março 26, 2007

Campanha A - Capítulo 262 – Mensagem dos deuses

Capítulo 262 Mensagem dos deuses

Nailo baixou sua cabeça novamente, seus olhos vertiam lágrimas aos cântaros, e ele não disse uma palavra sequer. Seus companheiros se apressavam para salvar Kawaguchi, e para se certificar de que o gigante estava realmente morto. Para ele, nada mais importava. Então, ele sentiu um roçar em sua perna, algo macio como os pêlos de seu amigo Relâmpago. Sentiu até mesmo o hálito quente de seu companheiro em sua perna, e até mesmo ouviu um latido. Imaginação, deve ter pensado ele, mas quando seus olhos se votaram para trás, Nailo viu Relâmpago em pé, diante dele, abanando seu rabo e latindo alegremente. Nailo olhou em seus olhos, e notou um brilho estranho neles. E o brilho aumentou e o ofuscou, até que ele não pode enxergar mais nada. Quem observava de longe, viu apenas uma luz alva muito forte envolvendo o corpo do sargento. Quando a luz se foi, Nailo não estava mais lá.

Ora, quando a visão de Nailo retornou, ele se viu em um lugar estranho. Era uma imensidão branca que o cercava por todos os lados, sem limites. Ele não sabia distinguir o que era chão e o que era céu, muito menos podia ver qual era a extensão de tudo aquilo. Estava sozinho naquele lugar esquisito, mas não se sentia mal, pois uma sensação de paz o invadia e o dominava por completo. Suas lágrimas secaram, e ele pode ver ao longe que alguém se aproximava.

Era uma figura bela, com corpo feminino, que vestia um longo vestido branco de seda. Sua cabeça, entretanto, não era de gente, mas sim um de cervo, com longos e belos chifres, e olhos profundos e penetrantes. Era Allihanna.

_ Olá Nailo! Nos encontramos novamente! Venho para lhe trazer um presente! Você provou mais uma vez ser amigo das criaturas que eu fiz, provou ter amor pelos meus animais queridos, e pelas plantas que eu tanto amo! Defendeu a vida de Relâmpago, mesmo arriscando a sua própria, e quase morreu por isso! Estou orgulhosa de você, e por isso lhe darei um presente! A partir deste dia, você será reconhecido como amigo dos animais, e como tal, será ouvido e compreendido por todos eles, e também será capaz de ouvir e compreender suas vozes! – disse a deusa calmamente. – Tudo que aconteceu foi apenas um teste! Relâmpago está em segurança! Eu assumi o lugar dele para testar o seu amor por seu amigo, e você passou no teste com louvor! Por isso lhe concederei este dom especial! – Allihanna deu uma pausa, e o coração de Nailo se encheu de alegria e esperança, ao saber que seu amigo estava bem. Então, Allihanna tornou-se séria e sombria, e ela continuou seu discurso. E as palavras que vieram em seguida, deixaram Nailo surpreso e temeroso. – Mas não estou aqui apenas para isso! Na verdade, eu apenas aproveitei a chance para lhe transmitir uma mensagem, conforme eu havia prometido à sua mãe, Glórien! Você e seus amigos, os cinco filhos de Glórien, escolhidos pelo destino tem um grande provação para enfrentar! No passado, vocês salvaram minha criança, Enola, por isso eu prometi a Glórien que lhes daria uma recompensa! A maçã mágica, que trouxe seu amigo Sam de volta à vida, foi uma parte da recompensa! A outra parte, foram as visões que vocês tiveram, e que permitiram-nos ver o futuro e se prevenir para ele! Bem, aquelas visões eram previsões do futuro feitas por Thyatis, o deus da profecia! Thyatis revelou o futuro que estava por vir, e para recompensá-los, eu os avisei desse futuro! Mas, as profecias de Thyatis não eram apenas aquelas que eu lhes revelei, pois o destino de vocês ainda lhes reserva grandes desafios! Por isso eu vim aqui hoje, para lhe avisar sobre o futuro, para que você avise aos seus amigos! Vocês passarão por grande provação, mas, não devem nunca perder sua fé e sua esperança! Confiem sempre uns nos outros, confiem sempre em si mesmos, e confiem sempre nos deuses! Tenham sempre fé e, se saírem vitoriosos, sua recompensa será grande! Cuide de seus irmãos elfos, e mantenham-se unidos, sempre, esse é o desejo de Glórien! Agora, é o momento de você retornar! Adeus, Nailo! – então Allihanna beijou suavemente a testa de Nailo e desfez-se em pleno ar, como bolhas de sabão flutuando ao redor do ranger. Nailo sentiu seus ferimentos sendo totalmente curados, e abriu rapidamente um frasco vazio, no qual guardava sua poção de cura, e depois fechou-o, armazenando em seu interior o ar daquele lugar sagrado. Então, o branco que o cercava tomou conta de seus olhos de forma ofuscante. Nailo perdeu a visão por um instante, e quando voltou a ver, estava novamente na floresta. Aos seus pés, estava uma cratera, cheia de sangue e pedaços da carne do Ettin. Ao seu lado, estava Relâmpago, são e salvo, sem nenhum ferimento ou lembrança do que tinha ocorrido. A metros dali, Kawaguchi, já recuperado, ameaçava um homem desconhecido e nu, com sua espada, mas, ao ver seu sargento de volta, guardou a arma, pedindo desculpas ao estranho homem.

Nilo ficou sabendo então o que acontecera. Após sua queda, o ettin foi tomado por um brilho sobrenatural, e seu corpo reduziu até se transformar naquele homem que eles viam agora. Aquela era a real aparência de Kyrnynn. O clérigo estava vivo, e de volta ao seu corpo verdadeiro. Mas, nem ele, nem os heróis compreendiam o que havia acontecido, então, coube a Restik explicar.

_ Agora eu me lembro de você, jovem! Quando chegou aqui, dois anos atrás, junto com seus amigos, de todos, você era o mais violento, o que tinha o maior desejo de massacrar Stondylus e quem quer que se colocasse em seu caminho! Com a desculpa de estar a serviço da justiça, você se tornou cruel e sanguinário, provocou muitas mortes, fez muitas criaturas sofrerem! Ao invés de apenas promover a justiça, você torturou, mutilou e provocou dores maiores do que as causadas pelos atos daqueles que você puniu! Em sua jornada, você se afastou do caminho de Khalmyr, e se aproximou do caminho de Keen, tornando-se mais um guerreiro do que um clérigo! Ao invés de promover a justiça e o bem, você espalhou vingança pelo mundo! Por isso Khalmyr o puniu, negando-lhe os poderes, e mostrando-lhe a sua porção maléfica! Assim, surgiu a segunda cabeça, Estrume, como você o chamava, ele nada mais era do que uma parte de você, que nem mesmo você sabia que possuía! Mas, depois que você finalmente tomou uma atitude, e renunciou à sua vida de chacinas, arrependendo-se de seus pecados, e até mesmo ofereceu sua vida para acabar com as mortes, Khalmyr reconheceu o seu arrependimento e o perdoou! Por isso você retornou ao que era! E, a partir de agora, sua missão será compensar o mundo pelos males que você fez, enquanto acreditava praticar o bem!

Restik falava calmamente e todos o ouviam com atenção. Quando terminou, Kyrnynn pediu perdão pelos atos cometidos por ele e Estrume, e agradeceu a todos por terem-no ajudado a reencontrar o seu caminho. Com tudo resolvido, os aldeões, o clérigo e os soldados retornaram para a vila de Forte Novo e foram descansar.

Na manhã seguinte, o 3º dia de Pace, o último mês do ano, Kyrnynn conduziu os heróis até o Forte Velho. Lá, mostrou-lhes o resultado da batalha contra Stondylus, toda a estrutura estava arruinada, além de existirem três túmulos, dos amigos do clérigo mortos no combate. Kyrnynn lhes presenteou com os itens que restavam no seu antigo esconderijo, e que pertenciam a seus amigos falecidos. “Eles iam querer que fosse assim!”, disse ele. Assim, Nailo recebeu de presente uma bela aljava mágica, com espaço para guardar grande quantidade de flechas e outras armas. Atilat ganhou um novo e belo par de botas, para combinar com suas roupas e ajudá-la a dse mover furtivamente, já que suas botas mágicas eram extremamente silenciosas. Kawaguchi recebeu uma poção mágica, que o tornaria um combatente mais poderoso e habilidoso. A Akira foi dado um amuleto mágico, que lhe concederia o poder de endurecer sua pele e resistir melhor aos ataques de seus inimigos. Lord recebeu uma espada mágica e a exibiu com orgulho aos amigos. Quanto ao pequeno Hydor, a ele foi dada uma lança mágica, muito grande para que ele pudesse manejar. Mesmo assim, ele se apegou à arma, dizendo que a levaria de presente para Kuran Namino, que aguardava no forte Rodick.

Retornaram para a vila. Malwick agrediu Kyrnynn com um soco no rosto ao saber de toda a sua história. Só depois Atilat revelou aos soldados que o pai de Malwick tinha sido morto por Estrume dias antes. Kyrnynn compreendeu a dor do rapaz, e não fez nada para impedir a agressão. Restik, que presenciara tudo, tinha certeza de que o clérigo tinha voltado para o lado do bem. Então, os soldados de Nailo se prepararam para retornar para forte Rodick, onde seus amigos os aguardavam. Kyrnynn foi convidado a se juntar a eles por Nailo, para ser aconselhado por Glorin e os outros capitães do forte, que poderiam, pensava ele, lhe mostrar o que deveria fazer para se redimir de seus pecados. Forte Novo retornava finalmente ao normal, graças à atuação de Nailo e seus seguidores, e eles podiam finalmente retornar para casa. Entretanto, uma sombra ainda pairava sobre o coração de Nailo, pois as palavras de Allihanna não lhe saíam da mente. A mensagem dos deuses o perturbava, e ele desejava estar com seus amigos o quanto antes, para lhes contar sobre aqueles estranhos acontecimentos. E, embora a dúvida rondasse sua mente, ele tinha confiança de que os dias que viriam seriam bons, e estava feliz por ter seu amigo Relâmpago ao seu lado, e por agora possuir um novo dom. Assim, Nailo sorriu, sussurrou um comando no ouvido de seu cavalo, e convocou seus soldados e Kyrnynn para partirem. E muito longe dali, uma elfa de cabelos púrpuros também sorria, ao saber que sua mensagem havia sido entregue a um de seus filhos. O dia prometido estava se aproximando, cada vez mais.

março 22, 2007

Campanha A - Capítulo 261 – Ettin em fúria

Capítulo 261 Ettin em fúria

O gigantesco monstro rugiu, e seu rugido era como o de um leão e calava todos os sons da mata. Kawaguchi tentou fazer Restik e seus companheiros ficarem quietos, mas, já era tarde, Estrume avançava sobre os soldados, girando sua clava assustadora sobre suas cabeças. Kyrnynn, desesperado, tentava em vão impedir o lado mal de seu corpo de derramar mais sangue.

