maio 31, 2007

Capítulo 281 – Ao gosto de Nimb...magia caótica

Capítulo 281 Ao gosto de Nimb...magia caótica

_ Squall! Amigo! – Silfo correu desesperado para a entrada do farol. Legolas e Nailo, após alguns segundos de hesitação, acompanharam o sátiro. Atravessaram apressadamente os cômodos que conduziam até a escadaria da construção, guiados por Nailo, que se orientava pelos rastros (na verdade pegadas úmidas e o arrastar de mantos encharcados) deixados por seus amigos. Nailo galgou os primeiros degraus da escada, e estes se romperam sob seus pés num estalo forte. Era a armadilha de Anix.

_ Tomem cuidado! Esta escada está caindo aos pedaços! Pisem onde eu pisar! - instruiu o ranger. Legolas e Silfo seguiram-no com cautela.

No topo da torre do farol, encontraram uma cena triste. Squall chorava copiosamente, ajoelhado diante de uma estátua de pedra, uma elfa. Todos estavam feridos, havia um imenso ogro caído no chão, dentro da redoma de vidro e pedra que protegia a luz mágica do farol, com o corpo todo cortado a golpes de espada. Montes de pedra e poeira, lama agora devido à chuva, estavam aqui e ali pelo chão, e foram reconhecidos como estátuas de pedra quebradas. De todos os feridos, Anix era o que parecia estar em pior estado, e tinha uma enorme espada de lâmina coberta de fogo encravada em suas costas. Era a espada do humano que os acompanhava, a espada de Orion.

_ Desgraçado! Traidor! – urrou Legolas. Duas flechas partiram do arco de gelo, indo cravar-se sob a armadura do humano após estilhaçar uma vidraça. Orion nada fez, continuou em direção aos novos companheiros que rodeavam Squall e Deedlit. Silfo e Nailo já ajudavam os amigos, desconfiando, estarrecidos do que tinha acontecido.

Legolas ainda disparou mais outra vez contra Orion, no momento em que este quase retirava a espada fincada nas costas de Anix. Mas, quando foi disparar novamente, algo estranho aconteceu. O céu estremeceu num trovão que engoliu o som das ondas da chuva e do rugido do arqueiro. Uma faísca dividiu o firmamento em dois, e um brilho esverdeado tomou conta da paisagem enegrecida pelas nuvens. Um aroma forte e sufocante invadiu as narinas de todos, um odor que Squall e Anix reconheceriam como o cheiro de cloro e que, sabiam eles, era sinal de problemas.

O arco mágico se apagou, as chamas da espada de Orion se extinguiram, as faíscas da espada de Nailo deixaram de competir com a tempestade, e até mesmo a Caçadora Prateada silenciou na escuridão. Tudo ficou escuro, o próprio farol se apagou e o disco de metal que orbitava a luz mágica caiu pesadamente no chão. Anix, Squall e até mesmo Lucano, iniciante nos caminhos arcanos, sentiram a criação de Wynna abandonando-os. Não havia mais magia.

_ Humano traidor! – mais uma flecha disparada, desta vez sem encontrar o alvo. O humano retirou, cuidadosamente, a espada das costas do elfo e a guardou.

_ Legolas! Pare com isso! Ele não é um traidor! Anix foi atingido por acidente! E se não fosse pelo Orion, Deedlit estaria... – Squall interrompeu sua fala morosa engolindo em seco e desabando em lágrimas.

_ Está bem! Mas continuarei de olho nele! Cansei de ser traído e enganado! – resmungou o arqueiro. - Onde está sua namorada? – perguntou.

_ Aqui! Aquela gárgula desgraçada a transformou em pedra! – Anix respondeu pelo irmão. – E o pior é que começou uma tempestade de magia caótica!

_ E o que é isso?

_ Em Wynlla ocorrem fenômenos estranhos! Aqui há lugares onde a magia arcana é mais forte. Noutros, ela é fraca e há até aqueles em que ela é totalmente inexistente. Diversos magos vieram para cá no passado, para estudar este fenômeno, e acabaram fundando o reino. Por isso Wynlla é chamado de reino da magia. Por causa desse fenômeno e do grande número de magos. Mas, isso não é tudo. Não se sabe se por um capricho de Wynna, por obra do acaso de Nimb, ou se é alguma peça pregada por Hyninn, mas o fato é que de tempos em tempos, a magia enlouquece completamente, e coisas ainda mais estranhas costumam acontecer. Já tivemos chuva de pêssegos, de conhaque e outras esquisitices. Aqui em Ab’ Dendriel, cada vez que alguma coisa desse tipo vai acontecer, o céu fica esverdeado e o ar fica com esse cheiro de cloro. Ou seja, além da Deedlit ter virado pedra, não podemos contar com nossos poderes mágicos pra tirá-la daqui, sejam eles feitiços, poções armas ou qualquer outra coisa! Nessa situação, eu agora sou totalmente inútil! Se outros monstros vierem nos atacar, não poderei fazer nada pra ajudar! – explicou Anix.

_ Bem, vamos encontrar uma forma de levá-la daqui! Depois a gente se preocupa com os monstros e com a magia! – era Nailo.

Orion e Nailo tentaram carregar Deedlit mas, em forma de pedra, a elfa parecia pesar uma tonelada (e pesava), de modo que eles não conseguiram movê-la. Pensaram em todas as alternativas que suas mentes podiam imaginar para transportar Deedlit em segurança para fora dali, mas nada parecia adequado. Pensaram em arrastá-la sobre a tampa do alçapão, em descê-la amarrada por cordas, em usar magia de teletransporte. Mas nada parecia capaz de suportar o peso colossal que aquela estátua tinha e a magia não mais existia ali, nada poderia ser feito. Orion, lembrou-se das palavras da elfa, sobre a bruxa e o amuleto, e se perguntou se isso teria alguma coisa a ver com o presente que recebera da misteriosa velha que encontrara na estrada. Olhou, curioso, para seu amuleto, sob o olhar vigilante de Squall, o único a notar o que o guerreiro fazia. Orion guardou seu pingente e voltou a ajudar os outros, intrigado.

Tentando buscar alguma alternativa, Nailo decidiu descer a torre do farol. Desceram Nailo e Lucano, inicialmente. Logo depois seriam seguidos pelos demais companheiros. Pararam diante da porta do terceiro andar.

_ Vamos entrar aqui! Pode ser que encontremos alguma coisa pra transportar a Deedlit nesse andar! – Nailo falou a Lucano e arrombou a porta com um forte chute. A porta abriu num rangido e revelou o interior do aposento. Era algo como uma moradia. Havia uma cama, armários, estantes com livros, uma escrivaninha. Mas também havia uma grande mesa de refeições, um fogão de chão antigo, e uma pequena despensa. O ambiente era ao mesmo tempo um dormitório e uma cozinha. E, já que era em parte um local para refeições, encontraram alguém se fartando. Era um ogro.

Uma imensa massa de músculos verdes e grotescos tomava grande parte do salão, banqueteando-se da carcaça de um cavalo cujos restos jaziam sobre a mesa. Nas mãos do ogro havia o enorme osso da coxa do animal, ainda com nacos de carne e gordura fétida a recobrindo. O monstro rugiu ferozmente, como se desejasse, muito mais que intimidar os intrusos, avisar seus companheiros da invasão.

_ Feche a porta Lucano! – Nailo sacou as duas espadas, desprovidas de qualquer poder mágico, e entrou. – Eu vou segurá-lo!

_ Ogro!!! – gritou o clérigo para seus amigos. E começou uma descida frenética pelas escadas.

O monstro avançou, brandindo o fêmur do cavalo como uma clava e golpeou com força estrondosa o peito do elfo. Nailo recuou e estremeceu sobre as pernas ante a força da criatura. Mas, não se deixou intimidar, revidou com dois cortes limpos no ventre da besta, fazendo seu sangue pegajoso e nauseabundo jorrar farto. O monstro urrou, levando uma mão ao estômago aberto, Nailo avançou rasgando-lhe as duas virilhas com precisão.

Um relâmpago brilhou no céu, e um brilho verde tomou conta do firmamento. O cheiro de cloro se intensificou, quase sufocando os heróis. Então, o osso que servia de clava para o ogro se inflamou, ficando coberto de poderosas chamas. Nailo temeu por um instante, mas então suas espadas recuperaram seu poder mágico, e a que tinha a lâmina mais longa voltou a faiscar como o céu.

Um vulto passou ao seu lado num salto majestoso. Era Orion. O guerreiro se atirou contra o monstro, abrindo-lhe o peito com a enorme espada num corte vertical. Sua espada estava novamente tomada de chamas. Os outros heróis já chegavam pela porta. Silfo foi o próximo a entrar, seguido de Lucano que, conforme pedira Nailo, fechou a porta para impedir a saída do inimigo. Legolas que vinha mais atrás, foi obrigado a arrombar a porta num chute, abrindo, assim, espaço para que Squall atacasse.

Squall tinha sido o último a descer. Seu irmão, Anix, sentindo-se inútil sem seus poderes, decidiu permanecer junto à estátua que era Deedlit. Durante sua descida, o feiticeiro viu um novo brilho verde no céu, e sentiu seu poder retornar ao seu corpo. E sentiu algo mais. A chuva que caía em cascatas, tornou-se uma embriagante bebida alcoólica, e logo depois um líquido cáustico que queimava em contato com a pele. Era ácido. Lembrou com temor das histórias contadas por Sam Rael, sobre a Tormenta e sua chuva de sangue ácido e demônios, mas seguiu em frente e abaixo, pois sabia que seu amigo precisava de ajuda (e sabia que se fosse realmente a Tormenta que caía do céu, nada mais poderia ser feito).

Do lado de fora, no telhado, Anix correu para a redoma de vidro para se proteger do ácido que chovia. Viu que a estátua não era afetada pelo ácido e se tranqüilizou. Então, sentiu seus poderes retornando, e correu para junto dos amigos. Enquanto corria, via os pingos, antes ácidos, transformarem-se em borboletas ao tocar o chão e seu corpo e desejou que um pouco daquele caos mágico lhes ajudasse.

