Capítulo 275 – Viagens
Os pais de Liodriel acolheram gentilmente os viajantes em sua casa. Lioniel foi passar a noite na casa de Nevan, e cedeu seu quarto para parte do grupo de heróis por vontade própria, com um largo sorriso no rosto. O amor de Nevan tinha finalmente aberto as portas de seu coração, e a tornado amável e gentil, era quase uma outra pessoa. Enquanto Lucano e Squall arrumavam suas coisas no quarto, Seelan chamou Anix num canto isolado, e lhe entregou um rolo de pergaminho.
Anix desenrolou o papel, e viu que nele havia três textos exatamente iguais escritos num idioma arcano e confuso. Eram três magias de teletransporte, explicou Seelan, que ele usaria para buscar sua amada, Enola. Com as instruções de Seelan, Anix completou os gestos e palavras mágicas faltantes para ativar o poder contido no pergaminho, e desapareceu no ar, para no instante seguinte surgir no bosque onde habitava a ninfa.
_ Quem está ai? – gritou uma voz rouca no meio da mata já escura. Falava no idioma da floresta. Anix a reconheceu imediatamente.
_ Sou eu, Silfo! O Anix! – respondeu o mago.
Silfo, o sátiro, surgiu dentre as árvores, trotando com seus cascos na relva velozmente, e saltou sobre Anix num abraço amigável. Os dois amigos se alegraram por reverem um ao outro após tanto tempo e por saberem que ambos estavam bem. Então, Anix fez a pergunta inevitável.
_ Onde está a Enola, amigo?
_ Está lá dentro da gruta, Anix! Ficarei aqui fora enquanto vocês conversam! Chamem-me quando terminarem! – respondeu o sátiro.
Anix entrou vagarosamente na caverna, apreciando cada detalhe. Belas flores brotavam das paredes de rocha, espalhando um perfume suave por todo o ambiente. Pequenos fungos luminescentes brilhavam junto ao teto, dando uma luminosidade cálida ao lugar. Anix encontrou Enola sentada em um banco feito de um pedaço de tronco, escovando seus longos cabelos louros.
_ Adivinhe quem é? – Anix, tampando os olhos da moça com suas mãos.
_ Silfo? Não, não é! Quem está ai? Diga, quem é você? – a voz melodiosa da ninfa fez o elfo estremecer por dentro. Anix se afastou, a cabeça baixa virada de costas para a mulher.
_ Puxa! Nem conhece mais a voz daquele que te ama! – suspirou o elfo.
_ Aniiix!!! – gritou a ninfa, saltando para abraçá-lo. – Meu amor!!! – e os dois se beijaram e se amaram.
Uma hora se passou, Anix, em êxtase, contou à sua amada de seus dias de soldado, e a convidou a conhecer sua família. Sim, foi a resposta dela, se Allihanna permitisse. O elfo se vestiu e saiu, enquanto a ninfa orava à sua deusa. Ficou conversando com Silfo, relembrando os bons tempos em que estavam juntos. Minutos depois Enola apareceu, sorrindo, e repetiu a brincadeira de Anix, fechando os olhos do mago com suas mãos delicadas. Anix lhe deu outro caloroso beijo antes de pegar o pergaminho de Seelan e transportar os três para Darkwood.
Já na casa dos sogros de Legolas, a bela ninfa e o sátiro foram apresentados a Seelan. Para desespero de Anix, o capitão abandonou o jeito afeminado que tinha, portando-se como um cavalheiro diante de Enola, fazendo-lhe galanteios. Os dois ficaram vários minutos no sofá, conversando e ficaram amigos. Seelan falava sobre Anix, exaltando seus feitos, perguntava coisas sobre Enola, sempre elogiando sua beleza e muitas outras coisas sem significância. Finalmente deu boa noite a todos e foi dormir. Anix tomou sua acompanhante nos braços e foi se deitar com ela. Ficaram no quarto que pertencera a Liodriel e que agora estava desocupado, já que ela morava em sua casa nova, com Legolas. Seelan ficou no quarto de Lioniel, com Squall, Lucano e Silfo.
