Capítulo 273 – Duelo ao pôr-do-sol
O crepúsculo enfim chegou. O céu tornou-se rubro, com algumas poucas nuvens alaranjadas moldando figuras que se transformavam a cada instante conforme os caprichos do vento. As atividades de Forte Rodick já tinham se encerrado, e os soldados, exceto os que estavam em postos de vigia, se descontraiam com jogos, brincadeiras e bebedeiras na taverna. Glorin saia da taverna, após muitas canecas de cerveja, e parecia já estar embriagado. Foi quando ele encontrou Squall, que chegava para se divertir também, assim como todos ali.
_ Ah! Então ai está você novamente, Squall! Quer lutar, não é mesmo? Pois então vamos resolver isso agora! Prepare-se! – resmungava o anão com dificuldade, cuspindo gotas de cerveja no peito do feiticeiro.
_ Eu estava pensando em deixar isso pra outro dia, mas já que o senhor está disposto, vamos lutar então! – respondeu Squall. – Bem, vá se preparar então, capitão! O senhor tem cinco minutos para se preparar pro combate, eu farei o mesmo nesse tempo!
Então, Squall concentrou sua mente e evocou um feitiço. Começou a falar, e o som de sua voz era alto como o rugido de um leão, e sua parecia estar em todos os lugares, era algo fantasmagórico. E ele gritava para que todos no forte pudessem ouvir: “Duelo na taverna! Squall contra Glorin!”. Isso chamou a atenção de todas as pessoas, e uma pequena multidão começou a se formar em frente à taverna.
Glorin foi embora, sem dizer uma palavra sequer. Enquanto isso, os amigos de Squall o preparavam para o combate. Nailo e Lucano conjuraram diversas magias sobre o companheiro, deixando-o mais forte, mais ágil, mais vigoroso e mais resistente ao poder congelante do anão. Também emprestaram seus itens mágicos para Squall, tornando-o ainda mais poderoso, e nesse momento, ele sentiu que tinha chances de vencer facilmente seu capitão. Bastava manter-se distante de Glorin, e atacá-lo com magias de fogo para vencê-lo em pouco tempo. E, caso tudo mais desse errado, Squall tinha uma estratégia em mente.
Alejandro juntou-se a Anix, e começou a recolher apostas para a grande batalha. E, em sua maioria, os soldados apostavam em Glorin, já que conheciam, ao menos por histórias, o poder do anão. Poucos eram os que apostavam em Squall, somente seus amigos e alguns poucos soldados confiavam em sua vitória. Ainda assim, alguns deles dividiam seu dinheiro e apostavam nos dois, por precaução. E o dinheiro era depositado todo no carrinho construído por Anix, e ele foi se enchendo de moedas aos poucos, e a multidão ao redor da arena também foi aumentando. Chegaram Seelan, Todd, Jonathan Wilkes e até Kuran, para assistir à luta. Até mesmo o general Wally Dold apareceu e fez sua aposta. Olhou ao redor, e viu os companheiros de Squall fortalecendo-o, e viu que os companheiros de Glorin estavam ali, sem se preocupar em aumentar os poderes do anão. E, vendo que Squall ficava cada vez mais forte, enquanto Glorin se mantinha o mesmo, o general apostou trezentas moedas de ouro no elfo.
Os cinco minutos tinham quase se esgotado quando Glorin surgiu novamente. Parecia o mesmo de antes, as únicas coisas diferentes nele eram um grande cinto dourado que trazia à cintura e um par de luvas que tinha nas mãos. Squall sentiu ainda mais confiança em sua vitória. Os dois ficaram distantes um do outro quase vinte metros, como Squall desejava, a multidão se formou ao redor dos dois, cercando-os numa grande roda. Os dois se encararam uma vez mais, e a luta começou.
Squall agiu primeiro, lançando no centro da arena a esfera peluda que retirara da bolsa emprestada de Legolas. A esfera tocou o solo e começou a se contorcer e a crescer, até se transformar num enorme e feroz carcaju. Glorin praguejou e disse estar decepcionado com a covardia de Squall em mandar um animal lutar em seu lugar. O anão segurou então seu machado com força e correu na direção de Squall a toda velocidade.
O carcaju atacou Glorin com suas presas, mas sequer conseguiu alcançá-lo a tempo de mordê-lo. O capitão passou veloz pelo animal e, num piscar de olhos, estava diante de Squall, com o machado acima de sua cabeça. A arma desceu veloz e certeira como um relâmpago sobre o peito do elfo, abrindo um enorme ferimento. Squall sangrou abundantemente e sentiu que o sangue jorrava de modo incomum, parecia que uma de suas artérias havia sido rasgada. Sua visão escureceu por um breve instante diante de toda aquela dor, mas Squall agarrou-se à consciência e manteve-se firme para continuar lutando.
