novembro 11, 2005

Capítulo 136 - Anões ou Gigantes?

Atrás da porta, encontraram um imponente salão. Um salão que tinha pelo menos uns trinta metros de comprimento e uns quinze de largura.sustentando o teto a dez metros do solo, dez grandes pilares ostentavam imagens fantásticas de dragões e gigantes que se alongavam até a abóbada do teto. Um brilho alaranjado emanava de tochas fixadas em suportes nos pilares a cerca de três metros de altura. No lado oposto à entrada, ficava um orgulhoso trono de pedra, decorado com sedas bordadas a ouro, sobre um balcão de mármore que se elevava quase um metro. Minúsculos fragmentos de azulejos finos tomavam conta do chão nos arredores das paredes onde costumavam ficar. Em seu lugar, apenas os rabiscos contendo ofensas e maldições orcs, haviam resistido aos efeitos devastadores do tempo. Cinco passagens davam acesso para além do salão. Quatro corredores, dois à direita e dois à esquerda, e uma porta de madeira logo atrás do trono.
Mas, não houve tempo sequer para se impressionar com a visão magnífica, pois, diante do trono ardia uma fogueira, rodeada por meia dúzia de colchões de palha e pacotes de suprimentos. O som de martelos golpeando ferro em algum lugar além das portas ao sul foi abafado por uma voz rude que ecoou entre as sombras dos pilares.
_ Voltem para o lugar de onde vieram! Esse é o único aviso que receberão!
Apesar de ouvirem a voz, os heróis não podiam precisar de onde ela partia. Sairf correu em direção da passagem direita mais próxima, mas foi interrompido. Um golpe preciso jogou o mago para trás, cuspindo sangue. Em sua frente surgiu, como que transportado por mágica, um anão de pele cinzenta, calvo e com quase três metros de altura!!! Em suas mãos, um gigantesco martelo de combate, tão grande quanto a cabeça de Sairf.
_ Não ouviram o aviso? Vão embora, antes que seja tarde! – vociferou o anão gigante.
_ Calma! Não queremos brigar! Viemos em paz! – argumentou Sairf, ainda tossindo sangue.
_ O que vocês querem aqui então?
_ Viemos buscar a mulher de meu amigo! Ela foi raptada pelos orcs! – Sairf apontou para Legolas.
_ Não há mulher nenhuma aqui! Não tem nenhuma elfa aqui. Muito menos orcs! – respondeu o gigante. – Agora sumam daqui!
_ Não! Espere! Nós precisamos passar! Temos que chegar até a cachoeira, onde tem um abismo! Nós tivemos uma visão! Temos que salvar alguns anões que estão presos em algum lugar aqui! Eles estão trabalhando como escravos! Se nos deixar passar, poderemos pagar a vocês por isso! – o tilintar da bolsa de moedas de Nailo fez os olhos do anão gigante reluzirem.
_ Não tem nenhum anão escravo aqui! Perderam seu tempo! Podem voltar agora! – enquanto o anão gritava, Squall foi se afastando sorrateiramente.
Da mesma forma que Sairf, o feiticeiro foi fortemente golpeado por um martelo gigantesco. Um outro anão, de proporções avantajadas como o primeiro, surgiu diante de Squall sorrindo. Anix chegou nesse exato instante, a tempo de ver outros dois anões gigantes tornando-se visíveis, bloqueando todas as passagens, menos a que conduzia de volta para a escada. Um dos anões, era na verdade uma mulher. Legolas tinha uma adaga, quase tão grande quanto a espada de Nevan, próxima de sua garganta. Qualquer movimento mal pensado poderia causar a sua morte, trespassado pela adaga da anã gigante.
_ Calma! Não queremos Lutar! Vamos resolver isso através da conversa! Qual o seu nome? – perguntou Anix a um dos gigantes.
_ E que é VOCÊ??? – gritou o gigante, irritado.
_ Eu me chamo Anix!
_ Pois bem, Anix! Eu sou Auren! O que você quer aqui, Anix?
_ Deixe me explicar! Nós recebemos há muito tempo atrás um poder mágico que nos permite ver o futuro durante nossos sonhos! A noiva de meu amigo foi raptada por uns orcs e nós viemos resgatá-la! Desde então a gente tem sonhado com esse lugar! E tem um monstro gigantesco que está com a noiva dele que está em algum lugar por aqui! Nós só queremos passar e ir até o abismo, onde tem uma cachoeira para poder resgatar a pobre moça! – disse Anix.
Os gigantes pensaram por um instante. Squall aproveitou o momento para tentar enfeitiçá-los, como havia feito com Legolas, mas um golpe de martelo frustrou suas intenções.
_ O que você acha Ghared? – perguntou Auren para a mulher.
_ Veremos! – respondeu a anã, afastando-se do lugar e ordenando que os heróis aguardassem.
Irritado, Nailo atirou sua bolsa de moedas pela escada, recebendo um golpe na cabeça, da mesma forma que Squall. Os dois já estavam irritados o suficiente, e desejavam entrar em combate contra aqueles anões gigantescos e arrogantes e calá-los para sempre. Ghared entrou pelo último corredor á direita e retornou após alguns minutos acompanhada de uma comitiva de quase vinte anões gigantes. Entre eles estava uma outra anã, vestida com uma brilhante armadura e portando uma ameaçadora espada de duas lâminas, compatível com seu tamanho.
