Capítulo 270 – Elfos negros
Então, todos viram um vulto negro que descia pela encosta rochosa, sobre a entrada da caverna. E antes que pudessem detê-lo, o vulto desceu veloz e deu um salto mortal em direção ao solo. E virou-se para todos e disse “Olê!”, e entrou correndo na caverna. Era Alejandro. Mas, o espadachim encontrou Lucano e as crianças, que retornavam do fundo da caverna, alegres e tranqüilos, e soube que estava tudo bem. Então ele saiu do túnel, e seus companheiros já o cercavam para tirar satisfações sobre seu sumiço e seu reaparecimento repentino. E Lucano chegou com as crianças, e Laurelin o saudou, assim como os soldados.
_ Pelo que eu vejo você conseguiu passar no teste! – disse o ancião.
_ Sim! - Lucano sorriu.
E então, um vento gélido soprou veloz entre as árvores, e o ventou vinha carregado de maus pressentimentos, e todos puderam perceber isso. E junto com o vento veio uma nuvem negra como a noite, que encobriu o sol brilhante num instante. E todos sentiram temor, mas foi Laurelin quem o expressou na forma de palavras.
_ Bem, Lucano, você passou no primeiro teste! Espero que consiga passar no segundo também! A hora se aproxima! E que Glórien tenha piedade de todos nós! – disse o velho elfo, e suas palavras eram carregadas de pavor.
Então, o céu tornou-se totalmente negro, e o manto da escuridão se abateu sobre a terra, e todos ficaram na penumbra. E do meio da mata escura surgiram quatro vultos igualmente negros, de aparência e de coração. E esses vultos chegaram ligeiros à clareira e cercaram todo o grupo, e sua aparência foi revelada. Eram elfos. Mas esses elfos eram diferentes de Lucano, Laurelin e as crianças. Tinham um ar de nobreza e eram distintos, vestidos com roupas nobres, de ótima qualidade. E tinham cabelos escuros como a nuvem que encobria o céu, e seus olhos , também escuros, mostravam ódio e amargura. E sua pele era negra, como se fossem sombras, mas eram de carne como qualquer um ali. E a cor de sua pele não se devia a sua linhagem, ou a algum fator ambiental o mágico, era um presente de Tenebra, a deusa das trevas, para identificar aqueles que decidiram por livre e espontânea vontade seguir seus ensinamentos. Era o que diferenciava um filho de Glórien daqueles que, por rancor pela perda dos amigos e parentes na queda do reino élfico de Lenórienn, haviam renegado sua deusa e dedicado sua devoção a Tenebra. Era a marca que os identificava por aquilo que eles haviam se tornado, os elfos negros. Elfos cujos corações estavam na escuridão, que culpavam Glórien por sua tragédia, e que haviam sucumbido ao ódio e a dor e se tornado criaturas das trevas. E dentre os quatro que se apresentaram, um despertava mais atenção e medo. Era um elfo negro de grande estatura e cabelos longos, e que vestia roupas negras bordadas com fios de ouro. E trazia uma enorme espada em suas costas, que emanava uma aura sinistra. E em suas mãos, assim como nas dos outros três, havia estranhas armas, lâminas que formavam um arco afiado que circundavam as mãos, e cujas extremidades eram presas nas pontas do cabo segurado pelas mãos negras. E essas armas eram letais, e chamadas de ajis, pelos elfos negros. E esse elfo se aproximou ameaçadoramente do grupo, e quem o olhava sentia um calafrio percorrendo a espinha. E Laurelin rapidamente mandou que as crianças entrassem na caverna e ficou diante da entrada, protegendo-a dos elfos negros. E o que parecia ser o líder deles começou a falar.
_ Finalmente eu o encontrei, velho! Agora você conhecerá o poder de minha fúria! – gritou o líder dos elfos negros.
_ Não Berforan! Você não vai fazer nada, pois o poder de Glórien me protege! – respondeu Ramo de Carvalho.
_ Ora, Glórien não protege ninguém! Não o fez quando mais deveria, e agora que ela está fraca o faz menos ainda! Vocês todos serão testemunhas de que o poder dela não existe mais! – e o elfo negro gargalhou e comandou, com a cabeça, os seus soldados, e eles prepararam suas armas para matar.
E os soldados de Lucano agiram com mais rapidez, ou talvez maior imprudência, e atacaram primeiro. O machado de Lycan se chocou contra o peito de Berforan, e a armadura resistiu ao impacto e apenas um ferimento superficial foi feito na pele escura do elfo negro. E Wood arremessou uma adaga no mesmo alvo, sem desconfiar do tamanho da sua tolice, e errou, pois a arma foi rebatida pela aji brilhante facilmente. E o goblin se escondeu atrás de uma árvore, mas de nada adiantou sua estratégia.
_ Saia de trás dessa árvore, seu goblin imundo! Eu estou vendo-o claramente! – gritou o elfo caído.