Squall parou ao lado de Legolas, disparando projéteis de energia verde brilhante no ogro. O monstro urrou e investiu para cima do grupo com sua clava de fogo. Nailo e Orion contraíram seus músculos, enquanto suas mãos buscavam aparar os golpes da criatura. Então um trovão abafou o som da voz do monstro, o ambiente tornou-se esverdeado e choveu areia sobre Nailo e Orion.

Se alguém tivesse lhes contado, nenhum deles teria acreditado no que acontecera. A clava do ogro havia te desmanchado e se transformado em areia branca e cristalina. Eram os estranhos fenômenos mágicos de Wynlla se manifestando, desta vez a favor dos heróis. Sem arma, o monstro tentou fugir desesperado. E tombou em seguida, atingido por dois cortes gêmeos das espadas de Nailo e Orion. Antes que chegasse ao solo de pedra do faro, o monstro foi atingido por um relâmpago que invadiu a sala por uma janela no alto da parede. O corpo monstruoso brilhou fantasmagoricamente e depois de desmanchou em pleno ar, dando lugar a inúmeras borboletas que voejaram pela sala. Então, Anix finalmente chegou, a alertou seus amigos de que aqueles efeitos estranhos também poderiam acontecer com eles ou suas armas. O caos tomava conta daquele pequeno ponto no reino da magia. Em algum lugar, Nimb sorria loucamente.

maio 16, 2007

Campanha A - Capítulo 280 – A dama de pedra

Capítulo 280 A dama de pedra

Orion rugiu e correu, sob os socos pesados e úmidos da tempestade, sua espada era névoa e chamas. O ogro rugiu em revide, agarrou um pedaço de árvore que estava próximo e correu em direção à porta da redoma do farol. Puxava sua roupa nojenta de volta ao corpo, ocultando o membro gigantesco que pendia entre as pernas. Os dois se encontraram e se chocaram, apenas os batentes da porta os separavam um do outro. A clava desceu sobre o peito do humano com força duas vezes, quase o atirando por cima do muro de proteção. A espada de chamas rasgou e queimou o peito da criatura, espalhando seu sangue asqueroso pelo chão e enchendo o lugar com o cheiro nauseabundo de carne de ogro queimada.

Anix veio em seguida, pelo alçapão, reconheceu de imediato a elfa amarrada e correu para ajudá-la. Com um soco quebrou um dos vidros, deixando que a chuva penetrasse na câmara do farol e a elfa saísse. Puxou Deedlit para fora, por cima da mureta, enquanto a luz mágica do farol ardia no centro da torre, piscante, ocultada por um disco que girava magicamente em ritmo constante.

Lucano entoou palavras sagradas enquanto subia os degraus de metal, e o poder de Glórienn se manifestou na forma de uma espada de pura luz. Um raio brilhante partiu da espada, passando rente ao corpo imenso do monstro que esquivou para o lado enquanto preparava um novo golpe contra Orion.

O último a surgir do alçapão foi Squall, em sua mão, a varinha mágica que pertencera a Zulil. Arëmikeali, gritou o elfo apontando o bastão para o ogro. Um raio negro atingiu o monstro a partir da varinha e todos puderam ver seus músculos diminuindo e o enorme porrete de madeira pesando em suas mão. Enfraqueça, era o que significava aquela palavra élfica, e fraco o ogro ficara.

O monstro partiu com seu corpanzil para cima de Orion Stifler, tentando jogá-lo para fora da torre. O guerreiro tentou impedi-lo com a espada, mas a criatura avançou, apesar de ferida. Os corpos se chocaram sob a chuva, e o bravo guerreiro resistiu o mais que pode à força do monstro. Empurrou-o de volta e desferiu dos golpes rápidos, rasgando ainda mais a criatura.

Deedlit, desamordaçada por Anix após muito protesto, evocou seus poderes arcanos e disparou de sua mão dois projéteis de pura energia.O ogro foi atingido e cambaleou, depois a espada espiritual de Lucano o atingiu no tórax, e novamente ele cambaleou. Lucano então segurou Dililiümi firmemente e atacou. A espada se inflamou e um corte flamejante se abriu na carne verde-escura. O monstro ameaçou tombar uma vez mais. Squall sacou sua espada e correu, furioso, entoando palavras arcanas. Sua espada brilhou, tomada por uma energia rubra, e num salto, Squall abriu o corpo do monstro desde a virilha até o ombro. E o monstro tombou.

_ Squall! – gritou Deedlit.

_ Deedlit! – respondeu o feiticeiro, emocionado.

_ O que você fez no cabelo? E essa sua aparência? Você está horrível! Por que não corta essas unhas? E esses seus dentes? Andou mandando afiá-los? Afinal o que aconteceu com você durante todo esse tempo? Por onde você e seu irmão andaram? – não houve recepção calorosa, não desta vez, apenas gritos e o calor da batalha que ainda não tinha se apagado.

_ Bem isso é uma longa história! Depois eu explico pra você! Agora vamos embora daqui! O mais importante de tudo é que você está bem, meu amor! – Squall tentava ainda quebrar a tensão que tomava conta do grupo. Esperava que, assim como acontecera a Legolas, sua amada saltasse em seus braços e lhe beijasse profundamente.

_ Que ir embora, o que! Não podemos! Temos que pegar a bruxa! É ela que está por trás de todos esses monstros! Está atacando a vila pra descobrir onde está o amuleto dos planos! Temos que ir atrás dela e impedi-la! – e novamente nada de beijo, só mais palavras duras, embora necessárias.

_ Amuleto? Que amuleto é esse? – perguntou Anix. Orion pensou no seu próprio amuleto e certificou-se de que ele estava seguro sob sua armadura. Squall só queria um beijo.

E, novamente não houve beijo. Não houve tempo. Quatro estátuas que ficavam sobre a mureta da torre, até então desprezadas pelos heróis em sua pressa e necessidade, ergueram-se abrindo asas membranosas e exibindo garras afiadas em seus membros. Pele pedregosa, chifres pontudos, dentes afiados, olhos vermelhos. Gárgulas.

Orion investiu contra uma das criaturas enquanto ela ainda alçava vôo para atacá-los. Sua espada de fogo rasgou a pele cinzenta do monstro, que por pouco não morreu. Deedlit, Squall e Anix dispararam quase simultaneamente seus mísseis mágicos, causando grande quantidade de dano noutro dos monstros. Lucano, a espada espiritual e Dililiümi combatiam ferozmente uma terceira criatura, rasgando-a, queimando-a, perfurando-a. Então, os gárgulas revidaram.

Suas garras rasgaram a carne de Lucano. O monstro ainda tentou erguê-lo do chão para atirá-lo fora da torre. Orion correu para ajudá-lo, logo após escapar de ataque semelhante e destruir o monstro contra o qual lutava. A bastada partiu as duas criaturas ao meio com sua lâmina flamejante. Os corpos dos monstros transformaram-se em pedra e se despedaçaram no chão molhado.

Anix quase foi atingido enquanto tentava proteger Deedlit dos ataques do terceiro monstro. Squall corria para ajudá-lo quando viu a quarta criatura voando velozmente na direção do irmão. Atacou com a espada, arrebentando a vidraça da redoma, mas não conseguiu impedir o inimigo. O gárgula saltou sobre as costas de Deedlit, sem que Anix pudesse fazer qualquer coisa, arranhou e menina, fazendo brotar o sangue farto sobre a pele branca da elfa.

Atacaram com magia. Os projéteis de energia explodiram nos corpos dos monstros que os cercavam, arrancando pedaços de seus corpos cinzentos. Lucano ajudava à distância com a arma espiritual, e Orion já corria para auxiliá-los com sua arma.

Um dos monstros tombou, feito de pedra, e se estilhaçou no solo. O outro, embora muito ferido, continuou atacando. Arranhou, chifrou e por fim mordeu o pescoço da jovem Deedlit, contaminando-a com sua baba pegajosa e pútrida. Orion arremessou sua espada num ato de desespero, mas ela veio a se fincar nas costas de Anix. Mesmo ferido, o mago lutava para puxar Deedlit par longe do monstro, mas, talvez pelo ferimento, ou pelo frio da chuva que caia, a jovem parecia pesar uma tonelada e não se movia. As garras do monstro atacaram mais uma vez, rasgando as costas feridas de Anix e o restante das armas do monstro já se projetavam sobre o corpo indefeso de Deedlit.

Então a fúria despertou.

Vendo seu irmão e, principalmente, sua amada indefesos nas garras do monstro, Squall explodiu em cólera, saltando sobre a criatura quase num vôo. Suas mãos abertas eram garras que avançavam na direção do inimigo (a espada fora esquecida no chão). Seus olhos eram brasas vermelhas que contrastavam com o céu enegrecido. Seus dentes eram punhais afiados e seu rugido era o de um dragão. Squall era um dragão. Num urro de dor, ódio e amor, o feiticeiro lançou um jato de chamas sobre o gárgula, queimando cada centímetro de seu corpo que voltou a ser pedra e depois, incinerado pelo calor de Squall, pó. O monstro desapareceu, no eu lugar apenas poeira cinza e vapor de água. Squall pousou no chão como um deus. Voltou seus olhos para sua amada, era o momento do tão esperado beijo. Mas, novamente não houve beijo, nem abraço, nem lágrimas, nem bravata ou palavras duras. Deedlit, a bela e jovem elfa, era agora uma sólida e angustiada estátua de pedra.

Lá embaixo, fora da torre do farol, Silfo e seu grupo ouviam, estarrecidos os urros de Squall que rivalizavam com o retumbar dos trovões. Diante deles, impassível, um enorme navio permanecia ancorado atrás da ilhota que abrigava o farol.