O tronco de madeira ainda verde girou num longo arco ascendente, que arrancou o corpo de Relâmpago do chão com violência e por pouco não o arremessou longe. Nailo sacou suas espadas e acionou o poder mágico da mais longa e suas faíscas clarearam as copas das árvores próximas como uma tocha. Postou-se entre o monstro e Relâmpago, que tinha seu maxilar quebrado, do qual despencava um rio de sangue.

Atilat encantou a espada de Kawaguchi com sua magia, e, em meio ao perigo, um clima romântico começou a se formar entre os dois. Porém, o samurai não quis atacar de início, tentou dialogar com Estrume, e convencê-lo a desistir da luta. Mas suas palavras foram inúteis pois o lado mal do gigante desejava apenas matar mais e mais, e, para desespero total de Kyrnynn, começou a preparar um novo ataque.

Relâmpago fugiu, desaparecendo entre a folhagem rasteira, enquanto Nailo encarava sem temor o imenso monstro. O sargento o media, procurando seus pontos fracos para atacar com maior eficiência, sua vivência nas florestas, bem como seus estudos sobre o meio selvagem, lhe davam vantagens extras sobre aquele tipo de fera, fazendo dele um inimigo perigoso para o ettin. Ao mesmo tempo, Akira e Hydor voavam sobre o monstro e o bombardeavam com magias, tentando tirá-lo do combate. Porém, o monstro parecia ignorar os efeitos mágicos dos dois, e continuava a urrar e a girar sua clava.

Então o pequeno Lord arremessou uma adaga, que se cravou na coxa do monstro, deixando-o realmente enfurecido. O grito que veio a seguir fez as árvores e o próprio chão tremerem. Os olhos do ettin ficaram avermelhados e seu corpo se avolumou ainda mais. Ele olhou para Nailo, e atacou.

Mas, antes que a clava chegasse ao ranger, Kawaguchi correu na direção do monstro. Suas espadas afiadas brilhavam, e seu olhar era firme como uma montanha. Porém, o gigante percebeu a aproximação do samurai e desviou seu tacape a tempo de golpeá-lo. Kawaguchi foi atingido com grande violência, e seu corpo foi arremessado longe pelo impacto do golpe. Sem se deixar intimidar, o samurai tirou a menor das espadas, fincando-a nas costas do monstro. Logo após isso, ele caiu no chão, desmaiado, mas seu corpo tombou na direção do inimigo, sempre avançando, como era típico dos guerreiros de sua gente.

Depois foi a vez de Nailo sentir o peso da força do inimigo. Dois golpes bastaram para fazê-lo arquear as pernas e perder o fôlego. Seu ombro doía como nunca e ele sentiu que se recebesse outro ataque daqueles, seus dias em Arton estariam acabados.

Então ele atacou com todos as suas forças, na esperança de que o monstro tombasse antes de poder atacar novamente. Quatro vezes o corpo do monstro foi rasgado, e quatro foi o número de vezes que ele urrou, desta vez de dor. A espada de Durgedin causava cortes que eram cauterizados instantaneamente pelo poder elétrico que saía de sua lâmina. Já a espada mais curta fazia cascatas de sangue choverem sobre a relva adormecida.

Enquanto Atilat cuidava de tentar reanimar Kawaguchi, Relâmpago retornou ao campo de batalha, desobedecendo ao comando dado por Nailo, e atacou o gigante com suas presas feridas.

Novamente Nailo se pôs entre o inimigo e seu companheiro animal, mas apesar de sua insistência, Relâmpago se recusava a obedecer e permanecia exposto ao perigo. Ocorre que o gigante atingiu Nailo com força no peito, enquanto ele defendia o amigo com o próprio corpo. O monstro riu, dizendo que iria jantar carne de lobo, e desferiu outro golpe, dessa vez em Relâmpago. O animal foi ao chão, seu ombro esquerdo esmagado pelo peso da clava do ettin, mas, mesmo assim, ele não recuava.

Enquanto isso, Hydor continuava tentando enfeitiçar o monstro, e atirá-lo de volta ao sono, mas todas as suas tentativas fracassavam. A alguns metros dali, Kawaguchi despertava depois de quase morrer, e num ímpeto de amor, beijou os lábios da bela Atilat, em agradecimento.

Lord surgiu de trás de uma moita, atirando uma adaga em Estrume, o que deu tempo para Nailo se jogar por cima de Relâmpago, antes que ele desferisse outro ataque. A clava do monstro se precipitou com força sobre as costas do ranger, que carregava seu amigo ferido para longe dali. Com um outro ataque, o ettin lançou o pequeno Hydor a uma grande distância, deixando o bardo quase sem vida. Atilat correu para ajudá-lo, deixando o apaixonado Kawaguchi para trás e começou a procurar por Hydor no chão.

Nailo fazia Relâmpago tomar uma poção mágica para se curar, enquanto seus companheiros distraiam o monstro. Akira cortou as bochechas da cabeça de estrume, quase ferindo Kyrnynn acidentalmente, depois, desceu do ar e ficou diante do monstro, ameaçando-o com a espada. Lord saltou nas costas do monstro, fincando uma adaga no seu imenso corpo, enquanto Kawaguchi, corria na direção do monstro. O samurai estava preparado para encontrar a morte naquela luta, e já até tinha realizado o desejo de beijar Atilat, por isso não temia a morte, já que não deixaria nada sem resolver para trás. O guerreiro saltou, pisando nas costas de Akira, e subiu tão alto quanto o gigante. Sua katana rasgou a face do monstro, causando-lhe grande dano, e enfurecendo-o ainda mais. Enquanto retornava ao chão, Kawaguchi preparava-se para receber o golpe que lhe tiraria a vida, mas algo aconteceu. No momento em que a sombra da clava cobriu o corpo do samurai, Kyrnyn gritou, “Pare Estrume! Chega de mortes!”, e todos puderam perceber o ex-clérigo se concentrando para impedir o monstro de atacar. Então, Estrume desviou seu ataque, e atacou Akira, que estava sem ferimentos.

O gigante estava severamente ferido, e reconheceu isso, dizendo que pegaria seu jantar e iria embora. Então, ele deu as costas para os combatentes e foi na direção do lobo ferido, dando oportunidade para os soldados atacarem. Os golpes resvalavam na pele da criatura, sem feri-la. Somente a afiada lâmina tamuraniana de Kawaguchi foi capaz de feri-lo e cortar-lhe o tornozelo.

O gigante se aproximou, e Nailo sentiu que poderia acabar com ele se lutasse com todas as forças. Mas, era preciso proteger seu amigo, que, apesar de ferido, continuava tentando lutar para ajudar Nailo. Então, ele carregou seu lobo uma vez mais, com lágrimas nos olhos, prometendo não deixar que ele tivesse o mesmo destino trágico de Smeágol. O sargento fugiu com seu amigo animal, indo para o outro lado do campo de batalha, ficando após os seus soldados, na esperança de que eles pudessem ganhar algum tempo até ele poder voltar ao combate.

Mas, a situação era grave. Kawaguchi e Akira estavam muito feridos, e as adagas de Lord já pareciam não surtir mais efeito no monstro. E a bela Atilat se ocupava de salvar a vida de Hydor, dando-lhe uma poção mágica antes que sua vida se extinguisse.

Akira lançou uma pedra no gigante, e ela explodiu, e um trovão ecoou na mata. Estrume e Kyrnynn ficaram atordoados com o estrondo provocado pela explosão da pedra-trovão do astrólogo. Então, Kawaguchi e Lord aproveitaram o momento e atacaram. O samurai se movia pelo chão na mesma velocidade que a adaga arremessada pelo halfling, até que sua lâmina encontrou o corpo da besta e abriu-o profundamente.

O sangue jorrava aos borbotões, e a dor tirou o monstro de seu estado de torpor. O monstro urrou ferozmente e sua clava encontrou o corpo de Kawaguchi. O samurai voou por muitos metros antes de finalmente despencar pesadamente no chão. Não era possível saber se ele estava vivo ou morto, mas seu estado era gravíssimo. Estrume avançou na direção de Nailo e Relâmpago, ignorando os ataques desferidos em seu imenso corpo. Os mísseis mágicos de Atilat explodiram em seu peito, e Estrume sorriu. A adaga de Lord enterrou-se profundamente no seu joelho gigantesco, e Estrume sorriu. O óleo atirado por Nailo se incendiou ao entrar em contato com a tocha do halfling, as chamas cobriam o corpo do gigante, e ele sorriu novamente. Relâmpago se aproximou, rastejando com dificuldade, Nailo tentava segurá-lo sem conseguir, colocou-se diante do gigante como um alvo imóvel e fácil, mas Estrume preferia comer carne de lobo. Em seu último golpe, a clava de Estrume despencou do céu, como um meteoro, sobre Relâmpago. O chão tremeu, e as árvores chacoalharam e choraram folhas e orvalho, uma enorme cratera surgiu no solo da floresta, cheia de sangue e pedaços de carne, os restos mortais do pobre lobo. E, ao ver os pedaços do animal escorrendo pela ponta de sua arma, Estrume salivou e novamente sorriu. E Kyrnynn entrou em desespero.

