Capítulo 274 – De volta ao lar
A multidão se dispersou, muitos voltaram para a taverna, outros foram para seus alojamentos repousar, apenas Squall e seus amigos permaneciam, acompanhados de Seelan. O mago capitão se aproximou de Squall, ajudou-o a se levantar delicadamente e quis saber se tudo estava bem com ele. O feiticeiro mostrou a todos o ferimento que tinha no peito, um rasgo comprido e largo, e muito profundo também, do qual se esvaia grande quantidade de sangue. Por pouco os ossos não se partiram e o coração de Squall atingido pela lâmina de Glorin e, como todos puderam constatar, bastaria mais um golpe do anão para que a vida do elfo se encerrasse definitivamente no mundo de Arton. Sentindo que, ao contrário de seu sangue, a dor não lhe deixava, Squall pediu a Seelan que lhe cedesse uma poção mágica de seu laboratório, para aliviar seu sofrimento e curar aquele ferimento.
_ Pois é! Infelizmente não tenho mais nenhuma poção pra lhe arrumar, amiguinho! – disse Seelan, sorrindo. Depois se virou para os demais com uma expressão preocupada. – Vocês conseguiram acabar com todo o nosso estoque em suas missões e, sem o Lars aqui, não temos mais como conseguir nenhuma poção de cura! Pois é, acho que terei que dar um jeito nisso por meus próprios meios! Farei uma visita até Valkaria, e comprarei poções novas para nós lá! – continuou em tom preocupado e pensativo. Então, ele se voltou para Anix, sorridente, e continuou, dessa vez, afinando a voz e acenando delicadamente com a mão. – Tenho uma idéia! Não quer ir comigo Aniiiix? Vamos dar um passeio em Valkaria, só nós dois!
Ao contrário do que era esperado, nesse momento Anix não recusou a proposta de Seelan, nem gritou com ele como de costume. Alegrava-lhe a idéia de viajar, e conhecer Valkaria. Mas Seelan tinha outros planos em mente, que agradariam Anix ainda mais.
_ Melhor ainda! Já que vamos comprar poções mágicas há um lugar no mundo muito melhor do que a própria Valkaria! – gritou Seelan, entusiasmado.
_ Vectora? – indagou Nailo.
_ Sambúrdia, bem pertinho da minha casa? – perguntou Lucano, rezando para ouvir um sim e ter a chance de ir junto e rever sua família.
_ Não! – exclamou Seelan.- Há um lugar em Arton que é muito melhor do que esses outros! Um lugar que emana magia da própria terra! Um lugar com a maior concentração de fabricantes de poções do mundo e também com os melhores preços, já que a concorrência é alta por lá! Iremos para Wynlla!
_ Wynlla! Minha terra Natal! Eu vou Seelan, eu vou! – gritou Anix, eufórico.
_ Também quero ir, Seelan! Quero rever minha família também! – pediu Squall.
_ Ah! Então também quero ir, oras! – exigiu Nailo.
_ É! É sempre assim! Pra Darkwood ninguém me leva, nem me deixam ir ver minha esposa! Eu casei há pouco tempo e nem pude ficar com Liodriel! Agora, ir pra Wynlla ver a família deles, todo mundo pode! – resmungou Legolas.
_ Meninos! Não precisam ficar bravos! Acho que posso dar um jeito nisso! Vocês todos trabalharam com afinco nos últimos meses! Acho que merecem uma folguinha! Façamos o seguinte! Eu conversarei com o general e, se ele permitir, iremos até Wynlla para comprar as poções e para o Anix e o Squall reencontrarem seus amigos e parentes! Depois daremos uma passada em Sambúrdia, pro Lucano rever sua família, ai iremos para Darkwood e você poderá ficar com sua amada! –sugeriu Seelan.
_ É, e pra Vectora? A gente não vai não? – perguntou Nailo.
_ Vectora? Aquele lugar é muito chato! Não gosto de lá não! Aquele Vectorius é muito ranzinza! Mas, se você quiser realmente, podemos dar uma passadinha rápida por lá! Mas ficaremos menos de um dia por lá! Bem, preparem suas coisas, vou falar com o general! – respondeu Seelan. Depois saiu apressado e foi ao centro de comando do forte. Todos os outros correram apressados para seus quartos, onde pegaram todas as suas coisas, incluindo todo o outro que tinham juntado até o momento, dos muitos tesouros conquistados, nas muitas aventuras que tinham vivido. Minutos depois, voltaram a se reunir, já preparados para partir.
_ Já acertei tudo com o general! Partimos amanhã cedo! – anunciou Seelan.
_ Vamos agora, Seelan! Pra que perder tempo? – argumentou Anix.
_ Bem, se vocês preferirem, tudo bem! Em que lugar de Wynlla você mora?
_ Ab’ Dendriel! É uma vila costeira, perto de Kresta!
