maio 02, 2007

Campanha A - Capítulo 276 – Ab’ Dendriel

Capítulo 276 Ab’ Dendriel

De todos os reinos de Arton, Wynlla era um dos mais exóticos de todos. Sabem os deuses porque naquele lugar a magia se comportava de forma estranha e por vezes assustadora. Havia lugares naquele pedaço de chão em que a magia abundava, e os magos, feiticeiros e outros conjuradores conseguiam efeitos máximos, fantásticos, com seus feitiços. Noutros, ela era completamente inexistente, e aquele que tentasse manipular a criação da deusa Wynna nesses lugares não obteria sucesso. E havia também aqueles lugares em que tudo parecia normal, mas onde toda magia tinha efeito oposto ao planejado, causando efeitos por vezes desastrosos. Outros fenômenos estranhos aconteciam espontaneamente, como chover rum ou um campo de margaridas florescer da noite para o dia a partir de sementes de milho plantadas por algum fazendeiro. Eram essas as razões que fizeram com que, em tempos remotos, enorme quantidade de magos, feiticeiros, bruxos e outros, adentrassem nesse estranho território para pesquisar suas peculiaridades. Era por esse motivo que o arquimago Vectorius não levava sua cidade voadora até ali, com receio de que ela fosse apanhada por uma área de magia inexistente e despencasse do céu. Assim, nasceu Wynlla, o reino da magia, inicialmente povoado por pesquisadores mágicos, depois por pessoas comuns até se consolidar como uma nação forte e conhecida.

Ora, por suas peculiaridades, Wynlla era o país com a maior concentração de usuários de magia de toda Arton. Era comum em suas ruas ver pessoas trajando robes e chapéus pontudos, portando pergaminhos, grimórios, varinhas e cajados, sendo acompanhados por golens, mortos-vivos, objetos animados ou criaturas advindas de outros planos. Era verdade que em Vectora e Valkaria, os dois maiores centros de comércio do mundo, era possível encontrar quase qualquer coisa para se comprar, mas, se o item desejado fosse algo mágico, Wynlla era o lugar certo para procurá-lo.

De todas as cidades de Wynlla, Ab’ Dendriel não era exceção. Era uma vila pacata próxima à praia, que contava, como quase toda vila semelhante, com pescadores, comerciantes, fazendeiros. Com população de cerca de mil habitantes, seus moradores eram, a grande maioria, pessoas com algum conhecimento de magia. Além dos ferreiros, joalheiros, taverneiros e comerciantes comuns, havia vendedores de poções, varinhas, amuletos, encantadores de armas, e todo tipo de serviço mágico que se poderia esperar. Dentre todos esses comerciantes mágicos, um casal de elfos se destacava, não pelos seus feitos, mas sim pelos feitos que seus dois filhos iriam realizar junto com seus companheiros. Eles eram Ragnarok Remo e Valkyria Remo, e possuíam uma pequena loja em Ab’ Dendriel.

Lord Ragnarok, como era chamado pelos vizinhos, era um mago competente. Desde jovem desenvolvera o gosto e o talento para a magia, e se dedicava a estudar tratados mágicos com afinco. Alcançara, desta forma, grande conhecimento e poder, que o tornaram conhecido e respeitado em sua vizinhança. Sua esposa, Lady Valkyria, tratada com igual respeito pelos conhecidos, era uma feiticeira também poderosa. A magia fluía naturalmente por seu corpo, dispensando as muitas horas de estudo que outros necessitavam para aprender algumas mágicas. Embora fossem diferentes no uso das graças de Wynna, as diferenças não impediram que se conhecessem e se apaixonassem durante uma aventura. Os dois se casaram e fixaram residência e Ab’ Dendriel, onde tiveram dois filhos, Anix e Squall.

Desde cedo, as duas crianças seguiram os passos dos pais. Enquanto Anix se debruçava sobre livros pesados e empoeirados em busca de conhecimento e poder, Squall aprendia pouco a pouco a deixar a energia mágica fluir naturalmente através de seu corpo e a controlá-la conforme sua vontade. Tiveram uma infância confortável e simples, descobrindo o mundo pouco a pouco (sem pressa, como era comum entre os elfos), aprendendo e conquistando a magia, para um dia se tornarem respeitados como seus pais. Ragnarok e Valkyria abandonaram a carreira de aventureiros e se tornaram comerciantes. Construíram uma pequena loja no centro de Ab’ Dendriel, onde vendiam os pergaminhos feitos por Ragnarok e as poções feitas por Valkyria, além de outros utensílios úteis, como papel, penas, tinta, grimórios, e outros. O conhecimento acumulado de Ragnarok também foi posto à disposição da população da pequena cidade, e de todos aqueles que estivessem dispostos a pagar por ele, já que o elfo servia de consultor, fornecendo informações sobre magias, monstros, e itens, além de fazer pesquisas sob encomenda em sua biblioteca particular. Assim, com os tesouros acumulados de suas aventuras passadas, e os lucros obtidos em sua loja, o casal criou e educou seus filhos nos caminhos da magia, até que eles cresceram e decidiram conhecer o mundo e viver suas próprias aventuras.

