maio 31, 2007

Capítulo 281 – Ao gosto de Nimb...magia caótica

Capítulo 281 Ao gosto de Nimb...magia caótica

_ Squall! Amigo! – Silfo correu desesperado para a entrada do farol. Legolas e Nailo, após alguns segundos de hesitação, acompanharam o sátiro. Atravessaram apressadamente os cômodos que conduziam até a escadaria da construção, guiados por Nailo, que se orientava pelos rastros (na verdade pegadas úmidas e o arrastar de mantos encharcados) deixados por seus amigos. Nailo galgou os primeiros degraus da escada, e estes se romperam sob seus pés num estalo forte. Era a armadilha de Anix.

_ Tomem cuidado! Esta escada está caindo aos pedaços! Pisem onde eu pisar! - instruiu o ranger. Legolas e Silfo seguiram-no com cautela.

No topo da torre do farol, encontraram uma cena triste. Squall chorava copiosamente, ajoelhado diante de uma estátua de pedra, uma elfa. Todos estavam feridos, havia um imenso ogro caído no chão, dentro da redoma de vidro e pedra que protegia a luz mágica do farol, com o corpo todo cortado a golpes de espada. Montes de pedra e poeira, lama agora devido à chuva, estavam aqui e ali pelo chão, e foram reconhecidos como estátuas de pedra quebradas. De todos os feridos, Anix era o que parecia estar em pior estado, e tinha uma enorme espada de lâmina coberta de fogo encravada em suas costas. Era a espada do humano que os acompanhava, a espada de Orion.

_ Desgraçado! Traidor! – urrou Legolas. Duas flechas partiram do arco de gelo, indo cravar-se sob a armadura do humano após estilhaçar uma vidraça. Orion nada fez, continuou em direção aos novos companheiros que rodeavam Squall e Deedlit. Silfo e Nailo já ajudavam os amigos, desconfiando, estarrecidos do que tinha acontecido.

Legolas ainda disparou mais outra vez contra Orion, no momento em que este quase retirava a espada fincada nas costas de Anix. Mas, quando foi disparar novamente, algo estranho aconteceu. O céu estremeceu num trovão que engoliu o som das ondas da chuva e do rugido do arqueiro. Uma faísca dividiu o firmamento em dois, e um brilho esverdeado tomou conta da paisagem enegrecida pelas nuvens. Um aroma forte e sufocante invadiu as narinas de todos, um odor que Squall e Anix reconheceriam como o cheiro de cloro e que, sabiam eles, era sinal de problemas.

O arco mágico se apagou, as chamas da espada de Orion se extinguiram, as faíscas da espada de Nailo deixaram de competir com a tempestade, e até mesmo a Caçadora Prateada silenciou na escuridão. Tudo ficou escuro, o próprio farol se apagou e o disco de metal que orbitava a luz mágica caiu pesadamente no chão. Anix, Squall e até mesmo Lucano, iniciante nos caminhos arcanos, sentiram a criação de Wynna abandonando-os. Não havia mais magia.

_ Humano traidor! – mais uma flecha disparada, desta vez sem encontrar o alvo. O humano retirou, cuidadosamente, a espada das costas do elfo e a guardou.

_ Legolas! Pare com isso! Ele não é um traidor! Anix foi atingido por acidente! E se não fosse pelo Orion, Deedlit estaria... – Squall interrompeu sua fala morosa engolindo em seco e desabando em lágrimas.

_ Está bem! Mas continuarei de olho nele! Cansei de ser traído e enganado! – resmungou o arqueiro. - Onde está sua namorada? – perguntou.

_ Aqui! Aquela gárgula desgraçada a transformou em pedra! – Anix respondeu pelo irmão. – E o pior é que começou uma tempestade de magia caótica!

_ E o que é isso?

