Capítulo 256 – Seguindo rastros
Nailo e os outros agradeceram à ajuda prestada pela bela Atilat. Então, o ranger usou seus olhos para analisar a situação em que estava a aldeia. As pessoas corriam de um alado para outro, socorrendo umas às outras, escorando telhados arrebentados, recolhendo animais soltos, e acalmando seus vizinhos. Um jovem rapaz, armado com uma lança, gritava ordens o tempo todo, parecia ser o líder da vila. Mas, Nailo não se importou com nada daquilo, principalmente depois que viu dois corpos caídos a alguns metros dali.
Correu até o lugar onde as duas pessoas jaziam mortas, com seus corpos cheios de escoriações, e começou a analisar o que tinha acontecido. Nailo seguiu os rastros até perto da ponte e perto das primeiras casas da vila. Olhou ao redor dos corpos, cheirou a terra, apalpou, mediu as imensas pegadas deixadas pelos pés do gigante e anunciou sua conclusão.
_ Havia três pessoas aqui, fugindo do gigante! Esses dois pararam aqui, mas um terceiro foi até a ponte, com o gigante perseguindo-o! Por isso a ponte está destruída, o gigante fez isso! Depois ele correu até aqui, golpeou um deles com sua clava, e o corpo, já sem vida, rolou pelo chão com o crânio esmagado! O outro tentou atacar com aquele rastelo, mas o ettin foi mais rápido e o acertou com a clava! Ele voou alguns metros para trás, nesse espaço do solo sem pegadas, e depois caiu no chão, sendo arrastado pela força do golpe até onde ele está agora, seu leito de morte! Depois o gigante foi pra dentro da vila novamente!
Todos ficaram impressionados com a habilidade do ranger, mas Nailo não deu importância para a bajulação. Dirigiu-se com seriedade para a elfa e pediu a ela que o conduzisse ao líder da cidade. Mas a moça hesitava, já que na vila não existia um chefe, mas sim, anciões a quem todos recorriam quando desejavam algum conselho ou ajuda para tomar alguma decisão importante. Então John, ainda empolgado com a competência de Nailo, se ofereceu para levá-lo até o rapaz que gritava ordens no meio da rua há pouco. Seu nome era Malwick, o condestável, responsável pela segurança da população de Forte Novo.
Malwick era um meio-elfo jovem de aparência rebelde e jeito um tanto arrogante. Ignorou os soldados quando eles chegaram perto dele e continuou a correr de um lado para outro dando ordens e coordenando as providências de emergência na vila. Somente quando tudo pareceu estabilizado, ele parou e deu atenção aos visitantes.
_ Bom dia! Sou Malwick! Desculpem mas não pude atendê-los antes, como vocês podem ver! O que querem falar comigo? – disse o rapaz.
_ Bem nós acabamos de chegar na vila e vimos o gigante fugindo daqui! Quero saber o que está acontecendo pra poder ajudar vocês! – respondeu Nailo.
_ Bem amigo, como você mesmo viu, esse gigante maldito está nos importunando já faz um bom tempo! Mas não sei se você poderá nos ajudar! Você acha que é capaz de fazer alguma coisa? – Malwick olhava o grupo com desdém. Sua fala era carregada de desprezo.
_ Claro que sim! Estamos aqui pra resolver esse problema mesmo! Afinal nós somos do exército de Tollon! Foi Glorin quem nos mandou aqui! – respondeu o ranger, estufando o peito, orgulhoso.
_ Sério? Que ótimo! Vieram em boa hora! Já não agüentávamos mais esse monstro nos atormentando! Bem, sejam bem vindos a Forte Novo, então! – Malwick se surpreendeu, mas, mesmo assim, não perdeu seu ar de superioridade.
