setembro 07, 2005

Capítulo 89 - Chacina

Os monstros gritaram em tom de desafio para os heróis, que responderam à altura os rugidos dos orcs. Todos estavam furiosos, pelos horrores que haviam passado naquela maldita montanha, e principalmente, pela morte de seu amigo Loand. Anix se levantou cheio de cólera, enquanto os orcs se aproximavam perigosamente. O nagô arremessou uma pequena esfera de guano e enxofre aos pés dos orcs, e gritou a plenos pulmões: “Bola de fogo!”. Uma grande explosão se formou, consumindo os orcs e tudo à sua volta em chamas ardentes. Quando o fogo se dissipou, os orcs tentavam extinguir o fogo de suas armaduras, já completamente inutilizadas. Os caixotes e sacos de mantimentos e ferramenta próximos, haviam se transformado numa grande fogueira, iluminando a fria e escura caverna.
O líder dos orcs, outrora pomposo com seu machado e sua brilhante armadura de metal, interrompeu seu avanço e o de seus companheiros. Olhou calmamente para cada detalhe do corredor. Mediu cada um dos heróis com os olhos, e contou cada um dos corpos caídos no chão, inclusive o do ogro e o de Loand. Pôs-se entre os heróis e os outros orcs, com o machado estendido para barrar a passagem de ambos os grupos. Ordenou algo aos seus subordinados, em seu próprio idioma, e eles recuaram até a porta por onde haviam surgido, agora revelada pela luz da fogueira.
Legolas caminhou alguns passos pelo corredor, tomando a dianteira, e disparou seu arco contra o líder dos orcs. A flecha carregada de ódio atravessou o crânio da criatura, continuando sua trajetória até se chocar na parede do corredor. Na porta, os orcs agitavam os braços desesperadamente, gritando algo que os heróis não compreendiam.
Então, de trás da porta, surgiu um grande número de orcs. Não eram guerreiros que vinham para lutar, mas sim mulheres, crianças e idosos, que fugiam desesperadamente, liderados pelos quatro soldados que haviam restado. Os orcs estavam abandonando o covil pacificamente, reconhecendo a derrota para os destemidos e poderosos aventureiros.
Mas Legolas e seus amigos estavam cegos pela ira. Haviam perdido um grande amigo. Não tinham encontrado as pessoas que desejavam resgatar, e estavam feridos e cansados. Aqueles monstros não podiam escapar impunes.
Simultaneamente, Sairf, Nailo, Squall e Sam reuniram o que lhes restava de poder mágico e convocaram ajuda externa. Animais monstruosos, vindos de outros planos de existência, surgiram sob o comando dos heróis e atacaram os orcs que fugiam. As espadas foram sacadas e suas lâminas cortaram o ar juntas com flechas, dentes afiados e raios mágicos. A cada golpe uma morte. Os orcs foram sucumbindo um a um diante de tanta fúria. Em poucos segundos, os soldados que protegiam os mais fracos estavam mortos. Os heróis não detiveram sua fúria, e passaram a atacar os idosos, as mulheres e as crianças. Entre elas, haviam três mestiços. Eram três meio-orcs, resultado do cruzamento daquelas criaturas repugnantes com humanos ou elfos. Nailo decapitou um dos bastardos com sua espada, outro deles morreu pisoteado, e o terceiro desapareceu pelos túneis escuros. Nailo perseguiu-os pelo labirinto de cavernas, acompanhado das criaturas extraplanares que ajudavam os heróis. Legolas e os outros seguiram por outro túnel para cercá-los. Apenas Squall ficou para trás, junto ao corpo de seu amigo.
O feiticeiro se sentou cabisbaixo, enquanto seus amigos gritavam enlouquecidamente perseguindo os orcs. Squall retirou com cuidado a espada de seu amigo, colocando-a na bainha e a guardou côn sigo. Sacou sua adaga segurando o dedo indicador de Loand com a mão esquerda. A lâmina afiada cortou o dedo do paladino, cobrindo-se do sangue do servo da justiça enquanto o rosto de Squall cobria-se de lágrimas.
_ Amigo Loand, tomo-lhe este dedo para um dia poder dar-lhe a vida de volta! Eu juro pela minha vida que um dia você voltará a viver! Através deste dedo eu irei trazê-lo do mundo dos mortos um dia, eu prometo!
Squall se levantou guardando o indicador na sua bolsa de componentes mágicos, enrolado em um pedaço de sua própria camisa. Recostou-se na parede, com uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto, e aguardou calado o retorno de seus amigos.

   

Os orcs estavam cercados, todos sentados no chão acuados, próximo ao local onde Courana e Geradil eram mantidos prisioneiros. De um lado, Nailo e seu amigo lobo ameaçavam as criaturas. Do outro, Legolas e o restante do grupo impediam a passagem dos monstros em direção à saída da montanha.
Legolas agarrou o menino meio-orc, arrancando-o de perto de sua mãe. O pequeno mestiço se debatia, mordendo com suas presas proeminentes o braço esquerdo do elfo que o segurava. Legolas olhou fixamente nos olhos da criança, como se tentasse ler sua mente, e começou a falar com ele. Tentou todas as línguas que conhecia, mas o menino parecia não entender qualquer palavra dita por Legolas. Os olhos do arqueiro tornaram-se sombrios, como que cobertos pelo manto de Tenebra. A lâmina de sua faca de caça deslizou lentamente pela bainha de couro curtido. Num movimento rápido e preciso, Legolas abriu a garganta do pequeno de um extremo a outro. O sangue jorrava pelo chão, tingindo-o de vermelho. Um vermelho que se destacava na escuridão, como se o sangue emitisse um forte brilho. Os heróis se calaram diante daquele sangue brilhante que se espalhava. Na escuridão da caverna, o sangue do menino e os olhos de Legolas, cheios de ódio, brilhavam como tochas. O arqueiro desembainhou sua espada , antes que o corpo sem vida do menino atingisse o chão e, entrou no meio dos orcs gritando como um animal insano. O que aconteceu em seguida foi horrível demais para ser lembrado e descrito. Em poucos instantes, os quase trinta orcs se transformaram num amontoado de carne, ossos e sangue. Todos retalhados com tamanha crueldade que somente as mentes mais distorcidas eram capazes de imaginar. Membros e cabeças decepadas misturavam-se a olhos e línguas, arrancados um a um para causar maior dor em quem era cortado. Velhos sem olhos, enforcados com as próprias tripas, mulheres penetradas com violência pela lâmina da espada, crianças sem pele e outros cujas formas não podiam mais ser reconhecidas, espalhavam-se pelo chão. No meio daquele mar de sangue, somente uma pessoa havia restado em pé. Banhado no sangue de suas vítimas, Legolas guardou sua espada, já quase sem corte após tanto uso, e passou entre seus amigos, sem dizer uma palavra. Emudecidos pelo horror de tanta violência, todos os outros acompanharam Legolas e retornaram para onde estava seu amigo Squall.

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