Campanha A - Capítulo 279 – O farol

Capítulo 279 O farol

Anix e Lucano, numa rápida conversa com os pescadores, descobriram que Deedlit tinha partido para o farol, que tinha sido feito de acampamento pelos monstros invasores. A elfa, com mais um pequeno grupo de ajudantes fora tentar expulsar as criaturas e assim interromper os ataques à vila. Anix conhecia Deedlit desde a infância e sabia que, embora ela fosse uma feiticeira promissora, não seria capaz de derrotar todos aqueles monstros sozinha. O próprio Anix, com todos os fantásticos poderes que havia conquistado nas muitas aventuras que superou junto com os amigos, não fosse pela ajuda destes mesmos amigos, não teria sobrevivido à batalha na praia. Era preciso, portanto, apressar-se para não quebrar o tênue fio de esperança que havia de se encontrar a amada de seu irmão ainda com vida.

Deixaram aquilo que era peso excedente para trás. Lucano tirou sua armadura pesada e encharcada, e a deixou com os pescadores, pois tinha certeza de que precisaria de todo o poder disponível para aquela missão, o que incluía as magias arcanas que tinha aprendido com Anix e Seelan e que eram difíceis de derem executadas dentro da proteção de metal. Orion Stifler, o guerreiro humano que acompanhava os dois elfos (ainda que eles não o desejassem por perto), pediu que cuidassem de seu cavalo e de seus pertences, e deixou para trás uma mochila cheia de coisas que não usaria em combate. O líder dos pescadores, um homem alto e forte, de pele corada e recoberta de fartos pêlos negros, Steban, despediu-se dos aventureiros, desejando-lhes boa sorte.

Silfo já tomava lugar na embarcação dos goblinóides, pronto para remar mar adentro. Nailo e Legolas também aguardavam impacientes quando os outros retornaram, e Squall protegia seu corpo com magia, pouco antes de saltar dentro do barco de madeira.

_ Vamos! – gritou o feiticeiro.

E o barco zarpou. A viagem até o farol, uma distância de talvez um quilômetro ou menos, era o que podia se chamar de tormento. Ondas gigantescas sacolejavam a frágil embarcação de um lado para outro, por vezes quase a virando do avesso. O casco rangia, como se fosse se partir ao se chocar com a rebentação. Silfo, Nailo e Orion remavam, e sentiam os frágeis remos envergando sob a violenta força das águas salgadas. Do céu despencavam gotas fartas que atingiam os heróis como socos. Estavam encharcados e gelados, cansados e enjoados, preocupados e ansiosos. Naquela situação, cair no mar significava a morte para qualquer um dos presentes, especialmente os que trajavam armaduras pesadas. Entretanto, não podiam sequer pensar em esperar por uma melhora do tempo, pois isso poderia custar a vida de Deedlit, isso se ela ainda estivesse viva. Nesse momento, Lucano, Anix, Squall, Nailo e Legolas sentiram saudades de seu amigo Sairf. Com seu conhecimento sobre a água, com certeza o mago já teria poder suficiente para dissipar aquela tempestade e facilitar a jornada dos heróis. Mas, Sairf há muito decidira seguir seu próprio caminho, restava então apenas remar, e pedir a Grande Oceano que fosse clemente em sua fúria.

Com muito esforço, a pequena nau conseguiu resistir à fúria das águas, e avistar o seu destino. O farol ficava numa ilhota pedregosa incrustada no meio do mar. Seu litoral era recortado de forma irregular e todo coberto de rochas afiadas que se elevavam vários metros acima do mar bravio. A sul, o platô de pedra descia até o nível da água, numa rampa ligeiramente íngreme, formando uma pequena praia, perfeita para aportarem na ilha.

O barco atracou, jogado com violência sobre a ilhota pelas ondas. Os heróis desembarcaram rapidamente e se puseram a correr em direção ao centro da pequena porção de terra. Em direção ao farol.

O farol era uma construção de pedra corroída pelo tempo e pela maresia. Elevava-se muitos metros acima do solo, numa torre circular de uns quinze metros de diâmetro, que se afinava enquanto ganhava altura. Três janelas altas e pequenas, não mais que meros buracos abertos na pedra, alinhavam-se acima da porta que ficava a sudeste, revelando a existência de mais dois andares na torre além do térreo. No alto, a luz do farol brilhava dentro de uma redoma de vidro cercada por um parapeito descoberto. Por todo lado, chuva forte e uma neblina formada pelas gotículas de água suspensas no ar, que impediam os olhos dos aventureiros de alcançarem o outro lado da ilha.

O grupo se dividiu em dois. Legolas, Nailo e Silfo seguiram circundando a torre do farol, enquanto os demais invadiam a construção. Orion abriu a porta de madeira apodrecida sem dificuldade. O vento invadiu a torre, fazendo tremular a chama das tochas que iluminavam o interior do ambiente. Entraram. Estavam em uma câmara ampla, de formato trapezoidal. À direita havia uma porta, próximo à entrada. À esquerda havia outras duas portas, ambas de madeira umedecida. Tochas pendiam das paredes, suas chamas já quase extintas pelo tempo e pela umidade. As paredes laterais eram retas, feitas de pedras pequenas e aparentemente finas. Começavam à frente do grupo e formavam entre si um ângulo que se abria em direção à parede externa. A parede que dava para fora, bem como a que ficava oposta a ela, era construída de grandes blocos de pedra empilhados, tinha grande espessura e formava um arco que circundava todo o farol. Era possível prever que a torre era composta de dois anéis de pedra, um externo e um interno, onde provavelmente deveria haver a escada que conduziria aos andares superiores e onde, esperavam, estaria Deedlit.

Foram para a direita. A porta se abriu e as trevas além dela engoliram a luz das tochas. No meio da escuridão, viram criaturas correndo rapidamente, algumas em direção aos heróis.

Squall disparou seus projéteis mágicos, e matou um dos monstros que se aproximava. Era um rato. Grandes ratazanas banqueteavam-se com os mantimentos estocados naquela sala. Eram sacas de grãos, legumes, e caixas com carne salgada e peixes. A comida estava ainda em bom estado, mas começava a apodrecer, deixada sem cuidados e recebendo a umidade externa sem preocupação por parte dos novos inquilinos do farol. O salão trapezoidal era grande, quase o dobro do anterior, e boa parte de suas paredes eram ocupadas pela comida estocada. Não havia iluminação, Orion então pronunciou uma palavra mágica, que até então tinha guardado para si, e sua espada se inflamou, coberta de chamas brilhantes que dissiparam as trevas.

Puderam ver duas portas, uma à frente deles, que provavelmente conduziria a outra sala e a mais outra e a mais outra até chegar à primeira sala investigada, fechando assim o círculo que formava a torre do farol. A outra porta estava à esquerda deles, naquilo que seria o anel interno da construção, onde, esperavam, encontrariam a escada. Abriram-na, e encontraram uma larga escadaria que subia em caracol até a parte mais alta da torre. Correram. Subiram o mais rápido que puderam em direção ao topo do farol. Esperavam encontrar Deedlit lá em cima, no lugar mais distante e provavelmente mais perigoso de ser acessado. Estavam certos. Na subida, Anix ainda preparou uma armadilha para avisá-los, caso algum inimigo começasse a subida após eles. Com sua espada enfraqueceu a estrutura dos três primeiros degraus, assim, se alguém pisasse ali, os quebraria e faria barulho suficiente para alertá-los do perigo.

Avançaram rapidamente, sobrepujando vários degraus, passando pelas portas de acesso dos andares intermediários, até que finalmente a escada terminou. O caracol de madeira e pedra terminada abruptamente diante de uma parede sólida. À esquerda, havia um buraco redondo por onde subia uma corrente de ar frio vinda do andar térreo. À direita, um pequeno corredor seguia estreito até a borda da torre, onde havia uma escada de metal, barras dobradas e cravadas nas pedras da parede, que levava até o teto. Acima da escada, um alçapão.

Todos se prepararam. Orion subiu os degraus de ferro, espada em chamas na mão, e ergueu levemente a portinhola de madeira que fechava o teto. A água da chuva penetrou farta pela abertura, gotas se chocavam contra a espada flamejante e se evaporavam subitamente, formando uma névoa fina ao redor da arma. Os olhos do guerreiro viram que o alçapão dava para o último andar, em sua área externa que formava um parapeito donde a vista podia alcançar muitas léguas de distância ao redor do farol. No centro do pátio havia uma construção que abrigava o mecanismo do farol. Era uma redoma de pedra e vidro. Uma mureta circundava todo o perímetro da redoma, tinha não mais que um metro de altura, sobre ela havia grandes vidros que atingiam fácil os dois metros de altura e eram separados uns dos outros por colunas de pedra. Apoiadas sobre as colunas e sobre a vidraça, as pedras se amontoavam para formar uma abóbada delicada.

Orion buscou por pés, de inimigos, mas não os encontrou. Os demais já começavam a trilhar o caminho de volta quando o guerreiro abriu totalmente o alçapão e colocou metade do corpo para fora, na chuva. Todos pararam, Orion jogou seu corpo para cima num impulso e correu gritando furiosamente, empunhando a espada de fogo. Deedlit estava lá.

Sem entender a atitude do humano, os elfos subiram rapidamente e viram, dentro da redoma, uma bela elfa, de cabelos louros e olhar de desespero, amarrada no chão, diante de um enorme ogro que baixava suas calças imundas para empunhar sua arma repugnante contra a donzela. Um raio cortou o céu, e a batalha começou.

maio 04, 2007

Campanha A - Capítulo 278 – Areia, água e sangue

Capítulo 278 Areia, água e sangue

A tempestade veio, inclemente com suas águas e seu vento. Raios cortavam o céu, desenhando mosaicos de luz. Ondas se elevavam do mar com violência, o mar urrava como uma fera insana. Armaduras e mantos tornaram-se molhados, pesados e frios. Mas os heróis aguardavam na praia, estáticos, como se a chuva que os atingia não existisse. Seus olhos fixos no horizonte, atentos. Esperando pelo inimigo que se aproximava. Então, subitamente, no meio do mar bravio surgiu uma vela branca. Uma pequena embarcação se aproximava, soprada pelos caprichos do vento, jogada de um lado pro outro pela ira das ondas, repleta de monstros.

