestal de pedra suportava um pequeno baú de madeira onde, calculavam os heróis, estaria a chave. Diante do pequeno pilar, um círculo brilhava no chão, traçado magicamente com dezenas de runas incompreensíveis ao redor e em seu interior. Uma corrente translúcida se erguia do centro do círculo mágico em direção a uma robusta perna, coberta de escamas horrendas. Presa à corrente, uma criatura maior do que um ogro, com forma vagamente humanóide sorria para o grupo com uma centena de dentes pontiagudos. Seu rosto demoníaco era recoberto de escamas e chifres. Orelhas muito grandes se projetavam nas laterais da cabeça em direção às costas da criatura, onde um par de asas de morcego, decoradas com chifres pontudos em cada articulação, se agitavam ansiosas. Os olhos vermelhos e brilhantes do monstro fitaram cada um dos recém-chegados com malevolência. A besta deu um passo à frente, seus braços musculosos se movendo rapidamente, girando uma enorme corrente com cravos segurada pelas garras grandes e afiadas do ser.
_ Então finalmente vocês chegaram até aqui – disse finalmente a criatura, quebrando o silêncio tétrico que tomara conta do ambiente.­ – Presumo que vieram para me libertar, estou certo?
_ Bem, isso depende – disse Legolas, levando a mão lentamente em direção à aljava mágica. – Quem é você, e por que está preso?
_ É, parece que me enganei. Então se não vieram me libertar, devo supor que vieram atrás da chave, certo? – perguntou novamente o ser coberto de chifres.
_ De que chave vocês está falando? – perguntou Anix, evasivo.
_ Ora, não me subestimem. Vieram ou não atrás da chave? Não me façam perder tempo com esta encenação ridícula – devolveu o monstro.
_ Sim, nós estamos procurando a chave! – disse Orion. – Você sabe onde ela está? Se nos ajudar a consegui-la, talvez nós possamos libertá-lo.
_ Ora, então eu estava certo, vocês querem mesmo a chave. Era o que eu esperava ouvir – O monstro gargalhou, satisfeito, depois continuou. – Bem tenho duas notícias para vocês. A boa é que, a chave está neste baú aqui atrás. A ruim é que já que se vocês a querem, terão que morrer! Eu, Sammet Olbrich acabarei com vocês! – o monstro projetou seu enorme corpo para frente, girando a corrente furiosamente e atacou.
A corrente passou logo acima da cabeça de Orion, quase atingindo-o, deu mais um giro sobre a cabeça do monstro e voou em cheio contra o peito de Yczar. O paladino cambaleou para trás, atordoado pelo golpe, totalmente à mercê de seu adversário. A arma girou novamente, raspando o peito de Orion sem feri-lo.
O guerreiro avançou correndo contra o inimigo. Sua espada abriu um talho raso no imenso tórax da criatura, que começou a se fechar rapidamente. O guerreiro e o ser repleto de chifres se engalfinharam em combate corpo a corpo, enquanto os companheiros ajudavam à distância. Guiltespin cuidou de tirar Yczar do alcance do demônio e ao mesmo tempo invocou um gigantesco punho mágico que voou contra o monstro. Sammet habilmente esquivou-se do soco, deixando que a parede atrás de si fosse atingida, ao mesmo tempo em que desferia um ataque contra a cabeça de Orion, deixando o humano também atordoado. A criatura preparava-se para acabar com a vida de Orion, quando Anix interferiu.
_ Hei, você! Cornugon ! – chamou o elfo, identificando a espécie da criatura, um tipo de diabo que habitava outros mundos como o reino da Deusa das Trevas. – Quem é seu mestre?
_ Não lhe interessa, verme! Por que quer saber? – perguntou o inimigo.
_ Porque eu não ataco aqueles que servem ao mesmo deus que eu.
_ Pois o meu deus é o mesmo que o seu.
_ Não tente me enganar, monstro! Diga logo o nome de seu deus. Ele é Gehörnt?
_ É o Deus da Morte! E o seu, elfo?
