fevereiro 09, 2007

Campanha B - Capítulo Capítulo 12 – Cozinheiros acrobatas

Capítulo 12 Cozinheiros acrobatas

Myrian mostrou aos seus novos companheiros um punhado do pó negro que havia encontrado dentro da carroça. Nirvana e Kallas olharam para ele e seus olhos brilharam de espanto. O misterioso pó negro era chamado de pólvora, um composto alquímico altamente inflamável, explosivo até, e extremamente perigoso. Por ser assim tão ameaçador, o pó era proibido em todo o território do Reinado. Portá-lo, comercializá-lo ou fabricá-lo era crime passível de graves punições. Alguns estudiosos discordavam da proibição, dizendo que a pólvora poderia ter grande utilidade e trazer avanços para o mundo, mas, como divergiam outros, não havia necessidade de se utilizar um composto tão instável e perigoso quando a magia estava disponível para os mais variados usos, segura e previsível como uma simples adição. Kallas e Nirvana informaram seus amigos sobre o pó negro e sobre seus perigos, e então, souberam que algo grande estava ocorrendo ali, que aquele caso não envolvia apenas o rapto de um animal ou extorsão, mas sim algo maior e enigmático.

Lohranus desejava aguardar escondido, para ver o que aconteceria quando desse meia-noite, e assim entender que tipo de negociação obscura seria feita naquela casa. Mas, seus companheiros de grupo desejavam entrar o quanto antes na casa, para pegar os supostos criminosos de surpresa. Desses, Myrian era a que mais desejava invadir o lugar, temendo que algo de ruim pudesse estar acontecendo a Grandwolf. Para evitar surpresas, Nirvana pediu a Nikki que pousasse em uma árvore próxima e observasse a casa do alto. A feiticeira então avisou seus amigos de que havia pelo menos cinco pessoas no andar de cima do sobrado. Kallas foi até o fundo, e, com seus olhos de meio-demônio, espiou pela fresta de uma janela, onde viu um longo corredor, sem iluminação e sem ninguém por perto. Era um lugar perfeito para invadir a casa, mas, quando Kallas foi avisar seus amigos, viu que Myrian já agia por conta, tentando abrir uma das janelas laterais com o auxílio de um galho que havia pegado do chão.

Todos pararam, em completo silêncio, para observar a ação da elfa. Suas mãos delicadas, porém fortes, forçavam a janela para fora, ao mesmo tempo em que usavam o pedaço de madeira para levantar a trava interna que mantinha as duas metades da janela unidas. Então, de repente, o dispositivo de trava, que consistia num pedaço de madeira apoiado sobre duas cantoneiras, começou a deslizar pela ponta do graveto, quase caindo. Myrian foi rápida e puxou a janela com mais força, prensando a madeira contra ela e impedindo que caísse. Todos respiraram aliviados e Myrian recomeçou sua labuta. Mas, antes que ela voltasse a levantar a madeira, a janela se abriu subitamente. Um homem de pele bronzeada, vestido com roupas leves de couro e coberto de colares estranhos, pôs a cabeça para fora, perguntando ao grupo de aventureiros o que estavam fazendo ali. No entanto, antes que ele pudesse reagir de qualquer forma que fosse, Myrian o agarrou e o puxou para fora. Lohranus a auxiliou e ambos conseguiram jogar o homem com violência no chão. Susrak tentou golpeá-lo com sua maça, mas interrompeu o ataque na metade, receando atingir um de seus próprios companheiros. Mas, Lohranus se encarregou de deixar o homem inconsciente com uma seqüência de socos fortes no rosto. Agora eles tinham alguém para interrogar, e começaram a pensar em como fariam isso e onde levariam o suspeito. Mas, enquanto seus pensamentos viajavam em suas mentes, o grupo foi surpreendido pela chegada de novos inimigos.