_ Nãããããão!!! Chega! Pare com isso Estrume! Pare! Não suporto mais isso! Chega de mortes! Não quero ver mais nenhuma morte pelas minhas mãos! Pare! Amigos, eu não suporto mais, eu lhes peço que me matem, e encerrem de uma vez por todas essa minha vida de assassinatos e de dor! – gritou o clérigo, sua voz era como um trovão em meio à tempestade. Nailo estava imóvel, apenas duas lágrimas escorriam de seus olhos e pingavam sobre as faíscas de sua arma, evaporando logo depois. Atilat, os soldados, Restik e os homens da vila, olhavam, atônitos, a trágica cena.

Então, o ranger ergueu sua cabeça, e seus olhos faíscavam de fúria, tanto quanto a arma forjada pelos anões de Khundrukar, que ele trazia na mão direita. Nailo desferiu um último golpe, silencioso e mortal, descarregando toda a dor que sentia. O estômago do monstro se abriu e se fechou instantaneamente pela ação da eletricidade da arma. Então veio o segundo ataque, com a espada curta, e a barriga do monstro se abriu novamente, e seu sangue e suas tripas se espalharam pelo chão da floresta, misturando-se ao que restava de Relâmpago.

Estrume soltou um último urro e calou-se. Kyrnynn agradeceu em um sussurro, com os olhos inundados, e o corpo do ettin tombou para nunca mais se levantar novamente. A batalha tinha finalmente terminado. Eles haviam vencido, e Kyrnynn estava agora livre de sua maldição. Mas, não havia o que comemorar, pois o bom amigo Relâmpago também perdera sua vida.

Campanha A - Capítulo 260 – Amaldiçoado

Capítulo 260 Amaldiçoado

Todos interromperam a marcha para procurar o inimigo oculto. Kawaguchi circulava o local onde tinham ouvido o barulho para cercar o inimigo. Akira procurava-o do céu, enquanto Nailo disparava flechas a esmo. Mas, não puderam encontrara nada além da própria vegetação que os cercava. Então, suspeitando tratar-se de um inimigo invisível, Akira usou sua mágica para detectar a presença da criatura. Sentiu uma aura mágica e encontrou sua localização exata. Suspeito tratar-se de Atilat, já que a elfa também era conhecedora de magia.

_ Pode sair daí, Atilat! Eu sei que é você quem está aí! – gritou Akira.

Mas, protegida por sua invisibilidade, Atilat decidiu não responder. Ficou imóvel, confiando em sua camuflagem, enquanto Akira se aproximava lentamente, guiando seus companheiros até o alvo. Quando se viu cercada, e percebeu que Akira conhecia sua localização, Atilat se afastou do grupo.

Akira correu na direção da elfa e saltou, atingindo-a com um chute aéreo. Atilat foi arremessada ao chão, sendo imobilizada pelo astrólogo. Todos cercaram rapidamente o tamuraniano e seu alvo invisível. Então, momentos depois, a magia que escondia a moça finalmente terminou e todos puderam vê-la.

Kawaguchi se irritou ao ver Akira tratando-a daquela forma tão rude, e o tirou de cima da bela donzela, oferecendo-lhe ajuda. Atilat, entretanto, recusou o auxílio do samurai e se levantou sozinha. Começou então uma nova discussão entre a mulher e o grupo de soldados, que desejavam se livrar da presença indisciplinada da elfa, à exceção de Kawaguchi e Lord, que não resistiam aos encantos da bela donzela.

Então, o sargento Nailo percebeu que era inútil manter aquele debate por mais tempo, e decidiu seguir adiante, com ou sem Atilat. Mas, quando ele se virou para partir, e voltar a seguir os rastros do ettin, teve uma grande surpresa. O gigante estava parado na floresta, a observá-los, trazendo na mão sua poderosa clava, que mais parecia um tronco de árvore. E de suas duas cabeças, apenas uma os olhava, já que a outra dormia profundamente.

_ Por favor, não se assustem! Não quero lhes fazer mal!I – sussurrou o monstro, erguendo a mão direita de modo amistoso.

_ O que você quer? – perguntou Nailo, confuso, levando as mãos às espadas.

_ Calma, quero apenas conversar! Graças a Khalmyr encontrei vocês aqui! Preciso da sua ajuda! – respondeu o monstro, falando num tom civilizado que contrastava com sua aparência bestial.

_ Então diga o que quer, e por que você tem atacado a vila! – exigiu o sargento.

Então o gigante contou sua história. Seu nome era Kyrnynn, um clérigo de Khalmyr amaldiçoado. Dois anos atrás, quando o perverso mago Stondylus aterrorizava a vila de Forte Novo, Kyrnynn e um grupo de amigos decidiram ajudar os aldeões a se livrarem do mago. Kyrnynn e seu grupo foram até Forte Velho, onde enfrentaram Stondylus e o venceram. Entretanto, durante a dura batalha entre os aventureiros e o mago, Kyrnynn foi transformado em um ettin por Stondylus, e usado pelo mago para atacar seus companheiros. Ao final da luta, stondylus e três amigos de Kyrnynn estavam mortos, sobrara apenas Kyrnynn, metamorfoseado em um monstro, e seu amigo Hartmund. Ao clérigo restou apenas permanecer em Forte Velho e aguardar que seu amigo conseguisse ajuda para devolver-lhe a forma original. Hartmund partiu, prometendo encontrar ajuda, mas nunca retornou.

Kyrnynn permaneceu longo tempo esperando pelo retorno do amigo, até que um dia, um bando de orcs o procurou, propondo-lhe um pacto sinistro: o clérigo-ettin os ajudaria em seus saques e teria uma parte dos espólios roubados. Kyrnynn se enfureceu e matou quase todos os orcs com a nova força que possuía. Enquanto recordava esse fato, seus olhos brilhavam, e sua voz se elevava, como se ele sentisse satisfação em relatar o massacre dos orcs.

Dias depois, surgiram mais orcs, dessa vez acompanhados de ogros, para se vingarem pela humilhação sofrida. Kyrnynn novamente lutou, fazendo os orcs e os ogros pagarem com suas vidas, causando-lhes grande sofrimento, como ele próprio descreveu. E então surgiu Estrume.

Até aquele momento, Kyrnynn era capaz de controlar todo o seu corpo, inclusive sua segunda cabeça, mas, após o incidente dos orcs e ogros, a segunda cabeça de Kyrnynn ganhou vida própria e passou a interferir na vida do clérigo. Sua cabeça esquerda se autodenominava Estrume, e era cruel e implacável como a besta selvagem que sua aparência indicava. A segunda cabeça começou a ficar cada vez mais poderosa, até assumir o controle do corpo totalmente. Enfraquecido, Kyrnynn podia controlar o corpo que habitava apenas durante os momentos em que Estrume dormia. Em suas orações o clérigo amaldiçoado implorava ao deus da justiça que lhe concedesse a graça de voltar a ser como era, mas Khalmyr parecia não ouvi-lo, e Kyrnynn não podia mais usar seus poderes sagrados, sendo obrigado a testemunhar as crueldades de Estrume sem nada poder fazer. Mas, um dia, enquanto orava, Kyrnynn recebeu uma visão, e nela ele viu versos que formavam um enigma para sua salvação. Somente quando compreendesse aquele enigma ele poderia finalmente se livrar de sua maldição. Para não esquecer os versos, Kyrnynn passou a escrevê-los nas paredes de sua habitação em Forte Velho, mas Estrume apagava as anotações do clérigo assim que despertava, pondo tudo a perder. Assim, Kyrnynn passou a visitar Forte Novo durante a noite, para meditar sobre o enigma e orar, e deixou a charada gravada no altar existente na vila. Porém, quando retornava para seu esconderijo no início da manhã, Kyrnynn foi visto por um caçador que o atacou, assustado, despertando Estrume. A metade maléfica do gigante acordou enfurecida, e matou o caçador com crueldade. E desde esse dia Estrume tem voltado à vila todos os dias para saquear e espalhar terror, enquanto Kyrnynn a visitava na calada da noite, para tentar desvendar a charada e se livrar de sua maldição.

O sargento Nailo e os demais começaram a fazer várias perguntas, tentando descobrir alguma pista que os levasse à solução do mistério. Kyrnynn descreveu parte de sua vida de clérigo, de seus dias de implacável defensor da justiça e responsável por punir as criaturas maléficas que habitavam o mundo. Mas, suas palavras poucas pistas traziam, e Atilat e Kawaguchi tentaram chegar a uma conclusão.

_ Por acaso você alguma vez orou pra Keen? Por no enigma diz que vocês prestaram atenção no senhor da guerra, e Keen é o deus da guerra! Talvez você ou o Estrume tenham seguido os ensinamentos de Keen e por isso Khalmyr o puniu! – disse Atilat.

_ Pois pra mim, você é bem mau! A maneira como você fala, dá a impressão que você gosta de matar! Você é mau, por isso foi punido! – disse Kawaguchi, com seu sotaque carregado e seu jeito direto e sincero como uma seta.

_ Não pode ser, eu apenas exerci a justiça! Nunca me voltei contra Khalmyr! E se eu matei, matei criaturas desprezíveis que mereciam morrer! Tudo que eu fiz foi apenas punir os maus! – discordou Kyrnynn, aos sussurros.

_ Bom, não interessa isso agora! Quero que você me leve até o seu esconderijo! Quero procurar pelo livro de magias de Stondylus, pra descobrir como desfazer o feitiço que ele pôs em você! Vamos até lá agora! Mas fique distante de nós alguns metros! E se o Estrume acordar, jogue esse galho no chão, para nos avisar! – concluiu Nailo, encerrando a discussão.

