outubro 22, 2012

Capítulo 383 – Ancião de Ferro


Orion foi o primeiro a descer, seguido por Legolas e depois por Yczar. Depois vieram Anix e Guiltespin, voando na vassoura mágica. Os demais ficariam aguardando, já que não era prudente todos se arriscarem naquela missão. O objetivo era claro, evitariam o confronto direto e buscariam obter a chave que faltava. Lutar contra o dragão seria feito apenas se fosse inevitável. Como o monstro metálico demonstrara ser lento, chegar até o baú da chave não seria tarefa complicada, esperavam os heróis.

A criatura os aguardava nas profundezas escuras, com seu brilho rubro nos olhos e suas presas afiadas prontas para rasgar a carne de qualquer intruso que ousasse se aproximar. Orion ia à frente do grupo, explorando a câmara em busca de seu guardião, quando se viu cara a cara com o monstro. A fera deslocou seu corpanzil metálico na direção do humano, abriu sua bocarra num rangido estridente e cuspiu fogo em seus inimigos. Era como se uma fornalha queimasse dentro do corpo de aço do dragão, suas chamas intensas transbordaram para fora de seu ventre e atingiram os heróis com violência. Orion sentiu um calor intenso tomando conta de seu corpo e foi novamente tomado pela fúria. Seu único objetivo agora era destruir aquela criatura que o ferira. Legolas cercou-se de ar frio, evitando ferir-se com gravidade, enquanto Yczar, gravemente machucado, foi obrigado a recuar para a escada para não morrer.
Legolas correu velozmente para frente, pulou o mais alto que pode e pisou nas costas de Orion, ganhando impulso para se lançar sobre o corpo metálico da criatura. O dragão reagiu mais rápido e com um golpe de pata lançou o elfo de volta ao chão. Legolas caiu de joelhos diante do monstro e sem desperdiçar um segundo sequer, agarrou as duas pernas do inimigo.
_ Pelos poderes da Rainha Branca, congele! – gritou o arqueiro, invocando o poder glacial da rainha dos dragões de gelo. Uma aura de frio envolveu o corpo do monstro, mas este apenas tornou-se mais lento, sem se congelar como esperava Legolas.
Orion atacou com sua espada amaldiçoada, perfurando o metal com dificuldade. As chamas negras não causavam qualquer tipo de incômodo ao dragão, nem seus poderes maléficos eram capazes de afetá-lo. O fogo mágico parecia fundir os cortes das placas de metal, como se curassem o dragão. Anix, que observava tudo atentamente do alto, enfim compreendeu a situação.
_ Esta criatura não é um dragão! É um golem, mas este é feito de ferro! – gritou o mago para os amigos.
_ Isso significa que a maioria das magias não funciona contra ele – concluiu Guiltespin. – Mas eu tenho alguns truques que vão surpreendê-lo! – sorriu ele. Mas, antes que pudesse por em prática sua estratégia, o anão assistiu impotente ao ataque devastador da criatura. O golem cravou as presas pontiagudas no ombro direito de Orion, depois penetrou a couraça do guerreiro com suas garras, ao mesmo tempo em que rasgava o braço de Legolas com a outra pata. O monstro empinou o corpo para o alto e suas asas moveram-se velozmente, chocando-se violentamente contra o corpo do humano. Antes que seu corpo voltasse ao chão, sua cauda metálica serpenteou rápido para frente, atingindo com força o peito de Legolas, arrancando-lhe uma golfada de sangue.
O anão completou a conjuração do feitiço. Um círculo dourado brilhou no chão abaixo do golem, que foi arremessado para o alto bruscamente, como se caísse para cima. O choque contra o teto, causado pela gravidade invertida, amassou as costas de metal do dragão, produzindo um ruído ensurdecedor. Não satisfeito, o anão usou seus poderes para transformar o solo abaixo do inimigo em lama, esperando prender o inimigo quando ele retornasse ao chão.
_ Phelel a fiajpha! Tempo, pare! – gritou Anix. O elfo viu o ritmo do mundo ao seu redor diminuir até se transformar em uma imagem congelada. O tempo parou. Todos os seres, com exceção de Anix, ficaram paralisados, como se fizessem parte de uma realidade distinta. Anix aproveitou a chance dada por sua nova magia, que para sua alegria funcionara perfeitamente, e voou até o baú prateado no fundo do salão. O objeto sólido e imponente precisaria ser arrombado para ter seu conteúdo revelado. Anix então aumentou seus poderes de combate magicamente, momentos antes de sua magia terminar e as areias do tempo voltarem a cair.
