Capítulo 286 – Reencontro inesperado
Silfo chegou por último e se juntou ao restante do grupo que se reunia ao redor do goblin morto e de suas estranhas armas. todos olhavam com estranheza para aqueles objetos misteriosos e intrigantes. Começaram a testá-los, um a um. Nailo mexia em uma arma que consistia em um cano de metal com um cilindro perpendicular a ele. Acionou alavancas, gerou manivelas, e algo começou a funcionar lá dentro. Era um tipo de hélice, que girava velozmente dentro do cano do objeto. Uma pequena comporta se abriu no cilindro que ficava na vertical. Nailo entendeu que era algum tipo de arma para produzir vento e reverteu todas as alavancas ao seu estado original, desativando o mecanismo.
Squall testava uma outra arma menor composta de um cilindro de metal cheio de pequenas setas, parecidas com virotes, dentro dele. O elfo apontou a arma para o mar, na direção do navio, e pressionou um gatilho. Os pequenos virotes foram disparados, ligados à arma por pequenos fios metálicos. Percorreram alguns metros em direção ao mar, pequenas escamas se abriram nas pontas dos virotes, transformando-se em hélices que giravam rapidamente, fazendo com que os projéteis subitamente retornassem na direção de Squall. O feiticeiro se assustou ao vê-los vindo em sua direção. Mas, as setas desviaram sua trajetória, passando ao lado do elfo, e fincando-se no chão ao redor dele. Squall estava agora com a arma apontada para cima e cercado pelos fios metálicos que saíam dela e iam até as pequenas flechas fincadas no solo. O feiticeiro acionou uma das alavancas da arma e uma corrente elétrica partiu do cano, percorrendo os fios metálicos e indo até os projéteis fincados no chão. Se fizesse algum movimento mais brusco, Squall sabia que seria eletrocutado. Então, ele acionou a outra alavanca que havia na engenhoca, liberando os fios do cano da arma e interrompendo a descarga elétrica. Uma nova carga de projéteis avançou para a boca do cano da arma. Ela estava pronta para ser usada novamente. Lucano pegou um dos virotes do chão e guardou-o com sigo, descartando o fio de metal.
_ Pessoal, vamos voltar para o farol e descansar! Precisamos recuperar nossas energias! – era Anix.
Mas Silfo era contrário à sugestão do elfo. Estava intrigado com a presença daquele navio, e sugeriu que ele fosse investigado antes. Assim, não seriam surpreendidos por nenhum inimigo que estivesse escondido na embarcação.
_ Mas como chegaremos até o outro lado? – perguntou o mago.
_ Deixem isso comigo! – Orion retirou sua pesada armadura metálica deixando-a sob os cuidados dos elfos. Tomou impulso e saltou, desta vez contudo, alcançando facilmente o navio. As botas de metal do guerreiro fizeram um estampido seco na madeira do navio. Orion recolheu seu escudo do chão e o lançou para o outro lado, junto de sua armadura. Pegou a corda que carregara enrolada em seu corpo e amarrou-a na corrente que sustentava a âncora do navio. Depois, lançou a corda para o outro lado do abismo.
Anix pegou a ponta da corda e terminou de desenrolá-la. Silfo correu e pegou a espada de Orion dentro da armadura e com uma pedra a fincou profundamente no chão. Amarrou a corda no cabo da espada, deixando-a bem esticada e firme.
_ Podem passar! Corda está forte como minhas flechas! – disse o sátiro, orgulhoso.
Anix olhou desconfiado. Lembrou da qualidade das flechas produzidas por Silfo e decidiu não arriscar. Evocou seu poder mágico e criou uma rede, composta de teias pegajosas entrelaçadas, abaixo da corda, para servir de proteção, caso alguém caísse da corda. Além disso, ficou preparado para ajudar com sua mágica, caso alguém corresse perigo.