Nailo explicou tudo que tinha acontecido e o que tinham visto ao chegarem na vila. Malwick lhes contou que o gigante vinha atacando a vila desde cinco semanas antes, e que ele aparecia todos os dias e todas as noites. Durante o dia, ele destruía, matava e roubava os animais para comer. Durante a noite, tentava ser furtivo e se esconder da visão dos moradores. Diziam alguns aldeões que ele parecia com medo, mas Malwick não acreditava nisso, pois, para ele, o gigante vinha durante a noite escolher qual animal levaria no dia seguinte. Foram então até perto da ponte destruída, onde Nailo mostrou os corpos e contou o que lhes havia acontecido. Um dos aldeões, que estava próximo, confirmou as deduções feitas pelo ranger através dos rastros, dizendo que os três homens fugiam do gigante, e que um deles tentara atraí-lo para a ponte, na esperança de talvez jogá-lo na água. Mas, o ettin destruiu a ponte com um só golpe e o homem, já ferido, foi arrastado para a morte pela correnteza. Então Nailo pediu a Malwick que lhe arrumasse um local onde seus soldados pudessem descansar da longa viagem e algo para comerem, antes de saírem em busca do gigante assassino. Malwick pediu a Atilat que os levasse até a casa de Aranda, a anciã da vila, para que ela lhes desse abrigo e o que comer, e prometeu que reuniria alguns homens e traria os cavalos para a vila, atravessando-os pelo rio em segurança. Nailo e seu grupo foram então descansar, com exceção de Idor, que estava curioso e pediu para ficar e ver como os aldeões fariam para pegar os cavalos do outro lado do riacho.
Assim, a pequena fada ficou observando o trabalho dos homens, que trouxeram barris vazios e cordas, para transportar os animais. Na parte onde o barranco da margem era menos inclinado, fixaram cordas à flor d’água, de uma margem à outra. Os homens atravessaram para o outro lado, levando os barris e o restante das cordas. Depois, desceram um dos cavalos até o leito do rio, e amarraram dois barris, um de cada lado do corpo do cada animal. Colocaram no na água, entre as duas cordas que atravessavam o riacho e o animal boiou com a ajuda dos barris. Então, puxaram o animal para o outro lado, lentamente, sendo que dois homens iam acompanhando o cavalo dentro da água para mantê-lo calmo durante o trajeto. Repetiram várias vezes essa operação, até que todos os cavalos estivessem do lado da vila. Então, Idor deu-se por satisfeito, e pousou no galho de uma árvore para descansar e tocar seu alaúde, enquanto aguardava o retorno de seu sargento.
Nailo, por sua vez, caminhava junto com seus soldados ao lado da bela Atilat, que se mantinha séria e calada. Apenas o pequeno Lord conseguia quebrar o silêncio da elfa, vez ou outra lhe fazendo um elogio ou um agrado. Kawaguchi se irritava a cada gracejo do halfling, considerando alguns comentários desrespeitosos. Mas, antes que os ânimos se exaltassem, Nailo os acalmava e a harmonia voltava a reinar. Chegaram então a uma enorme construção de pedras, um forte ainda inacabado, em cuja porta a elfa bateu. Instantes depois, surgiu uma velha senhora que abriu a porta e os recebeu com simpatia. Sua casa, ainda em construção, era simples, porém aconchegante, toda decorada com objetos antigos e exóticos, coisas sem valor, que deviam trazer boas lembranças à anciã. Aranda era seu nome, e ela era prestativa e simpática. Ofereceu um quarto para que os soldados pudessem descansar, e foi preparar-lhes uma farta refeição. Nailo foi se deitar, e sugeriu que os soldados também descansassem, pois teriam muito trabalho a fazer pela noite. Mas eles preferiram aguardar pelo almoço de tão bom aroma acordados. Então, pouco mais de uma hora depois, Aranda lhes serviu uma deliciosa sopa de legumes e carne, acompanhada de pão e vinho. Kawaguchi, entretanto, pediu saquê, quando Atilat perguntou-lhe o que desejava beber, causando estranheza na moça. Explicou-lhe então que era um tipo de aguardente, criado por seus ancestrais através do arroz, e a elfa compreendeu finalmente seu desejo. Serviu-lhe a melhor aguardente que encontrou na adega de Aranda, esperando que o descendente de Tamura fosse apreciar a bebida. Entretanto, o samurai cuspiu todo o líquido e preferiu tomar apenas vinho. Sentados à mesa para a refeição, Kawaguchi reparou nos longos anos vividos por Aranda, e, com sua inocência e franqueza de samurai, não conteve o comentário.
_ A senhora já viu muitos verões, não é? – disse o samurai com um sotaque característico dos tamuranianos.
_ Sim, e muitas primaveras também, outonos e invernos! Mas, por que pergunta? – respondeu a velha.
_ Vai morrer logo, né! Dá pra se ver pela aparência! – continuou o samurai.
