setembro 21, 2005

Capítulo 100 - O cerco

Do lado de fora, Legolas, Nailo e Squall haviam amontoado os corpos dos trogloditas e revistado seus cadáveres em busca de valores. Encontraram somente duas poções mágicas idênticas à usada por um dos monstros, uma bela jóia esverdeava e algumas moedas de ouro e de prata. Os três dividiram os espólios da batalha, e já se preparavam para retornar ao andar superior para se recomporem das duras batalhas que haviam enfrentado. Mas o som de vozes e passos pesados que vinha da direção do túnel por onde o riacho desaparecia os impediu de seguir adiante. Legolas se aproximou da parede onde para onde a água escoava, e pode ver uma pequena abertura nela. Legolas se abaixou e viu numerosos pares de pernas caminhando do outro lado a parede, denunciadas pela luminosidade de sua tocha. O elfo preparou uma flecha em seu arco, enquanto Sam se encarregava de chamar Anix e Sairf. Mas não houve tempo suficiente para que eles pudessem escapar sem serem vistos. Alguém pulou dentro do riacho e passou abaixado pelo buraco na parede. Legolas disparou sua flecha, dando o alarme para seus companheiros se prepararem. Era um troglodita. O monstro retirou a flecha cravada em seu peito e a quebrou com sua mão poderosa ao mesmo tempo em que gritava algo para seus companheiros. Legolas viu dezenas de pernas mergulhando no riacho e caminhando em sua direção. Sem perder tempo, o arqueiro disparou outra flecha e correu até as escadas, chamando seus companheiros. Squall se aproximou do monstro e disparou chamas mágicas nele, mas não conseguiu detê-lo. Em poucos segundos, toda a caverna esta tomada por um pequeno exército de trogloditas.
Eles eram quinze ao todo. Em sua maioria, tinham um aspecto primitivo, pareciam bárbaros selvagens. Vestiam armaduras de couro de animais, enfeitavam-se com ossos e portavam armas simples como azagaias de ponta de pedra. Alguns poucos, talvez os mais elevados na hierarquia troglodita, vestiam armaduras metálicas, e um deles portava um grande machado de batalha. Mas dentre todos os trogloditas presentes, um chamava mais a atenção. Um pouco e mais magro que os demais de seu bando, vestia trapos escuros que lembravam um manto e tinha uma aparência mais civilizada que os demais. Ao sair do túnel, acompanhado de um gigantesco lagarto subterrâneo, começou a gritar para os demais que acatavam suas ordens com grande devoção.
_ Matem todos eles! Não deixem prisioneiros! – ordenou o líder troglodita no idioma dos dragões.
_ Esperem, vamos conversar! Não viemos aqui para lutar! Diga-me quem é você, e vamos dialogar com calma! – gritou Nailo, após curar-se com sua varinha mágica e se aproximar de Legolas.
O troglodita olhou ao redor. Viu três de seus companheiros mortos empilhados no chão úmido da caverna. Viu o cadáver do urso caído no chão, sem uma perna e sem a vida. Olhou nos olhos de Nailo e disse:
_ Eu sou o grande Kaarghaz, e pelo que pude ver você não vieram aqui para conversar! Nenhum de vocês será poupado!
_ Espere! Nós os matamos sim, mas foi porque nos atacaram primeiro! Não viemos lutar contra vocês! Nós estamos aqui para matar orcs! – Nailo, já com as mãos levantadas, tentava a todo custo uma negociação para evitar o combate.
_ Então vocês vieram mesmo ao lugar errado! O território dos orcs fica lá em cima! Agora vocês pagarão por este erro com suas vidas! Não poupem ninguém, matem todos! Aqueles que se entregarem pacificamente serão torturados até a morte! Hoje nós vamos assar suas carcaças, seus elfos nojentos! – ao dizer estas palavras, o líder dos trogloditas apontou as mãos para si mesmo, pronunciou alguns versos arcanos e desapareceu. Estava invisível. Nailo ainda tentou argumentar, inventou que conhecia o pai de Kaarghaz, que eles haviam matado todos os orcs do andar superior, que havia trolls sob seu comando lá em cima, mas nada disso surtiu efeito. O líder dos trogloditas não respondeu mais nada, e seu exército começou a atacar.
