novembro 04, 2005

Capítulo 128 - Eu quero comida!

Squall parou na entrada da caverna, buscando a figura da garota com os olhos. Nailo estava logo atrás dele e também parou. Legolas que vinha em seguida, cortou a frente dos dois e foi na direção da porta. Nailo e Squall entraram em seguida, enquanto que Lucano e os demais já estavam bem próximos deles. Então, quando os três já haviam adentrado na câmara, a estranha estalagmite após o riacho se moveu. Um olho vermelho brilhante e uma bocarra repleta de presas afiadas se abriram sobre ela.
_ Muito bem! O jantar está servido! – rugiu o monstro, enquanto lançava seus tentáculos fibrosos sobre os heróis.
Numa fração de segundo, os três foram capturados pelos tentáculos da criatura. Squall sentiu-se sugado pelas ventosas do monstro e viu sua força se esvaindo. Nailo e Legolas conseguiram resistir, mas isso não foi suficiente para livrá-los do perigo. O estrangulador, nome daquele tipo de criatura segundo Nailo, arrastou Legolas para perto de si e abocanhou sua cabeça com sua boca nojenta e cortante. Os três gritaram por socorro, e seus amigos correram para ajudar.
Legolas sacou sua espada, Nailo posicionou sua flecha que ainda ardia em chamas, em seu arco, e Squall concentrou-se num feitiço. Legolas tentou cortar os dois tentáculos que o prendiam, mas o monstro era por demais ágil e conseguia esquivar de cada ataque, mesmo usando todos os seus seis tentáculos para manter os heróis presos.
Nailo disparou a flecha. Ela atingiu o monstro como esperado mas seu efeito não foi o que Nailo planejou.
_ Ai, sua comida estúpida! Isso queima! Para com isso! Fica quietinho pra eu te comer! – vociferou o monstro com um tom de voz fanho e ligeiramente abobalhado.
Apesar de reclamar de dor, o monstro parecia não ter se abalado com o ataque do ranger. Squall decidiu apelar para a magia. Pretendia revidar o ataque e enfraquecer o monstro com seu Toque da Fadiga. Squall tocou num dos tentáculos que o prendiam e proferiu as palavras mágicas. E nada aconteceu. A magia foi conjurada da forma correta, Squall estava certo disso. Mas mesmo assim ela não havia afetado a criatura. Era como se aquele ser tivesse alguma resistência à magia, ou talvez até fosse totalmente imune a qualquer tipo de mágica.
Lucano chegou disparando flechas contra o monstro, sem no entanto atingi-lo. Sam correu, batendo palmas e cantando, mas ele ficou assustado quando viu que sua magia também não funcionava. Sairf chegou até a entrada e lançou uma poderosa magia. Uma forte nevasca começou a cair dentro da caverna, impedindo que se enxergasse um palmo à frente do nariz. O chão foi coberto por uma fina camada de gelo e a própria superfície do riacho chegou a congelar.
_ Ah! Que friozinho gostoso! Agora vou saborear minha comida nesse friozinho agradável! E chega de peixes! Hoje eu vou me deliciar comendo uns elfinhos frescos e suculentos! - exclamou o monstro antes de novamente morder Legolas.
_ Solte-os! – gritou Anix, invisível, mas também sem poder ver o monstro.
_ De jeito nenhum! – respondeu o monstro – Faz tempos que não aparece uma comida diferente por aqui! Não vou perder a oportunidade de comer algo diferente! – continuou ele mastigando Nailo desta vez.
O monstro parecia ser muito estúpido. Todos perceberam que com um pouco de astúcia poderiam enganá-lo e escapar daquela enrascada.
_ Nós lhe daremos uma comida diferente! Tome, isso é muito gostoso! – Anix jogou uma ração de viagem na direção do monstro e a ouviu deslizar pelo gelo até se chocar contra a fera.
_ Eu não gosto disso! Eu quero comida gostosa! Não essa porcaria aqui! – rugiu a criatura, enfurecida. Dessa vez sua voz não parecia tão estúpida.
Enquanto Anix tentava dialogar com o monstro, e convencê-lo a trocar de cardápio, os heróis presos tentavam se soltar desesperadamente. Legolas disparava suas flechas contra o monstro, mesmo sem poder vê-lo por causa das brumas geladas de Sairf. Nailo e Squall tentavam se soltar, mas tudo era em vão. Suas ações só serviam para deixar a criatura ainda mais irritada. Muito nervoso, o monstro arrastou os heróis para cima do rio congelado. A fina camada de gelo começou a rachar lentamente para desespero dos capturados. A criatura também usou seus tentáculos para capturar Sam e Lucano, e arrasta o bardo para cima do rio. Com sua boca, o monstro estraçalhou o arco de marfim que estava com Legolas. O mesmo arco que fora motivo de disputa no grupo, agora jazia no chão, aos pedaços.
