fevereiro 12, 2007

Campanha B - Capítulo 13 – Homens do mar

Capítulo 13 Homens do mar

Susrak olhava, curioso, para as coisas que estavam dentro da cozinha de onde tinham saído os três homens. Sobre uma mesa de madeira havia pratos e utensílios de cozinha em geral, junto com estranhas comidas. Algumas pareciam ser animais que o clérigo nunca tinha visto antes, outras ele reconheceu com sendo algum tipo de peixe seco e salgado. Seus amigos nem se importavam com que tipo de iguarias estranhas aquelas pessoas se alimentavam, desejavam chegar ao centro daquele lugar o mais rápido possível e vencer todos os inimigos antes que eles pudessem chamar ajuda, ou antes que a suposta reunião que haveria ali começasse. Não obstante, abriram a porta que dava acesso ao interior do sobrado e avançaram por um largo corredor que se estendia uns dez metros para o fundo da casa e dobrava à direita. Susrak os seguiu rapidamente, deixando o mago Kallas e a druida Myrian para trás.

Após virar para a direita, o corredor continuava até o limite da casa e depois tornava a virar, indo na direção da entrada. Na sua porção que ficava no fundo do sobrado, o corredor era ladeado por uma escada que levava ao andar superior e por uma janela solitária oposta à escada. Lohranus ouviu vozes e passos, que vinham de cima, e pediu silêncio aos companheiros. Todos se calaram e se encostaram na escada, escondidos, enquanto um grande número de homens descia para o térreo. Quando o primeiro deles terminou todos os degraus de sua descida, e já quase virava rumo à entrada da casa, uma lâmina de quase dois centímetros de largura penetrou fundo em suas costas, tirando-lhe a vida. Era Lohranus.

Os homens que desciam voltaram suas atenções para o minotauro, mas não tiveram tempo de reagir, pois um segundo caiu no chão, com seu olho vazado e parte do crânio esmagado e moído pela maça de Susrak.

Ao todo quase uma dezena de inimigos descia pela escada. Enfim uma luta digna, deve ter pensado Lohranus. Myrian não se intimidou e enterrou seu marfim entre as costelas de um inimigo. Kallas, lançou um feitiço sobre si mesmo, para aumentar suas habilidades e lançar-se ao combate.

Susrak, Myrian e Lohranus atacaram uma vez mais, antes que os inimigos revidassem. Em sua fúria violenta, o minotauro derrubava no chão cada inimigo que acertava, com um único golpe. Susrak, cercado por vários inimigos, atrapalhava-se com suas próprias armas, sem conseguir atingir os adversários que se esquivavam em cambalhotas e piruetas. Myrian continuava em um combate ferrenho contra três adversários, minando suas forças aos poucos com sua exótica arma. E Kallas preparava sua clava para agir assim que os inimigos estivessem ao seu alcance.

Então, os inimigos reagiram, rapidamente se organizando e cercando todo o grupo de invasores. Lohranus recebeu diversos golpes de espada, cercado por uma numerosa massa hostil. Susrak tentava bloquear os ataques dos oponentes com seu escudo, recebendo assim poucos ferimentos. Myrian começava a ficar acuada, encostada na parede, enquanto os inimigos a atacavam e a provocavam, fazendo comentários grosseiros sobre sua feminilidade. Kallas, que estava mais atrás, foi surpreendido, quando viu um dos inimigos se atirar da escada num salto mortal e descer batendo os pés na parede e na escada para amortecer a queda, ainda a tempo de atacar e ferir o torso do mago antes de tocar o chão. A destreza anormal daqueles estranhos homens de pele morena os surpreendia. Mas, nem isso, nem a superioridade numérica do inimigo era capaz de intimidá-los. Com um golpe de clava, Kallas começou a virar o jogo para sua equipe, prensando a cabeça do inimigo na parede e fazendo com que seu cérebro escorresse por ela enquanto ele caia lentamente e Auran lhe arrancava os olhos. Protegido atrás do escudo, Susrak aproximou-se de Lohranus e chamou por Tenebra. Sua mão foi envolta por um sinistro brilho negro, que envolveu o corpo do minotauro e lhe devolveu parte da vitalidade retirada pelas espadas inimigas. O minotauro urrou furiosamente, causando espanto nos oponentes, e voltou a fatiá-los como se sua espada partisse frutos maduros. Myrian, Kallas e Susrak tomaram novo fôlego ao ver Lohranus lutando como uma máquina de guerra, e os inimigos acrobáticos foram tombando um a um, com seus rostos esmagados por golpes de clava e maça e seus corpos perfurados e rasgados pelas espadas e até por garras de coruja, até que sobraram apenas dois homens em pé.

Mas, o excelente resultado no combate era conseguido a duras penas. Myrian, Kallas e Susrak estavam severamente feridos, e Lohranus, principal alvo dos ataques adversários, foi levado à inconsciência por uma certeira estocada no peito. O minotauro caiu sem brilho nos olhos, seu corpo, ainda agarrado à sua fúria bárbara, não largava a espada, como se desejasse continuar lutando, mesmo ao custo da própria vida.

Astuta e desonestamente, um dos homens inimigos abaixou-se ao lado do minotauro, enquanto os demais continuavam lutando, e pressionou a lâmina curvada de sua espada de forma ameaçadora sobre o pescoço de Lohranus. Quando todos os outros inimigos tombaram, e apenas dois deles restavam para lutar, Lohranus era o seu refém.

