novembro 18, 2005

Capítulo 142 - Anjo ou demônio?!

Sem a presença do atrapalhado Sairf, a moça se acalmou e, aos poucos foi começando a contar sua história. Seu nome era Idalla. Vinha de uma vila nas redondezas do dente de pedra, uma vila tão pequena que nem nome possuía. Idalla havia sido capturada por um mago cruel que a desejava talvez pelo fato de ainda ser pura. Anix percebia essa pureza enquanto olhava profundamente dentro dos olhos da jovem e segurava suas mãos para confortá-la. O mago, cujo nome era desconhecido, aprisionara a pobre donzela naquela sala, dentro daquele complexo recheado de monstros terríveis e criaturas medonhas. Nailo se lembrou neste instante do que havia visto numa das salas do corredor, antes de chegar à biblioteca. Uma sala onde havia dois corpos, um anão semelhante aos duergar, mas nas proporções normais de um anão, e um humano, com uma longa barba, de aparência frágil. Os dois estavam completamente nus. Talvez aquele homem fosse o tal mago que Idalla temia, pensou ele. Segundo ela, o mago deixava sempre monstros a vigiando do lado de fora da sala, para impedir que ela pudesse tentar fugir. Mesmo sendo mentira, Anix e Nailo disseram que haviam matado esses monstros, ganhando ainda mais a confiança da jovem. Nailo tentava se aproximar dela, mas aparentemente, Idalla havia simpatizado mais com Anix do que com ele. Seus olhos negros fitavam os de Anix enquanto ela segurava suas mãos com delicadeza. Idalla estava transtornada e a todo tempo pedia para que os heróis a levassem embora dali. Tinha medo de que o terrível mago voltasse. Pelo pavor que ela expressava ao mencioná-lo, era fácil supor o quão cruel ele deveria ser. Idalla revelou que o mago tinha aliados. Um metamorfo, uma criatura estranha com a habilidade de mudar sua aparência conforme sua vontade, vivia num lugar chamado Salão do Esplendor e, segundo ela, era subordinado ao mago. Uma outra criatura também seguia as ordens deste mago. Era um imenso dragão que segundo ela, habitava o andar inferior das cavernas junto de seu mestre. A história de Idalla coincidia com os elementos que haviam sido revelados aos heróis em sonho e com suas próprias suposições. . Idalla também disse algo mais sobre o clã de Durgedin. Segundo o mago havia lhe contado, o pobre anão havia perecido nas mãos dos orcs e estes, rogado maldições sobre o pequeno para que sua alma não descansasse jamais. Além disso, um grande guerreiro orc havia ficado incumbido de vigiar o corpo de Durgedin por toda a eternidade para impedir que ele pudesse se levantar novamente.
Nailo serviu um pouco de sua ração de viajante para Idalla e um pouco de água. A jovem se saciou, como se não comesse há muito tempo e continuou sua trágica história. O mago sempre a ameaçava e a maltratava. Era ele o responsável por ter rasgado o vestido da donzela. Aparecia somente de vez em quando, para lhe trazer comida e já fazia dois dias que ele não retornava. Durante esse tempo, quase um ano trancada ali dentro, Idalla se distraia lendo os livros da biblioteca que em sua maioria tratavam da história do povo anão e do clã de Durgedin. Idalla dormia numa cama que ficava na saleta ao lado, onde Sairf havia ido há pouco. Neste instante inclusive, sua narrativa foi interrompida pela passagem do mago que se retirou e foi ao encontro de Legolas, fora da sala. Lucano também já estava de volta, recém saído de dentro do guarda-roupa e ouvia ao triste relato.
