agosto 25, 2005

Capítulo 80 - Feitiço orc

Com os inimigos derrotados, restava agora abrir o portão que os impedia de seguir adiante. Pancadas e magia não surtiram efeito para destruir a fechadura. Legolas então pegou uma adaga e o martelo de Nailo e começou a tentar desmontar as dobradiças do portão. Eram três grandes dobradiças de ferro, já muito enferrujadas pelos anos de abandono. Cada martelada dada pelo elfo ecoava por todo o salão adjacente. Enquanto isso, Sam usava suas ferramentas para tentar abrir a fechadura. Então uma das dobradiças se partiu em duas, enchendo de esperança os olhos dos heróis. Na outra extremidade do portão, duas das gazuas de Sam também se partiram, inviabilizando a tentativa do bardo. Todas as atenções se voltaram para Legolas, que continuava golpeando a segunda dobradiça. Após um grande esforço, a peça voou, aos pedaços, deixando a passagem quase livre. Num esforço conjunto os heróis agarraram o portão e o puxaram para trás com toda sua força. A última dobradiça não resistiu à torção e se partiu. O pesado portão jogou todos para trás ao cair no chão. Os heróis o removeram do caminho e entraram no salão, desviando-se dos corpos dos insetos mortos que jaziam no chão empoeirado.
Assim que atravessaram o portão, os aventureiros chegaram em um enorme salão. Era possível ver uma porta de pedra, com a figura de um anão zangado entalhada em alto relevo à esquerda. O fim do salão à direita não era visível, pois se perdia no meio da escuridão. Vários corpos orcs, já ressecados pela ação do tempo, espalhavam-se pelo chão. As paredes à frente e atrás do grupo tinham entalhes elaborados de anões trabalhando em suas forjas. No centro do salão, uma fenda no chão descia para as profundezas da montanha. Uma escadaria de pedra, esculpida na fenda, levada aos níveis inferiores.
Então os mais atentos ouviram um estalo e o ranger de uma porta no meio da escuridão à direita. Ho-oh usou seus olhos de coruja para ver o que acontecia no escuro e avisou seu mestre telepaticamente. Sairf então gritou para seus amigos:
_ Orcs! Pelo menos uns cinco deles, cuidado!!!
Imediatamente após o aviso, Legolas disparou uma flecha na direção de onde tinha ouvido o som. O barulho da flecha se espatifando na parede deu a certeza de que o arqueiro tinha errado. Sem poder ver os inimigos, os heróis se protegeram como podiam. Squall fez em si próprio uma magia de proteção, enquanto Sairf invocava uma criatura extraplanar para ajudar no combate. Anix retornou para o túnel pelo qual passara para dar cobertura aos agricultores que haviam libertado, enquanto Lucano se protegia com sua mágica. Guardado pelo poder de Glórien, o clérigo avançou até o final da fenda, onde seus olhos élficos podiam distinguir o inimigo, e avisou seus amigos do perigo que os aguardavam. De uma porta semelhante a que havia no outro extremo do salão, quatro orcs bem armados, mais um outro vestido um manto, que mais parecia ser uma fêmea, saiam para combater contra os heróis.
Sam usou seus truques mágicos para fazer sua besta brilhar como uma tocha, e avançou em direção ao fundo da câmara apontando-a na direção dos inimigos, até ficar ao lado de Lucano. A iluminação fornecida pelo bardo, junto com as tochas que Courana e Geradil atiraram no meio do salão, permitiu que todos pudessem ver os orcs. Legolas correu, ficando entre Lucano e Sam, e disparou uma flecha contra um dos orcs. O disparo foi feito com tamanha potência, que o monstro teve quase o crânio atravessado pela flecha do elfo, além de ter ficado cego do olho direito.
Do outro lado da fissura no chão, Squall avançou alguns passos e disparou seu arco. Seu tiro, entretanto, apenas atingiu a porta por onde os orcs saiam. Sairf, que terminara sua conjuração, aproximou-se de Sam e se protegeu com uma magia, da mesma forma que Squall. Ao mesmo tempo, de um portal mágico no teto, surgia uma monstruosa aranha abissal convocada pelo mago para apoiar o grupo.
Lucano e Sam partiram para a ofensiva simultaneamente. Enquanto o bardo usava sua melodia para inspirar coragem em seus amigos, o clérigo tentava dominar a mente de um dos inimigos. Entretanto, os orcs frustraram as ações dos dois heróis. Lucano e Sam foram atingidos pelas espadas dos orcs com violência. O clérigo felizmente não sofreu ferimento algum graças à sua armadura, entretanto, Sam ficou severamente ferido e perdeu sua concentração, interrompendo sua música mágica. Os outros orcs também correram para atacar os heróis, restando apenas a fêmea do grupo. Legolas se inclinou para trás, deixando que a espada de um dos orcs passasse por ele e se chocasse contra a parede. Depois saltou sobre a fissura e golpeou com o peso de seu corpo o orc que atacava Sam. Mas o arqueiro não saiu ileso, e recebeu o contra golpe do inimigo, ficando com o ombro ferido pela lâmina orc.