Squall foi o primeiro a deixar sua casa, no 1º dia de Exinn, do ano de 1396, impulsivo como sempre foi, seu espírito livre ansiava por ver novos horizontes. Desapareceu por dois dias. Todos achavam que ele estava na praia, ou talvez com sua namorada Deedlit. Mas, os dias se passaram, e Squall não apareceu, e ele não estava com a namorada. Tinha ido viajar e deixado um bilhete dizendo que estava bem. Mal se despedira da família ou da amada, pois pretendia não se demorar, talvez uma ou duas semanas fora, uma visita a uma cidade grande, uma aventura em alguma masmorra ou templo abandonado nas proximidades e ele estaria de volta. Mas, quis o destino que sua viajem fosse mais demorada que ele calculava, pois em Norm Squall encontrou um homem que estava de partida para Malpetrim, uma cidade maravilhosa cheia de grandes navios, comércio farto, histórias fantásticas e inúmeras possibilidades de aventuras. Porém, a filha do homem adoecera, e ele perderia a caravana que o levaria a Malpetrim. Por sorte, Squall apareceu, comprou-lhe a passagem na caravana e partiu, sem nem suspeitar que Malpetrim ficava do outro lado do mundo.

Três dias depois, foi a vez de Anix deixar sua vila em busca do irmão. Sua mãe não aprovava a partida, pois sabia que era muito mais fácil localizar Squall através de magia do que o procurando às cegas pelo mundo. E, se ele estivesse realmente bem, em poucos dias estaria de volta. Mas, Ragnarok a convenceu a deixar o filho partir: “Está na hora do mundo ensinar a esses garotos aquilo que não está nos livros de magia!”, foram suas palavras. Assim, Anix partiu no 4º dia de Exinn, do ano de 1396 do calendário élfico. Segui o rastro de Squall até Norm, onde descobriu seu paradeiro, Malpetrim.

Os dois irmãos seguiram para a cidade famosa separados, e só foram se reencontrar muito tempo depois. Squall estava diferente, todo queimado de sol e desidratado. Sua própria expressão começava a se modificar, conseqüências do sangue dracônico que corria em suas veias. Antes do reencontro, Anix conheceu novos e grandes amigos e, sob o olhar dos deuses, selou seu destino, o de seu irmão e o de seus amigos. Não houve comemoração no encontro dos dois irmãos, já que Squall estava desacordado e Anix não o reconheceu de imediato, e logo após o reencontro eles foram capturados pelos servos de Teztal e escravizados. Mas, agora seria diferente, tudo estava em paz, e Anix e Squall estavam finalmente de volta ao seu lar e poderiam, enfim, comemorar esse esperado reencontro.

Squall apareceu dentro de casa, já sentado numa poltrona na sala de estar, as mãos sobrepostas atrás da cabeça inclinada para o alto, bocejando com os enormes dentes dracônicos à mostra. Houve um grito, barulho de objetos caindo, vidro se estilhaçando. E, antes que Squall pudesse tentar localizar a fonte do barulho, seu rosto foi atingido quatro vezes por energia mágica, explodindo e rasgando sua carne. O feiticeiro agarrou-se á consciência, ainda que isso fosse deveras difícil, e abriu os olhos, limpando o sangue que escorria. Diante dele estava um elfo alto e corpulento, cabelos longos, lisos e negros, segurando de forma ameaçadora um cajado de madeira, adornado com jóias e runas, pressionando-o contra o peito de Squall.

_ O que faz aqui? Quem é você? O que quer? – gritou o elfo. Tinha uma voz rouca e trovejante.

_ Pai?! Pai, sou eu, Squall! Está tudo bem, pode abaixar o cajado! – respondeu o garoto, reconhecendo seu pai.

_ Não se mexe, verme! E não diga bobagens! Você não se parece em nada com meu filho!

_ Mas pai! Sou eu, seu filho! Eu posso provar!

_ Então é bom começar a fazer isso, ou o conteúdo de sua cabeça vai pintar minhas paredes! – rugiu a elfa. Sua voz era suave e melodiosa, mas intimidadora. Suas mãos sobrepostas apontavam para Squall, exibindo uma bola de energia luminosa pronta para ser disparada.

_ Calma, mãe! Eu vou explicar... – Squall começou a gaguejar, assustado, quando alguém bateu à porta.

_ Pai! Mãe! Abram! Sou eu, Anix! – ouviram os que estavam na casa.

_ Mais um! O que é isso? Uma invasão? Vamos explodi-los! – exclamou Valkyria, irada.