Legolas e Nailo começaram a subir as escadas, chamando seus amigos para fugir. Fracos do jeito que estavam, enfrentar todos aqueles inimigos seria suicídio. Se três deles haviam dado tanto trabalho aos heróis, um exército de quinze trogloditas, e um lagarto que mais parecia uma máquina de cerco, os massacrariam com facilidade. Era preciso fugir para viver.
Mas, a cobiça falava mais alto. Se antes Nailo era criticado por seu comportamento egoísta, mesquinho e ganancioso, agora Anix e Sairf se comportavam da mesma maneira. Sua ganância pelos itens mágicos que poderiam encontrar nas tumbas dos anões os impulsionava a permanecer ali, mesmo arriscando suas vidas e a de seus companheiros que, com certeza, não os abandonariam.
Anix entregou a Sam os itens que eles já haviam retirado. Um escudo e um martelo de combate extremamente bem feitos. O par de braçadeiras já decorava os punhos de Sairf. Sam correu para fora e viu Squall em situação perigosa. O troglodita atingido por suas chamas estava cara a cara com o feiticeiro, e outros inimigos estavam entre ele e a escada, a única chance de salvação para o grupo.
Um flecha disparada por Legolas feriu o monstro, mas ele ainda ameaçava a vida do feiticeiro. Assim que Squall desse as costas para fugir, seria mortalmente ferido pelo monstro. Mas Sam estava ali para salvar seu amigo. O bardo largou no chão tudo que Anix havia lhe dado, pegou seu alaúde e começou a tocar uma canção que Squall já tinha ouvido antes. Ao lado de Squall, apareceu magicamente um elfo, sem roupas, totalmente vulnerável a qualquer ataque, e altamente chamativo. O elfo saiu correndo nu pela caverna, indo em direção ao bando de trogloditas com sua genitália chacoalhando como um pêndulo. Os trogloditas voltaram sua atenção para aquele alvo tão frágil e exótico e começaram a atacá-lo. Squall aproveitou a chance para correr até a escada em segurança, enquanto assistia aos trogloditas tentando ferir a ilusão criada por Sam. Na memória de Squall, era viva a imagem de uma bela donzela que surgi na estrada quando ainda viajavam para Tollon. Apenas uma ilusão criada pelo bardo para demonstrar seus poderes e brincar com seus amigos. Squall conseguiu se aproximar, são e salvo, de Legolas e Nailo, que se defendiam de uma chuva de azagaias atirada pelos trogs.
Dentro do sepulcro, Sairf, cego pela ganância, desejava a todo custo os tesouros que haviam ali. O mago segurou o machado e começou a puxá-lo lentamente, temendo que o cadáver do anão se levantasse para atacá-lo. Então ele sentiu que o defunto resistia e segurava firmemente o machado. Sairf largou a arma e correu para a saída da câmara, de onde olhou para trás e constatou que tudo tinha sido apenas sua imaginação. Os ossos do cadáver, há eras na mesma posição, estavam rígidos pelo tempo. Apenas por esse motivo as duas mãos não se desprenderam do machado quando Sairf o puxou. Finalmente de volta à sanidade, o mago agora deveria encontrar uma forma de salvar a própria vida. Sua reação foi convocar magicamente seus aliados extraplanares para ajudá-lo. Lucano percebeu a intenção de Sairf e copiou sua idéia. Talvez invocando alguma criatura poderosa para ajudá-los eles pudessem criar uma oportunidade de escapar daquela cilada.
Sam ouviu uma voz atrás de si. Era Anix, com certeza. Mas quando o bardo se virou, encontrou apenas Sairf e Lucano concentrados em suas magias. Anix havia usado sua magia de invisibilidade para escapar dali em segurança. Se nada desse errado, aquela magia garantiria sua sobrevivência. Entretanto, Anix não tinha mais magias disponíveis para usar, e seus amigos precisariam atravessar uma horda de trogloditas para chegarem à saída. O andar de cima era território orc, e com certeza os trogloditas não os seguiriam até lá. Mas primeiro era preciso chegar até a escada com vida, as circunstâncias estavam contra os heróis e suas vidas agora estavam novamente por um fio. O tempo corria, e a cada segundo a salvação da bela Liodriel parecia mais distante.

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