Mas, enquanto a multidão comemorava os primeiros ataques, Squall sentiu que algo estava errado. Toda a força extra que seus amigos haviam lhe concedido com suas magias se esvaia de seu corpo. Temeu ser um efeito do machado de gelo eterno de Glorin, mas, sua mente lhe revelou o que havia acontecido, Squall tinha cometido um erro grave. O tempo dado por ele para que Glorin se preparasse tinha sido demasiado longo, e as magias conjuradas por seus amigos perdiam seus efeitos naturalmente. Vendo a derrota próxima, Squall decidiu que era o momento de apelar para seu plano secundário.
_ Calma, capitão! Ela vai voltar algum dia! Eu sei pra onde o senhor vai nesse fim de ano! O senhor vai vê-la, não é mesmo? – disse Squall, maliciosamente.
E o plano de Squall funcionou, pois Glorin interrompeu seus ataques, confuso.
_ Do que você está falando, garoto? O que você quer dizer com isso? – perguntou o anão.
Enquanto falava, Glorin deu tempo para que o carcaju corresse até ele. O animal saltou de boca aberta e dentes à mostra na direção do anão, mas, suas presas não pareciam afiadas o suficiente para penetrar na poderosa armadura que Glorin vestia, era como se o animal tentasse derrubar uma parede sólida com seus dentes.
_ Não se finja de inocente, capitão! Eu sei que vai até as Uivantes para vê-la! Mas, não se preocupe, ela vai voltar algum dia! – insistiu o feiticeiro. Glorin continuava tentando entender do que ele falava, e exigia explicações. Distraído, o anão sequer percebeu quando Squall pegou sua varinha mágica, que antes pertencia a Zulil, e disparou um raio mágico enfraquecedor no corpo do anão. Mas, Glorin era como uma parede sólida, e nem mesmo aquela magia foi capaz de abalá-lo. Vendo que sua tática não surtira efeito, Squall decidiu tentar ganhar mais tempo.
_ Ora capitão! Eu sei que o senhor a perdeu, e por isso está mal nesses dias! Mas ela vai voltar algum dia! Aquela que o senhor tanto ama voltará! – prosseguiu o elfo, confiante. Mas, algo saiu errado.
_ Aquela que eu amo? Seu...seu...MALDITOOOOOO!!!! – então, a parede ruiu. A fúria de Glorin explodiu, ainda mais assustadora e devastadora do que na ocasião em que lutaram contra Dekyon. Seus olhos tornaram-se brancos como a neve e sua pele empalideceu e foi cercada de uma aura gélida. Glorin ergueu seu machado, e atacou a cabeça de Squall urrando como um monstro selvagem. Squall fechou os olhos, e sentiu que aquele era seu último momento de vida. Anix e Nailo tentaram correr para ajudá-lo, mas já era tarde, o sangue de Squall se derramaria pela última vez. Mas, a lâmina fria parou a um centímetro dos olhos de Squall, estática, como uma pedra de gelo.
_ Muito bem, moleque! A vitória é sua! – disse Glorin.
O anão virou as costas e partiu para o lado oposto, na direção de seu alojamento, cabisbaixo. Squall levou a mão à cabeça, e finalmente se deu conta do erro que havia cometido.
_ Seu linguarudo! Trate de dar uma poção pra aquele moleque logo! – disse o anão para Seelan, ao passar perto dele. Seelan sentiu-se culpado pelo que havia acontecido. Glorin continuou. – Alejandro, pague as apostas! Squall é o vencedor! – foram suas últimas palavras. Glorin desapareceu após a multidão, sem dizer mais uma palavra sequer.
Parte da multidão cercou Alejandro, em busca de seus lucros. O general era o mais feliz, dono de uma quantia de novecentas moedas douradas. O restante dos soldados saltou sobre Squall, formando uma pilha de corpos que se amontoava para saudar o vencedor. Esmagado sob dezenas de pessoas, Squall pensava apenas no que tinha feito, e se arrependia amargamente.
Lucano, que até então estava escondido, decidiu dispersar aquela multidão para também cumprimentar o amigo. Abriu seu livro mágico e gritou em élfico “Apareça Dragão!”, e a imagem de um enorme dragão vermelho se formou no ar, fazendo com que todos os soldados se dispersassem, assustados. Legolas, que, assim como Nailo, conhecia o truque do clérigo, gritou para que o dragão desaparecesse, se não quisesse ser morto. Então Lucano fechou o livro e o dragão se desfez instantaneamente. E assim terminou o esperado duelo entre Squall e o capitão Glorin. Squall foi sagrado campeão, mas em seu íntimo ele sabia que a vitória não cabia a ele e que não havia nada para comemorar.
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