Eram muitos os monstros que se acotovelavam no pequeno barco. Havia bugbears musculosos, armados de maças de machados, mais de uma dezena de hobgoblins carregando espadas e quatro gigantescos ogros, munidos de troncos grossos que lhes serviam de clavas. O barco se aproximava da praia rapidamente, carregado pelo mar bravio. Quando estava a uma distância que os olhos permitiam distinguir o formato dos inimigos, Nailo disparou a primeira flecha e um hobgoblin, que vinha na proa da embarcação, tombou no pequeno convés.

Chegaram à água rasa. Os monstros saltaram de seu bote e avançaram pela rebentação em direção aos heróis. Nailo largou o arco e pegou suas espadas, postando-se ao lado de Squall, rangendo os dentes enquanto sua melhor arma explodia em faíscas ao ser tocada pela chuva. Squall e Anix começaram a separar seus componentes mágicos, Legolas, mais atrás, puxava a corda de seu arco apontando-o para o alto, duas flechas prontas para sangrarem os inimigos. Orion finalmente desembainhou sua enorme espada e preparou seu pesado escudo para deter os monstros que se aproximavam. Fincada na areia da praia, diante de Lucano, Dililiümi tremia de ódio e brilhava como uma tocha prateada. Era a hora de caçar.

Os monstros avançaram. Os bugbears vinham à frente, correndo como loucos. Um deles chegou até Squall, e sua maça, uma esfera metálica cheia de pontas afiadas e retorcidas, rasgou o rosto do elfo profundamente. Nailo atravessou o ventre da criatura com sua espada. Faíscas explodiram, ao mesmo tempo em que os relâmpagos dividiam o céu, como que em sincronia. Em segundos, outros monstros chegaram e cercaram Squall e Nailo. Um tronco de árvore, que era uma clava, desceu sobre o corpo do feiticeiro com força. Squall cambaleou.

Os que estavam mais distantes atacavam com armas de arremesso. Uma das lanças cruzou o céu como um raio, e cravou-se na perna de Lucano, profundamente. Legolas, disparava suas flechas nos inimigos que ainda estavam na água, impedindo vários deles de chegarem à terra firme. Anix estava concentrado, suas mãos tornavam-se rubras, enquanto ele evocava seu feitiço. Então, foi a vez do humano finalmente brandir sua espada e atacar.

Orion correu em auxílio a Squall e Nailo. Um dos ogros tentou impedi-lo com sua clava, mas o guerreiro saltou para o lado, deixando o tronco atingir a areia, inofensivo. Saltou na arma do monstro, usando-a como ponte para escalar até a altura da criatura. A espada bastarda cortou o monstro abaixo do pescoço num arco. A criatura caiu morta antes que Orion terminasse seu movimento. O guerreiro atingiu o solo, ficando entre o bugbear que ferira Squall e os dois elfos, sua espada desceu como um relâmpago, aproveitando o impulso para destrinchar a criatura. Metade do monstro caiu no solo, a outra metade tentou ainda um movimento de fuga, mas era tarde. Orion não comemorou, apenas se ergueu do solo e ficou à frente dos dois elfos a quem deveria auxiliar, aguardando pelo próximo inimigo.

Um círculo mágico se formou sobre a água espumante por onde avançavam as hostes inimigas. A água borbulhou, como se fervesse, e uma parede de chamas emergiu, superando a altura do maior dos ogros, queimando aqueles que a tocavam e os que estavam muito próximos. “Sintam as chamas mortais do inferno!”, gritava Anix, entusiasmado, enquanto os monstros eram cozidos vivos.

Contudo, os monstros continuavam avançando, mergulhando na água salgada para passar ilesos pelas chamas. Squall tentava detê-los com sua mágica, explodindo bolas de fogo aqui e ali, mas o clima estava contra eles, e a chuva ajudava a amenizar os efeitos da chamas. Legolas disparava suas flechas em ritmo frenético, mas os ventos inclementes desviavam seus projéteis, favorecendo os inimigos. Cloud saltou do ombro de seu mestre e alçou vôo. Foi em direção a um dos ogros, com suas garras à mostra. Squall temeu pelo pior, mas se surpreendeu com o que aconteceu. O pássaro avançou piando e gritando, e no meio de sua sinfonia de guerra, chamas saíram de seu pequeno bico, inflamando a face do monstro atacado. Cloud bateu as asas e subiu ao céu, escapando da clava do ogro queimado. Finalmente o sangue dracônico de Squall, que agora corria nas veias de Cloud, começava a fazer efeito e a mostrar seu poder.

A metros dali, Lucano corria, sua espada na mão direita, na direção dos inimigos que emergiam das águas após escaparem das chamas de Anix. A espada Dililiümi brilhava e tremia em sua mão, como se desejasse saltar sobre os adversários, como se tivesse vida própria. Lucano mirou um ponto no meio dos inimigos e evocou uma magia sonora, semelhante à que Sam costumava utilizar. O inimigo ficou paralisado, antes mesmo da magia ser completada, e deixou a arma cair da mão. As ondas sonoras explodiram, afastando as gotas d’água, as ondas e até a areia da praia. O inimigo permanecia em pé apenas por capricho dos dados de Nimb.

Nailo correu sob os relâmpagos do céu, criando seus próprios relâmpagos no solo, e começou a derrubar os monstros próximos a Lucano, flechas disparadas por Legolas dividiam o céu com as gotas e raios, derrubando hobgoblins antes que pudessem descer do barco para atacar e Anix continuava concentrado, mantendo a barreira de chamas que minava as forças no inimigo. Na frente de batalha, os ogros cercavam Squall e Orion e, junto com os outros monstros, causaram graves ferimentos no elfo e feriram pela primeira vez o corpo do guerreiro humano.

Orion girou sua espada no ar, decapitando um bugbear. Continuou o movimento e rasgou profundamente o estômago de um dos ogros, espalhando suas entranhas fétidas pela areia. Com sucessivos golpes de espada, Nailo e Orion foram derrubando um a um os monstros. Legolas os ajudava eliminando os mais distantes com suas flechas congelantes, e os que sobravam, eram queimados pelas chamas produzidas por Anix, tornando-se alvos fáceis para Squall e Lucano.

Entretanto, ainda havia um monstro terrível a ser derrubado. Ele era o maior dos ogros que havia entrado em combate e seus gritos de cólera rivalizavam com os trovões e o rugido do mar. Correu em grande velocidade, olhos vermelhos e boca espumando, passou por todos tão rápido que ninguém foi capaz de deter sua investida. Ergueu sua clava, que era quase uma árvore inteira, e golpeou Anix.

O mago contorceu o corpo de dor, sentindo seus músculos e ossos sendo esmagados pela força do monstro. Sua visão se tornou turva, a magia que controlava foi perdida e ele vomitou sangue. Anix mal podia respirar, ante o potente ataque da besta.

Anix recuou, trôpego, sofreu um novo ataque, desta vez menos forte, mas ainda assim letal. Agarrou-se ao fio de consciência que lhe restava para desferir um ataque no inimigo, e cinco bolas de luz partiram de seus dedos e explodiram no corpo do monstro.

Orion recuou para ajudar Anix, após deixar um rastro de corpos de hobgoblins pelo caminho. Nailo, da mesma forma, começou a retornar para perto dos amigos, após se livrar de meia dúzia de inimigos. Squall e Lucano, que estavam mais próximos, foram os primeiros a chegar e a ferir o inimigo. Squall correu arrastando sua espada levemente no chão, seus olhos de meio-dragão miravam o alvo, sua mente concentrava o poder mágico do seu corpo na arma. A espada brilhou e subiu pelo corpo da criatura formando um arco no ar. Squall saltou, a espada apontando para o alto e manchada de sangue após abrir o couro espesso do ogro. Squall urrava.

Lucano chegou pelo flanco direito da criatura, ergueu a espada para atacar e percebeu algo estranho. Uma voz ecoava em sua mente, quase como um grito, repetindo constantemente a frase: “Queime o maldito!”. Sem entender e impulsionado pelo calor da batalha, Lucano gritou, repetindo as palavras em sua mente com fervor. Então, a espada élfica brilhou com mais intensidade, e foi tomada por chamas incandescentes. Lucano golpeou a coxa do monstro, arrancando dele um grito de dor e de fúria e, após muitos anos, Dililiümi voltou a beber o sangue de um inimigo.

Legolas continuava impedindo os inimigos mais distantes de fugirem e de se engajarem na batalha, quando Nailo chegou para ajudar os amigos. Suas espadas cortaram furiosamente o monstro, que urrava abafando o som das ondas. Mas, quando todos pensaram que a batalha estava terminada, a fera voltou a atacar. Sua clava jogou Lucano metros para trás, deixando-o atordoado e, com um poderoso golpe, atirou Squall no chão úmido de areia, quase sem vida.

Anix fez suas chamas explodirem ao redor do oponente, mas nem isso o deteve. Legolas mudou o alvo de suas flechas, mas nem com isso o monstro foi vencido. As espadas de Nailo arrancavam pedaços de sua carne imunda, mas nada parecia detê-lo, e Squall sangrava aos borbotões e a areia tornava-se rubra sob seu corpo, enquanto Lucano tentava recuperar o fôlego para auxiliar o amigo ferido. Então veio o humano.