O primeiro a tentar a travessia foi Squall. Exibido, tentou atravessar andando sobre a corda, equilibrando-se com dificuldade. Para surpresa de todos, conseguiu chegar até a metade da corda. Mas, quando tentou mais um passo, perdeu o equilíbrio e caiu. Anix estava preparado para isso, e usou sua magia de levitação para impedir que o irmão despencasse na teia mágica abaixo dele. Squall foi colocado por Anix de volta na corda e tentou novamente caminhar sobre ela. O mago o repreendeu, mas o teimoso feiticeiro insistiu em seu erro e caiu novamente. E uma vez mais Anix o segurou com seu poder.
_ Squall, deixe de palhaçadas e atravesse isso direito! Eu não vou mais te segurar se você cair agora!
Intimidado, o feiticeiro decidiu se pendurar na corda e atravessar da maneira mais fácil.
O próximo foi Anix. Tentou passar pisando em sua teia mágica, mas ficou com os pés grudados nela e precisou ser resgatado pelos amigos. Depois, passou pendurado na corda, da mesma forma que Squall. Depois foi a vez de Lucano e de Orion, que voltou do navio para pegar sua armadura e sua espada. O guerreiro trocou sua espada por uma de Lucano para servir de apoio para a corda. Legolas e Nailo não atravessaram, preferindo ficar de guarda na ilha, dando cobertura aos amigos com suas flechas, caso fosse necessário. Já Silfo disse que retornaria para o farol, para proteger o corpo petrificado de Deedlit. Anix lhe deu uma tocha, para que ele acendesse no alto da torre, sinalizando que estava tudo bem.
No navio, os heróis começaram sua exploração. Lucano evocou uma bênção de sua deusa sobre si, para se proteger, e outra sobre Squall, para curar os seus ferimentos. Orion ativou sua espada mágica para com suas chamas iluminar o caminho que iriam percorrer.
Abriram um dos alçapões que havia no convés. Sob o solo de madeira havia um amplo compartimento onde vários canhões, barris com o proibido pó negro chamado de pólvora e grandes esferas de metal negro dividiam o espaço existente. Desceram e não encontraram nenhum outro inimigo. No chão daquele andar também havia um alçapão, que conduzia aos níveis inferiores e ele foi logo aberto pelos heróis.
O pavimento abaixo do andar dos canhões era um pouco menor, cheio de pilares de madeira onde redes de dormir se amontoavam, esticadas. Havia portas, uma na proa e outra na popa, que levavam para além da visão dos aventureiros. E também havia um alçapão no chão, revelando a existência de um outro andar.
Anix e Squall usaram seus poderes para ficarem invisíveis, deixando Orion espantado. Desceram então, protegidos por sua camuflagem mágica, e começaram a olhar dentro das redes, em busca de algum goblinóide adormecido. Da entrada do andar a espada flamejante de Orion fornecia iluminação para os dois. Lucano os observava, usando uma bênção para poder enxergar os companheiros invisíveis.
Squall e Anix, entretanto, não viam um ao outro, e, num momento de distração, Squall viu uma das redes se movendo, virada por Anix, e pensou que fosse algum inimigo. O feiticeiro atacou a rede com sua espada, voltando a ficar visível e fazendo ruído suficiente para acordar um batalhão de goblins.
Anix advertiu o irmão. Squall compreendeu o erro que havia cometido e usou sua varinha mágica para ficar novamente invisível. Ficou em silêncio, mas já era tarde, pois alguém já despertara.
_ Quem é que está ai? Não vão me trazer comida hoje não? Estou com fome, seus miseráveis! Se não me alimentarem, usarei uma técnica de tortura de mais de trezentos anos em vocês! – era uma voz grave e suja, carregada de arrogância. Era uma voz familiar. Lucano sacou Dililiümi, esperando confirmar suas suspeitas.
_ Quem está ai? Quem é você? – Squall usou sua magia para disfarçar sua voz e deixá-la parecida com a de um goblin.
_ Como assim quem sou eu? Sou o grande e inesquecível capitão Léo Seis Dedos! Agora venha logo me dar comida, ou sairei daqui usando um de meus truques centenários e lhe darei uma surra!