_ Está certo, vamos! – concordou o gigante.

Mas, antes que o grupo pudesse dar os primeiros passos, um grito ecoou pela mata, assustando a todos. Era Restik, procurando por Atilat, acompanhado por dois outros homens de Forte Novo, que estavam armados com lanças e traziam tochas para iluminar o caminho. Então, o que Kyrnynn temia e desejava que não acontecesse aconteceu. Estrume despertou.

março 13, 2007

Campanha A - Capítulo 259 – Visita inesperada

Capítulo 259 Visita inesperada

Já de volta ao vilarejo, Nailo foi chamar Malwick, para lhe explicar a situação. Contou que Atilat o tinha desacatado, e que por isso ela estava presa. Pediu a ele que lhe conseguisse um outro ajudante, mas teria que ser alguém que obedecesse as suas ordens, pois Nailo não se responsabilizaria por alguém indisciplinado, que não seguisse suas instruções, que corresse riscos desnecessários, colocando em perigo a segurança do grupo e a palavra de Nailo. Mesmo sem perceber, o ranger estava vivendo as mesmas dificuldades que o capitão Glorin era obrigado a enfrentar quando liderava Nailo e seus amigos. Da mesma forma que Nailo não obedecia a seu capitão, deixando-o irritado e preocupado, agora era ele a vítima do mau comportamento e da insubordinação de seus seguidores. Infelizmente, porém, Nailo não foi capaz de perceber a semelhança entre o que acontecera no passado e o que acontecia ali, e deixou de aprender uma importante lição, que poderia ajudá-lo a se manter longe de perigos, assim como ele desejava fazer com seus soldados. Nailo ainda não tinha compreendido o verdadeiro significado de trabalho de equipe, embora exigisse isso de seus soldados. E de algum lugar muito longe, inacessível por meios mundanos, uma elfa de cabelos púrpuras e olhar observava aflita e esperançosa, desejando que seu filho fosse capaz de entender a mensagem implícita naquela situação e mudar, para seu próprio bem, para o de seus amigos e para o bem de todos os povos de Arton.

Alheio aos segredos que o destino lhe reservava, Nailo continuou explicando ao condestável tudo o que tinha acontecido. Malwick compreendeu o ponto de vista de Nailo, e se comprometeu a chamar outra pessoa para ajudá-lo. Malwick se afastou e desapareceu entre as casas da vila, enquanto os soldados aguardavam seu retorno. Foi nesse momento que Hydor pediu ao sargento para dar uma volta pelo vilarejo. Acostumado a viver entre a natureza, o pequeno ser alado não suportava mais ficar ali entre tanta gente. Desejava ter um pouco de sossego, isolar-se entre as árvores, num lugar tranqüilo onde poderia tocar seu alaúde alegremente, como fazia sempre quando estava com Kuran, no jardim de Forte Rodick. Além disso, Hydor estava descontente com a atitude tomada pelo sargento, e o considerava por demais autoritário. Secretamente ele escrevia um relatório, para entregar a Kuran, assim que retornassem para o forte.

Mas, Nailo estava irredutível. Negou permissão para a fada se afastar do grupo, ainda que fosse apenas para circundar a casa de Malwick. Os dois acabaram discutindo seriamente, até que Hydor encerrou a contenda dando as costas para Nailo e deixando-o falar sozinho. Hydor se afastou, irritado, e foi para a orla da vila, passando atrás da casa de Restik e do altar de Khalmyr.

Pois foi enquanto ele procurava uma árvore adequada para pousar seu corpo diminuto e esquecer sua raiva, que ele viu um gigantesco e assustador vulto rondando a vila. Hydor se escondeu rapidamente em uma árvore, e ficou a observar. E viu que o vulto na verdade era o gigante que caçavam, o ettin.

O gigante espreitava entre moitas e árvores, como se tentasse não ser visto. Carregava sua gigantesca clava entre as mãos, e uma de suas cabeças parecia dormir serenamente, enquanto a outra comandava o corpanzil e tentava invadir Forte Novo furtivamente.

Hydor pressentiu o perigo, e sabia que era melhor surpreenderem o gigante do que atacá-lo de frente. Assim, ele agarrou um pequeno besouro que caminhava pelo tronco da árvore e pediu ajuda a ele. Hydor usou sua habilidade racial que permitia aos sprites se comunicarem com os animais livremente e pediu que o pequeno inseto levasse uma mensagem na direção onde estavam seus amigos. Pediu ao besouro que soltasse o pequeno papel, no qual escreveu a mensagem, perto das pessoas que ele encontraria, e prometeu recompensar o inseto com comida quando ele cumprisse a tarefa. Com muito custo o sprite conseguiu fazer com que o besouro compreendesse todas as instruções e o inseto voou na direção pedida.

Então, o gigante se aproximou cada vez mais da vila, e para chamar sua atenção, Hydor começou a tocar. Esperava que com sua música pudesse deter o monstro por uns instantes, até seus companheiros chegarem para ajudar. Mas, o som do alaúde pareceu assustar a criatura, que correu velozmente para fora da vila e desapareceu na floresta.

Não distante dali, Nailo recebia a mensagem, ainda que de forma grotesca. O besouro voou direto para o rosto do ranger, que o rebateu com um tapa. O inseto caiu no solo e foi abocanhado por Relâmpago por puro instinto. Nailo afastou o lobo e apiedou-se do inseto, pegando-o do chão para soltá-lo na mata. Então ele viu um pequeno papel enrolado, ao lado do animal e o pegou. “Gigante a noroeste. Rápido!” , era o que trazia a mensagem. Nailo resmungou, aborrecido, pois sabia que agora Hydor poderia estar em perigo, soltou o besouro e explicou o que acontecia aos soldados. Contou que o gigante estava nas proximidades, e que precisavam agira rapidamente, e quando estavam para sair em busca da criatura, lembraram de Atilat.

_ Vamos amarrá-la! – ordenou o sargento. Junto com Akira eles enrolaram firmemente a dama élfica em uma corda, deixando-a quase sem ar. Colocaram-na dentro da casa de Malwick, para trancá-la lá dentro em segurança e fora de seu caminho. A elfa tentava persuadir Akira, enquanto ele a amarrava, mas o senso de hierarquia do descendente de Tamura o impediu de ceder aos pedidos da moça. Lord, entretanto, era contrário a tudo aquilo que era feito à donzela, e protestou. Mas, a decisão de Nailo era irrefutável, e o máximo que o halfling conseguiu foi que o sargento deixasse uma vela acesa dentro da casa, para que a dama não ficasse totalmente no escuro. Atilat foi deixada no chão, como inimigo de guerra capturado, seu corpo totalmente amarrado em uma grossa corda que devorava sua pele delicada com o atrito, sem ninguém para ampará-la.

O grupo partiu em busca do gigante, e quando chegaram ao limite da vila encontraram Hydor. O bardo explicou o que acontecera, e recebeu nova bronca do sargento pelo seu comportamento. Mas, como se mostrava decidido, Nailo decidiu usar nova estratégia para manter seu grupo sob controle. Levou os soldados de volta à vila, e fez todos assinarem uma carta, redigida por ele à mão, que isentava o sargento de qualquer responsabilidade pelos atos dos soldados sob seu comando. Para Nailo, eles agora eram quase como desertores.

Nesse instante, o besouro pousou próximo a Hydor, para reclamar seu pagamento. Hydor, deu-lhe uma porção de sua ração de viagem, que foi prontamente rejeitada pelo inseto. Revoltado, o animal mordeu o braço do sprite e partiu, desaparecendo na mata.

Então, em meio a toda gritaria e discussão feita pelos soldados, a porta da casa de Restik se abriu, e ele surgiu, segurando um lampião, para conversar com os homens do exército.

Restik interrogou Nailo sobre a prisão de Atilat, pois ela agora estava em sua casa, após cortar as cordas com uma faca e fugir da casa de Malwick. O sargento explicou o ocorrido, esperando compreensão, mas o sacerdote se revoltou. Nailo tentava se justificar, dizendo que sua autoridade tinha sido desacatada e por isso Atilat deveria ser presa. Mas, Restik discordava, dizendo que nailo tinha abusado de sua autoridade por uma coisa tão simples, e com isso tinha cometido grande violência contra a jovem elfa. Restik mostrou a todos o estado de Atilat, com seu corpo todo rasgado e arranhado pela corda, e os grilhões pesados e enferrujados envolvendo seus delicados braços.

_ Concordo com você que Atilat pode ter se excedido em suas palavras e desrespeitado você! Mas o que você fez é um ato insano, promoveu toda essa brutalidade contra esta jovem, e tão somente por causa de algo que se resolveria com um pedido de desculpas! O que Atilat fez não é nenhum crime, e ainda que fosse, não seria algo para se punir de forma tão brutal! Você tenta justificar seus atos através de sua autoridade militar, mas eu uso de minha autoridade com representante de Khalmyr, o deus da justiça de da ordem, para pedir que essa insanidade termine e que esses grilhões sejam removidos de Atilat! Afinal, vocês vieram aqui para nos ajudar, não para nos agredir! – a voz de Restik era firme e decidida, e seu discurso inflamou os corações dos soldados, e eles perceberam o erro que havia sido cometido. Nailo, entretanto, ainda não se dava por vencido. Akira, que se mantinha totalmente fiel ao sargento, irritou-se e ofendeu seriamente Restik, mandando-o se calar e ameaçando-o.

_ Agora compreendo que tipo de pessoas vocês são! – disse Restik, após as ofensas. Akira se retirou, bufando como um touro e ficou observando de longe.

Foi então que chegaram Malwick e John, que presenciaram tudo o que acontecia. E os dois concordaram com a posição de Restik e pressionaram Nailo de tal forma, que ele não teve outra opção, senão libertar Atilat.

_ Está bem, vou soltá-la! Mas vocês terão que me prometer que vão mantê-la aqui, pois não quero mais a presença dela atrapalhando minha missão! E a pessoa que for me acompanhar, deverá seguir todas as minhas ordens, vocês devem me prometer isso, ou não levarei ninguém comigo! – disse Nailo, contrariado.

