Capítulo 280 – A dama de pedra
Orion rugiu e correu, sob os socos pesados e úmidos da tempestade, sua espada era névoa e chamas. O ogro rugiu em revide, agarrou um pedaço de árvore que estava próximo e correu em direção à porta da redoma do farol. Puxava sua roupa nojenta de volta ao corpo, ocultando o membro gigantesco que pendia entre as pernas. Os dois se encontraram e se chocaram, apenas os batentes da porta os separavam um do outro. A clava desceu sobre o peito do humano com força duas vezes, quase o atirando por cima do muro de proteção. A espada de chamas rasgou e queimou o peito da criatura, espalhando seu sangue asqueroso pelo chão e enchendo o lugar com o cheiro nauseabundo de carne de ogro queimada.
Anix veio em seguida, pelo alçapão, reconheceu de imediato a elfa amarrada e correu para ajudá-la. Com um soco quebrou um dos vidros, deixando que a chuva penetrasse na câmara do farol e a elfa saísse. Puxou Deedlit para fora, por cima da mureta, enquanto a luz mágica do farol ardia no centro da torre, piscante, ocultada por um disco que girava magicamente em ritmo constante.
Lucano entoou palavras sagradas enquanto subia os degraus de metal, e o poder de Glórienn se manifestou na forma de uma espada de pura luz. Um raio brilhante partiu da espada, passando rente ao corpo imenso do monstro que esquivou para o lado enquanto preparava um novo golpe contra Orion.
O último a surgir do alçapão foi Squall, em sua mão, a varinha mágica que pertencera a Zulil. Arëmikeali, gritou o elfo apontando o bastão para o ogro. Um raio negro atingiu o monstro a partir da varinha e todos puderam ver seus músculos diminuindo e o enorme porrete de madeira pesando em suas mão. Enfraqueça, era o que significava aquela palavra élfica, e fraco o ogro ficara.
O monstro partiu com seu corpanzil para cima de Orion Stifler, tentando jogá-lo para fora da torre. O guerreiro tentou impedi-lo com a espada, mas a criatura avançou, apesar de ferida. Os corpos se chocaram sob a chuva, e o bravo guerreiro resistiu o mais que pode à força do monstro. Empurrou-o de volta e desferiu dos golpes rápidos, rasgando ainda mais a criatura.
Deedlit, desamordaçada por Anix após muito protesto, evocou seus poderes arcanos e disparou de sua mão dois projéteis de pura energia.O ogro foi atingido e cambaleou, depois a espada espiritual de Lucano o atingiu no tórax, e novamente ele cambaleou. Lucano então segurou Dililiümi firmemente e atacou. A espada se inflamou e um corte flamejante se abriu na carne verde-escura. O monstro ameaçou tombar uma vez mais. Squall sacou sua espada e correu, furioso, entoando palavras arcanas. Sua espada brilhou, tomada por uma energia rubra, e num salto, Squall abriu o corpo do monstro desde a virilha até o ombro. E o monstro tombou.
_ Squall! – gritou Deedlit.
_ Deedlit! – respondeu o feiticeiro, emocionado.
_ O que você fez no cabelo? E essa sua aparência? Você está horrível! Por que não corta essas unhas? E esses seus dentes? Andou mandando afiá-los? Afinal o que aconteceu com você durante todo esse tempo? Por onde você e seu irmão andaram? – não houve recepção calorosa, não desta vez, apenas gritos e o calor da batalha que ainda não tinha se apagado.
_ Bem isso é uma longa história! Depois eu explico pra você! Agora vamos embora daqui! O mais importante de tudo é que você está bem, meu amor! – Squall tentava ainda quebrar a tensão que tomava conta do grupo. Esperava que, assim como acontecera a Legolas, sua amada saltasse em seus braços e lhe beijasse profundamente.
_ Que ir embora, o que! Não podemos! Temos que pegar a bruxa! É ela que está por trás de todos esses monstros! Está atacando a vila pra descobrir onde está o amuleto dos planos! Temos que ir atrás dela e impedi-la! – e novamente nada de beijo, só mais palavras duras, embora necessárias.