E depois foi a vez de Alejandro. Deu uma série de saltos e cambalhotas para chegar ao lado do inimigo de surpresa, mas seu florete sequer chegou a tocar o adversário, pois ele se esquivou com desprezo da arma do mascarado. E, impressionado com o inimigo, Lucano desejou saber quem ele era.
_ Ele é Berforan, o Alma Negra, líder de todos os elfos negros! Ele já foi no passado um Espada de Glórien, era o líder de todos eles! Mas, após a queda de Lenórienn, ele culpou nossa deusa pela desgraça ocorrida com os elfos e se voltou contra ela! – explicou Laurelin.
E então foi a vez dos elfos negros atacarem. Berforan com suas duas ajis golpeou quatro vezes o corpo de Alejandro. E o espadachim foi retalhado e seu corpo desabou no chão já quase sem vida. Então, a única mulher que havia no grupo de Berforan atacou Lycan pelas costas. E suas ajis rasgaram-no com violência, e o guerreiro sentiu que sua vida se esvaia e tentou recuar. Wood tentou acertar novamente os inimigos com suas facas, mas isso só os deixava mais irritados.
Então, Arcany atacou com sua magia, e atingiu um projétil mágico na mulher que ameaçava Lycan, e ela se enfureceu.
_ Matem o mago! – gritou ela, e seus outros dois companheiros miraram suas armas no feiticeiro, mas Berforan os impediu.
_ Entrem na caverna! Há crianças lá! Matem todas! – ordenou o líder doa elfos negros. E Lucano e Laurelin tentavam impedir o avanço dos inimigos sem lutar contra eles, pois, apesar de toda sua maldade, ainda eram elfos.
Então, Berforan segurou as duas ajis com apenas uma das mãos, e com a mão direita sacou a espada que estava em suas costas, e ela tinha uma aura negra de trevas.
_ Sinta o poder de Diamante das Trevas! – gritou Berforan. E enterrou vários centímetros da lâmina maldita no ventre de Lycan. O guerreiro empalideceu e caiu, à beira da morte. – Alevandra! Cuide do mago! – ordenou ele.
E Alevandra, a elfa negra, correu até Arcany e abriu seu pescoço com a lâmina curvada de sua aji. E o feiticeiro foi o terceiro a tombar em combate. E os elfos negros tentaram atacar Lucano, mas se detiveram diante dele ao ver seu símbolo sagrado pendurado em seu pescoço. E o amaldiçoaram, dizendo “outro maldito clérigo!”. E contra ele nada fizeram.
_ Lucano! O poder de Glórien nos protege! Eles não podem fazer nada contra os servos da deusa! Use seu poder! – gritou o ancião.
Mas Berforan se aproximou dele, e Laurelin não conseguiu detê-lo. Wood saiu de seu esconderijo e o atacou, mas Diamante das Trevas entrou em seu peito, e o goblin foi o quarto a ser vencido. E Lucano invocou o nome de Glórien e o poder da deusa dos elfos fluiu novamente pelo seu corpo, e ele conseguiu conter um dos inimigos, tirando dele toda a raiva e acalmando seu coração. E então Berforan disse.
_ Malditos servos de Glórien! Posso não tocá-los, mas ao menos ceifarei as vidas inúteis desses humanos e a desse goblin asqueroso! E aquelas crianças também pagaram, pois os devotos da traidora da raça élfica devem ser punidos tanto quanto ela!
E Berforan avançou em direção da entrada da caverna, onde Lucano tentava deter os inimigos usando seu corpo como escudo. E então Laurelin gritou o nome de sua deusa e suas preces foram atendidas. Um círculo de luz mágica se formou ao redor do ancião e se expandiu, até envolver os soldados caídos e os elfos negros. E Berforan e seus comandados, que tinha os corações negros de maldade, não puderam suportar o poder do círculo mágico e se afastaram.
_ Berforan! Hoje nenhuma vida será tirada! Nem mais uma gota de sangue será derramada nesses campos! Em nome de Glórien eu lhe ordeno que vá embora daqui, imediatamente! – gritava Laurelin Ramo de Carvalho, ostentando um amuleto de madeira com o símbolo de sua deusa entalhado.
_ Velho maldito! Eu irei embora! Mas não pense que acabou! Ainda nos encontraremos de novo algum dia! E quando esse dia chegar, não conseguirá mais escapar! – respondeu Berforan com ódio. E os elfos negros retornaram para a mata em saltos ligeiros e desapareceram tão furtivos quanto haviam chegado. E o vento soprou mais uma vez, e a nuvem negra foi levada embora. E o sol voltou a brilha novamente. E Lucano agradeceu a Glórien por estarem todos vivos e por ter sido aceito novamente como um de seus servos. E jurou nunca mais desonrar o seu voto para com a deusa.
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