_ Não podemos prometer nada disso! Não somos bárbaros como vocês para amarrar uma moça delicada como Atilat da maneira como fizeram! Se o John prometer obedecer você, será responsabilidade dele somente! Não posso garantir que ele cumpra suas ordens, pois ele não é meu escravo, e nem seu! – respondeu Malwick.

_ Então iremos somente meus soldados e eu! Não preciso da ajuda de ninguém da vila! – bradou o ranger, orgulhoso.

_ Melhor assim, pois desse modo estarei com todos os meus homens na vila, caso aquele gigante resolva voltar aqui à noite, enquanto vocês estão por ai procurando por ele! – rebateu o meio-elfo.

_ Pois saiba que ele já está rondando a vila! Um de meus soldados o viu ainda há pouco! – completou o sargento.

_ Bem, então reunirei meus homens e ficaremos em alerta! Vamos John! – e dizendo essas palavras, Malwick partiu apressado.

Nailo e seus soldados também partiram e foram seguindo os rastros do gigante, que iam para além dos limites de Forte Novo. Antes de sair, Akira pediu desculpas a Restik, e o clérigo demonstrou não ter ressentimentos pelo ocorrido. Enquanto os soldados partiam, na vila, Atilat se despedia de Restik, dizendo que iria para casa dormir.

_ Você está mentindo, Atilat! Eu sei muito bem que você pretende seguir os soldados na caça ao gigante! Mas eu lhe peço, não faça isso, fique aqui! – disse o sacerdote à elfa.

_ Está bem, não consegui enganá-lo mesmo! Já que é assim, ficarei em sua casa, para provar que não irei a lugar nenhum! – disse Atilat, sorrindo.

_ Ótimo! Assim, ficarei mais tranqüilo! Você dormirá na minha cama esta noite, e eu ficarei na poltrona da sala de estar, está bem? – propôs o homem.

_ Sim, está bem! – sorriu a elfa. E ambos entraram na casa. Atilat entrou no quarto, preparou a cama e fechou a porta para se trocar. E saltou a janela e fugiu, indo na direção de Nailo e dos outros.

Atilat corria, enquanto Nailo era forçado a avançar lentamente, seguindo os rastros deixados pelo gigante. Em pouco tempo a moça viu a luz da tocha carregada por Lord e sentiu que era o momento de se esconder, para não ser descoberta. Então, ela usou seus poderes mágicos e passou a segui-los totalmente invisível. Mas, enquanto analisava os rastros no chão, Nailo ouviu os passos de Atilat, e sabia que estavam sendo seguidos. Ordenou então a seus homens que procurassem por ela, e a caçada ao ettin foi novamente interrompida.

março 12, 2007

Campanha A - Capítulo 258 – Divergências

Capítulo 258 Divergências

Com os ogros mortos, Nailo correu até Relâmpago, e deu-lhe uma poção mágica. O animal recebeu o líquido mágico e o engoliu a contra gosto. Segundos depois, já voltava a caminhar e a se mover normalmente, e, aparentemente, já não sentia mais dor alguma. Abaixado, enquanto cuidava de seu amigo, Nailo notou algo estranho a metros dali. Havia um vulto, oculto atrás da folhagem da mata, sobre uma árvore, que observava o grupo. Era um orc.

Sem dizer nada aos companheiros, Nailo ordenou que todos se calassem, e que permanecessem parados em seus lugares. Mas, como não bastava apenas dar ordens, mas sim explicar o que acontecia, o ranger se viu forçado a contar sobre a presença do orc. Ainda assim, ordenou que todos esperassem, sem lhes revelar o seu plano ou alertá-los da real gravidade da situação. Avançou alguns metros, e viu que o orc parecia conversar com alguém, devia haver mais deles espalhados pelo lugar. Então, moitas se mexeram à frente do grupo, e um bando de cinco orcs surgiu de trás delas, todos armados com arcos e espadas embainhadas.

_ Sem armas! Não lutar! Conversar! – disse um dos monstros, estendendo a mão para o grupo como se pedisse para pararem. Falava em valkar com um sotaque carregado que demonstrava dificuldade no domínio da língua dos humanos. Sua voz era rouca e gutural, como se falasse com a garganta cheia de sujeira.

_ Todos calmos! Ninguém ataque! – ordenou o sargento aos soldados – O que vocês querem? – perguntou depois aos orcs.

_ Vocês invadir território nosso! O que querer nós? – disse o orc.

_ Não queremos nada com vocês! Estamos procurando um gigante! Deixem-nos passar e não lhes faremos mal! Mas, se nos impedirem, nós lutaremos! – respondeu o ranger.

_ Você amigo gigante? – perguntou o chefe orc.

_ Talvez! – respondeu Nailo, sem hesitar. Os orcs sacaram suas espadas e arcos, e prostraram-se em formação de combate.

_ Nós inimigo gigante! Você amigo! Você inimigo nós! – gritou o líder dos monstros, enquanto desembainhava sua arma.

_ Calma, sem armas! Nós também não somos amigos do gigante! Nós viemos procurar ele por que ele está atacando uma vila! E se ele não parar de atacar a vila nós o mataremos! Olhe lá atrás, já matamos três gigantes! Não somos amigos de gigantes! E somos poderosos, como você pode ver! Acho melhor não lutarmos! – Nailo falava e gesticulava, tentando acalmar os orcs e seus próprios soldados, que já se aproximavam dele sacando suas armas para o combate.

_ Para trás! Guardem suas armas! Fiquem todos atrás de mim, isso é uma ordem! – gritou Nailo para seus soldados, tentando evitar uma batalha desnecessária.

O clima era tenso, e qualquer gesto mal pensado provocaria um derramamento de sangue. Ora, Nailo sabia por sua experiência que aqueles cinco orcs não seriam páreo para ele e seus soldados. Ele já tinha enfrentado aquele tipo de criatura diversas vezes, e sabia como elas lutavam, e que suas habilidades não se comparavam à sua. Mas, mesmo assim, Nailo temia. Temia pelos seus soldados, muito mais fracos que ele e inexperientes. Temia pela presença de Atilat no grupo, pois sabia que, sendo uma mulher, a jovem seria o alvo principal dos monstros. E temia porque sabia que orcs não costumavam negociar, e que eles não se arriscariam daquela forma se não tivessem um trunfo, algo como uma horda de soldados orcs escondida no meio da floresta pronta para atacar. Assim, o ranger tentava evitar a luta a todo custo, para não arriscar as vidas de seus soldados, e também para não ter que matar criaturas que possivelmente poderiam fornecer informações sobre o ettin que eles caçavam.

Mas, de ambos os lados os combatentes hesitavam em baixar as armas, temendo serem atacados à traição pelo grupo rival. Alheia a toda aquela pressão e agressividade masculina, Atilat pensou em uma solução para resolver o conflito sem maiores problemas. Com sua adaga, a elfa arrancou a cabeça de um dos ogros abatidos e arrastou-a até a linha de frente de seu grupo. Temendo uma reação agressiva por parte dos orcs, Nailo tentou impedi-la, mas Atilat ignorou as ordens do sargento e seguiu em frente, só parando quando estava na metade da distância que separava os soldados dos orcs.

_ Não somos amigos de gigante algum, estamos aqui para caçá-lo! Olhe por si próprio! – e dizendo estas palavras num tom grave, Atilat encarou-os com frieza e atirou a cabeça do ogro a seus pés.

Os orcs olharam com estranheza para a elfa. Levaram as mãos às espadas e por pouco não atacaram ao ver o estado em que estavam os ogros. Entretanto, o líder das criaturas ordenou que guardassem as armas, Nailo fez o mesmo de seu lado, e ordenou que Atilat retornasse, mas a elfa permaneceu imóvel entre os dois bandos.

_ Vocês poder passar! Nós não quer brigar! Vocês inimigo de gigante como nós, poder passar! Casa gigante fim da trilha! Nós embora casa! – O líder orc falou com seu sotaque carregado, depois fez um gesto com a mão e seus seguidores se retiraram junto com ele, desaparecendo no meio da floresta. O último orc, que estava em cima da árvore, juntou-se a eles em seguida, e tudo se acalmou. Irritado com a atitude de Atilat, Nailo foi repreendê-la por ter desobedecido as suas ordens.

_ Você não deveria ter feito aquilo sem minha permissão, Atilat! – disse Nailo.

_ Ora, mas por que? Não fiz nada demais, além disso, deu tudo certo, não deu?­ – respondeu ela com um sorriso.

_ Por que? Ora, porque eu estou no comando, eu sou o sargento aqui e todos devem seguir minhas ordens! – retrucou Nailo.

_ Bem, mas eu não sou do exército, então isso não significa nada para mim! – respondeu Atilat.

_ Isso não importa! Eu estou no comando aqui e você deve obedecer minhas ordens! Afinal, você está sob minha responsabilidade e não deve se arriscar assim! Eu prometi que ia levar todos de volta em segurança, e se acontecer algo a algum de vocês, eu serei o responsável, portanto, é bom que sigam minhas ordens! – insistiu o ranger, já irritado.

_ Mas você não precisa se preocupar com isso, eu já sou bem grandinha e sei me cuidar muito bem, não preciso de ninguém pra me proteger! E se me acontecer alguma coisa, você não terá nada a ver com isso, eu me responsabilizo pelos meus atos! – continuou a moça.

_ Não, isso é inaceitável! Ou você segue minhas ordens, ou não vai com a gente! Pode retornar para a vila, então! – reclamou o sargento.

_ Não, eu não vou voltar para a vila! Eu disse que ia ajudar e vou, do meu jeito! – retrucou a elfa.

_ Eu sou a autoridade aqui, e estou mandando você ir embora! Então obedeça!