_ Acho que sei onde é! Vamos pra lá, então! Passaremos a noite na sua casa e, na manhã seguinte eu irei até Sophand ou Kresta mesmo para comprar as poções mágicas para o forte enquanto vocês matam a saudade de casa!
_ Não! Vamos primeiro pra Darkwood! – pediu Legolas.
_ Isso! Boa idéia! Assim a gente aproveita e vai buscar a Enola! Quero que meus pais a conheçam! – entusiasmou-se Anix.
_ Ai! Tá bom, então! Mas isso vai me fazer gastar mais magias de teletransporte! Elas são cansativas e caras! – queixou-se Seelan.
_ Seelan! Posso levar meu cavalo? – pediu Legolas.
_ Que coisa! Vocês estão abusando! Magia de teleporte cansa! Mas está bem! Mas só o seu e chega! E vamos logo! E espero que em Darkwood tenha uma janta gostosa esperando por nós! – concluiu o mago.
Legolas correu ao estábulo e buscou seu amigo, Rassufel. Todos se reuniram e, a pedido de Seelan, tocaram em seus ombros e todos ficaram em contato uns com os outros, fosse diretamente, fosse usando o mago como intermediário. Seelan fechou os olhos, levou a mão direita à cabeça e tocou-a com os dedos médios e indicados unidos. Pronunciou algumas palavras mágicas e eles desapareceram de Forte Rodick.
Num piscar de olhos, estavam diante da entrada de Darkwood, a mesma entrada onde, meses atrás, tinham tido a primeira visão do futuro, revelada por Thyatis e entregue a eles por Allihanna. Entraram na vila, Legolas e Nailo estavam eufóricos. O arqueiro pegou seu berloque mágico e chamou por sua esposa amada.
_ Liodriel? Você está bem, amor? Onde você está?
_ Estou aqui em casa, Legolas! Estou com saudade!
_ Eu também estou! Te amo muito! Bom, agora vou ter que desligar, vem vindo gente aqui! Boa noite, amor!
_ Tchau, querido! Eu te amo!
_ Também te amo! Adeus!
Legolas desligou o dispositivo mágico, saltou no lombo de Rassufel e partiu a galope acelerado, rumo à casa dos pais de sua amada. Todos os outros correram para acompanhá-lo e, quando chegaram, tiveram uma surpresa. O pai de Liodriel atendia à porta.
_ Legolas! Rapazes! Que bom vê-los! – disse o sogro de Legolas.
_ Fale baixo! Quero fazer uma surpresa pra Liodriel! Onde está ela? – sussurrou o arqueiro.
_ Ora, ela está na casa nova de vocês, onde mais? Ela não lhe contou que a casa ficou pronta, pois queria lhe fazer uma surpresa!
_ Ótimo, vou pra lá, então!
_ Pai? Quem é que está ai? Quem veio bater a essa hora? – uma voz feminina veio de dentro da casa, todos esticaram seus pescoços e viram uma bela elfa caminhando em direção à entrada. Era Lioniel, a cunhada agressiva de Legolas.
_ Ah! Legolas?! Vocês também?! Nossa que surpresa agradável! – Lioniel saudou-os com um simpático sorriso. Algo estava errado, pensaram todos, Lioniel não era elfa de sorrisos, algo estava muito errado. Então, o mistério foi revelado. – Amooor! Venha ver quem voltou! Corra até aqui! – gritou ela.
Então, um elfo muito alto e corpulento caminhou em direção à entrada. Os heróis o reconheceram imediatamente, era Nevan.
_ Amigos! Sejam bem vindos! – disse Nevan, sorrindo.
_ Nevan! – gritaram os outros, e saltaram em cima dele, abraçando-o todos ao mesmo tempo. Caíram todos no chão rindo como amigos que há muito não se viam.
_ Ah! Esses garotos! – suspirou Lioniel.
Legolas não perdeu mais tempo, cumprimentou a todos rapidamente e correu em direção ao rio, em direção ao seu amor. Nailo o seguiu, correndo veloz junto com Relâmpago. Então, os dois viram o resultado dos meses de trabalho e de cada tibar investido por eles. Às margens do riacho Aurora havia duas enormes casas, as maiores casas da vila, erguidas com o suor e trabalho de todos que ali viviam, em homenagem aos dois heróis que tinham surgido naquela pequena vila, Nailo e Legolas.
Ambas as casas tinham telhados de quatro águas, cobertos com telhas de madeira e palha, e ornamentados com estátuas de animais. Suas paredes eram construídas de toras de madeira Tollon cuidadosamente empilhadas e encaixadas com precisão umas nas outras. Eram troncos de diferentes tamanhos e formatos, apanhados na floresta de árvores caídas pela ação da própria natureza, exigência de Darin, a noiva de Nailo. As duas se elevavam do chão cerca de um metro, suspensas por palafitas. Uma delas, a mais à direita, tinha parte de sua estrutura sobre o riacho. Uma larga escada de madeira circundava a lateral da casa e avançava sobre a água, terminando em uma bela varanda que ficava exatamente sobre o curso d’água, donde Nailo poderia pescar o alimento de sua família. Uma torre circular feita de madeira se elevava quase vinte metros acima do telhado, terminando em uma guarita coberta, de onde o ranger poderia observar a natureza e ver muito longe, além das copas das árvores. Pra finalizar, havia uma cocheira coberta, e um cercado onde Nailo poderia criar seus animais e guardar suas ferramentas.