Legolas viu o mago surgir num piscar de olhos à sua frente. Sacou a espada e correu para perto dele, golpeando com todas as forças o cadeado que selava a arca. Um misto de espanto e frustração tomou conta dele ao perceber que a arca e o cadeado eram ambos feitos de mithral e, portanto, extremamente resistentes.
O arqueiro continuou tentando em vão arrombar o baú, enquanto Orion, tomado pelo ódio, continuava a lutar contra o golem. O assovio do humano ecoou pela caverna e a coruja gigante surgiu em seguida no fosso de entrada. Galanodel voou até Orion, que subiu em suas costas rapidamente. Cavaleiro e montaria voaram em direção ao dragão preso ao teto pela gravidade distorcida.
Mas o monstro não aguardou pela chagada de seus oponentes. Sua atenção se voltou para o arqueiro que tentava violar o tesouro que a criatura deveria guardar. O dragão avançou na direção do arqueiro, caminhando de cabeça para baixo pelo teto da câmara. Quando deixou a área afetada pela magia de Guiltespin, o monstro despencou novamente, para baixo desta vez. Enquanto caia, a fera cuspia fogo sobre o elfo que tentava se proteger congelando o ar ao seu redor.
O monstro colidiu contra o piso, amassando seu corpo, despedaçando engrenagens e outros mecanismos. Mesmo ferido, Legolas continuava tentando arrombar o baú, diante o olhar atento do monstro de ferro que já abria sua bocarra em sua direção.
 Anix fez um sinal para Guiltespin, que entendeu prontamente a mensagem do elfo. O anão evocou seus poderes mágicos e fez uma ponte de pedra surgir da parede, sobre o golem. Com os poderes do seu olho maligno, Anix desintegrou as pedras que uniam a ponte à parede. Toneladas de rocha caíram em cima do monstro, como se o teto desabasse sobre ele. Com grandes avarias, a criatura se ergueu dos escombros, voltando suas atenções para o mago elfo. Mas, antes que pudesse atacá-lo, o dragão foi agarrado por Orion que, ignorando qualquer dor ou ferimento, saltara das costas de Galanodel para cair atrás do inimigo e pegá-lo pela cauda.
Orion arrastou o dragão pelo rabo e o atirou no poço de lama criado pelo anão. A espantosa proeza do guerreiro, no entanto, não funcionou como ele planejava. Ao invés de afundar na lama e ficar preso nela e ao alcance de sua espada, o monstro voou para cima, despencando novamente contra o teto, vítima da força gravitacional alterada por Guiltespin.
O monstro bateu com força contra o teto, seu corpo começava a ficar irreconhecível devido aos danos. Mesmo assim, ele se virou rapidamente e saltou na direção de Legolas. O corpo de ferro caiu pesadamente em cima do elfo, esmagando-o, rasgando-o. Legolas sufocava e agonizava embaixo de toneladas de metal, indefeso e impotente. Em um novo movimento coordenado, Guiltespin criou magicamente uma gosma escorregadia ao redor do corpo do arqueiro. Anix usou seu poder de telecinésia para arrastar o companheiro para fora de sua prisão de aço.
_ Não resista, Legolas! – gritavam os magos para o companheiro.
Gravemente ferido, Legolas afastou-se da fúria do inimigo para beber uma poção mágica e aliviar a dor de seus ferimentos. Orion investia contra o golem, atacando-o sem piedade com sua espada. Yczar, já recuperado das queimaduras, correu até o guerreiro e lançou sobre ele o poder de Khalmyr, curando parte de seus ferimentos. Incapaz de sentir qualquer dor por causa da armadura, Orion sequer tinha notado que estava à beira da morte. Para sua sorte, Yczar retornara para salvá-lo.
O dragão se virou, erguendo sua cabeça bruscamente. Seus chifres atingiram com força o peito de Orion, arremessando o humano para trás. Orion voou para o chão lamacento, mas seu corpo foi atirado para o alto, em direção ao teto, tal qual acontecera com o dragão antes. O guerreiro chocou-se estrondosamente no teto, sem sentir qualquer vestígio da dor que seria suficiente para nocautear a maioria das pessoas. Ergueu-se, ficando de cabeça para baixo, e saltou para fora da área da magia. Orion despencou novamente, para baixo desta vez, enquanto o dragão preparava-se para cuspir um turbilhão de chamas em Yczar.
Anix deslizou pelo ar com a vassoura mágica e agarrou o paladino, tirando-o da frente do golem. Orion caiu sobre o monstro, cravando a lâmina negra nas costas da criatura. Ao mesmo tempo, Legolas disparou um vendaval congelante no inimigo, retardando ainda mais seus movimentos. Enquanto os amigos ganhavam tempo, Guiltespin escalava as paredes e o teto como uma aranha em direção ao inimigo, beneficiando-se dos poderes de seu equipamento mágico.
O dragão atracou-se com Orion, engalfinhando-se com ele como dois cães brigando. Orion conseguiu segurar a boca do monstro fechada com uma das mãos, enquanto usava o outro braço para se defender das garras do inimigo e para golpeá-lo com a espada. Legolas disparava flechas e mais flechas, transformando o corpo da fera em uma peneira. As setas perfuravam o ferro uma após a outra, para logo depois se desmaterializarem e retornarem à aljava do elfo, prontas para serem novamente usadas. Yczar usava seus poderes para fortalecer os companheiros e para curar suas feridas.
Enquanto os amigos combatiam no solo, Guiltespin finalmente parou sobre o monstro, preso ao teto por suas sandálias mágicas. O anão gesticulou e recitou palavras mágicas, envolvendo seu corpo com um feitiço poderoso. A carne, pele e ossos de Guiltespin transformaram-se em ferro maciço. Então o anão desprendeu-se do teto e jogou seu pesado corpo sobre o do dragão, abrindo uma cratera nas costas da criatura. O anão agarrou o rabo do dragão, enquanto Orion segurava sua cabeça, deixando-o praticamente imobilizado, um alvo fácil para os disparos de Legolas e para o ataque de Anix.
O mago elfo voou até o teto e usou o poder do ser alojado em seu corpo. Um raio negro saiu do olho maligno do elfo, atingindo o teto da câmara. A rocha foi desaparecendo como gelo em contato com fogo.  Anix traçou um círculo no teto da caverna, deixando um bloco de pedra maciço, de mais de três metros de diâmetro, em seu centro. Por fim, o mago usou seu raio ótico para desintegrar a pedra que ligava o bloco ao teto.
A esfera de rocha sólida despencou sobre o corpo metálico do dragão, esmagando-o. Soterrado sob várias toneladas de pedra o golem finalmente parou de se mover. Seus olhos perderam o brilho e mesmo a fornalha em seu ventre pareceu se apagar. Enfim, após uma dura batalha, o golem dragão fora finalmente derrotado.
Com o inimigo vencido, restava apenas uma coisa a fazer, abrir o baú e pegar a última parte da chave que os levaria até o traidor, Zulil.
Orion partiu facilmente o cadeado de mithral com sua espada negra. O humano abriu a arca e uma explosão o envolveu em chamas assim que ele olhou para dentro do baú. Sem se incomodar com a já esperada armadinha, o guerreiro terminou de abrir o recipiente. Lá dentro, para surpresa de todos, em meio a um vasto tesouro havia apenas um colar e um bilhete. Nem sinal da chave que buscavam. O colar era uma corrente dourada presa a um medalhão também de ouro, com o formato circular no qual havia a figura de um dragão vermelho cunhada, como se o dragão saltasse para fora do disco em direção àquele que o segurasse. O bilhete, por sua vez, trazia a seguinte mensagem:


“Vê se vai esfriar a cabeça um pouco, ela deve estar quente agora.
Mas, para alegrá-los um pouco, deixei um presentinho para vocês aqui. Este medalhão é o que controla o dragão de aço. Usem-no para não apanharem dele, se bem que se estiverem lendo esta mensagem, acho que será tarde demais para não apanharem. Espero que alguns de vocês (senão todos) tenham sido mortos pelo bichinho.
Ah! Imagino que devam estar se perguntando onde está a chave. Bom, resolvi colocá-la em outro lugar, ao invés de deixá-la dentro deste baú. Basta que saibam, seus vermes, que a chave está num lugar muito mais seguro. Aliás, é o lugar que eu considero o mais seguro de todos. Vocês só vão conseguir está chave passando por cima do meu cadáver, o que não vai acontecer, pois, assim que nos encontrarmos nestes corredores, todos vocês perderão a vida, insetos.

Cordialmente,

Flint Stone, o seu amigo de sempre.”


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