_ Ora, autoridade coisa nenhuma! Isso não passa de papo furado, seu merdinha! Você não pode mandar em mim assim! Eu tenho livre arbítrio e vou aonde quiser, então não me venha dar ordens, seu idiota! – rebateu Atilat, também muito irritada. Os soldados apenas observavam, atônitos.

_ Pare já com isso moça! Ou você vai embora ou então...

_ Ou então o que? Vai me prender? Prenda então!

_ Isso mesmo! Akira, prenda-a imediatamente, é uma ordem soldado! – gritou Nailo. O recruta retirou um par de grilhões que trazia na mochila e atou os pulsos da donzela. Kawaguchi tentou se opor, pois considerava um abuso tratar aquela bela mulher daquela forma rude, mas se calou, pois cumpriria à risca as ordens de seu superior, mantendo sua honra intacta. Do alto, Hydor balançou a cabeça em desaprovação, mas também não disse nada. Lord, o halfling, olhava para Nailo, para Atilat e para Akira, com olhar angustiado, mas com a boca calada. A intriga começava a dominar o grupo e Nailo começava a perder o controle da situação. Nesse momento, em algum lugar de Arton, uma serpente de cinco olhos sorriu com satisfação, e, muito distante dali, mais longe do que qualquer cavalo ou pássaro podia alcançar, Glórien suspirou profundamente. Mas, antes que ela pudesse perder a calma e protestar, Allihanna consolou-a, colocando sua pata sobre o ombro da elfa e dizendo que cumpriria outra parte de sua promessa em breve.

_ Vamos voltar para a vila! – a voz de Nailo ecoou pela escuridão, como o rugido de um animal ferido. Ferido onde mais doía, no orgulho. E todos retornaram para Forte Novo.

março 07, 2007

Campanha A - Capítulo 257 – A charada

Capítulo 257 A charada

Enquanto Malwick era o responsável pela segurança e a ordem em Forte Novo, Restik, um humano dedicado e caridoso, era o responsável por consolar e ajudar os aldeões em momentos de crise, dando-lhes consolo, coragem e mantendo sua fé sempre viva. Servindo ao deus da justiça desde muito novo, Restik era também o guardião do pequeno altar dedicado a Khalmyr, que havia na vila. Lá ele orava e fazia pequenas celebrações, junto com os outros moradores, nas manhãs de valag. Sua casa era praticamente em frente à de Malwick, tanto que bastou atravessarem a rua para chegarem até lá. E, antes que pudessem bater à porta, ela se abriu e Atilat e Restik saíram de dentro da residência.

Malwick explicou os planos de Nailo a Atilat e pediu que a jovem acompanhasse os soldados em sua busca. Restik se apresentou aos recém chegados e convidou-os a se juntarem a ele e Atilat para irem até o altar e ver algumas inscrições misteriosas que ele tinha descoberto lá e que não existiam até o início dos ataques do gigante.

O altar era composto de duas colunas de pedra, que sustentavam uma grande placa de pedra, formando algo como uma mesa alta. Sob o altar, nas colunas que o sustentavam, havia frases escritas a pincel e tinta preta. Diziam elas:

"Duas cabeças nós temos, mas nascemos com uma.

Nós vingamos, curamos e protegemos.

Nosso mestre era Justo,

Mas puniu tudo o que objetamos.

Prestamos atenção no Senhor da Guerra,

Então por nosso deus fomos rejeitados.

Assim, este é nosso destino:

Uma cabeça, duas vezes dividida."

Todos leram as enigmáticas inscrições, e ficaram intrigados com aquilo tudo, sem saber qual era o seu significado. Restik disse que tinha um palpite de que a resposta para aquele poema enigmático era o próprio ettin, já que os versos tinham surgido após os ataques do gigante e devido ao fato do gigante possuir, como dito nos versos, duas cabeças. Entretanto, mesmo suspeitando que o gigante era a chave para aquele mistério, Restik não tinha a menor idéia de como resolvê-lo.

Bem, Nailo guardou em sua mente cada uma das palavras que compunham aquela charada e, sem perder tempo, decidiu começar por aquilo que era mais prático no momento: encontrar o esconderijo do monstro. Assim ele reuniu seus comandados, e a bela Atilat se juntou a eles, e todos foram para a floresta, mais a oeste ainda, procurar pelo monstro.

Era uma trilha fácil de ser seguida, pois as pegadas do gigante eram enormes e permaneciam por muito tempo visíveis no solo, além do fato de ele deixar várias marcas de destruição por onde quer que passasse. Desse modo, bastava eles seguirem a trilha deixada pelo monstro para encontrarem em breve seu refúgio.

Entretanto, a busca não seria tão fácil quanto eles planejavam, já que na mata escura diversas outras criaturas perigosa espreitavam à espera de algum viajante descuidado. Ocorre que Nailo, em determinado ponto da floresta, encontrou outras pegadas enormes e totalmente diferentes das que eram seu objetivo. Todos pararam por um instante, enquanto o ranger analisava os rastros. Lord clareava ao seu redor com uma tocha e, mais atrás, Atilat ajudava usando sua magia para fazer sua mochila brilhar. Então, enquanto todos aguardavam, três enormes criaturas saltaram de trás das árvores e os atacaram. Eram ogros.

_ Ataquem! – gritou Nailo para seus soldados. – Rere! – completou ele, sacando suas espadas e acionando o poder mágico da mais longa.

Kawaguchi também preparou suas armas para o combate, enquanto Idor e Atilat disparavam flechas contra os inimigos. Antes de atacar, porém, o pequeno bardo tentou dialogar com os ogros, mas eles estavam dispostos a devorar todos, e não desejavam conversar, apenas matar.

As criaturas avançaram sobre o grupo, ostentando enormes clavas de madeira, e atacaram Nailo e Kawaguchi. Os dois conseguiram se curvar para trás e desviar dos golpes dos monstros habilmente. Mas, o terceiro ataque foi contra Relâmpago, e atingiu-o em cheio nas costelas. O lobo soltou um ganido agudo de dor, e Nailo mandou que ele fugisse dali rapidamente, colocando-se entre ele e o monstro que o ferira. Vendo o poder descomunal das criaturas, Akira decidiu atacar a distância. Protegeu seu corpo com uma magia e voou para cima, ficando longe do alcance dos inimigos, onde poderia disparar flechas sem correr riscos.

Nailo, enfurecido por ver Relâmpago ferido, postou-se diante do enorme ogro para atacá-lo. Entretanto, tropeçou em um galho que estava no chão e caiu diante do inimigo. Mesmo no chão, Nailo reagiu mais rápido do que o ogro, golpeando-o com suas espadas rapidamente. O ventre do monstro se abriu, e seu sangue e suas tripas despencaram sobre Nailo como uma cascata. O monstro começou a recuar, enfraquecido. Graças ao esplêndido ataque do ranger, Relâmpago ganhou tempo para poder fugir e ficar em segurança, vigiando a retaguarda do grupo.

Mais atrás, as espadas de Kawaguchi abriam um corte em forma de cruz no estômago do segundo ogro, deixando-o também muito enfraquecido. Mesmo assim, o monstro parecia não desistir de devorá-los, então Atilat aumentou magicamente a força do samurai, deixando-o mais poderoso do que o ogro, para poder liquidá-lo mais facilmente. O monstro revidou, atingindo o rosto do samurai com sua enorme clava, mas, isso não era suficiente para fazer Kawaguchi recuar, de modo que bastou mais um golpe para o inimigo tombar no campo de batalha. O herdeiro de Tamura saltou com toda sua força, segurando sua espada mais longa com fúria. Seus olhos rasgados e pequenos pareciam brilhar quando a lâmina atravessou o pescoço do ogro de um lado a outro, deixando a cabeça presa ao corpo por uma fina camada de pele. O crânio do monstro pendeu para trás, ficando pendurado pela pele da nuca, e seu imenso corpo desabou pesadamente no chão da floresta. Kawaguchi e Atilat comemoraram.

Enquanto isso, acima de suas cabeças, Idor tocava seu alaúde, e com ele mantinha um dos inimigos entretido, fascinado pela sua música, um alvo fácil para seus companheiros derrotarem. Sendo assim, concentraram todas as suas forças no ogro atingido por Nailo, que tentava fugir após golpear o ranger com sua clava violentamente.

Nailo se levantou e perseguiu o inimigo, enquanto Atilat e Akira disparavam suas flechas contra ele. O inimigo ficou encurralado entre uma árvore e o ranger que o ameaçava com sua poderosa espada elétrica, então, uma flecha disparada por Atilat atravessou o seu olho e ele tombou, morto.

Restava apenas um inimigo. Nailo investiu contra ele, a toda velocidade, preparando a espada para cortá-lo em pedaços. Sentindo o perigo, o monstro despertou de seu transe e golpeou o ranger com sua clava. Nailo resistiu à dor, e continuou avançando, cravando a lâmina profundamente no estômago do inimigo. Logo atrás, Kawaguchi soltou um grito de fúria e saiu correndo, segurando apenas a sua katana com as duas mãos. Nailo se abaixou, deixando uma das pernas dobrada, formando um apoio para o samurai. Kawaguchi pegou impulso na perna de Nailo e saltou, mais alto do que o ogro, e desferiu um golpe em arco para baixo, rasgando a face do monstro, até a lâmina se cravar no sei ombro. Enquanto o samurai retornava ao solo após sua esplêndida ofensiva, Idor mergulhava dos céus com sua espada, do tamanho de uma adaga, mas que para ele era quase uma espada montante. Com o impulso adquirido, Idor conseguiu fincar sua espada no olho direito do monstro, tão profundamente, que chegou a atravessar o osso e atingir-lhe o cérebro. O último ogro se precipitou para trás, já inconsciente e, antes que pudesse dar seu último suspiro, kawaguchi lhe arrancou as pontas dos enormes pés com um corte de espada. Assim eles venceram os três ogros, o primeiro dos desafios que encontrariam até o esconderijo do ettin.

março 06, 2007

Campanha A - Capítulo 256 – Seguindo rastros

Capítulo 256 Seguindo rastros

Nailo e os outros agradeceram à ajuda prestada pela bela Atilat. Então, o ranger usou seus olhos para analisar a situação em que estava a aldeia. As pessoas corriam de um alado para outro, socorrendo umas às outras, escorando telhados arrebentados, recolhendo animais soltos, e acalmando seus vizinhos. Um jovem rapaz, armado com uma lança, gritava ordens o tempo todo, parecia ser o líder da vila. Mas, Nailo não se importou com nada daquilo, principalmente depois que viu dois corpos caídos a alguns metros dali.