_ Todos parados! Fiquem calminhos ai, ou eu arranco a cabeça deste boizinho! Sem gracinhas ou ele morre! – gritou o homem que ameaçava Lohranus. Todos pararam imediatamente para dar ouvidos às palavras dele.

_ Vamos lá! Obedeçam! Ou então seu amiguinho de chifres vai ser o primeiro a morrer! Soltem as armas, depressa!!! – gritou o segundo homem, apontando o seu sabre de forma debochada para os aventureiros.

Sem opção, Myrian, Susrak e Kallas jogaram as armas no chão e pediram aos deuses para que Nirvana e Serena chegassem logo para ajudar. Todos pensavam em uma forma de sair daquela situação, olhando cada detalhe possível e tentando se comunicar com os companheiros. Mas, a cada gesto, o inimigo pressionava mais e mais a lâmina na garganta de Lohranus, e um fio de sangue começava a brotar na pele do minotauro. Então, os três perceberam que o homem que ameaçava o minotauro estava severamente ferido, e não resistiria a um ataque forte. Susrak fitou-o com seus olhos e se preparou para agir assim que tivesse uma chance. Kallas então chamou Auran mentalmente, e ordenou ao pássaro que atacasse o homem. A coruja deu um vôo rasante, arranhando o homem e criando um momento de distração, que era esperado por todos. Kallas, rapidamente, conjurou uma magia, e um orbe de luz explodiu no rosto do inimigo assim que ele olhou para a coruja. Ferido e surpreso, o inimigo voltou os olhos para o grupo, já pronto para degolar o minotauro que jazia a seus pés, mas não conseguiu fazê-lo. Ao olhar para Susrak, viu o medalhão sagrado do clérigo absorvendo toda a luz que existia no ambiente até tudo ficar escuro. Somente o vulto borrado e fantasmagórico do sacerdote podia ser visto, e sua voz era assustadoramente alta e quase estourava seus tímpanos. Então, o chão se abriu numa fenda de trevas de pavor, e surgiram duas mãos esqueléticas das profundezas, que rasgaram o chão e deram passagem para que um enorme esqueleto invadisse a casa. O homem largou seu sabre no chão, e fugiu apavorado pelo corredor, enquanto o esqueleto o perseguia para devorá-lo. Mas, apenas ele vira isso, já que tinha sido vítima da magia usada por Susrak, para tirá-lo de perto de Lohranus.

O outro inimigo, sem entender o que se passava com o companheiro, atacou Susrak com seu sabre. O clérigo usou seu escudo para prender a arma contra a parede, antes que ela fosse capaz de atingi-lo e desarmou o adversário. Myrian pegou rapidamente sua espada do chão, deu um passo á frente enquanto se levantava, e enterrou a lâmina de marfim no peito do homem. O sangue trasbordava de sua boca, enquanto ele dava seu último suspiro, pouco antes da maça de Susrak esmigalhar o maxilar ensangüentado. O último dos inimigos, ainda fugia de seu próprio pesadelo, incutido em sua mente pela mágica nefasta de Susrak, quando Kallas lançou sobre seu rosto um jato de chamas mágicas, incinerando o pouco que lhe restava de vida. E enfim eles obtiveram a vitória. Myrian atirou-se de joelhos ao chão, com as mãos estendidas sobre o ferimento aberto no peito de Lohranus. Suas delicadas mãos brilharam enquanto ela recitava uma prece ao Grande Urso Branco. O corte foi se fechando lentamente, o sangue, que jorrava aos borbotões, foi totalmente estancado, e os olhos do minotauro abriram-se, cheios de vida novamente.

Serena e Nirvana chegaram no momento em que Lohranus se levantava e agradecia aos amigos pela ajuda. Sentia-se um tanto humilhado por ter sido derrubado em combate, mas ao mesmo tempo sentia-se aliviado por não ter sido ainda a hora de ele se encontrar com Tauron. E também sabia que, apesar de quase ter morrido, lutara com honra e vencera grande número de inimigos, e isso o deixava satisfeito. Nirvana e Serena ajudaram os amigos a retirar os corpos do caminho e a revistá-los, enquanto Susrak e Myrian montavam guarda na janela da cozinha, para avisá-los da chegada que qualquer estranho e para vigiar o homem desmaiado que interrogariam mais tarde.

Na pilha de corpos que se formara no chão, não encontraram nada além de quinquilharias, como colares de conchas, brincos sem valor, anéis enferrujados, dentes podres, algumas moedas de prata e coisas bizarras como colares de orelhas, olhos feitos de vidro e outras. Guardaram as moedas como uma recompensa por terem vencido aquela dura batalha. E, pelos objetos que portavam, pela aparência despojada, pela cor da pele e graças às muitas histórias que tinha ouvido nas tavernas de Valkaria Nirvana concluiu quem eram aqueles estranhos acrobatas. Piratas. Deveriam ser piratas, provavelmente do Mar Negro, que viviam uma vida de crime e aventuras no mar e que aparentemente traziam consigo a proibida pólvora para vender na cidade. Já que o Reinado não tinha influência nos domínios de Grande Oceano, os piratas usavam livremente esse tipo de item, banido dos outros reinos, para abastecerem suas armas e para praticarem seus crimes. E todos finalmente compreenderam o que acontecia naquele sobrado, e o que os goblins iriam negociar ali momentos depois. E Kallas, enquanto Nirvana explicava sua teoria, pegou e guardou para si um colar de orelhas humanas.

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