Capítulo 278 – Areia, água e sangue
A tempestade veio, inclemente com suas águas e seu vento. Raios cortavam o céu, desenhando mosaicos de luz. Ondas se elevavam do mar com violência, o mar urrava como uma fera insana. Armaduras e mantos tornaram-se molhados, pesados e frios. Mas os heróis aguardavam na praia, estáticos, como se a chuva que os atingia não existisse. Seus olhos fixos no horizonte, atentos. Esperando pelo inimigo que se aproximava. Então, subitamente, no meio do mar bravio surgiu uma vela branca. Uma pequena embarcação se aproximava, soprada pelos caprichos do vento, jogada de um lado pro outro pela ira das ondas, repleta de monstros.
Eram muitos os monstros que se acotovelavam no pequeno barco. Havia bugbears musculosos, armados de maças de machados, mais de uma dezena de hobgoblins carregando espadas e quatro gigantescos ogros, munidos de troncos grossos que lhes serviam de clavas. O barco se aproximava da praia rapidamente, carregado pelo mar bravio. Quando estava a uma distância que os olhos permitiam distinguir o formato dos inimigos, Nailo disparou a primeira flecha e um hobgoblin, que vinha na proa da embarcação, tombou no pequeno convés.
Chegaram à água rasa. Os monstros saltaram de seu bote e avançaram pela rebentação em direção aos heróis. Nailo largou o arco e pegou suas espadas, postando-se ao lado de Squall, rangendo os dentes enquanto sua melhor arma explodia em faíscas ao ser tocada pela chuva. Squall e Anix começaram a separar seus componentes mágicos, Legolas, mais atrás, puxava a corda de seu arco apontando-o para o alto, duas flechas prontas para sangrarem os inimigos. Orion finalmente desembainhou sua enorme espada e preparou seu pesado escudo para deter os monstros que se aproximavam. Fincada na areia da praia, diante de Lucano, Dililiümi tremia de ódio e brilhava como uma tocha prateada. Era a hora de caçar.
Os monstros avançaram. Os bugbears vinham à frente, correndo como loucos. Um deles chegou até Squall, e sua maça, uma esfera metálica cheia de pontas afiadas e retorcidas, rasgou o rosto do elfo profundamente. Nailo atravessou o ventre da criatura com sua espada. Faíscas explodiram, ao mesmo tempo em que os relâmpagos dividiam o céu, como que em sincronia. Em segundos, outros monstros chegaram e cercaram Squall e Nailo. Um tronco de árvore, que era uma clava, desceu sobre o corpo do feiticeiro com força. Squall cambaleou.
Os que estavam mais distantes atacavam com armas de arremesso. Uma das lanças cruzou o céu como um raio, e cravou-se na perna de Lucano, profundamente. Legolas, disparava suas flechas nos inimigos que ainda estavam na água, impedindo vários deles de chegarem à terra firme. Anix estava concentrado, suas mãos tornavam-se rubras, enquanto ele evocava seu feitiço. Então, foi a vez do humano finalmente brandir sua espada e atacar.
Orion correu em auxílio a Squall e Nailo. Um dos ogros tentou impedi-lo com sua clava, mas o guerreiro saltou para o lado, deixando o tronco atingir a areia, inofensivo. Saltou na arma do monstro, usando-a como ponte para escalar até a altura da criatura. A espada bastarda cortou o monstro abaixo do pescoço num arco. A criatura caiu morta antes que Orion terminasse seu movimento. O guerreiro atingiu o solo, ficando entre o bugbear que ferira Squall e os dois elfos, sua espada desceu como um relâmpago, aproveitando o impulso para destrinchar a criatura. Metade do monstro caiu no solo, a outra metade tentou ainda um movimento de fuga, mas era tarde. Orion não comemorou, apenas se ergueu do solo e ficou à frente dos dois elfos a quem deveria auxiliar, aguardando pelo próximo inimigo.