Correu até o lugar onde as duas pessoas jaziam mortas, com seus corpos cheios de escoriações, e começou a analisar o que tinha acontecido. Nailo seguiu os rastros até perto da ponte e perto das primeiras casas da vila. Olhou ao redor dos corpos, cheirou a terra, apalpou, mediu as imensas pegadas deixadas pelos pés do gigante e anunciou sua conclusão.

_ Havia três pessoas aqui, fugindo do gigante! Esses dois pararam aqui, mas um terceiro foi até a ponte, com o gigante perseguindo-o! Por isso a ponte está destruída, o gigante fez isso! Depois ele correu até aqui, golpeou um deles com sua clava, e o corpo, já sem vida, rolou pelo chão com o crânio esmagado! O outro tentou atacar com aquele rastelo, mas o ettin foi mais rápido e o acertou com a clava! Ele voou alguns metros para trás, nesse espaço do solo sem pegadas, e depois caiu no chão, sendo arrastado pela força do golpe até onde ele está agora, seu leito de morte! Depois o gigante foi pra dentro da vila novamente!

Todos ficaram impressionados com a habilidade do ranger, mas Nailo não deu importância para a bajulação. Dirigiu-se com seriedade para a elfa e pediu a ela que o conduzisse ao líder da cidade. Mas a moça hesitava, já que na vila não existia um chefe, mas sim, anciões a quem todos recorriam quando desejavam algum conselho ou ajuda para tomar alguma decisão importante. Então John, ainda empolgado com a competência de Nailo, se ofereceu para levá-lo até o rapaz que gritava ordens no meio da rua há pouco. Seu nome era Malwick, o condestável, responsável pela segurança da população de Forte Novo.

Malwick era um meio-elfo jovem de aparência rebelde e jeito um tanto arrogante. Ignorou os soldados quando eles chegaram perto dele e continuou a correr de um lado para outro dando ordens e coordenando as providências de emergência na vila. Somente quando tudo pareceu estabilizado, ele parou e deu atenção aos visitantes.

_ Bom dia! Sou Malwick! Desculpem mas não pude atendê-los antes, como vocês podem ver! O que querem falar comigo? – disse o rapaz.

_ Bem nós acabamos de chegar na vila e vimos o gigante fugindo daqui! Quero saber o que está acontecendo pra poder ajudar vocês! – respondeu Nailo.

_ Bem amigo, como você mesmo viu, esse gigante maldito está nos importunando já faz um bom tempo! Mas não sei se você poderá nos ajudar! Você acha que é capaz de fazer alguma coisa? – Malwick olhava o grupo com desdém. Sua fala era carregada de desprezo.

_ Claro que sim! Estamos aqui pra resolver esse problema mesmo! Afinal nós somos do exército de Tollon! Foi Glorin quem nos mandou aqui! – respondeu o ranger, estufando o peito, orgulhoso.

_ Sério? Que ótimo! Vieram em boa hora! Já não agüentávamos mais esse monstro nos atormentando! Bem, sejam bem vindos a Forte Novo, então! – Malwick se surpreendeu, mas, mesmo assim, não perdeu seu ar de superioridade.

Nailo explicou tudo que tinha acontecido e o que tinham visto ao chegarem na vila. Malwick lhes contou que o gigante vinha atacando a vila desde cinco semanas antes, e que ele aparecia todos os dias e todas as noites. Durante o dia, ele destruía, matava e roubava os animais para comer. Durante a noite, tentava ser furtivo e se esconder da visão dos moradores. Diziam alguns aldeões que ele parecia com medo, mas Malwick não acreditava nisso, pois, para ele, o gigante vinha durante a noite escolher qual animal levaria no dia seguinte. Foram então até perto da ponte destruída, onde Nailo mostrou os corpos e contou o que lhes havia acontecido. Um dos aldeões, que estava próximo, confirmou as deduções feitas pelo ranger através dos rastros, dizendo que os três homens fugiam do gigante, e que um deles tentara atraí-lo para a ponte, na esperança de talvez jogá-lo na água. Mas, o ettin destruiu a ponte com um só golpe e o homem, já ferido, foi arrastado para a morte pela correnteza. Então Nailo pediu a Malwick que lhe arrumasse um local onde seus soldados pudessem descansar da longa viagem e algo para comerem, antes de saírem em busca do gigante assassino. Malwick pediu a Atilat que os levasse até a casa de Aranda, a anciã da vila, para que ela lhes desse abrigo e o que comer, e prometeu que reuniria alguns homens e traria os cavalos para a vila, atravessando-os pelo rio em segurança. Nailo e seu grupo foram então descansar, com exceção de Idor, que estava curioso e pediu para ficar e ver como os aldeões fariam para pegar os cavalos do outro lado do riacho.

Assim, a pequena fada ficou observando o trabalho dos homens, que trouxeram barris vazios e cordas, para transportar os animais. Na parte onde o barranco da margem era menos inclinado, fixaram cordas à flor d’água, de uma margem à outra. Os homens atravessaram para o outro lado, levando os barris e o restante das cordas. Depois, desceram um dos cavalos até o leito do rio, e amarraram dois barris, um de cada lado do corpo do cada animal. Colocaram no na água, entre as duas cordas que atravessavam o riacho e o animal boiou com a ajuda dos barris. Então, puxaram o animal para o outro lado, lentamente, sendo que dois homens iam acompanhando o cavalo dentro da água para mantê-lo calmo durante o trajeto. Repetiram várias vezes essa operação, até que todos os cavalos estivessem do lado da vila. Então, Idor deu-se por satisfeito, e pousou no galho de uma árvore para descansar e tocar seu alaúde, enquanto aguardava o retorno de seu sargento.

Nailo, por sua vez, caminhava junto com seus soldados ao lado da bela Atilat, que se mantinha séria e calada. Apenas o pequeno Lord conseguia quebrar o silêncio da elfa, vez ou outra lhe fazendo um elogio ou um agrado. Kawaguchi se irritava a cada gracejo do halfling, considerando alguns comentários desrespeitosos. Mas, antes que os ânimos se exaltassem, Nailo os acalmava e a harmonia voltava a reinar. Chegaram então a uma enorme construção de pedras, um forte ainda inacabado, em cuja porta a elfa bateu. Instantes depois, surgiu uma velha senhora que abriu a porta e os recebeu com simpatia. Sua casa, ainda em construção, era simples, porém aconchegante, toda decorada com objetos antigos e exóticos, coisas sem valor, que deviam trazer boas lembranças à anciã. Aranda era seu nome, e ela era prestativa e simpática. Ofereceu um quarto para que os soldados pudessem descansar, e foi preparar-lhes uma farta refeição. Nailo foi se deitar, e sugeriu que os soldados também descansassem, pois teriam muito trabalho a fazer pela noite. Mas eles preferiram aguardar pelo almoço de tão bom aroma acordados. Então, pouco mais de uma hora depois, Aranda lhes serviu uma deliciosa sopa de legumes e carne, acompanhada de pão e vinho. Kawaguchi, entretanto, pediu saquê, quando Atilat perguntou-lhe o que desejava beber, causando estranheza na moça. Explicou-lhe então que era um tipo de aguardente, criado por seus ancestrais através do arroz, e a elfa compreendeu finalmente seu desejo. Serviu-lhe a melhor aguardente que encontrou na adega de Aranda, esperando que o descendente de Tamura fosse apreciar a bebida. Entretanto, o samurai cuspiu todo o líquido e preferiu tomar apenas vinho. Sentados à mesa para a refeição, Kawaguchi reparou nos longos anos vividos por Aranda, e, com sua inocência e franqueza de samurai, não conteve o comentário.

_ A senhora já viu muitos verões, não é? – disse o samurai com um sotaque característico dos tamuranianos.

_ Sim, e muitas primaveras também, outonos e invernos! Mas, por que pergunta? – respondeu a velha.

­­_ Vai morrer logo, né! Dá pra se ver pela aparência! – continuou o samurai.

Imediatamente, Akira se enfureceu e chamou a atenção de Kawaguchi pelas ofensas feitas a Aranda, ainda que não fossem intencionais. Os dois se desentenderam, e por pouco não cruzaram as espadas, já que Atilat, foi mais rápida e chamou Nailo para resolver a situação. O sargento repreendeu os dois e os puniu, mandando-os fazer cinqüenta flexões cada um. Ordenou que todos descansassem tão logo tivessem terminado de almoçar, e saiu para procurar o soldado faltante, Idor.

Do lado de fora da casa, Nailo buscou o pequeno sprite com seus olhos. Encontrou-o escondido entre a folhagem de uma árvore, e decidiu pedir ajuda a alguém para chamá-lo.

_ Ei garoto! – disse ele a um menino que passava. – Quer ganhar uma moeda de ouro?

_ Não posso falar com estranhos! – respondeu o menino, afastando-se de Nailo sem lhe dar atenção.

Irritado, mas feliz pelo comportamento prudente do menino, Nailo decidiu continuar insistindo, e gritou para um grupo de garotos, oferecendo uma moeda de ouro a quem lhe fizesse um favor. Em poucos segundos, o sargento estava rodeado por crianças que gritavam enlouquecidas, oferecendo-se para ganharem o dinheiro. Nailo apontou para a árvore onde Idor tocava tranqüilamente, sem desconfiar de nada, e disse que o primeiro que encontrasse a fada, dissesse-lhe que o sargento Nailo o estava chamando, e retornasse até ali, ganharia um tibar de ouro.