_ Em Wynlla ocorrem fenômenos estranhos! Aqui há lugares onde a magia arcana é mais forte. Noutros, ela é fraca e há até aqueles em que ela é totalmente inexistente. Diversos magos vieram para cá no passado, para estudar este fenômeno, e acabaram fundando o reino. Por isso Wynlla é chamado de reino da magia. Por causa desse fenômeno e do grande número de magos. Mas, isso não é tudo. Não se sabe se por um capricho de Wynna, por obra do acaso de Nimb, ou se é alguma peça pregada por Hyninn, mas o fato é que de tempos em tempos, a magia enlouquece completamente, e coisas ainda mais estranhas costumam acontecer. Já tivemos chuva de pêssegos, de conhaque e outras esquisitices. Aqui em Ab’ Dendriel, cada vez que alguma coisa desse tipo vai acontecer, o céu fica esverdeado e o ar fica com esse cheiro de cloro. Ou seja, além da Deedlit ter virado pedra, não podemos contar com nossos poderes mágicos pra tirá-la daqui, sejam eles feitiços, poções armas ou qualquer outra coisa! Nessa situação, eu agora sou totalmente inútil! Se outros monstros vierem nos atacar, não poderei fazer nada pra ajudar! – explicou Anix.

_ Bem, vamos encontrar uma forma de levá-la daqui! Depois a gente se preocupa com os monstros e com a magia! – era Nailo.

Orion e Nailo tentaram carregar Deedlit mas, em forma de pedra, a elfa parecia pesar uma tonelada (e pesava), de modo que eles não conseguiram movê-la. Pensaram em todas as alternativas que suas mentes podiam imaginar para transportar Deedlit em segurança para fora dali, mas nada parecia adequado. Pensaram em arrastá-la sobre a tampa do alçapão, em descê-la amarrada por cordas, em usar magia de teletransporte. Mas nada parecia capaz de suportar o peso colossal que aquela estátua tinha e a magia não mais existia ali, nada poderia ser feito. Orion, lembrou-se das palavras da elfa, sobre a bruxa e o amuleto, e se perguntou se isso teria alguma coisa a ver com o presente que recebera da misteriosa velha que encontrara na estrada. Olhou, curioso, para seu amuleto, sob o olhar vigilante de Squall, o único a notar o que o guerreiro fazia. Orion guardou seu pingente e voltou a ajudar os outros, intrigado.

Tentando buscar alguma alternativa, Nailo decidiu descer a torre do farol. Desceram Nailo e Lucano, inicialmente. Logo depois seriam seguidos pelos demais companheiros. Pararam diante da porta do terceiro andar.

_ Vamos entrar aqui! Pode ser que encontremos alguma coisa pra transportar a Deedlit nesse andar! – Nailo falou a Lucano e arrombou a porta com um forte chute. A porta abriu num rangido e revelou o interior do aposento. Era algo como uma moradia. Havia uma cama, armários, estantes com livros, uma escrivaninha. Mas também havia uma grande mesa de refeições, um fogão de chão antigo, e uma pequena despensa. O ambiente era ao mesmo tempo um dormitório e uma cozinha. E, já que era em parte um local para refeições, encontraram alguém se fartando. Era um ogro.

Uma imensa massa de músculos verdes e grotescos tomava grande parte do salão, banqueteando-se da carcaça de um cavalo cujos restos jaziam sobre a mesa. Nas mãos do ogro havia o enorme osso da coxa do animal, ainda com nacos de carne e gordura fétida a recobrindo. O monstro rugiu ferozmente, como se desejasse, muito mais que intimidar os intrusos, avisar seus companheiros da invasão.

_ Feche a porta Lucano! – Nailo sacou as duas espadas, desprovidas de qualquer poder mágico, e entrou. – Eu vou segurá-lo!

_ Ogro!!! – gritou o clérigo para seus amigos. E começou uma descida frenética pelas escadas.