Um círculo mágico se formou sobre a água espumante por onde avançavam as hostes inimigas. A água borbulhou, como se fervesse, e uma parede de chamas emergiu, superando a altura do maior dos ogros, queimando aqueles que a tocavam e os que estavam muito próximos. “Sintam as chamas mortais do inferno!”, gritava Anix, entusiasmado, enquanto os monstros eram cozidos vivos.
Contudo, os monstros continuavam avançando, mergulhando na água salgada para passar ilesos pelas chamas. Squall tentava detê-los com sua mágica, explodindo bolas de fogo aqui e ali, mas o clima estava contra eles, e a chuva ajudava a amenizar os efeitos da chamas. Legolas disparava suas flechas em ritmo frenético, mas os ventos inclementes desviavam seus projéteis, favorecendo os inimigos. Cloud saltou do ombro de seu mestre e alçou vôo. Foi em direção a um dos ogros, com suas garras à mostra. Squall temeu pelo pior, mas se surpreendeu com o que aconteceu. O pássaro avançou piando e gritando, e no meio de sua sinfonia de guerra, chamas saíram de seu pequeno bico, inflamando a face do monstro atacado. Cloud bateu as asas e subiu ao céu, escapando da clava do ogro queimado. Finalmente o sangue dracônico de Squall, que agora corria nas veias de Cloud, começava a fazer efeito e a mostrar seu poder.
A metros dali, Lucano corria, sua espada na mão direita, na direção dos inimigos que emergiam das águas após escaparem das chamas de Anix. A espada Dililiümi brilhava e tremia em sua mão, como se desejasse saltar sobre os adversários, como se tivesse vida própria. Lucano mirou um ponto no meio dos inimigos e evocou uma magia sonora, semelhante à que Sam costumava utilizar. O inimigo ficou paralisado, antes mesmo da magia ser completada, e deixou a arma cair da mão. As ondas sonoras explodiram, afastando as gotas d’água, as ondas e até a areia da praia. O inimigo permanecia em pé apenas por capricho dos dados de Nimb.
Nailo correu sob os relâmpagos do céu, criando seus próprios relâmpagos no solo, e começou a derrubar os monstros próximos a Lucano, flechas disparadas por Legolas dividiam o céu com as gotas e raios, derrubando hobgoblins antes que pudessem descer do barco para atacar e Anix continuava concentrado, mantendo a barreira de chamas que minava as forças no inimigo. Na frente de batalha, os ogros cercavam Squall e Orion e, junto com os outros monstros, causaram graves ferimentos no elfo e feriram pela primeira vez o corpo do guerreiro humano.
Orion girou sua espada no ar, decapitando um bugbear. Continuou o movimento e rasgou profundamente o estômago de um dos ogros, espalhando suas entranhas fétidas pela areia. Com sucessivos golpes de espada, Nailo e Orion foram derrubando um a um os monstros. Legolas os ajudava eliminando os mais distantes com suas flechas congelantes, e os que sobravam, eram queimados pelas chamas produzidas por Anix, tornando-se alvos fáceis para Squall e Lucano.
Entretanto, ainda havia um monstro terrível a ser derrubado. Ele era o maior dos ogros que havia entrado em combate e seus gritos de cólera rivalizavam com os trovões e o rugido do mar. Correu em grande velocidade, olhos vermelhos e boca espumando, passou por todos tão rápido que ninguém foi capaz de deter sua investida. Ergueu sua clava, que era quase uma árvore inteira, e golpeou Anix.
O mago contorceu o corpo de dor, sentindo seus músculos e ossos sendo esmagados pela força do monstro. Sua visão se tornou turva, a magia que controlava foi perdida e ele vomitou sangue. Anix mal podia respirar, ante o potente ataque da besta.
Anix recuou, trôpego, sofreu um novo ataque, desta vez menos forte, mas ainda assim letal. Agarrou-se ao fio de consciência que lhe restava para desferir um ataque no inimigo, e cinco bolas de luz partiram de seus dedos e explodiram no corpo do monstro.