Na mesma noite Nailo visitou seus pais, e contou-lhes sobre seus dias de soldado e da aparição de Allihanna em Forte Novo. Narrou detalhadamente, com os olhos encharcados de lágrimas emocionadas, tudo o que havia acontecido naquele estranho episódio, sobre falsa morte de Relâmpago e a mensagem deixada pela deusa, de que ele e seus amigos tinham sido escolhidos pelo destino e tinham uma grande provação para enfrentar. E, tal qual a deusa havia dito, Nailox e Esparta aconselharam seu filho a manter sempre sua fé inabalável perante os desafios que estavam por vir. Nailo ainda visitou os animais criados por seus pais antes de retornar para os braços afáveis de Darin e deixou o pequeno tentacute sob os cuidados de seus pais. Nailox deu uma jóia brilhante ao animal, uma pequena gema ovalada que emitia um brilho próprio, prateado. Tentacute agarrou a jóia e desapareceu dentro da casa com seu pequeno tesouro. Nailo ficou intrigado ao descobrir que seu pai possuía tal jóia, mas não deu muita importância ao fato, pois o que importava era estarem todos juntos novamente. Assim, o grupo de heróis teve uma noite agradável de descanso em suas curtas férias, sem desconfiar que a mão do destino os envolveria e os lançaria novamente rumo ao perigo e a aventura já no dia seguinte.
Era um jetag, o dia 25 de Aurea, a primavera já findava, e o Azgher já anunciava a chegada do verão, imponente, sobre o céu leste de Darkwood. Os heróis passaram o dia em festa, comemorando sua breve passagem pela vila, com seus velhos amigos e amores. Tudo era alegria, menos para Squall, que ainda trazia em seu peito a amargura e o arrependimento pelo sofrimento que causara a Glorin. Retumbavam em sua mente as palavras que havia dito ao anão. Doía em seu coração o efeito daquelas palavras. Glorin odiava os elfos pelo que um deles tinha feito à pessoa que ele mais amava. Ainda assim, tinha sido o responsável por salvar a vida de Cloud, uma das criaturas mais importantes para o feiticeiro. Glorin não confiava em elfos, e Squall só havia lhe dado mais motivos para isso. Precisava se redimir de alguma forma, cumprir a promessa que havia feito, um bilhete deixado na porta do capitão por seu familiar, antes de deixarem o forte: “Glorin, você salvou a pessoa que mais amo na minha vida. E farei o mesmo por você, prometo.”. Ora, aquelas palavras eram todas verdadeiras, e nem mesmo os deuses do panteão poderiam saber disso. Talvez Thyatis até soubesse qual seria o desfecho de tudo aquilo, mas preferira se calar diante dos outros deuses. Entretanto, de tudo o que fora dito no bilhete, algo ali não era de todo verdadeiro. Cloud talvez não fosse a pessoa mais amada por Squall. Era fato que o feiticeiro amava enormemente seu pai, sua mãe e seu irmão, mas somente uma pessoa conseguia rivalizar com o falcão pela posse de seu coração. Ela era Deedlit, a elfa. Namorados desde a infância em Wynlla, Squall e Deedlit se amavam imensamente, e este amor estava prestes a ser colocado à prova.
O dia já terminava e o sol já se deitava no horizonte, formando mosaicos vermelhos e laranjas com ajuda das nuvens e do vento, quando Seelan convocou-os para partir.
_ Bem, vamos embora! Não temos muito tempo! Iremos para Wynlla comprar as poções que precisamos, assim Anix e Squall poderão rever suas famílias também! – Anix olhava para ele ansioso. Ao lado dele estava Enola, que os acompanharia para conhecer a família de Anix. Legolas e Nailo se despediam com pesar de seus pais, e abraçavam suas amadas com força, na esperança de não se separarem novamente. Seelan olhou a cena e se comoveu. – Ai não! Eu e meu coração mole! Legolas, Nailo, tragam suas mulheres também, assim vocês terão mais tempo para matar a saudade! – completou.