Orion chegou por trás do ogro, mas isso não impediu o monstro de notar sua presença. A clava de árvore golpeou a cabeça do guerreiro, e arremessou seu elmo brilhante a metros de distância. Orion não disse uma palavra sequer, parecia não ter sentido o impacto. Virou a cabeça para a direção do ogro novamente, e seus olhos fitaram os dele, cheios de fúria. Ergueu sua espada, um relâmpago brilhou no céu, desferiu o primeiro golpe. O peito do monstro sangrou fartamente e o cheiro de entranhas nauseabundas tomou o lugar da maresia. Outro clarão no céu, mais um golpe, desta vez no pescoço. O monstro tombou pesadamente no chão, ao mesmo tempo em que os pés do guerreiro tocavam novamente o solo de areia. Do exército que invadira a praia de Ab’ Dendriel, apenas dois ou três hobgoblins covardes e em fuga restavam. Foram abatidos a flechadas. Lucano usou o poder de Glórien e curou os ferimentos de Squall. O feiticeiro despertou de seu sono de morte e agradeceu. Anix engoliu uma poção mágica para também se curar, Nailo limpou o sangue de suas espadas, Legolas fez uma bravata e conferiu a munição restante. Orion apenas recolheu seu capacete do chão. A primeira batalha estava terminada.

Orion, o guerreiro

maio 03, 2007

Campanha A - Capítulo 277 – O escolhido de Valkaria

Capítulo 277 O escolhido de Valkaria

Os heróis atravessaram as ruas de Ab’ Dendriel a toda velocidade, até saírem da cidade e chegarem à floresta que a cercava. Cruzaram colinas baixas, cobertas de vegetação farta, até que, minutos depois, chegaram à praia.

Uma faixa larga de areia fina e branca separava as colinas do mar que se estendia além da onde a vista alcançava. Distante, cerca uma milha mar adentro, havia a torre de um farol, fincada em um ilhota pedregosa onde o mar quebrava com violência. Já era quase noite, e nuvens negras vinham do horizonte leste, em grande velocidade, confundindo os olhos que não conseguiam mais distinguir onde terminava o mar e começava o céu. Ao sul da passagem entre os morros, havia um aglomerado de casas, o pequeno povoado dos pescadores de Ab’ Dendriel. E, pelo que a correria desesperada dos moradores demonstrava, eles estavam sendo atacados.

Havia uma criatura estranha e assustadora na praia, diante da vila dos pescadores. Era um monstro bípede de forma humanóide e grande estatura. Seu corpo era grosso e forte, seus braços terminavam em mãos grandes com garras, e seus pés tinham esporas enormes e mortais nos calcanhares. Seus ombros se estendiam para além do corpo, terminando em protuberâncias pontudas como garras ou chifres. Sua cabeça era muito grande, alongando-se para trás e para cima, até culminar em um gigantesco chifre afiado. Sua pele era toda prateada, com marcas douradas semelhantes a pinturas ou tatuagens que a adornavam em toda a extensão do corpo. À distância era possível ver que possuía algo como uma cauda pontuda que quase tocava o chão enquanto ele caminhava ereto na direção dos pescadores. Atrás dele, havia um cavalo solitário, parado sobre a areia, cujo cavaleiro talvez já tivesse sido devorado pela estranha criatura.

Sem hesitar, Nailo sacou suas espada, e a maior delas faiscava como o céu sobre o oceano. Correu na direção da criatura, pronto para impedi-la de atacar a vila, e foi seguido de perto por Legolas e depois pelos outros. A espada de Nailo já descrevia um arco elétrico no ar, em direção ao monstro, quando ele se voltou para o ranger e falou com ele, de uma maneira que ninguém ali poderia esperar.

_ Nailo? Legolas? São vocês mesmos? – perguntou a criatura, com uma voz humana. Era um guerreiro, vestindo uma pesada armadura de batalha que, ao longe, fora confundida com um monstro.

_ Quem é você? Como sabe meu nome? – perguntou Nailo, espantado.

_ Eu sou Orion!

· · · · · ·

Orion era um guerreiro, isso era óbvio pela armadura e pela longa espada que portava. Mas, nem sempre fora assim. Anos antes, Orion fora um garotinho, fraco e frágil, assustado. Chorava sozinho dentro de um armário em sua casa destruída, após testemunhar o assassinato de toda sua família pelas mãos de um orc, cuja aparência ela jamais esqueceria. Era um humanóide com aparência de fera, alto, troncudo, uma presa afiada aparecendo por fora da boca no lado esquerdo, olhos grandes e amarelos, corpo todo coberto por pêlos grossos, sujos e avermelhados. Tinha a orelha esquerda cortada faltando um pedaço como se tivesse sido mordida por alguém, e uma grande cicatriz no lado direito da face, que ia da testa ao queixo, passando por cima do olho. Em suas mãos, uma espada de ponta mal acabada que parecia mais uma lâmina partida do que afiada, gotejava o sangue daqueles que foram sua família.

Orion tinha seis anos quando perdeu a família tragicamente. Dias depois, uma caravana passou perto do sítio de sua família e um homem que era o responsável pela segurança do grupo o encontrou dentro do armário, ainda em estado de choque, estático, faminto e com sede. O menino foi integrado à caravana, que ia para a cidade de Valkaria, não muito longe dali, recebeu roupas, alimentação e carinho. O soldado que escoltava a caravana, um guerreiro a serviço de Valkaria, fazia parte daqueles que era chamados de Patrulheiros da Deusa, um grupo de soldados, em sua maioria clérigos e paladinos da deusa Valkaria, que vigiavam as fronteiras do reino de Deheon. Seu nome era Jackson Sulfin, e decidiu adotar o menino e treiná-lo.

Assim, Orion recebeu de seu mestre os ensinamentos na arte de lutar, a educação religiosa e tudo mais que ele deveria saber para sobreviver. Jackson era como um pai para ele. Entretanto, apesar da dedicação e fé de seu mestre, Orion não compartilhava do mesmo entusiasmo quando o assunto eram os deuses. Onde estavam eles quando sua família foi morta?. Ele se fazia essa pergunta todos os dias de sua vida mesmo orando a Valkaria, às vezes.

Já adulto, Orion teve de assistir a mais uma morte. Seu mestre já não era mais jovem quando o adotara, e morreu de causas naturais aos sessenta e um anos. Orion passou a vagar desde então, trabalhando como mercenário aqui e ali. Sem a mesma fé fervorosa de seu mestre, não desejava fazer parte dos Patrulheiros da Deusa e, agora que estava treinado e sabia lutar, tinha uma missão a cumprir: encontrar o assassino de seus pais e fazer justiça.

Orion queria vingança, e caçaria o seu inimigo até os confins do mundo e além, se fosse necessário. Entretanto, ele não tinha a menor idéia de por onde começar a sua caçada. Uma noite, numa das raras vezes em que orou à sua deusa, Orion pediu ajuda para encontrar o monstro que assassinara sua família, e suas súplicas foram ouvidas.

Naquela noite, Orion teve um estranho sonho. Estava diante da colossal estátua de Valkaria, na capital de mesmo nome, e a estátua conversava com ele. Valkaria lhe dizia para ir para o leste, para o reino de Wynlla. Lá, deveria procurar uma vila à beira-mar, chamada Ab’ Dendriel, onde encontraria um grupo de elfos. Deveria ajudar os elfos e, em troca, receberia deles ajuda para encontrar e derrotar seu inimigo.

Valkaria descreveu os cinco elfos que ele encontraria, para que não se confundisse. Um deles estaria vestido com armadura feita de cota de um metal prateado e traria em suas mãos um arco magnífico. O outro seria um guerreiro, acompanhado de animais, que traria em sua cintura duas espadas das quais nunca se separava. O terceiro teria em seu pescoço um medalhão com o símbolo da deusa dos elfos, um arco. Era um clérigo. O dois últimos estariam vestidos com mantos, sem qualquer tipo de armadura, e seriam capazes de fazer grandes feitiços, e estariam ambos acompanhados de falcões. Um seria um elfo comum, o outro, teria uma aparência mais grotesca e primitiva, com traços bestiais de algum tipo de monstro em seu corpo. O arqueiro atendia pelo nome de Legolas, o espadachim era Nailo e o clérigo se chamava Lucano. Os outros eram Squall, o mais monstruoso, e Anix, o de aparência comum. Os cinco deveriam receber a ajuda de Orion e, quando chegasse o momento, eles o ajudariam a cumprir seu objetivo.

Orion despertou no dia seguinte, assustado e confuso. O sonho era real demais. Sonhou o mesmo sonho outras cinco vezes, antes de decidir ir até Wynlla para ver se o sonho se tornaria real. Então, numa manhã de sol, Orion partiu de Valkaria montado em seu cavalo.

Dias depois, foi apanhado por uma chuva forte. Uma tempestade. A água penetrava em sua armadura, tornando-a mais pesada e congelando seu corpo. Era noite e Orion viu uma cabana no meio da estrada que parecia não estar lá até o momento em que decidira procurar por um abrigo. E não estava.

O guerreiro foi até o casebre e pediu abrigo. Foi atendido por uma velha senhora envolta em mantos brancos. A mulher o acolheu sorridente.

Na manhã seguinte, a mulher pediu para conversar com Orion, pouco antes de ele partir.

_ Meu jovem! Você tem uma grande missão a cumprir! Seu caminho será longo e árduo! Leve isto com você! Este amuleto lhe trará proteção!

Orion estranhou a atitude da mulher, mas não se importou. Aceitou o presente, um pingente de um tipo de cristal translúcido, e agradeceu. Partiu. Quando estava a alguns metros de distância da cabana da senhora, decidiu que tinha de agradecê-la corretamente. Tinha se hospedado em sua casa, comido e bebido, e ainda ganhara um presente, era mais do que justo ao menos pagar pela sua estadia. Orion virou o cavalo para trás, mas, para sua surpresa, a cabana não estava mais lá. Não havia sequer um sinal de sua existência.

O guerreiro prosseguiu em sua jornada, ainda mais decidido a entender o que começava a acontecer em sua vida. Estava ao mesmo tempo confuso e assustado, mas não tinha medo, e, como todo filho de Valkaria, desejava seguir adiante e agarrar o misterioso futuro que se descortinava com as mãos.