Como se não bastassem as espadas, a fêmea orc olhou para Legolas sorridente. Após dar uma piscadela e mandar um beijo para o elfo, a criatura começou a mover os braços numa dança hipnótica, enquanto sussurrava alguma coisa que Legolas não entendia. O arqueiro começou a sentir seus olhos ficando pesados e quase não podia mantê-los abertos. Ele balançou a cabeça e por pouco não caiu num sono profundo. Percebendo o perigo, Squall correu para socorre o amigo. Usando seu poder mágico, o feiticeiro conseguiu deixar a orc atordoada, e salvou Legolas do transe. Com a inimiga pasma, Sairf sentiu que era o momento para derrotá-la antes que fizesse outro truque mágico.
_ Pelos poderes da magia eu ordeno, apareça área escorregadia! – após pronunciar estas palavras, Sairf apontou para os pés da fêmea orc. Do chão surgiu uma substância gelatinosa e lisa. A fêmea e um dos seus guerreiros começaram a escorregar. A Fêmea conseguiu se manter em pé com muito custo, mas seu comandado não resistiu e caiu no chão, espirrando a substância no peito de Lucano. Anix aproveitou a queda do inimigo e disparou uma rajada de energia em sua face. Ao mesmo tempo outro orc sentia os efeitos da picada venenosa da aranha abissal invocada por Sairf. Com um inimigo atordoado, um caído e outro enfraquecido pelo veneno, parecia que o combate seria definido em poucos instantes. Entretanto, as coisas não seriam tão fáceis quanto o grupo desejava.
Lucano começou a invocar o nome de sua deusa quando sentiu o aço frio penetrando em seu ventre. Mesmo ferido pela aranha, o orc conseguiu reunir forças para golpear o clérigo e tirar-lhe a concentração na magia. Lucano nem teve tempo de gritar, pois outro golpe certeiro o atingiu no pé. Mesmo caído, o inimigo não se fava por vencido e continuava atacando o clérigo sem piedade.
_ Filho de uma égua!!! – gritou sam, largando seu alaúde no chão e disparando sua besta à queima roupa no nariz do orc que o ferira. O bardo riu ao ver o nariz do inimigo todo desfigurado pelo ataque. A poucos metros dali, Lucano conseguia desviar de outro golpe do orc caído.
Mesmo sem o nariz, a criatura ainda lutava com bravura, avançando em direção a Legolas, com intenções claras de atirá-lo dentro da fenda, abismo abaixo. Mas Legolas conseguiu ser mais rápido que o orc e disparou uma flecha em seu ombro. Atrás dele, Sam aproveitou a distração e o golpeou com o arco de sua besta. Atordoado pelos ataques, o monstro não conseguiu sequer tocar em Legolas.
Squall temeu quando viu um dos adversários correndo em sua direção. O monstro passou ao lado da aranha abissal e foi atingido por ela no pescoço. Mas ele parecia ignorar o ferimento e continuou avançando. Quando estava a três passos do feiticeiro, abaixou-se e pegou a besta para atacar Squall. Mas o orc caiu morto, vítima do veneno, antes que pudesse disparar seu virote. Squall respirou aliviado, e decidiu tentar o combate corpo a corpo, aumentando sua força magicamente. Mas ele não teve tempo de se beneficiar da magia, pois a líder dos orcs interveio de forma surpreendente. Afastando-se cuidadosamente para não escorregar na gosma sob seus pés, ela se aproximou da parede, gesticulando e murmurando algo em seu idioma. Apanhou um punhado de teias de aranha e apontou sua mão para Legolas. Como se fosse um jato de água, uma fibra branca saiu da mão da criatura e começou a se espalhar por todos os cantos. As teias se fixaram no teto e no piso, numa área circular de mais de cinco metros. Sam, Sairf, Ho-oh, dois dos orcs e a aranha abissal ficaram presos nas teias de aranha, sem poder se mover. Legolas e Lucano conseguiram desviar dos fios que tentavam envolvê-los, mas apesar de não estarem amarrados, permaneciam cercados de teias por todos os lados. Aproveitando a chance, Legolas cravou uma flecha num dos inimigos enredados, arrancando gritos de dor do orc.