_ Amuleto? Que amuleto é esse? – perguntou Anix. Orion pensou no seu próprio amuleto e certificou-se de que ele estava seguro sob sua armadura. Squall só queria um beijo.
E, novamente não houve beijo. Não houve tempo. Quatro estátuas que ficavam sobre a mureta da torre, até então desprezadas pelos heróis em sua pressa e necessidade, ergueram-se abrindo asas membranosas e exibindo garras afiadas em seus membros. Pele pedregosa, chifres pontudos, dentes afiados, olhos vermelhos. Gárgulas.
Orion investiu contra uma das criaturas enquanto ela ainda alçava vôo para atacá-los. Sua espada de fogo rasgou a pele cinzenta do monstro, que por pouco não morreu. Deedlit, Squall e Anix dispararam quase simultaneamente seus mísseis mágicos, causando grande quantidade de dano noutro dos monstros. Lucano, a espada espiritual e Dililiümi combatiam ferozmente uma terceira criatura, rasgando-a, queimando-a, perfurando-a. Então, os gárgulas revidaram.
Suas garras rasgaram a carne de Lucano. O monstro ainda tentou erguê-lo do chão para atirá-lo fora da torre. Orion correu para ajudá-lo, logo após escapar de ataque semelhante e destruir o monstro contra o qual lutava. A bastada partiu as duas criaturas ao meio com sua lâmina flamejante. Os corpos dos monstros transformaram-se em pedra e se despedaçaram no chão molhado.
Anix quase foi atingido enquanto tentava proteger Deedlit dos ataques do terceiro monstro. Squall corria para ajudá-lo quando viu a quarta criatura voando velozmente na direção do irmão. Atacou com a espada, arrebentando a vidraça da redoma, mas não conseguiu impedir o inimigo. O gárgula saltou sobre as costas de Deedlit, sem que Anix pudesse fazer qualquer coisa, arranhou e menina, fazendo brotar o sangue farto sobre a pele branca da elfa.
Atacaram com magia. Os projéteis de energia explodiram nos corpos dos monstros que os cercavam, arrancando pedaços de seus corpos cinzentos. Lucano ajudava à distância com a arma espiritual, e Orion já corria para auxiliá-los com sua arma.
Um dos monstros tombou, feito de pedra, e se estilhaçou no solo. O outro, embora muito ferido, continuou atacando. Arranhou, chifrou e por fim mordeu o pescoço da jovem Deedlit, contaminando-a com sua baba pegajosa e pútrida. Orion arremessou sua espada num ato de desespero, mas ela veio a se fincar nas costas de Anix. Mesmo ferido, o mago lutava para puxar Deedlit par longe do monstro, mas, talvez pelo ferimento, ou pelo frio da chuva que caia, a jovem parecia pesar uma tonelada e não se movia. As garras do monstro atacaram mais uma vez, rasgando as costas feridas de Anix e o restante das armas do monstro já se projetavam sobre o corpo indefeso de Deedlit.
Então a fúria despertou.
Vendo seu irmão e, principalmente, sua amada indefesos nas garras do monstro, Squall explodiu em cólera, saltando sobre a criatura quase num vôo. Suas mãos abertas eram garras que avançavam na direção do inimigo (a espada fora esquecida no chão). Seus olhos eram brasas vermelhas que contrastavam com o céu enegrecido. Seus dentes eram punhais afiados e seu rugido era o de um dragão. Squall era um dragão. Num urro de dor, ódio e amor, o feiticeiro lançou um jato de chamas sobre o gárgula, queimando cada centímetro de seu corpo que voltou a ser pedra e depois, incinerado pelo calor de Squall, pó. O monstro desapareceu, no eu lugar apenas poeira cinza e vapor de água. Squall pousou no chão como um deus. Voltou seus olhos para sua amada, era o momento do tão esperado beijo. Mas, novamente não houve beijo, nem abraço, nem lágrimas, nem bravata ou palavras duras. Deedlit, a bela e jovem elfa, era agora uma sólida e angustiada estátua de pedra.
Lá embaixo, fora da torre do farol, Silfo e seu grupo ouviam, estarrecidos os urros de Squall que rivalizavam com o retumbar dos trovões. Diante deles, impassível, um enorme navio permanecia ancorado atrás da ilhota que abrigava o farol.
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