Assim Orion chegou a Ab’ Dendriel. Andou pelas ruas da cidade, mas não encontrou sinal do que procurava. Foi então até a praia, onde moravam os pescadores, e encontrou a pequena vila em total caos. Pessoas corriam desesperadas de um lado para o outro, arrastando barcos para fora da água, recolhendo redes, guardando animais, reunindo crianças, fechando-se em suas casas e armando-se como podiam.

Orion observou o tumulto por alguns instantes antes de descer do cavalo e decidir conversar e tentar entender o que acontecia por ali. Foi então que surgiram, por trás das árvores que escondiam a trilha que levava para o centro da cidade, cinco pessoas. Corriam apressados, vindo na direção da aldeia dos pescadores, parecia que iam atacar. Orion continuou andando na direção das pessoas, para alertá-las, e se preparou para combater os inimigos que agora corriam em sua direção.

Sacaram armas. O primeiro desembainhou duas espadas que levava na cintura, uma longa que brilhava como relâmpagos, e outra menor e comum. O segundo estirou a corda de um arco exótico que tinha o formato de duas cabeças de dragão cuspindo gelo, e posicionou duas flechas para atacar. O arco emitia um brilho frígido. O seguinte trazia em seu peito um medalhão dourado, que brilhava, refletindo a luz do arco. Entalhado na peça havia o desenho de um arco élfico. Por fim, dois outros vinham mais atrás do grupo, ambos vestidos por mantos e acompanhados por falcões.

Eram eles, pensou Orion. Então era verdade, aquilo que lhe fora revelado em sonho se tornava real. Ainda hesitando, espantado com tudo aquilo, Orion chamou os dois que vinham à frente pelos nomes, e eles responderam. Eram Nailo e Legolas, tal qual a deusa Valkaria havia lhe descrito.

· · · · · ·

Orion, o humano de armadura, contou aos heróis sua história, deixando todos confusos e desconfiados. Legolas não aceitava confiar no humano, nem tê-lo no grupo do qual fazia parte. A traição de Zulil havia endurecido seu coração e deixado-o mais cauteloso. Anix conversava com os pescadores tentando descobrir o que acontecia na vila, enquanto os demais discutiam para decidir o que fazer com o estranho. Coube a Nailo encerrar a discussão, para surpresa de todos.

_ Não adianta nada ficarmos aqui discutindo! Sabem os deuses porque, ele é um escolhido do destino, assim como nós, conforme Allihanna me contou! E se quer nos ajudar, será bem vindo em nosso grupo! – disse o ranger.

_ Está bem! Mas ficarei de olho nele! – era Legolas.

Estava decidido, Orion faria parte do grupo, ao menos por enquanto, já que o perigo se aproximava.

_ Pessoal! Está vindo uma tempestade ai! E os pescadores me disseram que os ogros costumam aproveitar as tempestades para vir atacar a vila! Temos que nos preparar para o combate! – anunciou Anix. E os moradores se esconderam em suas casas, os animais foram escondidos atrás das casas e os heróis prepararam suas armas e suas magias para a tormenta que se aproximava.

maio 02, 2007

Campanha A - Capítulo 276 – Ab’ Dendriel

Capítulo 276 Ab’ Dendriel

De todos os reinos de Arton, Wynlla era um dos mais exóticos de todos. Sabem os deuses porque naquele lugar a magia se comportava de forma estranha e por vezes assustadora. Havia lugares naquele pedaço de chão em que a magia abundava, e os magos, feiticeiros e outros conjuradores conseguiam efeitos máximos, fantásticos, com seus feitiços. Noutros, ela era completamente inexistente, e aquele que tentasse manipular a criação da deusa Wynna nesses lugares não obteria sucesso. E havia também aqueles lugares em que tudo parecia normal, mas onde toda magia tinha efeito oposto ao planejado, causando efeitos por vezes desastrosos. Outros fenômenos estranhos aconteciam espontaneamente, como chover rum ou um campo de margaridas florescer da noite para o dia a partir de sementes de milho plantadas por algum fazendeiro. Eram essas as razões que fizeram com que, em tempos remotos, enorme quantidade de magos, feiticeiros, bruxos e outros, adentrassem nesse estranho território para pesquisar suas peculiaridades. Era por esse motivo que o arquimago Vectorius não levava sua cidade voadora até ali, com receio de que ela fosse apanhada por uma área de magia inexistente e despencasse do céu. Assim, nasceu Wynlla, o reino da magia, inicialmente povoado por pesquisadores mágicos, depois por pessoas comuns até se consolidar como uma nação forte e conhecida.

Ora, por suas peculiaridades, Wynlla era o país com a maior concentração de usuários de magia de toda Arton. Era comum em suas ruas ver pessoas trajando robes e chapéus pontudos, portando pergaminhos, grimórios, varinhas e cajados, sendo acompanhados por golens, mortos-vivos, objetos animados ou criaturas advindas de outros planos. Era verdade que em Vectora e Valkaria, os dois maiores centros de comércio do mundo, era possível encontrar quase qualquer coisa para se comprar, mas, se o item desejado fosse algo mágico, Wynlla era o lugar certo para procurá-lo.

De todas as cidades de Wynlla, Ab’ Dendriel não era exceção. Era uma vila pacata próxima à praia, que contava, como quase toda vila semelhante, com pescadores, comerciantes, fazendeiros. Com população de cerca de mil habitantes, seus moradores eram, a grande maioria, pessoas com algum conhecimento de magia. Além dos ferreiros, joalheiros, taverneiros e comerciantes comuns, havia vendedores de poções, varinhas, amuletos, encantadores de armas, e todo tipo de serviço mágico que se poderia esperar. Dentre todos esses comerciantes mágicos, um casal de elfos se destacava, não pelos seus feitos, mas sim pelos feitos que seus dois filhos iriam realizar junto com seus companheiros. Eles eram Ragnarok Remo e Valkyria Remo, e possuíam uma pequena loja em Ab’ Dendriel.

Lord Ragnarok, como era chamado pelos vizinhos, era um mago competente. Desde jovem desenvolvera o gosto e o talento para a magia, e se dedicava a estudar tratados mágicos com afinco. Alcançara, desta forma, grande conhecimento e poder, que o tornaram conhecido e respeitado em sua vizinhança. Sua esposa, Lady Valkyria, tratada com igual respeito pelos conhecidos, era uma feiticeira também poderosa. A magia fluía naturalmente por seu corpo, dispensando as muitas horas de estudo que outros necessitavam para aprender algumas mágicas. Embora fossem diferentes no uso das graças de Wynna, as diferenças não impediram que se conhecessem e se apaixonassem durante uma aventura. Os dois se casaram e fixaram residência e Ab’ Dendriel, onde tiveram dois filhos, Anix e Squall.

Desde cedo, as duas crianças seguiram os passos dos pais. Enquanto Anix se debruçava sobre livros pesados e empoeirados em busca de conhecimento e poder, Squall aprendia pouco a pouco a deixar a energia mágica fluir naturalmente através de seu corpo e a controlá-la conforme sua vontade. Tiveram uma infância confortável e simples, descobrindo o mundo pouco a pouco (sem pressa, como era comum entre os elfos), aprendendo e conquistando a magia, para um dia se tornarem respeitados como seus pais. Ragnarok e Valkyria abandonaram a carreira de aventureiros e se tornaram comerciantes. Construíram uma pequena loja no centro de Ab’ Dendriel, onde vendiam os pergaminhos feitos por Ragnarok e as poções feitas por Valkyria, além de outros utensílios úteis, como papel, penas, tinta, grimórios, e outros. O conhecimento acumulado de Ragnarok também foi posto à disposição da população da pequena cidade, e de todos aqueles que estivessem dispostos a pagar por ele, já que o elfo servia de consultor, fornecendo informações sobre magias, monstros, e itens, além de fazer pesquisas sob encomenda em sua biblioteca particular. Assim, com os tesouros acumulados de suas aventuras passadas, e os lucros obtidos em sua loja, o casal criou e educou seus filhos nos caminhos da magia, até que eles cresceram e decidiram conhecer o mundo e viver suas próprias aventuras.

Squall foi o primeiro a deixar sua casa, no 1º dia de Exinn, do ano de 1396, impulsivo como sempre foi, seu espírito livre ansiava por ver novos horizontes. Desapareceu por dois dias. Todos achavam que ele estava na praia, ou talvez com sua namorada Deedlit. Mas, os dias se passaram, e Squall não apareceu, e ele não estava com a namorada. Tinha ido viajar e deixado um bilhete dizendo que estava bem. Mal se despedira da família ou da amada, pois pretendia não se demorar, talvez uma ou duas semanas fora, uma visita a uma cidade grande, uma aventura em alguma masmorra ou templo abandonado nas proximidades e ele estaria de volta. Mas, quis o destino que sua viajem fosse mais demorada que ele calculava, pois em Norm Squall encontrou um homem que estava de partida para Malpetrim, uma cidade maravilhosa cheia de grandes navios, comércio farto, histórias fantásticas e inúmeras possibilidades de aventuras. Porém, a filha do homem adoecera, e ele perderia a caravana que o levaria a Malpetrim. Por sorte, Squall apareceu, comprou-lhe a passagem na caravana e partiu, sem nem suspeitar que Malpetrim ficava do outro lado do mundo.

Três dias depois, foi a vez de Anix deixar sua vila em busca do irmão. Sua mãe não aprovava a partida, pois sabia que era muito mais fácil localizar Squall através de magia do que o procurando às cegas pelo mundo. E, se ele estivesse realmente bem, em poucos dias estaria de volta. Mas, Ragnarok a convenceu a deixar o filho partir: “Está na hora do mundo ensinar a esses garotos aquilo que não está nos livros de magia!”, foram suas palavras. Assim, Anix partiu no 4º dia de Exinn, do ano de 1396 do calendário élfico. Segui o rastro de Squall até Norm, onde descobriu seu paradeiro, Malpetrim.

