Capítulo 259 – Visita inesperada
Já de volta ao vilarejo, Nailo foi chamar Malwick, para lhe explicar a situação. Contou que Atilat o tinha desacatado, e que por isso ela estava presa. Pediu a ele que lhe conseguisse um outro ajudante, mas teria que ser alguém que obedecesse as suas ordens, pois Nailo não se responsabilizaria por alguém indisciplinado, que não seguisse suas instruções, que corresse riscos desnecessários, colocando em perigo a segurança do grupo e a palavra de Nailo. Mesmo sem perceber, o ranger estava vivendo as mesmas dificuldades que o capitão Glorin era obrigado a enfrentar quando liderava Nailo e seus amigos. Da mesma forma que Nailo não obedecia a seu capitão, deixando-o irritado e preocupado, agora era ele a vítima do mau comportamento e da insubordinação de seus seguidores. Infelizmente, porém, Nailo não foi capaz de perceber a semelhança entre o que acontecera no passado e o que acontecia ali, e deixou de aprender uma importante lição, que poderia ajudá-lo a se manter longe de perigos, assim como ele desejava fazer com seus soldados. Nailo ainda não tinha compreendido o verdadeiro significado de trabalho de equipe, embora exigisse isso de seus soldados. E de algum lugar muito longe, inacessível por meios mundanos, uma elfa de cabelos púrpuras e olhar observava aflita e esperançosa, desejando que seu filho fosse capaz de entender a mensagem implícita naquela situação e mudar, para seu próprio bem, para o de seus amigos e para o bem de todos os povos de Arton.
Alheio aos segredos que o destino lhe reservava, Nailo continuou explicando ao condestável tudo o que tinha acontecido. Malwick compreendeu o ponto de vista de Nailo, e se comprometeu a chamar outra pessoa para ajudá-lo. Malwick se afastou e desapareceu entre as casas da vila, enquanto os soldados aguardavam seu retorno. Foi nesse momento que Hydor pediu ao sargento para dar uma volta pelo vilarejo. Acostumado a viver entre a natureza, o pequeno ser alado não suportava mais ficar ali entre tanta gente. Desejava ter um pouco de sossego, isolar-se entre as árvores, num lugar tranqüilo onde poderia tocar seu alaúde alegremente, como fazia sempre quando estava com Kuran, no jardim de Forte Rodick. Além disso, Hydor estava descontente com a atitude tomada pelo sargento, e o considerava por demais autoritário. Secretamente ele escrevia um relatório, para entregar a Kuran, assim que retornassem para o forte.
Mas, Nailo estava irredutível. Negou permissão para a fada se afastar do grupo, ainda que fosse apenas para circundar a casa de Malwick. Os dois acabaram discutindo seriamente, até que Hydor encerrou a contenda dando as costas para Nailo e deixando-o falar sozinho. Hydor se afastou, irritado, e foi para a orla da vila, passando atrás da casa de Restik e do altar de Khalmyr.
Pois foi enquanto ele procurava uma árvore adequada para pousar seu corpo diminuto e esquecer sua raiva, que ele viu um gigantesco e assustador vulto rondando a vila. Hydor se escondeu rapidamente em uma árvore, e ficou a observar. E viu que o vulto na verdade era o gigante que caçavam, o ettin.
O gigante espreitava entre moitas e árvores, como se tentasse não ser visto. Carregava sua gigantesca clava entre as mãos, e uma de suas cabeças parecia dormir serenamente, enquanto a outra comandava o corpanzil e tentava invadir Forte Novo furtivamente.
Hydor pressentiu o perigo, e sabia que era melhor surpreenderem o gigante do que atacá-lo de frente. Assim, ele agarrou um pequeno besouro que caminhava pelo tronco da árvore e pediu ajuda a ele. Hydor usou sua habilidade racial que permitia aos sprites se comunicarem com os animais livremente e pediu que o pequeno inseto levasse uma mensagem na direção onde estavam seus amigos. Pediu ao besouro que soltasse o pequeno papel, no qual escreveu a mensagem, perto das pessoas que ele encontraria, e prometeu recompensar o inseto com comida quando ele cumprisse a tarefa. Com muito custo o sprite conseguiu fazer com que o besouro compreendesse todas as instruções e o inseto voou na direção pedida.