Lucano não esperou mais. Desceu a escada íngreme que dava acesso ao andar, passou por Anix e Squall e foi até a proa do navio. Atravessou a porta que havia no final do dormitório goblin e entrou num corredor estreito e comprido. Dililiümi clareava o caminho para ele, como uma vela.
Havia duas portas, uma à direita e outra à esquerda. Os resmungos do e protestos vinham da esquerda. O clérigo foi até a porta e a arrombou com um chute poderoso. Encontrou uma prisão. Eram apertadas jaulas de metal enferrujado e enegrecido. O cheiro de fezes e urina impregnava o lugar todo. Numa das celas, sentado sobre um punhado de palha podre e molhada, havia um homem magro de estatura mediana, com uma cicatriz no nariz e longos cabelos loiros embaraçados numa única trança longa e suja. Vestia trapos sujos e fedidos e tinha o rosto coberto por uma barba imunda e embaraçada.
Orion chegou em seguida, trazendo sua espada flamejante para iluminar o local. Junto com ele estavam Anix e Squall, invisíveis. O homem cobriu o rosto com as mãos, protegendo os olhos fundos da luz intensa da espada de fogo. Em cada uma das mãos havia seis dedos.
Era Léo Seis Dedos, pirata cruel e incompetente que aprisionara os heróis numa rede para explodi-los com canhões, tempos atrás, quando ainda estavam no Mar Negro, retornando do cativeiro da ilha de Ortenko. Para sorte, ou azar, dos heróis, selakos haviam chacoalhado o navio em que estavam, virando os canhões para baixo e explodindo o casco do navio, ao invés dos heróis. Léo Seis Dedos afundou junto com os canhões e desapareceu nas águas escuras. Lucano, Squall, Anix, Legolas, Nailo, Sairf, Loand e Yczar submergiram junto com o navio e outros piratas. Caíram em uma zona de “ar molhado”, um tipo de água mágica e respirável, e foram capturados por Sahuagins. No fundo do mar tiveram que passar por diversas provações para reconquistar a liberdade e poder retornar à superfície.
Léo Seis Dedos, o odioso pirata que havia colocado os heróis em grande perigo no passado, e que sobrevivera misteriosamente ao naufrágio do navio de Flat Nose, estava ali, diante deles, preso, enjaulado e indefeso.
Lucano começou a golpear com fúria a corrente que trancava a jaula. Faíscas voavam pelo porão lúgubre, sem causar grandes danos à corrente. Então, o clérigo ouviu uma voz em sua mente.
_ Lucano! Por que toda essa fúria? Por que odeia tanto este homem?
_ Por causa dele, meu grupo e eu quase morremos! Quase tivemos nossos olhos arrancados! – respondeu o elfo, mentalmente.
_ Qual grupo?
_ Os meus amigos! Squall, Anix e os outros! Todos os elfos que andam comigo!
_ Então, este humano é um inimigo dos elfos?
_ Sim!
_ Então eu o ajudarei!!!
A voz silenciou nos pensamentos do clérigo. A espada em suas mãos ardeu como uma forja e foi tomada por chamas muito brilhantes. Lucano voltou a golpear a corrente, que começou a esquentar a avermelhar, até se partir. O sacerdote invadiu a cela, tomado pela fúria que resplandecia em seus olhos, e agarrou o pirata prisioneiro pelo pescoço.
_ Muito bem, marujos! Serão bem recompensados! Agora vamos logo! Temos um navio a tomar!
_ Cale-se! – rugiu Lucano.
_ Ora, marujo! Isso não são modos de tratar o seu capitão! Peça desculpas agora!
_ Cale essa sua boca imunda! – Lucano gritou e torceu um dos seis dedos da mão esquerda de Léo até quase quebrá-lo. Squall, invisível, pressionou sua espada na garganta do pirata, quase o sufocando. – Olhe nos meus olhos, desgraçado! Pois por sua causa eu quase os perdi! Lembra-se de mim? Lembra-se de mim?