O monstro avançou, brandindo o fêmur do cavalo como uma clava e golpeou com força estrondosa o peito do elfo. Nailo recuou e estremeceu sobre as pernas ante a força da criatura. Mas, não se deixou intimidar, revidou com dois cortes limpos no ventre da besta, fazendo seu sangue pegajoso e nauseabundo jorrar farto. O monstro urrou, levando uma mão ao estômago aberto, Nailo avançou rasgando-lhe as duas virilhas com precisão.

Um relâmpago brilhou no céu, e um brilho verde tomou conta do firmamento. O cheiro de cloro se intensificou, quase sufocando os heróis. Então, o osso que servia de clava para o ogro se inflamou, ficando coberto de poderosas chamas. Nailo temeu por um instante, mas então suas espadas recuperaram seu poder mágico, e a que tinha a lâmina mais longa voltou a faiscar como o céu.

Um vulto passou ao seu lado num salto majestoso. Era Orion. O guerreiro se atirou contra o monstro, abrindo-lhe o peito com a enorme espada num corte vertical. Sua espada estava novamente tomada de chamas. Os outros heróis já chegavam pela porta. Silfo foi o próximo a entrar, seguido de Lucano que, conforme pedira Nailo, fechou a porta para impedir a saída do inimigo. Legolas que vinha mais atrás, foi obrigado a arrombar a porta num chute, abrindo, assim, espaço para que Squall atacasse.

Squall tinha sido o último a descer. Seu irmão, Anix, sentindo-se inútil sem seus poderes, decidiu permanecer junto à estátua que era Deedlit. Durante sua descida, o feiticeiro viu um novo brilho verde no céu, e sentiu seu poder retornar ao seu corpo. E sentiu algo mais. A chuva que caía em cascatas, tornou-se uma embriagante bebida alcoólica, e logo depois um líquido cáustico que queimava em contato com a pele. Era ácido. Lembrou com temor das histórias contadas por Sam Rael, sobre a Tormenta e sua chuva de sangue ácido e demônios, mas seguiu em frente e abaixo, pois sabia que seu amigo precisava de ajuda (e sabia que se fosse realmente a Tormenta que caía do céu, nada mais poderia ser feito).

Do lado de fora, no telhado, Anix correu para a redoma de vidro para se proteger do ácido que chovia. Viu que a estátua não era afetada pelo ácido e se tranqüilizou. Então, sentiu seus poderes retornando, e correu para junto dos amigos. Enquanto corria, via os pingos, antes ácidos, transformarem-se em borboletas ao tocar o chão e seu corpo e desejou que um pouco daquele caos mágico lhes ajudasse.

Squall parou ao lado de Legolas, disparando projéteis de energia verde brilhante no ogro. O monstro urrou e investiu para cima do grupo com sua clava de fogo. Nailo e Orion contraíram seus músculos, enquanto suas mãos buscavam aparar os golpes da criatura. Então um trovão abafou o som da voz do monstro, o ambiente tornou-se esverdeado e choveu areia sobre Nailo e Orion.

Se alguém tivesse lhes contado, nenhum deles teria acreditado no que acontecera. A clava do ogro havia te desmanchado e se transformado em areia branca e cristalina. Eram os estranhos fenômenos mágicos de Wynlla se manifestando, desta vez a favor dos heróis. Sem arma, o monstro tentou fugir desesperado. E tombou em seguida, atingido por dois cortes gêmeos das espadas de Nailo e Orion. Antes que chegasse ao solo de pedra do faro, o monstro foi atingido por um relâmpago que invadiu a sala por uma janela no alto da parede. O corpo monstruoso brilhou fantasmagoricamente e depois de desmanchou em pleno ar, dando lugar a inúmeras borboletas que voejaram pela sala. Então, Anix finalmente chegou, a alertou seus amigos de que aqueles efeitos estranhos também poderiam acontecer com eles ou suas armas. O caos tomava conta daquele pequeno ponto no reino da magia. Em algum lugar, Nimb sorria loucamente.

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