Orion recuou para ajudar Anix, após deixar um rastro de corpos de hobgoblins pelo caminho. Nailo, da mesma forma, começou a retornar para perto dos amigos, após se livrar de meia dúzia de inimigos. Squall e Lucano, que estavam mais próximos, foram os primeiros a chegar e a ferir o inimigo. Squall correu arrastando sua espada levemente no chão, seus olhos de meio-dragão miravam o alvo, sua mente concentrava o poder mágico do seu corpo na arma. A espada brilhou e subiu pelo corpo da criatura formando um arco no ar. Squall saltou, a espada apontando para o alto e manchada de sangue após abrir o couro espesso do ogro. Squall urrava.
Lucano chegou pelo flanco direito da criatura, ergueu a espada para atacar e percebeu algo estranho. Uma voz ecoava em sua mente, quase como um grito, repetindo constantemente a frase: “Queime o maldito!”. Sem entender e impulsionado pelo calor da batalha, Lucano gritou, repetindo as palavras em sua mente com fervor. Então, a espada élfica brilhou com mais intensidade, e foi tomada por chamas incandescentes. Lucano golpeou a coxa do monstro, arrancando dele um grito de dor e de fúria e, após muitos anos, Dililiümi voltou a beber o sangue de um inimigo.
Legolas continuava impedindo os inimigos mais distantes de fugirem e de se engajarem na batalha, quando Nailo chegou para ajudar os amigos. Suas espadas cortaram furiosamente o monstro, que urrava abafando o som das ondas. Mas, quando todos pensaram que a batalha estava terminada, a fera voltou a atacar. Sua clava jogou Lucano metros para trás, deixando-o atordoado e, com um poderoso golpe, atirou Squall no chão úmido de areia, quase sem vida.
Anix fez suas chamas explodirem ao redor do oponente, mas nem isso o deteve. Legolas mudou o alvo de suas flechas, mas nem com isso o monstro foi vencido. As espadas de Nailo arrancavam pedaços de sua carne imunda, mas nada parecia detê-lo, e Squall sangrava aos borbotões e a areia tornava-se rubra sob seu corpo, enquanto Lucano tentava recuperar o fôlego para auxiliar o amigo ferido. Então veio o humano.
Orion chegou por trás do ogro, mas isso não impediu o monstro de notar sua presença. A clava de árvore golpeou a cabeça do guerreiro, e arremessou seu elmo brilhante a metros de distância. Orion não disse uma palavra sequer, parecia não ter sentido o impacto. Virou a cabeça para a direção do ogro novamente, e seus olhos fitaram os dele, cheios de fúria. Ergueu sua espada, um relâmpago brilhou no céu, desferiu o primeiro golpe. O peito do monstro sangrou fartamente e o cheiro de entranhas nauseabundas tomou o lugar da maresia. Outro clarão no céu, mais um golpe, desta vez no pescoço. O monstro tombou pesadamente no chão, ao mesmo tempo em que os pés do guerreiro tocavam novamente o solo de areia. Do exército que invadira a praia de Ab’ Dendriel, apenas dois ou três hobgoblins covardes e em fuga restavam. Foram abatidos a flechadas. Lucano usou o poder de Glórien e curou os ferimentos de Squall. O feiticeiro despertou de seu sono de morte e agradeceu. Anix engoliu uma poção mágica para também se curar, Nailo limpou o sangue de suas espadas, Legolas fez uma bravata e conferiu a munição restante. Orion apenas recolheu seu capacete do chão. A primeira batalha estava terminada.
Passando para deixar um oi!
ResponderExcluirAbraço
Muito bom Jefferson! Aqui é o Vatek da Jambô e também antigo Master Yiodda =P
ResponderExcluirAdorei a entrada do Orion! Espero que continue assim.
Mas... Na descrição de Wynnla não aparecia que o reino sofria ataques goblinóides.
Mas a sua narrativa está cada vez melhor, não desista!
P.S: Conheci o Carlos... ou melhor, o Legolas!
P.S 2: visite meu novo blog: cantinhodoescriba.blogspot.com