_ Pare de gritar comigo! Eu sou o capitão aqui! Você marujo, tire-o daqui! Jogue-o numa cela! Uma semana de prisão a pão e água por insubordinação! – o pirata apontou para Orion, ordenando que ele prendesse Lucano. O sacerdote golpeou o rosto do pirata, calando-o. O guerreiro deu as costas e saiu, indo investigar a porta em frente.
_ Ai, esses elfos! – resmungou Orion, enquanto saía.
Anix voltou a ficar visível, agredindo Orion. Começou a estrangulá-lo e sentiu uma energia estranha percorrendo sua mão. Viu que uma aura negra se formava no ponto em que ele pressionava a garganta do humano. Anix o soltou, espantado. Squall abandonou Léo Seis Dedos e levou sua espada ao pescoço do guerreiro.
_ Nunca mais diga isso! Nós somos elfos sim! Com muito orgulho disso! E você não sabe o que nós passamos por causa daquele indivíduo ali! Então, não me obrigue a descontar a raiva que estou sentindo em você! – rugia Anix. Orion, sem entender o que acontecia, apenas saiu, e foi continuar sua investigação.
_ Lembra-se de mim? Lembra-se de nós? Meses atrás você nos prendeu numa rede em um navio no Mar Negro! Ia disparar canhões contra nós! Mas os canhões viraram para baixo e explodiram o casco do navio! Nós fomos para no fundo do mar e quase morremos nas mãos de um bando de criaturas marinhas! E tudo por sua causa! – gritava Lucano.
_ Ah! Agora me lembro! Vocês caíram em um truque de mais de trezentos anos! Foi bem feito pra vocês! Mas acho que já aprenderam a lição! Agora, saiam de meu caminho e poderão se juntar a mim! – a arrogância continuava na voz do pirata.
Lucano quebrou o dedo do homem, que estava em sua mão. Ameaçou deixá-lo sem dedos, caso ele não se comportasse como o prisioneiro que era. Anix o ameaçou, com suas magias. Léo baixou a cabeça.
_ Sim senhor! Ficarei quietinho! Prometo! Só não me façam mal!
Quase chorando, Léo Seis Dedos contou sua história. Havia sido capturado há cerca de um mês pelos piratas goblinóides e sua líder, a misteriosa bruxa. Desde então, estava prisioneiro dentro daquela cela imunda. Mesmo assim, enquanto falava, Léo Seis Dedos não perdia seu ar de superioridade, dizendo ser tudo um plano para tomar o navio da bruxa, mais uma das suas táticas de trezentos anos. De maneira alguma ele assumiu ter sido feito prisioneiro. Segundo ele, tudo não passava de mais um de seus planos. O pirata foi amarrado e levado para o convés por Anix. Lá em cima, no convés, o mago alimentou o pirata e lhe deu água. Léo começou a comer desesperadamente, como se não o fizesse há muitos dias. Lágrimas escorriam de seus olhos, misturando-se à ração desidratada cedida por Anix, enquanto ele se esbaldava e agradecia com emoção.
_ Obrigado, senhor! Obrigado, senhor! Jamais me esquecerei disso! Serei sempre grato, senhor!
_ Tudo bem! Não precisa chorar! Coma à vontade! Eu vou ficar aqui fazendo umas anotações em meu grimório, enquanto isso! Mas não tente nenhuma gracinha, senão você vai comer uma bola de fogo! – disse Anix, abrindo seu livro de magias e mostrando, ameaçadoramente, uma pequena esfera de enxofre em sua mão, o componente para conjurar a tal magia de fogo.
Enquanto isso, nas entranhas do navio, Squall, Orion e Lucano continuavam investigando. Descobriram que a outra sala em frente às celas era uma asquerosa cozinha de goblins, que fedia mais que a mais imunda fossa dos humanos. Desceram mais um andar no casco da nau goblinóide, e encontraram lá o depósito da embarcação.
Havia no depósito várias caixas com mantimentos em bom estado armazenados, provavelmente produto de algum saque. Havia também vários barris, alguns com vinho e cerveja,outros com óleo e mais alguns com pólvora. Havia ferramentas, tábuas para possíveis remendos na nau, pregos, cordas, panos para velas, piche. E havia sacos. Eram grandes sacos de um tecido grosso, que tinham o tamanho de um gato ou outro animal pequeno. Eram trinta deles, que se amontoavam num canto do casco úmido e eram todos muito pesados. Lucano abriu um dos sacos e seus olhos brilharam ao ver centenas de moedas douradas lá dentro. Era um tesouro. Um tesouro pirata.