As crianças correram alvoroçadas, e começaram a procurar por todos os lugares, até que um deles encontrou Idor na árvore e, achando ser algum bicho estranho, atirou-lhe uma pedra. Idor levantou vôo, xingando o menino que, percebendo que ele era a criatura procurada por Nailo, gritou-lhe o recado do ranger.

Depois as crianças retornaram, acotovelando-se para ver quem chegava primeiro a Nailo. Bondoso, o ranger deu uma moeda para cada um deles e depois Aranda lhes deu doces, e todos foram embora felizes. No meio do caminho, porém, encontraram Idor, que vinha ao encontro do sargento. As crianças prepararam para atirar-lhe pedras, mas o pequeno ser foi mais veloz e colocou-os para dormir com uma mágica. Nailo ficou enfurecido com a atitude de Idor e chamou-lhe a atenção. Depois, acordaram as crianças e retornaram para a casa de Aranda, onde foram descansar. Idor, porém, ficou na janela, contrariado, a observar a natureza lá fora, enquanto seus companheiros dormiam. Kawaguchi, entretanto, preferiu procurar um lugar tranqüilo para meditar, e foi até o cemitério da vila, onde ficou até ser chamado novamente, enquanto que a bela elfa que os ajudara deixou a casa de Aranda logo após ajudá-la a arrumar a cozinha.

Quando o sol começou a se por, Nailo reuniu seus soldados e pediu a Aranda que os levasse até a casa de Malwick. Caminharam vagarosamente, acompanhando os passos cansados da anciã, e Kawaguchi teve ainda mais certeza de que ela logo morreria, mas decidiu não comentar nada. Passaram em frente a gazebo de pedra, onde existia um pequeno altar dedicado a Khalmyr, e finalmente chegaram na casa de Malwick.

O meio-elfo os recebeu e lhes contou mais detalhes sobre o gigante. Disse que ele poderia estar provavelmente escondido em Forte Velho, e contou a história do lugar. Anos atrás, Forte Velho era o lugar onde aquelas pessoas moravam. Mas, foram expulsos por um mago cruel chamado Stondylus, que conquistou o vilarejo para si. O mago aterrorizava as pessoas da vila até que, dois anos antes, um grupo de aventureiros apareceu por ali e se ofereceu para expulsar o cruel mago. Entretanto, após isso nem o mago, nem os aventureiros voltaram a serem vistos por ali. As pessoas que fugiram do mago construíram uma nova cidade, Forte Novo, onde viviam desde então. E para Malwick, o gigante com certeza estaria naquele lugar. Nailo pediu ao rapaz que lhe fornecesse ajuda e que lhe arrumasse alguém para acompanhar o grupo e guiá-los pela região. Sugeriu que a própria Atilat os acompanhasse, já que Aranda dizia que ela possuía poderes mágicos que poderiam ser úteis ao grupo. Assim eles deixaram a casa de Malwick e se digiram até a casa de Restik, o sacerdote local, onde, segundo Aranda, estava a bela elfa, e só então, começariam a seguir os rastros para encontrar e destruir o gigante que aterrorizava o pequeno vilarejo.

março 05, 2007

Campanha A - Capítulo 255 – Vila atacada

Capítulo 255 Vila atacada

A longa viagem teve então início. Nailo tentava manter uma boa relação com seus soldados, desobrigando-os do tratamento formal que a hierarquia militar exigia, e dando-lhes liberdade. “Não precisam ficar me chamando de sargento! Só Senhor Nailo está bom, podem me chamar pelo nome!”, dizia ele. E quando algum soldado desejava se afastar do grupo, ou fazer algo que pudesse ser perigoso, ao invés de gritar ordens com autoritarismo, como faziam outras pessoas, ele tentava convencê-los a desistir através do diálogo. “Eu tenho mais experiência que vocês, e sei que isso pode ser perigoso! Como eu sou mais graduado, sou responsável pela segurança de vocês, então, é melhor vocês seguirem minhas instruções, pra não termos problemas! Quero levar todos vivos de volta pro forte, não se esqueçam disso!” explicava o ranger. “E não abusem da minha bondade! Eu estou lhes dando liberdade e deixando todos à vontade, não vou ficar gritando, nem dando ordens! Mas, se vocês me desrespeitarem, esse privilégios vão acabar e eu vou ser linha dura como o capitão Glorin!”, repetia ele. Assim eles cavalgaram, ou voaram, já que fazia parte do grupo o pequeno sprite Idor, uma pequena fada que costumava ajudar Kuran em seu jardim, e após cinco dias de viagem, o grupo de Nailo finalmente chegou ao esperado vilarejo de Forte Novo. E logo ao chegarem, já se depararam com problemas.

Forte Novo era uma pequena vila onde deviam morar algo em torno de umas cem pessoas, todas sobrevivendo da extração da madeira Tollon e do cultivo para subsistência. Havia poucas casa no lugar, e uma pequena parcela delas estava semi destruída. Os habitantes estavam em alvoroço, correndo desesperados de um lado para o outro em pânico. Havia animais soltos, igualmente assustados, alguns deles feridos ou mortos. E, muito longe de onde estavam os heróis, estava uma criatura enorme e assustadora, que vagava por uma trilha estreita além da vila, arrastando a carcaça de um animal para devorá-lo. Era um gigante, mas não um gigante comum, era um Ettin, um gigante de duas cabeças, duplamente cruel e selvagem, que fugia da vila após espalhar o medo e a destruição pelos aldeões. Vestia roupas de pele de alguma de suas refeições anteriores, e carregava um tronco de árvore que usava de clava.

Os soldados quiseram atacar o gigante de imediato, mas os rastros de sua destruição os impediam, pois havia um rio que cruzava a campina antes da entrada da vila, e a única ponte que dava acesso ao lugar estava destroçada. Sem perder tempo, Nailo disparou uma flecha para o alto, e ela subiu e desapareceu entre as árvores além da aldeia. Sua ação chamou a atenção de uma bela elfa que observava tudo perto da ponte caída, e ela ficou a olhá-los, curiosa. Pouco depois foi a vez do gigante também desaparecer, ocultando-se na vegetação. Se lhes restasse alguma dúvida quanto a estarem no lugar certo, após o incidente, ela já não mais existia. Já tinham visto o gigante que deveriam eliminar, restava agora encontrar uma forma de atravessar o riacho.

Era uma corrente d’água larga e veloz. De uma margem à outra existia uma distância de mais ou menos uns vinte metros, e a água agitada e turbulenta ficava pouco mais de dez metros abaixo de onde estavam os soldados. Nailo olhou em volta, não havia outras opções para atravessar a água, já que apenas resquícios da ponte tinham sobrado em cada margem. Destemido, e imprudente como sempre fora, decidiu atravessar a nado, desprezando as habilidades especiais de seus subordinados. Tirou sua armadura e equipamento, e saltou na água, ignorando a elevada altura que o separava do leito do rio, felizmente, seu mergulho foi perfeito e ele atingiu facilmente a metade da correnteza. Mas, a força da água começou a vencer a resistência de Nailo, e ele não conseguia subir para respirar. Também era arrastado rio abaixo, afastando-se aos poucos dos seus soldados. Nailo lutava contra a força das águas, quando recebeu ajuda vinda da vila. E elfa que os observava do outro lado, lançou uma corda na água, para ajudá-lo. Ele continuava a se debater na água, tentando alcançar a corda, seus soldados já começavam a se desesperar, quando ele finalmente colocou a cabeça para fora da água e, num impulso, agarrou a corda jogada pela elfa. Nailo alcançou a margem oposta são e salvo após um breve susto, mas não se dava por derrotado.

_ Não se preocupem! Eu só estava vendo a profundidade do rio! Mas, obrigado mesmo assim moça, pela ajuda! – disse ele, enquanto escalava o barranco. Quando estava já no mesmo nível que a elfa, ele continuou. – Muito obrigado! Eu sou Nailo, e você?

_ Sou Atilat! Prazer! – respondeu a moça.

Nailo se voltou para seus soldados, e a moça se afastou sem que ele percebesse. Pediu a Idor, o sprite, para que trouxesse suas coisas para a outra margem. Mas, como com seus trinta centímetros de altura, o pequeno ser voador seria incapaz de realizar a tarefa, coube a Akira atender ao pedido do sargento. Akira era um soldado de ascendência tamuraniana, que gozava de poderes arcanos que, segundo ele, vinham das estrelas. Ele se autodenominava um astrólogo, um estudioso dos movimentos das estrelas, e dizia que era através desse estudo que desenvolvera suas habilidades. Entre elas, estava a habilidade de voar, uma quantidade de tempo diária limitada pelo seu vigor físico. Assim, Akira usou a habilidade herdada dos seus ancestrais do Império de Jade, e voou até o outro lado do rio com o equipamento de Nailo.

Nesse momento, retornou Atilat, a elfa, acompanhada de um homem que carregava uma corda, dois pequenos troncos de madeira e uma marreta. Com a ajuda de Nailo, o homem, que se chamava John, fincou o tronco no solo de terra batida, e amarrou a ponta da corda na estaca depois de fincada. Nailo amarrou uma pedra na outra ponta da corda, e a arremessou do outro lado do rio. Akira voou de volta, e, com a ajuda de seus amigos, cravou a segunda estaca na terra e a prendeu com a corda, ligando as duas margens do riacho. Assim, Kawaguchi Tomoyo, jovem e poderoso samurai, e o pequenino Lord, um halfling especialista em arrombamento e desarme de armadilhas, puderam atravessar para o outro lado, pendurados pela corda. Akira levou seus pertences voando, e depois transportou também Relâmpago, o fiel amigo de Nailo. Já Idor, o pequenino bardo, atravessou sozinho, sustentado no ar por suas diminutas asas. Assim, todos, com exceção dos cavalos, finalmente chegaram a Forte Novo.