A situação era crítica. Os que estavam dentro da teia estavam em clara desvantagem. Os que estavam fora, mal conseguiam ver seus inimigos através do emaranhado de fios. Anix e Squall tentavam em vão avançar através dos fios, enquanto Sairf e Sam tentavam se libertar sem resultado. Somente Lucano e Legolas podiam se mexer dentro da teia, mesmo assim, não estavam em melhor situação. Protegendo-se atrás de um de seus lacaios, a líder dos orcs sorriu novamente e mandou outro beijo para Legolas. Enojado, o elfo viu a criatura pegar um pequeno frasco em uma bolsa presa à cintura. O pequeno vidro continha um líquido transparente que podia ser visto por todos. Ela arremessou o frasco na direção dos heróis e ele se quebrou ao se chocar contra os fios da teia. Ao entrar em contato com o ar, o líquido se incendiou, ateando fogo na teia toda. Era fogo-grego, um composto alquímico de fácil combustão que colocava as vidas dos heróis em perigo. Squall a atingiu com um virote, mas já era tarde. As teias se transformavam em chamas rapidamente e num piscar de olhos atingiram Legolas Lucano e o orc caído.
Lucano tentava usar sua lança, mas ela se enroscava nas linhas, impedindo suas ações. Além disso, o orc diante dele, já havia conseguido se levantar e se livrar dos pequenos focos de chamas em seu corpo e agora golpeava Lucano cruelmente, deixando o clérigo em situação crítica.
Do outro lado da teia, não se podia fazer nada, a não ser ver o fogo avançando contra seus companheiros. Anix e Squall tentavam ajudar como podiam. Enquanto um tentava cortar os fios com a espada, o outro tentava atingir os inimigos com sua besta. Nailo observava atônito, e Loand protegia Courana e Geradil ao mesmo tempo e que vigiava o túnel para não ser surpreendido pela chegada de novos inimigos.
O fogo avançou, matando um dos orcs carbonizado e ferindo Sam. Mesmo usando sua magia de ácido, Anix não foi capaz de libertar o bardo e impedir que o fogo o atingisse. Sairf conseguiu se livrar das teias e começou a abrir caminho para frente. Mais adiante, a fêmea orc tentava novamente hipnotizar Legolas. Como não conseguiu, recuou para perto da porta, tentando fugir. Legolas foi atrás para impedir, disparando uma flecha a dez centímetros da criatura. Ferida, a orc ficou enfurecida, com os olhos vermelhos e rugas pelo rosto. Squall, apesar das teias, conseguia com muito sacrifício atingir seu inimigo com sua besta. Lucano, muito ferido, tentou curar seu corpo com sua mágica, mas as ameaças de seu oponente impediram a concentração do clérigo e a concretização da magia. Sentindo a fragilidade de Lucano, o orc cravou sua falcione no peito do elfo. O sangue rubro jorrou pelo ar, enquanto Lucano desfalecia já quase morto.
O fogo na teia continuou avançando, até atingir Sairf e consumir o que restava dos fios e a vida da aranha abissal. Livre das linhas que o prendiam, Sairf voltou a usar sua magia para criar uma nova área escorregadia sob os pés da orc fêmea. A criatura travava uma batalha dura com Legolas. Seus feitiços não conseguiam abalar a vontade e a coragem do elfo, nem as flechas dele estavam causando grandes ferimentos a ela. Então o chão sob seus pés ficou liso como o gelo, e ela caiu. Vendo sua adversária indefesa, Legolas desferiu o golpe final. Uma flecha certeira penetrou no crânio da líder, extinguindo sua vida. Legolas a chutou descontroladamente, irritado com o assédio e as sucessivas tentativas de controle mental da fera.
Sem as teias para atrapalhar o caminho, os heróis puderam se deslocar livremente. Enquanto Sairf revirava o cadáver de um dos orcs em busca de itens de valor, Sam correu para socorrer Lucano. O algoz do clérigo se colocou entre o corpo do sacerdote e Sam. O bardo tentou golpeá-lo várias vezes, mas o inimigo rebatia os golpes com a lâmina de sua espada e contra-atacava rapidamente. Então Sam também caiu, sem seu chapéu, com um grande corte na cabeça e sem brilho no olhar. O grito de agonia de Sam chamou a atenção de Legolas que se virou e liquidou o orc com uma flecha mortal cravado no olho direito do monstro. Squall se encarregou do último inimigo, num duelo de espadas equilibrado. Apesar das dificuldades, o feiticeiro elfo fez o inimigo tombar com uma estocada no nariz. Com a espada cravada no crânio, o último orc caiu morto.
Sairf e Anix correram para socorrer os amigos inconscientes. Da mochila de Sam, Sairf retirou dois frascos parecidos com as poções mágicas de cura que ele costumava usar. Colocou uma na boca do bardo, ajudando-o a engolir o líquido, e a outra entregou a Anix que correu para salvar Lucano. Sam despertou, mas Lucano continuava desacordado, porém a salvo da morte. Após se certificarem que não havia mais nenhuma ameaça, Squall foi ajudar o clérigo. Com uma infusão que Lucano havia recebido de Enola, Squall trouxe seu amigo de volta à vida.

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