Um tesouro que poderia estar amaldiçoado. Lucano usou seus poderes para descobrir se havia alguma magia amaldiçoando aquele ouro. Não havia. Squall, Orion e Lucano comemoraram com gritos de vitória. Os gritos chegaram até o convés do navio.
_ Está ouvindo isso? São gritos! O que está acontecendo com seus amigos? – perguntou Léo Seis Dedos, curioso. Anix se levantou calmamente e foi até ele. Tirou um espelho de dentro de sua mochila e o mostrou ao capitão.
_ Quer saber o que está acontecendo? Então olhe no espelho! – o mago murmurou um feitiço e o espelho brilhou magicamente. E, ao invés do reflexo daqueles que o olhavam, o espelho mostrou o que acontecia no porão do navio. A magia durou apenas um breve instante, e esgotou Anix fisicamente, mas foi o suficiente para entender o que acontecia.
_ Ouro! Ouro! – repetia o pirata, enlouquecidamente.
_ Fique quieto! Ou então vou amordaçá-lo novamente! – advertiu o elfo. Léo Seis Dedos se calou.
Squall, Lucano e Orion carregaram os sacos para cima, para o convés. Cada um deles devia conter cerca de mil moedas. Se fossem realmente todas de ouro, seria uma pequena fortuna de trinta mil tibares de ouro. No meio do saque, Squall se deparou com algo que fez a emoção dominá-lo. Era uma bolsa feminina, uma bolsa que ele conhecia muito bem. Era a bolsa de Deedlit.
Squall pegou a bolsa, entristecido, e começou a olhar dentro dela, procurando por algo que pudesse ser útil para trazê-la de volta à sua forma original. Havia vários pergaminhos mágicos na sacola, todos enrolados em forma de pequenos tubos, com um papel amarrando-os no qual podia ler qual tipo de magia eram capazes de fazer.
Havia pergaminhos de vôo, de detecção mágica, de mísseis mágicos, e havia pergaminhos de magias de respirar sob a água, muito úteis para alguém que se fora se aventurar em uma ilha no meio do oceano. Havia também um outro rolo com pergaminhos que permitiam ao alvo da magia mover-se normalmente sob a água. Squall sabia que Deedlit não era capaz de usar aquele tipo de pergaminhos, já que eram de magias divinas e ela era uma feiticeira que, assim como ele mesmo, conjurava magias arcanas. Squall deduziu então que Rael, o clérigo de Ab’ Dendriel, deveria ter ido até a ilha com Deedlit. Restava agora descobrir onde ele estava.
Muitos minutos se passaram até que todo o tesouro estivesse sobre o convés. Todos comemoravam, os olhos de Léo Seis Dedos brilhavam mais que o ouro. Mas a comemoração durou pouco tempo. Ouviram um estranho ruído vindo de fora do barco, como se um pano molhado se chocasse na embarcação. Todos voltaram suas atenções para bombordo, enquanto o ruído se aproximava do convés, ritmado e cada vez mais perto. Então puderam ver uma criatura horrenda. Era um ser humanóide, de aparência monstruosa que lembrava uma mulher muito velha e enrugada. Sua pele era viscosa e amarelada, coberta de sulcos gosmentos e verrugas purulentas. Tinha cabelos longos e imundos, embaraçados uns nos outros de forma que lembravam algas marinhas podres. Era uma bruxa.
_ Ah! Amigos da elfa vagabunda! Vieram encontrar sua amiga! Digam-me onde encontrar o amuleto dos planos e eu salvarei a vagabunda para vocês! – a mulher tinha uma voz estridente e aterrorizante. Só de olhar para ela, os heróis sentiam vontade de fugir e se esconder. Léo Seis Dedos começou a chorar convulsivamente, repetindo constantemente “a bruxa!a bruxa!”, entre um soluço e outro. Orion sentiu suas forças diminuindo, tamanho era o pavor que a aparência horripilante da bruxa causava.
