março 22, 2007

Campanha A - Capítulo 260 – Amaldiçoado

Capítulo 260 Amaldiçoado

Todos interromperam a marcha para procurar o inimigo oculto. Kawaguchi circulava o local onde tinham ouvido o barulho para cercar o inimigo. Akira procurava-o do céu, enquanto Nailo disparava flechas a esmo. Mas, não puderam encontrara nada além da própria vegetação que os cercava. Então, suspeitando tratar-se de um inimigo invisível, Akira usou sua mágica para detectar a presença da criatura. Sentiu uma aura mágica e encontrou sua localização exata. Suspeito tratar-se de Atilat, já que a elfa também era conhecedora de magia.

_ Pode sair daí, Atilat! Eu sei que é você quem está aí! – gritou Akira.

Mas, protegida por sua invisibilidade, Atilat decidiu não responder. Ficou imóvel, confiando em sua camuflagem, enquanto Akira se aproximava lentamente, guiando seus companheiros até o alvo. Quando se viu cercada, e percebeu que Akira conhecia sua localização, Atilat se afastou do grupo.

Akira correu na direção da elfa e saltou, atingindo-a com um chute aéreo. Atilat foi arremessada ao chão, sendo imobilizada pelo astrólogo. Todos cercaram rapidamente o tamuraniano e seu alvo invisível. Então, momentos depois, a magia que escondia a moça finalmente terminou e todos puderam vê-la.

Kawaguchi se irritou ao ver Akira tratando-a daquela forma tão rude, e o tirou de cima da bela donzela, oferecendo-lhe ajuda. Atilat, entretanto, recusou o auxílio do samurai e se levantou sozinha. Começou então uma nova discussão entre a mulher e o grupo de soldados, que desejavam se livrar da presença indisciplinada da elfa, à exceção de Kawaguchi e Lord, que não resistiam aos encantos da bela donzela.

Então, o sargento Nailo percebeu que era inútil manter aquele debate por mais tempo, e decidiu seguir adiante, com ou sem Atilat. Mas, quando ele se virou para partir, e voltar a seguir os rastros do ettin, teve uma grande surpresa. O gigante estava parado na floresta, a observá-los, trazendo na mão sua poderosa clava, que mais parecia um tronco de árvore. E de suas duas cabeças, apenas uma os olhava, já que a outra dormia profundamente.

_ Por favor, não se assustem! Não quero lhes fazer mal!I – sussurrou o monstro, erguendo a mão direita de modo amistoso.

_ O que você quer? – perguntou Nailo, confuso, levando as mãos às espadas.

_ Calma, quero apenas conversar! Graças a Khalmyr encontrei vocês aqui! Preciso da sua ajuda! – respondeu o monstro, falando num tom civilizado que contrastava com sua aparência bestial.

_ Então diga o que quer, e por que você tem atacado a vila! – exigiu o sargento.

Então o gigante contou sua história. Seu nome era Kyrnynn, um clérigo de Khalmyr amaldiçoado. Dois anos atrás, quando o perverso mago Stondylus aterrorizava a vila de Forte Novo, Kyrnynn e um grupo de amigos decidiram ajudar os aldeões a se livrarem do mago. Kyrnynn e seu grupo foram até Forte Velho, onde enfrentaram Stondylus e o venceram. Entretanto, durante a dura batalha entre os aventureiros e o mago, Kyrnynn foi transformado em um ettin por Stondylus, e usado pelo mago para atacar seus companheiros. Ao final da luta, stondylus e três amigos de Kyrnynn estavam mortos, sobrara apenas Kyrnynn, metamorfoseado em um monstro, e seu amigo Hartmund. Ao clérigo restou apenas permanecer em Forte Velho e aguardar que seu amigo conseguisse ajuda para devolver-lhe a forma original. Hartmund partiu, prometendo encontrar ajuda, mas nunca retornou.

Kyrnynn permaneceu longo tempo esperando pelo retorno do amigo, até que um dia, um bando de orcs o procurou, propondo-lhe um pacto sinistro: o clérigo-ettin os ajudaria em seus saques e teria uma parte dos espólios roubados. Kyrnynn se enfureceu e matou quase todos os orcs com a nova força que possuía. Enquanto recordava esse fato, seus olhos brilhavam, e sua voz se elevava, como se ele sentisse satisfação em relatar o massacre dos orcs.