Os dois filhos de Darkwood sorriram, com os olhos e com a boca, e abraçaram suas amadas. Contudo, transportar aquela quantidade de pessoas, e o cavalo de Legolas, não seria tarefa fácil, de modo que Seelan pediu ajuda para Anix e Squall. Ao primeiro foi dado o pergaminho que ele havia usado na noite passada, e no qual restava ainda uma magia. Ao segundo, um pergaminho novo em folha, que continha três magias de teletransporte. Seelan explicou a Squall o que ele deveria fazer, pensar em sua casa e pronunciar as palavras indicadas e repetir os gestos mostrados, para se teletransportar para sua cidade natal. Para exemplificar, Anix foi o primeiro, levando consigo Enola e Silfo, antes que o capitão pudesse falar qualquer coisa. Seelan, descontente, voltou-se para Squall, mas já era tarde.
_ Isso me leva pra qualquer lugar que eu desejar?! – perguntou Squall, admirado, sem esperar por uma resposta. Seguiu as instruções, disse as palavras e repetiu os movimentos, e desapareceu no ar, sozinho, antes que Seelan fosse capaz de impedi-lo.
Tyrondir. Era onde Squall desejava ir. De todos os muitos reinos que compunham o assim chamado Reinado, Tyrondir era o único em que o culto do deus da ressurreição era comum. Símbolos da Fênix adornava as casas e templos, e seus servos eram respeitados e admirados por onde quer que passassem. Era para lá que Lars Sween tinha ido, tempos antes, para se redimir pela morte de Jack. Era lá que se encontrava a maior parte dos clérigos e paladinos de Thyatis. E era lá que Squall pretendia encontrar um meio de trazer a amada de Glorin de volta á vida.
Porém, o feiticeiro surgiu no meio de uma floresta desconhecida. Estava cercado por árvores enormes, sem noção de em que parte de Tyrondir se encontrava, se é que estava naquele reino de fato. Lembrou-se então de que não tinha noção exata de em qual lugar procurar por informações, nem de como chegar a esse lugar. E, restavam-lhe apenas duas magias de teletransporte, de modo que ele não poderia errar o alvo novamente. Assim, Squall foi para o único lugar que conhecia onde sabia que havia alguém de imenso poder e sabedoria, que poderia ajudá-lo em sua busca e, após uma rápida seqüência de gestos e palavras, Squall apareceu diante da caverna de Segê.
Squall entrou furtivo e temeroso na imensa gruta congelada. Ouvia o ruído de aço se chocando contra aço, distante, nas profundezas da caverna. Era como o som de uma forja. Então, ele engoliu seu medo e decidiu arriscar chamar por Segê. O som das marteladas desapareceu de súbito, Squall deu um passo, e chamou mais uma vez, e uma lâmina quente e afiada tocou sua garganta ameaçadoramente.
_ O que faz aqui? O que quer? – era Segê, agressivo.
_ Segê, eu peço desculpas por voltar aqui! Sei que tinha prometido não vir aqui, mas precisava vê-lo! Preciso de sua ajuda! Não para mim, mas desta vez, para ajudar o capitão Glorin! – Squall gaguejava, a lâmina da espada quase rasgando suas artérias. Como viu que permanecia vivo, e que aquele que o ameaçava parecia inclinado a ouvir sua súplica, ele continuou. – Eu preciso saber como ressuscitar uma pessoa! Uma pessoa que não pode ser ressuscitada por meios normais!
_ De quem está falando?
_ Da mulher do capitão Glorin!
_ Idiota! Acha mesmo que se eu soubesse de alguma forma de trazê-la de volta eu a teria escondido de Glorin quando ele veio me perguntar a mesma coisa? – Segê quase gritava, sua voz era como um trovão.
_ Ah, entendo! Ele já veio aqui então! Bom, irei embora, então, só tenho mais uma pergunta a fazer! Segê, você é um dragão? – Squall temeu serem aquelas suas últimas palavras.
_ Isso não é de sua conta! Agora suma daqui! – trovejou Segê. Squall pegou o pergaminho novamente, reproduziu os movimentos e versos, ativando a última magia que tinha, e, num piscar de olhos, estava novamente em sua casa.
Em Tollon, Seelan praguejava, irritado com Squall e Anix.
_ Droga! Aqueles imbecis me deixaram para trás! Terei que levá-los eu mesmo! Ah, idiotas! – Seelan pegou outro pergaminho, e usou as magias que tinha prontas em sua mente para poder transportar todos. Primeiro um grupo, depois outro, e por último Legolas e seu cavalo, até que finalmente todos estavam no reino de Wynlla, na cidade portuária de Ab’ Dendriel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário