maio 03, 2007

Campanha A - Capítulo 277 – O escolhido de Valkaria

Capítulo 277 O escolhido de Valkaria

Os heróis atravessaram as ruas de Ab’ Dendriel a toda velocidade, até saírem da cidade e chegarem à floresta que a cercava. Cruzaram colinas baixas, cobertas de vegetação farta, até que, minutos depois, chegaram à praia.

Uma faixa larga de areia fina e branca separava as colinas do mar que se estendia além da onde a vista alcançava. Distante, cerca uma milha mar adentro, havia a torre de um farol, fincada em um ilhota pedregosa onde o mar quebrava com violência. Já era quase noite, e nuvens negras vinham do horizonte leste, em grande velocidade, confundindo os olhos que não conseguiam mais distinguir onde terminava o mar e começava o céu. Ao sul da passagem entre os morros, havia um aglomerado de casas, o pequeno povoado dos pescadores de Ab’ Dendriel. E, pelo que a correria desesperada dos moradores demonstrava, eles estavam sendo atacados.

Havia uma criatura estranha e assustadora na praia, diante da vila dos pescadores. Era um monstro bípede de forma humanóide e grande estatura. Seu corpo era grosso e forte, seus braços terminavam em mãos grandes com garras, e seus pés tinham esporas enormes e mortais nos calcanhares. Seus ombros se estendiam para além do corpo, terminando em protuberâncias pontudas como garras ou chifres. Sua cabeça era muito grande, alongando-se para trás e para cima, até culminar em um gigantesco chifre afiado. Sua pele era toda prateada, com marcas douradas semelhantes a pinturas ou tatuagens que a adornavam em toda a extensão do corpo. À distância era possível ver que possuía algo como uma cauda pontuda que quase tocava o chão enquanto ele caminhava ereto na direção dos pescadores. Atrás dele, havia um cavalo solitário, parado sobre a areia, cujo cavaleiro talvez já tivesse sido devorado pela estranha criatura.

Sem hesitar, Nailo sacou suas espada, e a maior delas faiscava como o céu sobre o oceano. Correu na direção da criatura, pronto para impedi-la de atacar a vila, e foi seguido de perto por Legolas e depois pelos outros. A espada de Nailo já descrevia um arco elétrico no ar, em direção ao monstro, quando ele se voltou para o ranger e falou com ele, de uma maneira que ninguém ali poderia esperar.

_ Nailo? Legolas? São vocês mesmos? – perguntou a criatura, com uma voz humana. Era um guerreiro, vestindo uma pesada armadura de batalha que, ao longe, fora confundida com um monstro.

_ Quem é você? Como sabe meu nome? – perguntou Nailo, espantado.

_ Eu sou Orion!

· · · · · ·

Orion era um guerreiro, isso era óbvio pela armadura e pela longa espada que portava. Mas, nem sempre fora assim. Anos antes, Orion fora um garotinho, fraco e frágil, assustado. Chorava sozinho dentro de um armário em sua casa destruída, após testemunhar o assassinato de toda sua família pelas mãos de um orc, cuja aparência ela jamais esqueceria. Era um humanóide com aparência de fera, alto, troncudo, uma presa afiada aparecendo por fora da boca no lado esquerdo, olhos grandes e amarelos, corpo todo coberto por pêlos grossos, sujos e avermelhados. Tinha a orelha esquerda cortada faltando um pedaço como se tivesse sido mordida por alguém, e uma grande cicatriz no lado direito da face, que ia da testa ao queixo, passando por cima do olho. Em suas mãos, uma espada de ponta mal acabada que parecia mais uma lâmina partida do que afiada, gotejava o sangue daqueles que foram sua família.

Orion tinha seis anos quando perdeu a família tragicamente. Dias depois, uma caravana passou perto do sítio de sua família e um homem que era o responsável pela segurança do grupo o encontrou dentro do armário, ainda em estado de choque, estático, faminto e com sede. O menino foi integrado à caravana, que ia para a cidade de Valkaria, não muito longe dali, recebeu roupas, alimentação e carinho. O soldado que escoltava a caravana, um guerreiro a serviço de Valkaria, fazia parte daqueles que era chamados de Patrulheiros da Deusa, um grupo de soldados, em sua maioria clérigos e paladinos da deusa Valkaria, que vigiavam as fronteiras do reino de Deheon. Seu nome era Jackson Sulfin, e decidiu adotar o menino e treiná-lo.