Dias depois, surgiram mais orcs, dessa vez acompanhados de ogros, para se vingarem pela humilhação sofrida. Kyrnynn novamente lutou, fazendo os orcs e os ogros pagarem com suas vidas, causando-lhes grande sofrimento, como ele próprio descreveu. E então surgiu Estrume.

Até aquele momento, Kyrnynn era capaz de controlar todo o seu corpo, inclusive sua segunda cabeça, mas, após o incidente dos orcs e ogros, a segunda cabeça de Kyrnynn ganhou vida própria e passou a interferir na vida do clérigo. Sua cabeça esquerda se autodenominava Estrume, e era cruel e implacável como a besta selvagem que sua aparência indicava. A segunda cabeça começou a ficar cada vez mais poderosa, até assumir o controle do corpo totalmente. Enfraquecido, Kyrnynn podia controlar o corpo que habitava apenas durante os momentos em que Estrume dormia. Em suas orações o clérigo amaldiçoado implorava ao deus da justiça que lhe concedesse a graça de voltar a ser como era, mas Khalmyr parecia não ouvi-lo, e Kyrnynn não podia mais usar seus poderes sagrados, sendo obrigado a testemunhar as crueldades de Estrume sem nada poder fazer. Mas, um dia, enquanto orava, Kyrnynn recebeu uma visão, e nela ele viu versos que formavam um enigma para sua salvação. Somente quando compreendesse aquele enigma ele poderia finalmente se livrar de sua maldição. Para não esquecer os versos, Kyrnynn passou a escrevê-los nas paredes de sua habitação em Forte Velho, mas Estrume apagava as anotações do clérigo assim que despertava, pondo tudo a perder. Assim, Kyrnynn passou a visitar Forte Novo durante a noite, para meditar sobre o enigma e orar, e deixou a charada gravada no altar existente na vila. Porém, quando retornava para seu esconderijo no início da manhã, Kyrnynn foi visto por um caçador que o atacou, assustado, despertando Estrume. A metade maléfica do gigante acordou enfurecida, e matou o caçador com crueldade. E desde esse dia Estrume tem voltado à vila todos os dias para saquear e espalhar terror, enquanto Kyrnynn a visitava na calada da noite, para tentar desvendar a charada e se livrar de sua maldição.

O sargento Nailo e os demais começaram a fazer várias perguntas, tentando descobrir alguma pista que os levasse à solução do mistério. Kyrnynn descreveu parte de sua vida de clérigo, de seus dias de implacável defensor da justiça e responsável por punir as criaturas maléficas que habitavam o mundo. Mas, suas palavras poucas pistas traziam, e Atilat e Kawaguchi tentaram chegar a uma conclusão.

_ Por acaso você alguma vez orou pra Keen? Por no enigma diz que vocês prestaram atenção no senhor da guerra, e Keen é o deus da guerra! Talvez você ou o Estrume tenham seguido os ensinamentos de Keen e por isso Khalmyr o puniu! – disse Atilat.

_ Pois pra mim, você é bem mau! A maneira como você fala, dá a impressão que você gosta de matar! Você é mau, por isso foi punido! – disse Kawaguchi, com seu sotaque carregado e seu jeito direto e sincero como uma seta.

_ Não pode ser, eu apenas exerci a justiça! Nunca me voltei contra Khalmyr! E se eu matei, matei criaturas desprezíveis que mereciam morrer! Tudo que eu fiz foi apenas punir os maus! – discordou Kyrnynn, aos sussurros.

_ Bom, não interessa isso agora! Quero que você me leve até o seu esconderijo! Quero procurar pelo livro de magias de Stondylus, pra descobrir como desfazer o feitiço que ele pôs em você! Vamos até lá agora! Mas fique distante de nós alguns metros! E se o Estrume acordar, jogue esse galho no chão, para nos avisar! – concluiu Nailo, encerrando a discussão.

_ Está certo, vamos! – concordou o gigante.

Mas, antes que o grupo pudesse dar os primeiros passos, um grito ecoou pela mata, assustando a todos. Era Restik, procurando por Atilat, acompanhado por dois outros homens de Forte Novo, que estavam armados com lanças e traziam tochas para iluminar o caminho. Então, o que Kyrnynn temia e desejava que não acontecesse aconteceu. Estrume despertou.

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