Então, o gigante se aproximou cada vez mais da vila, e para chamar sua atenção, Hydor começou a tocar. Esperava que com sua música pudesse deter o monstro por uns instantes, até seus companheiros chegarem para ajudar. Mas, o som do alaúde pareceu assustar a criatura, que correu velozmente para fora da vila e desapareceu na floresta.
Não distante dali, Nailo recebia a mensagem, ainda que de forma grotesca. O besouro voou direto para o rosto do ranger, que o rebateu com um tapa. O inseto caiu no solo e foi abocanhado por Relâmpago por puro instinto. Nailo afastou o lobo e apiedou-se do inseto, pegando-o do chão para soltá-lo na mata. Então ele viu um pequeno papel enrolado, ao lado do animal e o pegou. “Gigante a noroeste. Rápido!” , era o que trazia a mensagem. Nailo resmungou, aborrecido, pois sabia que agora Hydor poderia estar em perigo, soltou o besouro e explicou o que acontecia aos soldados. Contou que o gigante estava nas proximidades, e que precisavam agira rapidamente, e quando estavam para sair em busca da criatura, lembraram de Atilat.
_ Vamos amarrá-la! – ordenou o sargento. Junto com Akira eles enrolaram firmemente a dama élfica em uma corda, deixando-a quase sem ar. Colocaram-na dentro da casa de Malwick, para trancá-la lá dentro em segurança e fora de seu caminho. A elfa tentava persuadir Akira, enquanto ele a amarrava, mas o senso de hierarquia do descendente de Tamura o impediu de ceder aos pedidos da moça. Lord, entretanto, era contrário a tudo aquilo que era feito à donzela, e protestou. Mas, a decisão de Nailo era irrefutável, e o máximo que o halfling conseguiu foi que o sargento deixasse uma vela acesa dentro da casa, para que a dama não ficasse totalmente no escuro. Atilat foi deixada no chão, como inimigo de guerra capturado, seu corpo totalmente amarrado em uma grossa corda que devorava sua pele delicada com o atrito, sem ninguém para ampará-la.
O grupo partiu em busca do gigante, e quando chegaram ao limite da vila encontraram Hydor. O bardo explicou o que acontecera, e recebeu nova bronca do sargento pelo seu comportamento. Mas, como se mostrava decidido, Nailo decidiu usar nova estratégia para manter seu grupo sob controle. Levou os soldados de volta à vila, e fez todos assinarem uma carta, redigida por ele à mão, que isentava o sargento de qualquer responsabilidade pelos atos dos soldados sob seu comando. Para Nailo, eles agora eram quase como desertores.
Nesse instante, o besouro pousou próximo a Hydor, para reclamar seu pagamento. Hydor, deu-lhe uma porção de sua ração de viagem, que foi prontamente rejeitada pelo inseto. Revoltado, o animal mordeu o braço do sprite e partiu, desaparecendo na mata.
Então, em meio a toda gritaria e discussão feita pelos soldados, a porta da casa de Restik se abriu, e ele surgiu, segurando um lampião, para conversar com os homens do exército.
Restik interrogou Nailo sobre a prisão de Atilat, pois ela agora estava em sua casa, após cortar as cordas com uma faca e fugir da casa de Malwick. O sargento explicou o ocorrido, esperando compreensão, mas o sacerdote se revoltou. Nailo tentava se justificar, dizendo que sua autoridade tinha sido desacatada e por isso Atilat deveria ser presa. Mas, Restik discordava, dizendo que nailo tinha abusado de sua autoridade por uma coisa tão simples, e com isso tinha cometido grande violência contra a jovem elfa. Restik mostrou a todos o estado de Atilat, com seu corpo todo rasgado e arranhado pela corda, e os grilhões pesados e enferrujados envolvendo seus delicados braços.