Nailo jogou sobre os ombros da donzela a sua capa, num gesto de carinho e ternura. Idalla agradeceu o ato bondoso do ranger, mas, mesmo assim, era para o mago que seus olhos brilhavam mais forte. Anix e Nailo perguntaram sobre Liodriel, mas Idalla não soube responder onde a dama elfa estava, já que nunca havia saído daquele lugar. Além disso, havia chegado até ali com os olhos vendados pelo seu captor. Então Nailo tomou uma decisão. Ficariam ali aguardando o retorno do mago para surpreendê-lo e derrotá-lo. Depois seria a vez do dragão. Dessa forma, atacando cada um em separado, seria mais fácil obter a vitória, resgatar Liodriel e retornar em segurança para a superfície. Mas, Idalla não concordava.
_ Não! Não podemos ficar aqui! É perigoso, o mago é muito poderoso! Temos que ir embora! Temos que fugir! Eu não quero ficar mais aqui! Deixe-me sair desse lugar! Leve-me daqui! Deixe-me ir! – a moça gritava desesperada. Seus olhos, já tomados pelas lágrimas, fitavam os de Anix como se implorassem pela liberdade.
_ Não se preocupe Idalla! Nós vamos tirar você daqui! Mas não agora, antes precisamos salvar a noiva de nosso amigo! Depois nós a levaremos embora! – Anix tentava confortá-la.
_ Por favor Senhor Anix, tire-me desse lugar! Deixe-me ir embora! – Idalla abraçou forte o mago.
_ Não posso deixá-la sair assim sozinha! É perigoso! – explicou Anix enquanto suas mãos desciam pelas costas da donzela.
_ Então ao menos deixe que eu vá embora daqui junto de vocês! Só não quero mais ficar aqui! – Idalla olhava para Anix com ternura.
_ Não, é perigoso! Além do mais nós precisamos de um lugar para descansar antes de enfrentar o mago que pegou você! – respondeu Nailo.
_ Então pelo menos vamos sair daqui! Vamos para um outro lugar que seja mais seguro! Deixe-me sair daqui! – insistiu Idalla.
_ Mas esse lugar é o mais seguro Idalla, só tem uma entrada e a gente pode deixá-la fechada para impedir a entrada de monstros! E quando o mago voltar, nós o pegaremos de surpresa! – explicou novamente o mago.
_ Não! Isso é loucura! Temos que sair daqui! Aquele mago colocou uma magia poderosa aqui! Aqui dentro seus poderes são duplicados! Não há como vencê-lo aqui! Leve-me daqui senhor Anix! Deixe-me ir embora desta prisão! – abraçada ao mago, Idalla tentava empurrá-lo para fora da sala. Estava em total desespero.
Anix sacou sua varinha mágica e, enquanto abraçava Idalla, ativou seu poder de detecção. Estranhamente, Anix não sentiu nenhuma aura mágica dentro do lugar. Ou Idalla havia mentido, ou ela havia sido iludida pelo mago, ou então o tal mago era muito mais poderoso do que se podia supor.
_ Vamos embora daqui, por favor! Não me deixe presa aqui por mais tempo! Há quase um ano eu espero pela oportunidade de sair desse lugar! Aquele mago malvado disse que se eu não me comportasse, iria mandar o dragão me comer! Ele me batia, tentava me violentar naquela cama, me deixava sem comida ou água por vários dias, era tortura demais! Por favor Anix, eu quero ir embora! Deixe-me sair daqui, eu irei com vocês, ou me esconderei em outro lugar, mas por favor, deixe-me sair daqui!!! – Idalla ora sacudia Anix, ora o abraçava.
Era visível o estrago que o mago havia causado naquela pobre jovem de aparência angelical. Deixá-la ali dentro por mais tempo seria ser tão cruel quanto aquele homem que a havia aprisionado. Seria ser tão cruel quanto o maldito que controlava os orcs, o dragão e que havia raptado Liodriel. Pensando nisso, Anix finalmente resolveu atender ao apelo da dama.
_ Está certo, você tem razão Idalla! Nós iremos embora daqui! Tome, vista isso! – Anix retirou seu manto e o colocou na jovem que se vestiu enquanto exibia suas deliciosas curvas para o mago, como se o provocasse.