Eram três homens, todos muito magros, porém de músculos fortes e delineados, de pele levemente amarronzada num tom que lembrava o bronze. Também vestiam roupas simples e leves, todas feitas de couro, e traziam em seus corpos adornos exóticos como desenhos e colares feitos de conchas, ossos e até mesmo orelhas humanas. Um deles tinha um trapo de pano amarrado à cabeça, cobrindo todo o cabelo e parte da testa, e um exibia um sorriso podre, com dentes faltantes ou estragados. Os três apareceram na janela para ver o que acontecia, quando viram o companheiro desmaiado e o grupo de aventureiros armados. Saltaram então, sobre a janela, armados com enormes facas de cozinha, e a luta se iniciou.

Lohranus tentou atingi-os com sua espada, enquanto ainda estavam agachados na janela, mas eles habilmente recuaram seus corpos para dentro, escapando da lâmina enorme. A alguns passos dali, Myrian fechou seus olhos e se concentrou, enquanto suas mãos gesticulavam ritmicamente e sua boca recitava versos incompreensíveis para os demais.

Kallas sabia o que a elfa pretendia, e compreendeu que precisava ganhar tempo para que ela conseguisse terminar sua ação. Vendo que os inimigos estavam todos alinhados sobre a janela, o mago empurrou o longo bastão de madeira que trazia consigo entre as pernas dos três desconhecidos, fazendo-os saltitar como se dançassem, para não serem atingidos. As três figuras decidiram então atacar, e saltaram da janela, escapando do bordão de Kallas em rodopios e cambalhotas no ar.

Um deles caiu diante de Lohranus e feriu levemente o peito do minotauro com seu facão. O outro caiu ao lado de Kallas, rasgando o ombro do sulfure com a lâmina num giro rápido. O último deles tropeçou no bastão, como Kallas planejara, e caiu no chão, desconcertado.

Susrak investiu contra o inimigo caído, esmagando suas costelas com ao pesado maciço de metal que era sua maça. Ao seu lado, Lohranus revidou o ataque que havia sofrido, com fúria, rasgando o abdome do inimigo e jogando-o ao chão, já morto. Uma enorme poça de sangue se formava no chão, quando Myrian finalmente abriu os olhos e sussurrou a última palavra. Um brilho em forma de círculo se formou atrás do homem caído, e de dentro dele surgiu uma serpente venenosa. Como que instruída a fazê-lo, a víbora cravou suas presas afiadas e gotejantes de um líquido amarelo na perna do homem. A elfa então deu dois passos ligeiros, ficando ao lado de Kallas, e fez sangrar o inimigo saltador com a presa de marfim que fazia de espada.

O homem soltou um gemido abafado quando a espada o penetrou, desviando os olhos de Kallas. O mago aproveitou o momento e golpeou-o com seu bordão, atingindo a cabaça do homem com força esmagadora. Ferido, o homem tentou fugir, girando no ar diante de Kallas para escapar rumo ao fundo do sobrado. Mas, os ferimentos tornaram sua acrobacia lenta e desajeitada, deixando sua guarda aberta. Kallas girou seu bastão no ar e novamente golpeou a cabeça do inimigo, partindo o osso do crânio e jogando o homem no chão, já á beira da morte.

Por fim, o homem que estava caído e envenenado, tentou se levantar do chão numa cambalhota, enquanto gritava chamando por ajuda. Mas Lohranus conseguiu ser mais rápido e, antes que ele pudesse sair do chão, a espada do minotauro atingiu suas costas com força, prensando-o contra o solo e abrindo uma grande fenda em sua carne, de onde jorrou grande quantidade de sangue e o homem não mais se moveu. Segundos depois, outros homens que estavam no segundo andar, surgiram nas janelas e correram logo após ver o que tinha acontecido, como se fossem na direção da porta.

Sem perder tempo, todos invadiram a casa, pulando a janela por onde os homens tinham saído. Serena fez um gesto para seus amigos seguirem em frente, enquanto tirava um rolo de corda de sua mochila. E, ajudada por Nirvana, ela amarrou o homem que estava desmaiado pelos socos do minotauro, para que pudessem interrogá-lo mais tarde. Enquanto as duas mulheres cuidavam de esconder o homem amarrado sob uma moita, o restante do grupo, agora ajudado por Myrian, invadia o covil do inimigo.

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