Como a de Nailo, a casa mais à esquerda também possuía um estábulo grande e confortável, para Rassufel passar suas noites. No fundo, existia aquilo que tinha sido uma idéia de Sairf, e que faria parte do presente de casamento que ele daria ao amigo. Era uma piscina, como diria o mago. Na verdade, consistia em um lago artificial, profundo, com quase três metros em sua parte mais funda. Tinha chão e paredes revestidos por pedras de granito. Uma escada feita do mesmo material emergia do fundo até a superfície, no lado mais próximo do riacho, por onde a água escoava de volta para seu curso natural. E um canal escavado na terra desviava parte da água do riacho para dentro do buraco da piscina, passando antes por uma pequena roda d’água, que agitava o líquido e o jogava por entre pedras estrategicamente posicionadas para formar uma pequena corredeira e fazer com que a água entrasse na piscina borbulhando.
_Quem é? – era Liodriel, após Legolas bater na porta.
_ Sou eu, Darin! – respondeu Legolas, afinando a voz.
_ Nossa! Sua voz está tão diferente! O que aconteceu?
_ É que eu estou meio resfriada!
_ Ué?! Mas nós conversamos ainda há pouco e você estava bem! Tem certeza de que é você, Darin?
_ Claro que sou eu!
_ Então prove! Sobre o que conversávamos dez minutos atrás?
_ Ora, abra logo essa porta! – Legolas se cansou daquela enrolação e gritou, furioso.
_ Aiiii! Quem é você? Vá embora, ou vou chamar meu marido!
_ E onde ele está? Está ai com você?
_ Sim! E eu vou chamá-lo! Legolas! Tem algum estranho aqui na porta! Prepare-se pois meu marido vai lhe expulsar a flechadas!
_ Há, há, há! Essa eu quero ver! – então, Legolas escutou o som dos passos de Liodriel se afastando da porta, assustada, e ele desejou brincar mais com ela. – Pois diga a seu marido que não tenho medo dele, e vou invadir essa casa!
_ Pois então invada, se tiver coragem! E receberá uma flecha certeira em seu coração! – disse Liodriel, já sem temor algum na voz.
Legolas abriu a porta e entrou, e lá dentro encontrou sua amada, sozinha, recostada em uma mesa, suas pernas longas e belas cruzadas uma sobre a outra, trajando apenas um fino e transparente vestido de seda, que permitia ao arqueiro ver cada detalhe de seu corpo escultural.
_ Seja bem vindo, senhor bandido! – disse Liodriel, pouco antes de Legolas a tomar nos braços e os dois finalmente se calarem num longo, apaixonado e ardente beijo.
Perto dali, Nailo tentou imitar Legolas, e fingiu ser Liodriel ao chamar por Darin. Da mesma forma, a moça inicialmente estranhou, e depois, ao descobrir que a voz que a chamava não era da amiga, se assustou. Mas, depois, conforme foi falando a voz de Nailo foi sendo aos poucos reconhecida e Darin, desconfiada e curiosa tal qual seu noivo, abriu a porta para ver quem a chamava.
_ Nailo! Meu amor! – exclamou, feliz, a moça.
_ Darin, querida! Mas que perigo! Você não podia ter aberto essa porta assim, sem saber quem era! E se fosse algum bandido ou algum monstro? Tem que tomar mais cuidado! Mas eu vou resolver isso! – Nailo falava e gesticulava, enquanto Darin o beijava e abraçava, ou, ao menos tentava. O elfo foi até a cozinha, pegou uma faca afiada e com ela abriu um pequeno orifício na porta de madeira. – Pronto! A partir de hoje, toda vez que alguém bater à porta, você vai olhar por este furo antes de abrir. Assim você só abrirá a porta se conhecer a pessoa, e não correrá perigo! – completou ele.
_ Ai, Nailo! Se eu não te amasse tanto, juro que batia agora! Ao invés de me beijar e abraçar, você foi fazer esse buraco na nossa porta! Mas, eu sei que fez isso porque se preocupa comigo e porque me ama! Então, pare de falar e trate de me dar um beijo logo! – bufou Darin, e os dois se beijaram. E tudo estava em paz. Legolas e nailo estavam em casa novamente, e em breve seria a vez de Lucano, Anix e Squall fazerem o mesmo, e Glórien desejou que aqueles momentos felizes durassem para sempre.
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