_ Então vocês estão querendo passar pelo nosso território? Mas afinal, o que vocês querem fazer aqui? Eu, Ninira exijo saber! – exclamou a anã, girando sua espada próxima das cabeças dos heróis.
Anix repetiu a história que havia contado a Auren e por fim mostrou a chave que abrira a porta que dava acesso ao território dos anões.
_ Está vendo essa chave? Reconhece esse homem? – perguntou
_ Não! Quem é ele? – Nimira negou com a cabeça.
_ Ele é Durgedin! É um de vocês! Foi ele que nos deu essa chave para nós virmos até aqui! – explicou Anix.
_ Sim! Nós viemos salvar Durgedin! Ele é seu amigo, não é? Então, deixe-nos passar! – completou Nailo.
_ Um de nós? Amigo? Ora, não nos compare com uma raça inferior como a do verme do Durgedin, aquele anão imprestável! – debochou Nimira.
_ Mas vocês não são anões também? – Perguntou Sairf.
_ Não nos ofenda! Nós somos duergar, e temos muito orgulho disso!
De fato, os tais duergar eram muito diferentes do povo de Doherimm. Isso era visível tanto nos seus traços físicos, quanto na sua personalidade. Enquanto tentavam negociar a passagem, Squall novamente tentou fazer um feitiço, para dominar a líder duergar e conseguir passagem livre para seu grupo. Novamente Squall foi interrompido por uma marretada em sua cabeça. Como desculpa, o feiticeiro argumentou que estava apenas rezando. Mas isso não interessava aos duergar. Qualquer movimento suspeito era repelido a golpes de martelo.
_ Muito bem! Afinal de contas! O que vocês querem realmente aqui? Vieram salvar uma elfa, salvar escravos, salvar Durgedin ou vieram atrás de tesouros? – Nimira apontou a lâmina de sua espada para o pescoço de Anix, intimidando-o.
Com a ajuda de Sairf, Anix contou toda a verdade, sobre o rapto de Liodriel, sobre as visões e sobre a sombra que os perseguia em seus sonhos. Pediram passagem livre para ir até o abismo onde havia uma cachoeira para poderem resgatar Liodriel e perguntaram se os duergar tinham conhecimento sobre uma elfa raptada ou sobre um monstro gigantesco. Perguntaram também o que havia atrás das portas que saíam do grande salão. Nimira ponderou alguns instantes e continuou:
_ Então vocês só querem ir até o abismo? Pois bem, eu lhes darei passagem até o abismo! Vocês terão acesso ao lado norte do complexo, que está repleto de magias malditas e mortos-vivos! É o único caminho para se chegar ao abismo! Mas vocês terão que encontrar o caminho sozinhos, e terão que se viram por lá, com os mortos-vivos! A porta atrás do trono não lhes diz respeito! É o nosso território! As portas do lado sul também estão repletas de magias malditas! Malditos anões! Agora, você do chapéu! Venha comigo! Vou lhe mostrar uma coisa! – Nimira andava de um lado para outro, girando sua espada e falando em tom alto e arrogante. Apontou para Sam e saiu com ele pela última porta à direita.
Todos ficaram tensos, aos ver Sam sendo conduzido no fio da espada por Nimira. Cercados por duas dezenas de gigantes, eles não tinham outra opção senão aguardar o retorno de seu amigo bardo. Alguns minutos depois, os dois estavam de volta.
_ Seu amigo já viu o lugar para onde vocês devem ir! Você, vá buscar a sacola de dinheiro que vocês nos ofereceram! – a líder duergar empurrou Sam para o meio do grupo com a ponta da espada e apontou para Legolas buscar o dinheiro.
Legolas desceu as escadas, pegou a bolsa de Nailo, escondeu algumas moedas consigo e levou o restante para Nimira. A gigante pegou a bolsa e olhou dentro, como se contasse as moedas. Depois deu ordem para que os seus subordinados conduzissem os heróis até a última porta à esquerda.
Squall e Nailo tentavam ainda tirar alguma vantagem da situação. Squall queria de qualquer maneira convencer Nimira a trocar a espada pelo seu machado, mas ela não aceitou. A gigantesca espada de lâmina dupla aguçava a ambição do feiticeiro. Lucano pensou em usar seu machado, iluminado por sua magia para barganhar e fazer a alegria de seu amigo. Mas o clérigo lembrou-se, amargurado, que havia deixado seu machado no salão das estátuas, quando ainda tentavam derrubá-las, e seguiu em frente, cabisbaixo. Nailo tentava convencer Nimira a deixá-lo ir buscar mais moedas para ela. Obviamente ele tinha algum plano em mente para trair o pacto feito com os duergar e subjugá-los. Infelizmente para ele, Nimira não caiu em sua lábia e, com um estalar de dedos, ordenou a expulsão dos heróis. Todos que haviam ficado para trás foram conduzidos a pontapés e marteladas até a porta por onde prosseguiriam em sua jornada. Foram atirados pela porta, numa outra sala. Então a porta se fechou atrás deles bruscamente. O som de martelos e madeiras sendo arrastadas e pregadas na porta foi ouvido durante alguns segundos. Depois tudo ficou em silêncio. Nailo conferiu a porta e constatou que ela havia sido lacrada pelo outro lado. Os duergar haviam abandonado os heróis à própria sorte, numa área infestada de mortos-vivos e magias profanas. E era justamente naquele lugar maldito que eles deveriam estar.

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