_ Quem é você? O que faz aqui? – perguntou um dos heróis.
_ Eu sou Silmara! E quero o amuleto dos planos! Digam-me aonde encontrá-lo e eu irei embora! Caso contrário, irei infernizar a vida de vocês!
_ Cale-se, bruxa! Ou você vai ganhar um presentinho meu! – gritou Anix. Lançou a pequena esfera de enxofre na direção da mulher, concentrando-se para retardar a detonação da magia até o melhor momento.
_ Isso, cale-se, sua maldita! – gritou Squall, disparando uma rajada de energia na mulher. Os projéteis serpentearam e foram de encontro à bruxa. E nada aconteceu.
_ Amigos da vagabunda, só eu posso salvar a vagabunda pra vocês! Se não me disserem onde encontrar o amuleto, não conseguirão salvar a vagabunda!
_ Pra que você quer esse amuleto? – era Orion, ativando as chamas de sua espada.
_ Pra dominar todos os planos! Vou ser a rainha de tudo! Vou dominar os reinos dos deuses e tudo mais que existir! Há! Há! Há! Há! Há! – a bruxa gargalhava compulsivamente, enquanto fitava os aventureiros com seu olhar maligno e insano.
_ Eu vou acabar com você! – gritou o humano, corre até a mulher brandindo sua espada.
_ Adeus! – a bruxa se soltou e despencou no mar. Os heróis correram a tempo de vê-la mergulhando nas águas frias e escuras do mar. – Se quiserem salvar a vagabunda, me entreguem o amuleto! E se quiserem brigar, venham até aqui embaixo! – e, após dizer essas palavras, mergulhou sob as ondas e desapareceu.
Squall pensou em usar os pergaminhos que encontrara na bolsa de Deedlit para is atrás da bruxa, mas Anix o deteve.
_ Vamos voltar para o farol! Está escuro e frio lá embaixo, e o mar está agitado demais! Além disso, nós já estamos muito fracos após todas essas batalhas! Vamos descansar por hoje, e amanhã resolveremos tudo! – disse o mago.
Todos concordaram e retornaram para a torre do farol, levando consigo o tesouro que haviam encontrado no navio. Já estavam de volta à ilha quando uma explosão detonou dentro do navio, destruindo parte do convés. Era a magia de Anix, que só agora detonara, após ter sido retardada pelo mago.
Já no forte, Léo Seis Dedos chorava e soluçava, implorando aos heróis que impedissem a bruxa de conseguir o tal amuleto.Orion mostrou o amuleto que tinha e contou como o havia conseguido. Perguntou ao pirata se aquele poderia ser o amuleto dos planos. E a resposta de Léo foi assustadora.
_ Não deve ser! Ouvi a bruxa dizer que o amuleto está em algum navio que afundou nessas águas! Vocês têm que impedi-la de conseguir o amuleto! Se ela conseguir encontrá-lo, será o fim de tudo! Ela me disse o que vai fazer! Ela quer abrir um portal para trazer a Tormenta para nosso mundo! Não da forma como ela vem hoje, em pequenos lugares, mas de uma vez! Ela quer que a Tormenta invada nosso mundo e destrua tudo! Vocês têm que impedi-la! Ela vai matar a todos nós! Não podem deixar que ela consiga o amuleto! Ela é louca! Aquela bruxa...a bruxa...a bruxa... – Léo Seis Dedos voltou a chorar descontroladamente.
Algo precisava ser feito. Se as palavras do pirata fossem verdadeiras, Arton estaria condenado. A Tormenta, a terrível tempestade rubra, que, com seus demônios e sua chuva de sangue ácido, destruíra a civilização de Tamu-ra e arrasara outros pontos do mundo era o pior tipo de ameaça que poderia existir. Os heróis precisavam impedir a bruxa de atingir seus objetivos insanos, ou então, o mundo todo acabaria.
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