Os dois irmãos seguiram para a cidade famosa separados, e só foram se reencontrar muito tempo depois. Squall estava diferente, todo queimado de sol e desidratado. Sua própria expressão começava a se modificar, conseqüências do sangue dracônico que corria em suas veias. Antes do reencontro, Anix conheceu novos e grandes amigos e, sob o olhar dos deuses, selou seu destino, o de seu irmão e o de seus amigos. Não houve comemoração no encontro dos dois irmãos, já que Squall estava desacordado e Anix não o reconheceu de imediato, e logo após o reencontro eles foram capturados pelos servos de Teztal e escravizados. Mas, agora seria diferente, tudo estava em paz, e Anix e Squall estavam finalmente de volta ao seu lar e poderiam, enfim, comemorar esse esperado reencontro.

Squall apareceu dentro de casa, já sentado numa poltrona na sala de estar, as mãos sobrepostas atrás da cabeça inclinada para o alto, bocejando com os enormes dentes dracônicos à mostra. Houve um grito, barulho de objetos caindo, vidro se estilhaçando. E, antes que Squall pudesse tentar localizar a fonte do barulho, seu rosto foi atingido quatro vezes por energia mágica, explodindo e rasgando sua carne. O feiticeiro agarrou-se á consciência, ainda que isso fosse deveras difícil, e abriu os olhos, limpando o sangue que escorria. Diante dele estava um elfo alto e corpulento, cabelos longos, lisos e negros, segurando de forma ameaçadora um cajado de madeira, adornado com jóias e runas, pressionando-o contra o peito de Squall.

_ O que faz aqui? Quem é você? O que quer? – gritou o elfo. Tinha uma voz rouca e trovejante.

_ Pai?! Pai, sou eu, Squall! Está tudo bem, pode abaixar o cajado! – respondeu o garoto, reconhecendo seu pai.

_ Não se mexe, verme! E não diga bobagens! Você não se parece em nada com meu filho!

_ Mas pai! Sou eu, seu filho! Eu posso provar!

_ Então é bom começar a fazer isso, ou o conteúdo de sua cabeça vai pintar minhas paredes! – rugiu a elfa. Sua voz era suave e melodiosa, mas intimidadora. Suas mãos sobrepostas apontavam para Squall, exibindo uma bola de energia luminosa pronta para ser disparada.

_ Calma, mãe! Eu vou explicar... – Squall começou a gaguejar, assustado, quando alguém bateu à porta.

_ Pai! Mãe! Abram! Sou eu, Anix! – ouviram os que estavam na casa.

_ Mais um! O que é isso? Uma invasão? Vamos explodi-los! – exclamou Valkyria, irada.

Do lado de fora, Anix, Silfo e Enola aguardavam. Vendo que não seria atendido, Anix foi até a janela aberta e se mostrou.

_ Squall? O que você está fazendo ai? – disse o mago.

_ Anix? Meu filho! – alegrou-se a elfa. – Quer dizer então que esse é... – foi interrompida.

_ Sim, mãe! Sou eu, Squall! – bufou o feiticeiro.

_ Garoto estúpido! Tinha que dar esse susto na gente! E por que está com esses dentes, essas garras, e essa aparência estranha? – Ragnarok bateu com o cajado na cabeça de Squall, repreendendo-o como um pai dedicado. E tudo ficou bem.

Anix entrou na casa, apresentou Enola como sua noiva, e Silfo, seu amigo. Pediu licença e saiu novamente, em busca de Seelan e dos demais. O grupo acabava de entrar na vila, após aparecerem à beira da estrada através da magia de teletransporte. Anix e Squall apresentaram seus amigos aos pais e começaram a contar sua história. Seelan, carrancudo, pediu licença e interrompeu.

_ Bom, agora todos estão bem e juntos! Então, vou fazer o que vim fazer! Vou comprar as poções que precisamos lá no forte! Enquanto isso, aproveitem para matar a saudade de seus pais! E não cometam mais nenhuma burrice! – anunciou o capitão.

_ Seelan, posso ir com você? – pediu Lucano.

_ Não! Vou sozinho! Vocês causam muita confusão! Prefiro ir sozinho! O Squall e o Anix desperdiçaram um monte das minhas magias de teleporte! E eu já disse que elas são caras e exaustivas! Melhor eu ficar sozinho, assim não terei problemas! Juro que se eu fosse o Glorin, nesse momento eu diria: Elfos, hunf...! Vocês só denigrem a imagem da nossa raça assim! Vou sozinho! Até mais tarde! – e, sem mais conversa, Seelan desapareceu no ar com sua mágica.

_ Bem, meus filhos! Agora contem suas aventuras, enquanto tomamos um chá! – falou Ragnarok.

Todos se acomodaram e começou o relato das aventuras dos dois irmãos e seus amigos. Falaram sobre ortenko, sobre Khundrukar e o exército. Contaram sobre os muitos amigos que fizeram, Sam, Yczar, Batloc, Sairf, Nevan e outros. Descreveram a traição de Zulil, e os encontros que tiveram com Allihanna e Glórienn. E, após falarem por vários minutos sem parar, empolgados, finalmente perguntaram sobre seus pais e sua cidade. Foi nesse momento que lady Valkyria chamou Anix para conversar a sós.

A elfa contou ao filho sobre o que tinha acontecido na vila nos últimos dias. Deedlit, a namorada de infância de Squall estava desaparecida. Fazia alguns dias já que alguns ogros tinham atacado os pescadores na praia, e Deedlit se comprometeu a resolver o incidente. Entretanto, já fazia dois dias que ela tinha partido, e ainda não tinha retornado nem dado qualquer sinal de vida. Valkyria e Ragnarok já se preparavam para ir em busca da menina, quando Anix e seu grupo chegaram a Ab’ Dendriel.

_ Não se preocupe, mãe! Nós iremos encontrar a Deedlit! Meus amigos e eu a encontraremos e a traremos de volta! – disse Anix.

_ Não, meu filho! É muito perigoso e vocês são apenas garotos! Seu pai e eu resolveremos isso! – exclamou a elfa, preocupada.

_ Não se preocupe senhora! Nós somos grandes heróis! Não será um bando de ogros qualquer que vai conseguir nos derrotar! – era Nailo, que ouvira a conversa e chegara até a cozinha junto com Lucano.

_ Sim! Além de tudo, os deuses estão ao nosso lado! Glórienn nos protege! – disse Lucano, mostrando Dililiümi, orgulhoso.

_ Têm certeza? – perguntou a elfa.

_ Sim! Não se preocupe! Nós conseguiremos! – completou Anix. Voltou para a sala, acompanhado dos outros e foi até o irmão. – Squall! Aconteceu uma coisa! A Deedlit foi seqüestrada e deve estar morta! Nós vamos procurar por ela! Entendeu?

Squall ficou mudo, paralisado.

_ Anix! Não faça isso! Não se deve dar uma notícia dessas assim! Tem que contar aos poucos, preparando-o para o baque! – gritou lorde Ragnarok.- Squall, ogros têm atacado os pescadores nos últimos dias! Deedlit foi até a praia para dar um jeito na situação, mas ainda não retornou nem deu sinal! Tememos que ela possa estar até morta! – completou, sem melhorar em nada a situação.

_ Deedlit!!! Nããão!!! Vamos atrás dela, já!!! – gritou o feiticeiro.

E os heróis se despediram mais uma vez de suas amadas, pegaram seu equipamento e partiram novamente rumo à aventura, ao resgate de uma outra bela dama.

maio 01, 2007

Campanha A - Capítulo 275 – Viagens

Capítulo 275 Viagens

Os pais de Liodriel acolheram gentilmente os viajantes em sua casa. Lioniel foi passar a noite na casa de Nevan, e cedeu seu quarto para parte do grupo de heróis por vontade própria, com um largo sorriso no rosto. O amor de Nevan tinha finalmente aberto as portas de seu coração, e a tornado amável e gentil, era quase uma outra pessoa. Enquanto Lucano e Squall arrumavam suas coisas no quarto, Seelan chamou Anix num canto isolado, e lhe entregou um rolo de pergaminho.

Anix desenrolou o papel, e viu que nele havia três textos exatamente iguais escritos num idioma arcano e confuso. Eram três magias de teletransporte, explicou Seelan, que ele usaria para buscar sua amada, Enola. Com as instruções de Seelan, Anix completou os gestos e palavras mágicas faltantes para ativar o poder contido no pergaminho, e desapareceu no ar, para no instante seguinte surgir no bosque onde habitava a ninfa.

_ Quem está ai? – gritou uma voz rouca no meio da mata já escura. Falava no idioma da floresta. Anix a reconheceu imediatamente.

_ Sou eu, Silfo! O Anix! – respondeu o mago.

Silfo, o sátiro, surgiu dentre as árvores, trotando com seus cascos na relva velozmente, e saltou sobre Anix num abraço amigável. Os dois amigos se alegraram por reverem um ao outro após tanto tempo e por saberem que ambos estavam bem. Então, Anix fez a pergunta inevitável.

_ Onde está a Enola, amigo?

_ Está lá dentro da gruta, Anix! Ficarei aqui fora enquanto vocês conversam! Chamem-me quando terminarem! – respondeu o sátiro.

Anix entrou vagarosamente na caverna, apreciando cada detalhe. Belas flores brotavam das paredes de rocha, espalhando um perfume suave por todo o ambiente. Pequenos fungos luminescentes brilhavam junto ao teto, dando uma luminosidade cálida ao lugar. Anix encontrou Enola sentada em um banco feito de um pedaço de tronco, escovando seus longos cabelos louros.

_ Adivinhe quem é? – Anix, tampando os olhos da moça com suas mãos.

_ Silfo? Não, não é! Quem está ai? Diga, quem é você? – a voz melodiosa da ninfa fez o elfo estremecer por dentro. Anix se afastou, a cabeça baixa virada de costas para a mulher.

_ Puxa! Nem conhece mais a voz daquele que te ama! – suspirou o elfo.

_ Aniiix!!! – gritou a ninfa, saltando para abraçá-lo. – Meu amor!!! – e os dois se beijaram e se amaram.