_ Concordo com você que Atilat pode ter se excedido em suas palavras e desrespeitado você! Mas o que você fez é um ato insano, promoveu toda essa brutalidade contra esta jovem, e tão somente por causa de algo que se resolveria com um pedido de desculpas! O que Atilat fez não é nenhum crime, e ainda que fosse, não seria algo para se punir de forma tão brutal! Você tenta justificar seus atos através de sua autoridade militar, mas eu uso de minha autoridade com representante de Khalmyr, o deus da justiça de da ordem, para pedir que essa insanidade termine e que esses grilhões sejam removidos de Atilat! Afinal, vocês vieram aqui para nos ajudar, não para nos agredir! – a voz de Restik era firme e decidida, e seu discurso inflamou os corações dos soldados, e eles perceberam o erro que havia sido cometido. Nailo, entretanto, ainda não se dava por vencido. Akira, que se mantinha totalmente fiel ao sargento, irritou-se e ofendeu seriamente Restik, mandando-o se calar e ameaçando-o.
_ Agora compreendo que tipo de pessoas vocês são! – disse Restik, após as ofensas. Akira se retirou, bufando como um touro e ficou observando de longe.
Foi então que chegaram Malwick e John, que presenciaram tudo o que acontecia. E os dois concordaram com a posição de Restik e pressionaram Nailo de tal forma, que ele não teve outra opção, senão libertar Atilat.
_ Está bem, vou soltá-la! Mas vocês terão que me prometer que vão mantê-la aqui, pois não quero mais a presença dela atrapalhando minha missão! E a pessoa que for me acompanhar, deverá seguir todas as minhas ordens, vocês devem me prometer isso, ou não levarei ninguém comigo! – disse Nailo, contrariado.
_ Não podemos prometer nada disso! Não somos bárbaros como vocês para amarrar uma moça delicada como Atilat da maneira como fizeram! Se o John prometer obedecer você, será responsabilidade dele somente! Não posso garantir que ele cumpra suas ordens, pois ele não é meu escravo, e nem seu! – respondeu Malwick.
_ Então iremos somente meus soldados e eu! Não preciso da ajuda de ninguém da vila! – bradou o ranger, orgulhoso.
_ Melhor assim, pois desse modo estarei com todos os meus homens na vila, caso aquele gigante resolva voltar aqui à noite, enquanto vocês estão por ai procurando por ele! – rebateu o meio-elfo.
_ Pois saiba que ele já está rondando a vila! Um de meus soldados o viu ainda há pouco! – completou o sargento.
_ Bem, então reunirei meus homens e ficaremos em alerta! Vamos John! – e dizendo essas palavras, Malwick partiu apressado.
Nailo e seus soldados também partiram e foram seguindo os rastros do gigante, que iam para além dos limites de Forte Novo. Antes de sair, Akira pediu desculpas a Restik, e o clérigo demonstrou não ter ressentimentos pelo ocorrido. Enquanto os soldados partiam, na vila, Atilat se despedia de Restik, dizendo que iria para casa dormir.
_ Você está mentindo, Atilat! Eu sei muito bem que você pretende seguir os soldados na caça ao gigante! Mas eu lhe peço, não faça isso, fique aqui! – disse o sacerdote à elfa.
_ Está bem, não consegui enganá-lo mesmo! Já que é assim, ficarei em sua casa, para provar que não irei a lugar nenhum! – disse Atilat, sorrindo.
_ Ótimo! Assim, ficarei mais tranqüilo! Você dormirá na minha cama esta noite, e eu ficarei na poltrona da sala de estar, está bem? – propôs o homem.
_ Sim, está bem! – sorriu a elfa. E ambos entraram na casa. Atilat entrou no quarto, preparou a cama e fechou a porta para se trocar. E saltou a janela e fugiu, indo na direção de Nailo e dos outros.
Atilat corria, enquanto Nailo era forçado a avançar lentamente, seguindo os rastros deixados pelo gigante. Em pouco tempo a moça viu a luz da tocha carregada por Lord e sentiu que era o momento de se esconder, para não ser descoberta. Então, ela usou seus poderes mágicos e passou a segui-los totalmente invisível. Mas, enquanto analisava os rastros no chão, Nailo ouviu os passos de Atilat, e sabia que estavam sendo seguidos. Ordenou então a seus homens que procurassem por ela, e a caçada ao ettin foi novamente interrompida.
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