Imediatamente, Akira se enfureceu e chamou a atenção de Kawaguchi pelas ofensas feitas a Aranda, ainda que não fossem intencionais. Os dois se desentenderam, e por pouco não cruzaram as espadas, já que Atilat, foi mais rápida e chamou Nailo para resolver a situação. O sargento repreendeu os dois e os puniu, mandando-os fazer cinqüenta flexões cada um. Ordenou que todos descansassem tão logo tivessem terminado de almoçar, e saiu para procurar o soldado faltante, Idor.
Do lado de fora da casa, Nailo buscou o pequeno sprite com seus olhos. Encontrou-o escondido entre a folhagem de uma árvore, e decidiu pedir ajuda a alguém para chamá-lo.
_ Ei garoto! – disse ele a um menino que passava. – Quer ganhar uma moeda de ouro?
_ Não posso falar com estranhos! – respondeu o menino, afastando-se de Nailo sem lhe dar atenção.
Irritado, mas feliz pelo comportamento prudente do menino, Nailo decidiu continuar insistindo, e gritou para um grupo de garotos, oferecendo uma moeda de ouro a quem lhe fizesse um favor. Em poucos segundos, o sargento estava rodeado por crianças que gritavam enlouquecidas, oferecendo-se para ganharem o dinheiro. Nailo apontou para a árvore onde Idor tocava tranqüilamente, sem desconfiar de nada, e disse que o primeiro que encontrasse a fada, dissesse-lhe que o sargento Nailo o estava chamando, e retornasse até ali, ganharia um tibar de ouro.
As crianças correram alvoroçadas, e começaram a procurar por todos os lugares, até que um deles encontrou Idor na árvore e, achando ser algum bicho estranho, atirou-lhe uma pedra. Idor levantou vôo, xingando o menino que, percebendo que ele era a criatura procurada por Nailo, gritou-lhe o recado do ranger.
Depois as crianças retornaram, acotovelando-se para ver quem chegava primeiro a Nailo. Bondoso, o ranger deu uma moeda para cada um deles e depois Aranda lhes deu doces, e todos foram embora felizes. No meio do caminho, porém, encontraram Idor, que vinha ao encontro do sargento. As crianças prepararam para atirar-lhe pedras, mas o pequeno ser foi mais veloz e colocou-os para dormir com uma mágica. Nailo ficou enfurecido com a atitude de Idor e chamou-lhe a atenção. Depois, acordaram as crianças e retornaram para a casa de Aranda, onde foram descansar. Idor, porém, ficou na janela, contrariado, a observar a natureza lá fora, enquanto seus companheiros dormiam. Kawaguchi, entretanto, preferiu procurar um lugar tranqüilo para meditar, e foi até o cemitério da vila, onde ficou até ser chamado novamente, enquanto que a bela elfa que os ajudara deixou a casa de Aranda logo após ajudá-la a arrumar a cozinha.
Quando o sol começou a se por, Nailo reuniu seus soldados e pediu a Aranda que os levasse até a casa de Malwick. Caminharam vagarosamente, acompanhando os passos cansados da anciã, e Kawaguchi teve ainda mais certeza de que ela logo morreria, mas decidiu não comentar nada. Passaram em frente a gazebo de pedra, onde existia um pequeno altar dedicado a Khalmyr, e finalmente chegaram na casa de Malwick.
O meio-elfo os recebeu e lhes contou mais detalhes sobre o gigante. Disse que ele poderia estar provavelmente escondido em Forte Velho, e contou a história do lugar. Anos atrás, Forte Velho era o lugar onde aquelas pessoas moravam. Mas, foram expulsos por um mago cruel chamado Stondylus, que conquistou o vilarejo para si. O mago aterrorizava as pessoas da vila até que, dois anos antes, um grupo de aventureiros apareceu por ali e se ofereceu para expulsar o cruel mago. Entretanto, após isso nem o mago, nem os aventureiros voltaram a serem vistos por ali. As pessoas que fugiram do mago construíram uma nova cidade, Forte Novo, onde viviam desde então. E para Malwick, o gigante com certeza estaria naquele lugar. Nailo pediu ao rapaz que lhe fornecesse ajuda e que lhe arrumasse alguém para acompanhar o grupo e guiá-los pela região. Sugeriu que a própria Atilat os acompanhasse, já que Aranda dizia que ela possuía poderes mágicos que poderiam ser úteis ao grupo. Assim eles deixaram a casa de Malwick e se digiram até a casa de Restik, o sacerdote local, onde, segundo Aranda, estava a bela elfa, e só então, começariam a seguir os rastros para encontrar e destruir o gigante que aterrorizava o pequeno vilarejo.
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