Capítulo 298 – Tempo de compras 2 – Anix em perigo
Pouco tempo depois, com a ajuda de Cloud, Squall conseguiu localizar Seelan. Reunidos novamente com o capitão, o feiticeiro e o guerreiro voltaram às compras, ainda assessorados por Tião.
Enquanto isso, noutra parte da cidade, Nailo e Lucano, acompanhados de Darin e Relâmpago, percorriam as ruas, de loja em loja, em busca de itens especiais que haviam ouvido falar durante suas aventuras e, principalmente, nas canções de Sam. Guiados pelo garoto, os dois aventureiros conseguiram obter tudo aquilo que buscavam, enchendo suas mochilas e abrindo largos sorrisos.
Legolas, acompanhado da esposa, cavalgava vagarosamente pelas ruas, aproveitando a agradável companhia. Horas depois, após um longo passeio com sua amada, alugou um quarto em uma estalagem de qualidade e deixou Liodriel repousando enquanto ele iria tratar de negócios. Agora, a pé, Legolas contratou um guia e foi pela cidade procurar produtos que não interessavam à sua esposa, coisas de aventureiros. Assim, após uma longa busca, Legolas encontrou ferreiros e magos competentes para criarem o que ele desejava, uma espada feita de vidro.
Um item desse tipo era raro em todo o mundo. Só havia uma pessoa capaz de forjar tal arma, um ferreiro em Selentine chamado Glassard. Por sorte, o arqueiro encontrou uma espada forjada pelo ferreiro renomado à venda na cidade e a comprou. Pagou a uma dupla de ferreiros para trabalharem na espada, deixando-a com o formato que desejava e também para tornar o interior da arma oco, pois Legolas tinha planos em mente para utilizar a parte interna de sua arma de uma forma nunca antes pensada. Também contratou um mago experiente para encantar sua espada com magias poderosas, quando as modificações físicas estivessem terminadas. Dessa forma, a estadia do arqueiro na cidade se estenderia por mais 17 dias e ele precisaria encontrar um meio de convencer seu capitão a deixá-lo na cidade pelos dias que necessitava.
Enquanto pensava, Legolas encontrou outro objeto que era do seu interesse. Entrou em uma loja que anunciava a venda de vassouras mágicas e comprou algo que seria de grande utilidade em suas aventuras: uma vassoura mágica. Assim, o elfo retornou para os braços de sua amada em grande estilo, voando sobre a cidade de Vectora.
Junto com sua família, Anix também investia seu dinheiro, mas de forma diferente. Presenteou os pais, Enola, Silfo, Rael e também Silmara com roupas novas e luxuosas. A cada metro andado, paravam nas barracas espalhadas pelas ruas para provar as iguarias exóticas que Vectora oferecia aos visitantes. Ao contrário de seus amigos, Anix não gastava suas moedas de ouro consigo mesmo, mas sim com as pessoas que amava. O mago interessou-se em comprar apenas uma única coisa para si, uma tiara mágica, mais poderosa do que a que ele já possuía, que permitisse aumentar ainda mais os seus poderes mentais e, conseqüentemente, seus poderes mágicos. Anix vendeu sua antiga tiara, mas mesmo assim, o dinheiro que tinha não era suficiente para comprar o que desejava. Foi quando seus pais lhe entregaram todo o dinheiro que Anix lhes havia dado, um presente para o filho que tanto amavam. Anix relutou, mas no final foi convencido pelos pais a aceitar o dinheiro e assim, saiu da loja mais poderoso do que nunca.
Assim, horas após terem chagado ao Mercado nas Nuvens, surgiu nos heróis o desejo de rever os amigos, de mostrar o que haviam conseguido na cidade, de descansar e se divertirem juntos. Nailo e Lucano deixaram os becos e ruas menores para buscarem as largas avenidas de Vectora e encontrarem seus companheiros. Squall, Orion e Seelan já se afastavam da área de comércio proibido da cidade com o mesmo intuito e Legolas saia da estalagem, montado em sua vassoura mágica para procurar seus amigos do alto.
Anix era o único que continuava passeando sem pressa pelas ruas da agitada cidade. Estava feliz e tranqüilo, acompanhado das pessoas que estimava, munido de um poder maior do que o que tinha antes e especialmente alegre por ter conhecido uma loja especial para ele. As roupas que havia comprado pertenciam à loja de Vladislav Tpish, pai de Petra, a jovem menina que conheceu muito tempo antes na Estalagem do Macaco Caolho, em Malpetrim. Assim, embalado pelas boas lembranças, embriagado pelos odores exóticos da cidade e conduzido pela melhor das companhias, Anix caminhava distraído, como se pisasse nas nuvens.