Finalmente, os heróis perceberam que apenas a força bruta não seria suficiente para vencer aquele desafio, então eles resolveram apelar para a astúcia. Squall disse que daria comida ao monstro, mas este se recusava a comer qualquer coisa estranha. Desejava comer algo diferente e saboroso, como um elfo, ou um humano, sua comida favorita. Após muita insistência, o ser abriu a boca e Squall aproveitou a chance para jogar uma pelota de enxofre lá dentro e conjurar uma bola de fogo. Mas, a magia não funcionou. Estava claro agora que nenhuma das magias do grupo funcionaria contra aquela criatura estranha. Mesmo assim, Sairf se concentrou e invocou um morcego monstruoso para tentar combater o inimigo. Mas isso também não surtiu efeito.
Irritado, o monstro mordeu Legolas novamente. O arqueiro perdeu as forças, já muito ferido, parecia seu fim. A criatura levantou os heróis com seus tentáculos e bateu os prisioneiros contra o rio. O gelo se partiu e Squall, Sam e Nailo afundaram nas águas geladas. O monstro os empurrava para baixo com seus tentáculos, impedindo-os de respirar, e tinha Legolas ao alcance de suas presas. Não havia meios de vencer aquilo, a única esperança era negociar com ele, e foi o que Anix fez.
Após muita conversa, Anix conseguiu convencer o monstro a tirar todos de dentro do rio, com a promessa de lhe trazer alguma comida diferente dos peixes que ele estava habituado a comer. O monstro pensou por alguns instantes, e decidiu que queria comer um dragão.
_ Mas um dragão? Não temos como conseguir isso! – exclamou Anix – Nós vamos lhe trazer outra coisa, agora solte meus amigos!
_ Não, eu quero comer um dragão, se não eu vou comer seus amigos. Principalmente os humanos, que são muito saborosos! – rugiu o monstro, visivelmente irritado.
_ Aaii! Não! Ele vai me comer! Eu sou um humano! – gritou Sam, enquanto tentava respirar, com quase todo o corpo dentro do riacho.
As palavras de Sam eram justamente o que o monstro desejava ouvir. Sem ver nada por causa da nevasca, Anix e os demais ouviram alguma coisa sendo retirada da água. Os gritos de medo não deixavam dúvidas, era Sam. Depois ouviram barulho de pancadas muito fortes, nas paredes e no chão, seguidas pelos gritos e gemidos de dor do pobre bardo. Sam se calou, mas as pancadas continuaram ainda por algum tempo depois. Quando a magia de Sairf terminou e a neblina finalmente se dissipou, todos puderam ver o que tinha acontecido. Sam estava com o corpo todo dentro da boca da criatura. Somente a cabeça do bardo podia ser vista do lado de fora. Os dentes do monstro, afiados como facas, seguravam firmemente o pescoço de Sam. Bastava um único movimento para que o bardo fosse decapitado. Com a boca cheia de comida, e a mente cheia de maldade, a criatura começou a falar.
_ Muito bem elfinhos! Agora você vai buscar meu dragão! Se você se recusar, eu vou comer esse humano gostoso aqui! Agora vai logo, você tem só uma hora pra trazer o meu dragão!
_ Você quer um dragão então? – indagou Sairf.
_ Sim um dragão! Ou então algum bicho parecido! Pode ser até um lagarto bem suculento! – respondeu a fera.
_ Então espera um momento!,
Nailo gesticulava para Sairf, apontando para o morcego por ele invocado. Sairf compreendeu a mensagem e se retirou junto com o animal. Fora da visão do monstro, Sairf usou uma magia para alterar a forma do morcego e deixá-lo com a mesma aparência de um dragão. Sairf retornou, carregando o falso dragão para tentar enganar o monstro.
_ Eu não quero esse morcego não sua comida estúpida! Eu quero um dragão de verdade, ou um lagarto bem suculento! Agora suma daqui e só volte quando tiver encontrado o que eu quero! Senão, esse humano já era! – gritou o monstro ainda mais irritado, enquanto cravava os dentes em Sam.
_ Tudo bem! Fique calmo! Nós vamos buscar sua comida! Só não mate meu amigo! – gritou Anix – Mas você também tem que ser razoável! Esse lugar está cheio de monstros perigosos! E capturar um dragão não é tarefa fácil. Solte meus amigos e fique comigo como garantia, para que os outros possam ir buscar sua comida!
_ Não tente bancar o esperto, sua comida estúpida! Você não está em posição de negociar comigo! Eu vou deixar seus amigos irem com você sim! Mas esse humano gostoso vai ficar aqui na minha boca! E se tentarem qualquer truque, já sabem! – e apertou novamente o pescoço de Sam com os dentes. O sangue escorreu, e os heróis foram soltos. Sem ter qualquer outra opção, os heróis partiram em busca da comida que salvaria a vida de Sam. Eles só tinham uma hora, e o tempo já estava correndo.

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