Nailo recolheu sua capa, já decepcionado. Parece que o único que conseguia maiores intimidades com as mulheres que o grupo encontrava era Anix. Era ele quem havia conquistado o coração de Enola. Era ele quem havia flertado com a irmã de Liodriel. E agora era ele quem fazia o coração de Idalla bater mais forte. Nailo se levantou e caminhou para a porta. Anix, abraçado com Idalla, foi seguindo o ranger alguns segundos depois.
_ E então Anix! Finalmente eu poderei sair desse lugar! Posso ir embora daqui agora? – o coração de Idalla pulsava forte. Ela parecia não acreditar que seria finalmente libertada e precisava ouvir a resposta para crer no que acontecia.
_ Sim Idalla! Você pode ir embora daqui agora! Você está livre finalmente! – respondeu Anix.
Nesse momento, idalla empurrou Anix para trás, livrando-se de seu abraço e olhou-o nos olhos.
_ Verdade? Posso ir embora mesmo?
_ Sim!
Idalla deu um passo em direção a Anix e o agarrou com força pelos cabelos. Seus lábios se tocaram e o mago provou o mais doce e caloroso beijo que já provara em toda sua longa vida élfica. Suas línguas se entrelaçaram freneticamente, girando dentro de suas bocas e deixando Anix atordoado e sem fôlego. Após poucos segundos, que pareciam uma eternidade, Idalla largou Anix, que a olhava sem fôlego.
_ Esqueci, tenho que pegar uma coisa! – Idalla correu até a porta do quarto aberto por Sairf. – E lembre-se Anix! Tome muito cuidado aqui dentro! Nem tudo é o que parece ser! – seus olhos fitaram os de Anix maliciosamente e depois brilharam por uma fração de segundo.
Anix se assustou e não entendeu o que Idalla queria dizer com aquilo, então correu até o quarto. Lá dentro, Anix viu uma criatura deslumbrante despindo-se de seu manto e atirando-o sobre a cama. Seus cabelos, agora vermelhos como o fogo, agitavam-se enquanto ela terminava de se despir. Ela se virou para Anix, exibindo seus belos seios, fartos e perfeitamente redondos, bem como todo o resto de seu corpo escultural. Toda aquela beleza tentadora de Idalla possuía também um aspecto macabro. Duas enormes asas de morcego, presas as costas da moça, balançavam com graça. Uma cauda lisa partia de trás de jovem e se projetava para frente, dançando diante de Anix num movimento hipnótico, enquanto sua ponta, que terminava numa seta, alisava seus belos seios de forma maliciosa.
_ Ah! Finalmente estou livre! Obrigada Anix! Adeus! – seus olhos emitiram um brilho sinistro antes que Idalla desaparecesse diante dos olhos de Anix.
Assustado, o mago usou sua varinha para tentar localizá-la magicamente. Não conseguiu. Buscou em sua memória os estudos mágicos que fazia e concluiu que ela havia usado uma magia que estava além de seu alcance no momento. Teletransporte.
Anix retornou para a biblioteca, bestificado com o que acabara de presenciar. Seus olhos não acreditavam no que haviam visto, e sua mente não compreendia o que se passara ali. Sam, Nevan e Lucano o indagaram sobre o que havia acontecido. Tudo o que Anix respondia é que Idalla havia se teletransportado para fora dali. Foram confirmar e não encontraram nenhum sinal da jovem. Anix se sentou, olhando para o vazio enquanto dúvidas permeavam sua mente. Nevan tentou reanimá-lo, mas parecia impossível. Tentou convencê-lo a ir ajudar Sairf, Legolas e Nailo que haviam saído para explorar o corredor, mas não conseguiu. Anix ficou invisível, e decidiu permanecer ali sozinho. Nevan se recusou a deixá-lo, mas Sairf o obrigou a mudar de idéia.
_ Nevan! Anix! Lucano! Squall! Corram aqui depressa, tem um manequim atacando Legolas! Venham rápido! – gritava Sairf.
Nevan correu, deixando Anix perdido em seus pensamentos. Era o inicio de mais uma batalha pela salvação de Liodriel.

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