Do lado de fora, Anix, Silfo e Enola aguardavam. Vendo que não seria atendido, Anix foi até a janela aberta e se mostrou.

_ Squall? O que você está fazendo ai? – disse o mago.

_ Anix? Meu filho! – alegrou-se a elfa. – Quer dizer então que esse é... – foi interrompida.

_ Sim, mãe! Sou eu, Squall! – bufou o feiticeiro.

_ Garoto estúpido! Tinha que dar esse susto na gente! E por que está com esses dentes, essas garras, e essa aparência estranha? – Ragnarok bateu com o cajado na cabeça de Squall, repreendendo-o como um pai dedicado. E tudo ficou bem.

Anix entrou na casa, apresentou Enola como sua noiva, e Silfo, seu amigo. Pediu licença e saiu novamente, em busca de Seelan e dos demais. O grupo acabava de entrar na vila, após aparecerem à beira da estrada através da magia de teletransporte. Anix e Squall apresentaram seus amigos aos pais e começaram a contar sua história. Seelan, carrancudo, pediu licença e interrompeu.

_ Bom, agora todos estão bem e juntos! Então, vou fazer o que vim fazer! Vou comprar as poções que precisamos lá no forte! Enquanto isso, aproveitem para matar a saudade de seus pais! E não cometam mais nenhuma burrice! – anunciou o capitão.

_ Seelan, posso ir com você? – pediu Lucano.

_ Não! Vou sozinho! Vocês causam muita confusão! Prefiro ir sozinho! O Squall e o Anix desperdiçaram um monte das minhas magias de teleporte! E eu já disse que elas são caras e exaustivas! Melhor eu ficar sozinho, assim não terei problemas! Juro que se eu fosse o Glorin, nesse momento eu diria: Elfos, hunf...! Vocês só denigrem a imagem da nossa raça assim! Vou sozinho! Até mais tarde! – e, sem mais conversa, Seelan desapareceu no ar com sua mágica.

_ Bem, meus filhos! Agora contem suas aventuras, enquanto tomamos um chá! – falou Ragnarok.

Todos se acomodaram e começou o relato das aventuras dos dois irmãos e seus amigos. Falaram sobre ortenko, sobre Khundrukar e o exército. Contaram sobre os muitos amigos que fizeram, Sam, Yczar, Batloc, Sairf, Nevan e outros. Descreveram a traição de Zulil, e os encontros que tiveram com Allihanna e Glórienn. E, após falarem por vários minutos sem parar, empolgados, finalmente perguntaram sobre seus pais e sua cidade. Foi nesse momento que lady Valkyria chamou Anix para conversar a sós.

A elfa contou ao filho sobre o que tinha acontecido na vila nos últimos dias. Deedlit, a namorada de infância de Squall estava desaparecida. Fazia alguns dias já que alguns ogros tinham atacado os pescadores na praia, e Deedlit se comprometeu a resolver o incidente. Entretanto, já fazia dois dias que ela tinha partido, e ainda não tinha retornado nem dado qualquer sinal de vida. Valkyria e Ragnarok já se preparavam para ir em busca da menina, quando Anix e seu grupo chegaram a Ab’ Dendriel.

_ Não se preocupe, mãe! Nós iremos encontrar a Deedlit! Meus amigos e eu a encontraremos e a traremos de volta! – disse Anix.

_ Não, meu filho! É muito perigoso e vocês são apenas garotos! Seu pai e eu resolveremos isso! – exclamou a elfa, preocupada.

_ Não se preocupe senhora! Nós somos grandes heróis! Não será um bando de ogros qualquer que vai conseguir nos derrotar! – era Nailo, que ouvira a conversa e chegara até a cozinha junto com Lucano.

_ Sim! Além de tudo, os deuses estão ao nosso lado! Glórienn nos protege! – disse Lucano, mostrando Dililiümi, orgulhoso.

_ Têm certeza? – perguntou a elfa.

_ Sim! Não se preocupe! Nós conseguiremos! – completou Anix. Voltou para a sala, acompanhado dos outros e foi até o irmão. – Squall! Aconteceu uma coisa! A Deedlit foi seqüestrada e deve estar morta! Nós vamos procurar por ela! Entendeu?

Squall ficou mudo, paralisado.

_ Anix! Não faça isso! Não se deve dar uma notícia dessas assim! Tem que contar aos poucos, preparando-o para o baque! – gritou lorde Ragnarok.- Squall, ogros têm atacado os pescadores nos últimos dias! Deedlit foi até a praia para dar um jeito na situação, mas ainda não retornou nem deu sinal! Tememos que ela possa estar até morta! – completou, sem melhorar em nada a situação.

_ Deedlit!!! Nããão!!! Vamos atrás dela, já!!! – gritou o feiticeiro.

E os heróis se despediram mais uma vez de suas amadas, pegaram seu equipamento e partiram novamente rumo à aventura, ao resgate de uma outra bela dama.

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