Assim, Orion recebeu de seu mestre os ensinamentos na arte de lutar, a educação religiosa e tudo mais que ele deveria saber para sobreviver. Jackson era como um pai para ele. Entretanto, apesar da dedicação e fé de seu mestre, Orion não compartilhava do mesmo entusiasmo quando o assunto eram os deuses. Onde estavam eles quando sua família foi morta?. Ele se fazia essa pergunta todos os dias de sua vida mesmo orando a Valkaria, às vezes.

Já adulto, Orion teve de assistir a mais uma morte. Seu mestre já não era mais jovem quando o adotara, e morreu de causas naturais aos sessenta e um anos. Orion passou a vagar desde então, trabalhando como mercenário aqui e ali. Sem a mesma fé fervorosa de seu mestre, não desejava fazer parte dos Patrulheiros da Deusa e, agora que estava treinado e sabia lutar, tinha uma missão a cumprir: encontrar o assassino de seus pais e fazer justiça.

Orion queria vingança, e caçaria o seu inimigo até os confins do mundo e além, se fosse necessário. Entretanto, ele não tinha a menor idéia de por onde começar a sua caçada. Uma noite, numa das raras vezes em que orou à sua deusa, Orion pediu ajuda para encontrar o monstro que assassinara sua família, e suas súplicas foram ouvidas.

Naquela noite, Orion teve um estranho sonho. Estava diante da colossal estátua de Valkaria, na capital de mesmo nome, e a estátua conversava com ele. Valkaria lhe dizia para ir para o leste, para o reino de Wynlla. Lá, deveria procurar uma vila à beira-mar, chamada Ab’ Dendriel, onde encontraria um grupo de elfos. Deveria ajudar os elfos e, em troca, receberia deles ajuda para encontrar e derrotar seu inimigo.

Valkaria descreveu os cinco elfos que ele encontraria, para que não se confundisse. Um deles estaria vestido com armadura feita de cota de um metal prateado e traria em suas mãos um arco magnífico. O outro seria um guerreiro, acompanhado de animais, que traria em sua cintura duas espadas das quais nunca se separava. O terceiro teria em seu pescoço um medalhão com o símbolo da deusa dos elfos, um arco. Era um clérigo. O dois últimos estariam vestidos com mantos, sem qualquer tipo de armadura, e seriam capazes de fazer grandes feitiços, e estariam ambos acompanhados de falcões. Um seria um elfo comum, o outro, teria uma aparência mais grotesca e primitiva, com traços bestiais de algum tipo de monstro em seu corpo. O arqueiro atendia pelo nome de Legolas, o espadachim era Nailo e o clérigo se chamava Lucano. Os outros eram Squall, o mais monstruoso, e Anix, o de aparência comum. Os cinco deveriam receber a ajuda de Orion e, quando chegasse o momento, eles o ajudariam a cumprir seu objetivo.

Orion despertou no dia seguinte, assustado e confuso. O sonho era real demais. Sonhou o mesmo sonho outras cinco vezes, antes de decidir ir até Wynlla para ver se o sonho se tornaria real. Então, numa manhã de sol, Orion partiu de Valkaria montado em seu cavalo.

Dias depois, foi apanhado por uma chuva forte. Uma tempestade. A água penetrava em sua armadura, tornando-a mais pesada e congelando seu corpo. Era noite e Orion viu uma cabana no meio da estrada que parecia não estar lá até o momento em que decidira procurar por um abrigo. E não estava.

O guerreiro foi até o casebre e pediu abrigo. Foi atendido por uma velha senhora envolta em mantos brancos. A mulher o acolheu sorridente.

Na manhã seguinte, a mulher pediu para conversar com Orion, pouco antes de ele partir.