_ Sim, é o mesmo deus. O mesmo Deus que eu matarei depois de matar você! Tome isto! kalliamfia bia liarwjphethax!
Inúmeros relâmpagos se projetaram do olho maligno de Anix em direção ao diabo, como se uma nuvem de tempestade descarregasse toda sua ira sobre a criatura. Mas cada raio que tocava a pele escamosa e espinhosa do monstro se desvanecia, anulado pela capacidade inata do diabo de ignorar poderes mágicos de qualquer natureza. Anix praguejou e amaldiçoou a si mesmo por seu poderoso ataque ter falhado. Usou o poder de seu cajado para tornar sua pele escamosa e espessa como a de um dragão, teria que lutar corpo a corpo se suas magias não funcionassem contra o inimigo.
As flechas de Legolas choviam contra o inimigo, também sem grande eficácia, já que a besta era extremamente resistente ao frio, assim com ao fogo. Nailo e os demais tentavam trazer Yczar de volta a si, quando viram, com temor, o diabo avançar contra o indefeso Orion. Os dentes afiados da criatura se aproximaram contra o humano, esperando arrancar-lhe a cabeça sem qualquer resistência. Foi quando a fúria do guerreiro explodiu.
_ Vai morrer, seu maldito! – urrou Orion, encolerado. O ferimento que o atordoara era completamente ignorado por seu corpo emoldurado no aço amaldiçoado. Totalmente fora de controle, e de volta ao combate fortalecido, graças ao poder maligno da armadura, Orion estocou para cima, enterrando a espada na garganta do monstro, fazendo seu sangue enegrecido verter com fartura. A mão mágica de Guiltespin desceu sobre o corpo do monstro, ao mesmo tempo em que o anão conjurava uma nuvem de poeira mágica para bloquear a visão do inimigo. O punho mágico se desfez ao tocar o diabo, tal qual os relâmpagos de Anix. Mas a criatura estava agora coberta por partículas de poeira dourada brilhante, como se estivesse imersa em uma nuvem de purpurina. Infelizmente, o monstro continuava a enxergar claramente e revidou o ataque do guerreiro, abandonando sua corrente para atacar com suas garras, presas e com o ferrão venenoso na ponta de sua cauda.
Orion rebateu os ataques do monstro com sua espada e os poucos que não conseguiu evitar, foram detidos por sua couraça metálica. Na sua ânsia de retalhar o corpo do adversário, o guerreiro usou força demais num dos contra-golpes, desequilibrando-se e caindo aos pés do inimigo. Mesmo deitado de costas no chão, o humano continuava a bater e a estocar.
Anix disparou uma rajada prismática no mostro, mas este resistiu novamente aos poderes do mago. Guiltespin lançou o conteúdo de sua bolsa mágica dentro da sala, fazendo surgir um cavalo de guerra que se juntou a Orion para combater o diabo. Mas nada parecia abalá-lo. Seus ferimentos cicatrizavam rapidamente, magias não o afetavam e ele parecia feliz enquanto lutava.
Mas o excesso de confiança traiu a criatura. Como acontecera com Orion, o monstro perdeu o equilíbrio e por pouco não caiu também. Os Heróis ganharam tempo, ainda que curto. Orion se levantou, Yczar, finalmente restabelecido, colocou-se ao lado do guerreiro, protegendo-o e aos que o cercavam com sua magia divina. Guiltespin e Anix tentaram novamente afetar o inimigo com suas mágicas. O anão criou uma placa de gel escorregadio sob os pés do monstro e Anix frustrou-se ainda mais ao ver seu raio mágico sendo dissipado ao tocar o couro do diabo.
Orion voltou a trocar golpes com o cornugon e conseguiu atirá-lo ao chão. O monstro atingiu o solo estrondosamente, ficando atordoado pelo impacto da espada devoradora de almas. Yczar avançou rapidamente enquanto o inimigo caia e cravou sua espada em seu peito. O diabo desfez-se numa nuvem negra que foi absorvida por Soul Eater. A batalha estava ganha.


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