Mas foi ao atravessar um beco sem movimento que a tranqüilidade foi quebrada. Atropelado com violência, Anix quase foi arremessado ao chão. Ouviu o som de cerâmica se partindo em dezenas de pedaços e um choro. Quando se recompôs do susto, Anix olhou para baixo e viu uma menina, aparentando não ter mais do que oito ou nove anos de idade, chorando.
A menina chorava desesperadamente. Suas mãos tentavam em vão juntar o líquido que se espalhava pelo chão depois de sair por entre os cacos de um jarro de barro quebrado que se amontoavam pelo solo. Era leite. Anix tentou acalmar a menina, e saber o motivo de todo aquele desespero anormal. Em prantos, entre um soluço e outro, a garota contou sua história. O leite era para sua mãe, doente e acamada, a única refeição que ela iria ter após dias. Ela morava com a mãe, em um porão abandonado, e as duas não tinham dinheiro sequer para comprar comida. A perda do leite representava o fim da esperança de melhora para sua mãe. Mas, quis o destino (ou os dados enlouquecidos de Nimb) que a jovem, que se chamava Sara, desse aquela desastrosa trombada em Anix.
Assim, acompanhado de Rael, o mago foi fazer uma visita à mãe de Sara e salvá-las do cruel destino que as castigava.
Após alguns minutos de caminhada, chegaram a um beco escuro, sujo e abandonado. Por uma abertura ao nível do solo na parede de uma casa velha, Sara conduziu seus salvadores àquilo que ela chamava de lar. Era um pequeno cubículo subterrâneo iluminado pela chama de uma vela fraca sobre um caixote de madeira usado como mesa. Latas eram usadas como panelas e pratos, há muito tempo secos e cheios apenas de teias de aranha. Dois montes de palha velha e úmida jogados no chão serviam de cama. Em um deles havia uma mulher, seu nome era Luana. Era uma humana ainda jovem, mas de rosto cansado e ressecado e olhar profundo. Estava magra e pálida, tal como a menina, e estava doente. Jogada sobre a cama, tossia repetidamente e de tempos em tempos expelia uma secreção pela boca.
Rapidamente Rael pôs as mãos sobre o peito da mulher e orou à sua deusa. O poder de Wynna se manifestou nas mãos do clérigo e tomou o corpo de Luana, curando-a. A tosse sumiu por completo, a respiração da mulher voltou ao normal e suas dores desapareceram. Até mesmo sua expressão tornou-se melhor. Ela agradeceu aos seus benfeitores e contou sua história.
Luana e Sara eram da região de Valkaria. Tinham ido a Vectora para passear e fazer negócios, como qualquer outra pessoa. Durante sua estada na cidade, foram assaltadas, e ficaram sem dinheiro algum. Nem mesmo comer ou deixar a cidade elas podiam. Ficaram presas na cidade, vivendo na clandestinidade e sobrevivendo de migalhas. Luana acabou adoecendo e não fosse pela chegada de Anix e Rael, teria fatalmente morrido, deixando a pequena Sara órfã.
Comovidos, os dois heróis decidiram ajudar as duas. Deram a elas dinheiro suficiente para saírem daquele buraco e arrumarem um local decente para ficarem e se alimentarem até a cidade voadora chegar à capital do reinado (o que ocorreria em poucos dias). O dinheiro era suficiente para acomodações e alimentação, além de roupas novas para as duas e pagar suas passagens de volta para casa. Ainda sobraria uma boa quantia para que mãe e filha recomeçassem sua vida quando chegassem em casa novamente. Anix e Rael se despediram e deixaram o porão, agora tomado pela alegria. Quando estava já a certa distância, Anix viu a pequena Sara saindo feliz do porão para buscar comida, enquanto sua mãe arrumava os poucos pertences que possuíam para deixarem aquele lugar para sempre. Então, os dados de Nimb novamente se mostraram selvagens. Um homem encapuzado atropelou a menina, tomando-lhe todo o dinheiro que possuía e fugiu correndo para um dos muitos becos que existiam na área.
_ Droga! Rael, vá buscar meus pais! Eu vou atrás daquele desgraçado! – gritou Anix, já correndo desesperado.
Enquanto o clérigo ia atrás de reforços, Anix virou uma esquina, seguindo o seqüestrador por um beco estreito. Não havia saída, apenas três portas, uma ao fundo e outras duas nas paredes laterais, e nenhum sinal do homem ou de Sara.
Se hesitar, Anix invadiu a porta da direita, preparado para fulminar o seqüestrador com projéteis mágicos. Mas, ao atravessar a entrada, foi envolvido por uma estranha fumaça que o impedia de ver adiante e o envenenava rapidamente. Suas pernas bambearam, sua visão tornou-se turva e sua mente confusa. Anix caiu e tudo ficou escuro. Estava inconsciente e agora era vítima algum plano sórdido que se desenrolava no submundo de Vectora. E novamente as habilidades dos heróis escolhidos seriam postas à prova.
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