Uma hora se passou, Anix, em êxtase, contou à sua amada de seus dias de soldado, e a convidou a conhecer sua família. Sim, foi a resposta dela, se Allihanna permitisse. O elfo se vestiu e saiu, enquanto a ninfa orava à sua deusa. Ficou conversando com Silfo, relembrando os bons tempos em que estavam juntos. Minutos depois Enola apareceu, sorrindo, e repetiu a brincadeira de Anix, fechando os olhos do mago com suas mãos delicadas. Anix lhe deu outro caloroso beijo antes de pegar o pergaminho de Seelan e transportar os três para Darkwood.

Já na casa dos sogros de Legolas, a bela ninfa e o sátiro foram apresentados a Seelan. Para desespero de Anix, o capitão abandonou o jeito afeminado que tinha, portando-se como um cavalheiro diante de Enola, fazendo-lhe galanteios. Os dois ficaram vários minutos no sofá, conversando e ficaram amigos. Seelan falava sobre Anix, exaltando seus feitos, perguntava coisas sobre Enola, sempre elogiando sua beleza e muitas outras coisas sem significância. Finalmente deu boa noite a todos e foi dormir. Anix tomou sua acompanhante nos braços e foi se deitar com ela. Ficaram no quarto que pertencera a Liodriel e que agora estava desocupado, já que ela morava em sua casa nova, com Legolas. Seelan ficou no quarto de Lioniel, com Squall, Lucano e Silfo.

Na mesma noite Nailo visitou seus pais, e contou-lhes sobre seus dias de soldado e da aparição de Allihanna em Forte Novo. Narrou detalhadamente, com os olhos encharcados de lágrimas emocionadas, tudo o que havia acontecido naquele estranho episódio, sobre falsa morte de Relâmpago e a mensagem deixada pela deusa, de que ele e seus amigos tinham sido escolhidos pelo destino e tinham uma grande provação para enfrentar. E, tal qual a deusa havia dito, Nailox e Esparta aconselharam seu filho a manter sempre sua fé inabalável perante os desafios que estavam por vir. Nailo ainda visitou os animais criados por seus pais antes de retornar para os braços afáveis de Darin e deixou o pequeno tentacute sob os cuidados de seus pais. Nailox deu uma jóia brilhante ao animal, uma pequena gema ovalada que emitia um brilho próprio, prateado. Tentacute agarrou a jóia e desapareceu dentro da casa com seu pequeno tesouro. Nailo ficou intrigado ao descobrir que seu pai possuía tal jóia, mas não deu muita importância ao fato, pois o que importava era estarem todos juntos novamente. Assim, o grupo de heróis teve uma noite agradável de descanso em suas curtas férias, sem desconfiar que a mão do destino os envolveria e os lançaria novamente rumo ao perigo e a aventura já no dia seguinte.

Era um jetag, o dia 25 de Aurea, a primavera já findava, e o Azgher já anunciava a chegada do verão, imponente, sobre o céu leste de Darkwood. Os heróis passaram o dia em festa, comemorando sua breve passagem pela vila, com seus velhos amigos e amores. Tudo era alegria, menos para Squall, que ainda trazia em seu peito a amargura e o arrependimento pelo sofrimento que causara a Glorin. Retumbavam em sua mente as palavras que havia dito ao anão. Doía em seu coração o efeito daquelas palavras. Glorin odiava os elfos pelo que um deles tinha feito à pessoa que ele mais amava. Ainda assim, tinha sido o responsável por salvar a vida de Cloud, uma das criaturas mais importantes para o feiticeiro. Glorin não confiava em elfos, e Squall só havia lhe dado mais motivos para isso. Precisava se redimir de alguma forma, cumprir a promessa que havia feito, um bilhete deixado na porta do capitão por seu familiar, antes de deixarem o forte: “Glorin, você salvou a pessoa que mais amo na minha vida. E farei o mesmo por você, prometo.”. Ora, aquelas palavras eram todas verdadeiras, e nem mesmo os deuses do panteão poderiam saber disso. Talvez Thyatis até soubesse qual seria o desfecho de tudo aquilo, mas preferira se calar diante dos outros deuses. Entretanto, de tudo o que fora dito no bilhete, algo ali não era de todo verdadeiro. Cloud talvez não fosse a pessoa mais amada por Squall. Era fato que o feiticeiro amava enormemente seu pai, sua mãe e seu irmão, mas somente uma pessoa conseguia rivalizar com o falcão pela posse de seu coração. Ela era Deedlit, a elfa. Namorados desde a infância em Wynlla, Squall e Deedlit se amavam imensamente, e este amor estava prestes a ser colocado à prova.

O dia já terminava e o sol já se deitava no horizonte, formando mosaicos vermelhos e laranjas com ajuda das nuvens e do vento, quando Seelan convocou-os para partir.

_ Bem, vamos embora! Não temos muito tempo! Iremos para Wynlla comprar as poções que precisamos, assim Anix e Squall poderão rever suas famílias também! – Anix olhava para ele ansioso. Ao lado dele estava Enola, que os acompanharia para conhecer a família de Anix. Legolas e Nailo se despediam com pesar de seus pais, e abraçavam suas amadas com força, na esperança de não se separarem novamente. Seelan olhou a cena e se comoveu. – Ai não! Eu e meu coração mole! Legolas, Nailo, tragam suas mulheres também, assim vocês terão mais tempo para matar a saudade! – completou.

Os dois filhos de Darkwood sorriram, com os olhos e com a boca, e abraçaram suas amadas. Contudo, transportar aquela quantidade de pessoas, e o cavalo de Legolas, não seria tarefa fácil, de modo que Seelan pediu ajuda para Anix e Squall. Ao primeiro foi dado o pergaminho que ele havia usado na noite passada, e no qual restava ainda uma magia. Ao segundo, um pergaminho novo em folha, que continha três magias de teletransporte. Seelan explicou a Squall o que ele deveria fazer, pensar em sua casa e pronunciar as palavras indicadas e repetir os gestos mostrados, para se teletransportar para sua cidade natal. Para exemplificar, Anix foi o primeiro, levando consigo Enola e Silfo, antes que o capitão pudesse falar qualquer coisa. Seelan, descontente, voltou-se para Squall, mas já era tarde.

_ Isso me leva pra qualquer lugar que eu desejar?! – perguntou Squall, admirado, sem esperar por uma resposta. Seguiu as instruções, disse as palavras e repetiu os movimentos, e desapareceu no ar, sozinho, antes que Seelan fosse capaz de impedi-lo.

Tyrondir. Era onde Squall desejava ir. De todos os muitos reinos que compunham o assim chamado Reinado, Tyrondir era o único em que o culto do deus da ressurreição era comum. Símbolos da Fênix adornava as casas e templos, e seus servos eram respeitados e admirados por onde quer que passassem. Era para lá que Lars Sween tinha ido, tempos antes, para se redimir pela morte de Jack. Era lá que se encontrava a maior parte dos clérigos e paladinos de Thyatis. E era lá que Squall pretendia encontrar um meio de trazer a amada de Glorin de volta á vida.

Porém, o feiticeiro surgiu no meio de uma floresta desconhecida. Estava cercado por árvores enormes, sem noção de em que parte de Tyrondir se encontrava, se é que estava naquele reino de fato. Lembrou-se então de que não tinha noção exata de em qual lugar procurar por informações, nem de como chegar a esse lugar. E, restavam-lhe apenas duas magias de teletransporte, de modo que ele não poderia errar o alvo novamente. Assim, Squall foi para o único lugar que conhecia onde sabia que havia alguém de imenso poder e sabedoria, que poderia ajudá-lo em sua busca e, após uma rápida seqüência de gestos e palavras, Squall apareceu diante da caverna de Segê.

Squall entrou furtivo e temeroso na imensa gruta congelada. Ouvia o ruído de aço se chocando contra aço, distante, nas profundezas da caverna. Era como o som de uma forja. Então, ele engoliu seu medo e decidiu arriscar chamar por Segê. O som das marteladas desapareceu de súbito, Squall deu um passo, e chamou mais uma vez, e uma lâmina quente e afiada tocou sua garganta ameaçadoramente.

_ O que faz aqui? O que quer? – era Segê, agressivo.

_ Segê, eu peço desculpas por voltar aqui! Sei que tinha prometido não vir aqui, mas precisava vê-lo! Preciso de sua ajuda! Não para mim, mas desta vez, para ajudar o capitão Glorin! – Squall gaguejava, a lâmina da espada quase rasgando suas artérias. Como viu que permanecia vivo, e que aquele que o ameaçava parecia inclinado a ouvir sua súplica, ele continuou. – Eu preciso saber como ressuscitar uma pessoa! Uma pessoa que não pode ser ressuscitada por meios normais!

_ De quem está falando?

_ Da mulher do capitão Glorin!

_ Idiota! Acha mesmo que se eu soubesse de alguma forma de trazê-la de volta eu a teria escondido de Glorin quando ele veio me perguntar a mesma coisa? – Segê quase gritava, sua voz era como um trovão.

_ Ah, entendo! Ele já veio aqui então! Bom, irei embora, então, só tenho mais uma pergunta a fazer! Segê, você é um dragão? – Squall temeu serem aquelas suas últimas palavras.

_ Isso não é de sua conta! Agora suma daqui! – trovejou Segê. Squall pegou o pergaminho novamente, reproduziu os movimentos e versos, ativando a última magia que tinha, e, num piscar de olhos, estava novamente em sua casa.

Em Tollon, Seelan praguejava, irritado com Squall e Anix.

_ Droga! Aqueles imbecis me deixaram para trás! Terei que levá-los eu mesmo! Ah, idiotas! – Seelan pegou outro pergaminho, e usou as magias que tinha prontas em sua mente para poder transportar todos. Primeiro um grupo, depois outro, e por último Legolas e seu cavalo, até que finalmente todos estavam no reino de Wynlla, na cidade portuária de Ab’ Dendriel.