_ Meu jovem! Você tem uma grande missão a cumprir! Seu caminho será longo e árduo! Leve isto com você! Este amuleto lhe trará proteção!

Orion estranhou a atitude da mulher, mas não se importou. Aceitou o presente, um pingente de um tipo de cristal translúcido, e agradeceu. Partiu. Quando estava a alguns metros de distância da cabana da senhora, decidiu que tinha de agradecê-la corretamente. Tinha se hospedado em sua casa, comido e bebido, e ainda ganhara um presente, era mais do que justo ao menos pagar pela sua estadia. Orion virou o cavalo para trás, mas, para sua surpresa, a cabana não estava mais lá. Não havia sequer um sinal de sua existência.

O guerreiro prosseguiu em sua jornada, ainda mais decidido a entender o que começava a acontecer em sua vida. Estava ao mesmo tempo confuso e assustado, mas não tinha medo, e, como todo filho de Valkaria, desejava seguir adiante e agarrar o misterioso futuro que se descortinava com as mãos.

Assim Orion chegou a Ab’ Dendriel. Andou pelas ruas da cidade, mas não encontrou sinal do que procurava. Foi então até a praia, onde moravam os pescadores, e encontrou a pequena vila em total caos. Pessoas corriam desesperadas de um lado para o outro, arrastando barcos para fora da água, recolhendo redes, guardando animais, reunindo crianças, fechando-se em suas casas e armando-se como podiam.

Orion observou o tumulto por alguns instantes antes de descer do cavalo e decidir conversar e tentar entender o que acontecia por ali. Foi então que surgiram, por trás das árvores que escondiam a trilha que levava para o centro da cidade, cinco pessoas. Corriam apressados, vindo na direção da aldeia dos pescadores, parecia que iam atacar. Orion continuou andando na direção das pessoas, para alertá-las, e se preparou para combater os inimigos que agora corriam em sua direção.

Sacaram armas. O primeiro desembainhou duas espadas que levava na cintura, uma longa que brilhava como relâmpagos, e outra menor e comum. O segundo estirou a corda de um arco exótico que tinha o formato de duas cabeças de dragão cuspindo gelo, e posicionou duas flechas para atacar. O arco emitia um brilho frígido. O seguinte trazia em seu peito um medalhão dourado, que brilhava, refletindo a luz do arco. Entalhado na peça havia o desenho de um arco élfico. Por fim, dois outros vinham mais atrás do grupo, ambos vestidos por mantos e acompanhados por falcões.

Eram eles, pensou Orion. Então era verdade, aquilo que lhe fora revelado em sonho se tornava real. Ainda hesitando, espantado com tudo aquilo, Orion chamou os dois que vinham à frente pelos nomes, e eles responderam. Eram Nailo e Legolas, tal qual a deusa Valkaria havia lhe descrito.

· · · · · ·

Orion, o humano de armadura, contou aos heróis sua história, deixando todos confusos e desconfiados. Legolas não aceitava confiar no humano, nem tê-lo no grupo do qual fazia parte. A traição de Zulil havia endurecido seu coração e deixado-o mais cauteloso. Anix conversava com os pescadores tentando descobrir o que acontecia na vila, enquanto os demais discutiam para decidir o que fazer com o estranho. Coube a Nailo encerrar a discussão, para surpresa de todos.

_ Não adianta nada ficarmos aqui discutindo! Sabem os deuses porque, ele é um escolhido do destino, assim como nós, conforme Allihanna me contou! E se quer nos ajudar, será bem vindo em nosso grupo! – disse o ranger.

_ Está bem! Mas ficarei de olho nele! – era Legolas.

Estava decidido, Orion faria parte do grupo, ao menos por enquanto, já que o perigo se aproximava.

_ Pessoal! Está vindo uma tempestade ai! E os pescadores me disseram que os ogros costumam aproveitar as tempestades para vir atacar a vila! Temos que nos preparar para o combate! – anunciou Anix. E os moradores se esconderam em suas casas, os animais foram escondidos atrás das casas e os heróis prepararam suas armas e suas magias para a tormenta que se aproximava.

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