novembro 11, 2005

Capítulo 137 - Espírito atormentado

Os heróis iluminaram o lugar, revelando uma câmara quadrada de nove metros de lado. Uma fonte ou poço de pedra lapidada, já desgastada pelo tempo, ocupava o centro da câmara. Dois corredores seguiam do centro das paredes laterais para fora da câmara. Antes que pudessem fazer qualquer coisa, os heróis ouviram um som estranho preenchendo o local. Um gemido bizarro que começou lentamente a formar palavras no idioma dos anões. Palavras que foram traduzidas por um Sam trêmulo e assustado. Elas eram lamentos de dor, de desespero. O sussurro se elevou e adquiriu uma intensidade ensandecida, cheia de frases balbuciadas e gritos, enquanto uma criatura fantasmagórica e negra invadiu o aposento atravessando a parede da direita. Sairf imediatamente reconheceu a criatura, que mais parecia um trapo negro composto de sombras que se agitavam como que expostas ao vento. Quando se agitava, era possível ver entra as brumas negras o rosto de um anão que era a mais pura representação da dor e do sofrimento.
_ Cuidado! É um Allip! Tapem os ouvidos, seu gemido é hipnótico! – gritou Sairf para os amigos. Mas, já era tarde.
O gemido do fantasma preencheu os ouvidos dos heróis com lamentos de dor e maldições rogadas sobre os jovens. Sam traduzia cada palavra para seus amigos. Então o monstro viu os heróis e anunciou que os devoraria e atacou.
Legolas sabia que um fantasma horrendo como aquele não poderia ser ferido por flechas comuns. Sabia também que a madeira negra de seu arco tinha propriedades mágicas e decidiu usá-lo de maneira inusitada. Legolas agarrou o arco, saltando sobre o poço tomado de uma água negra, e golpeou a criatura como se tivesse um bastão em suas mãos.
O arco foi atravessando a massa incorpórea da aparição que parecia piscar como uma tocha ao vento. Mas no meio de sua trajetória o arco parou o movimento em algo sólido, arrancando um gemido de dor da criatura e dando a Legolas a certeza de que havia conseguido feri-lo.
Quase ao mesmo tempo do ataque do arqueiro, três luzes explodiram na face deformada da criatura, causando-lhe ainda mais dor. Era Anix, disparando seus mísseis mágicos para dar cobertura ao amigo.
O contra-ataque do inimigo veio tão devastador quanto as investidas dos heróis. A mão disforme da criatura penetrou no peito de Legolas, atravessando sua armadura e sua carne. O elfo empalideceu, como se não tivesse sangue em seu corpo, agora gelado. Legolas sentiu uma forte tontura e sabia que sua mente havia sido afetada pelo monstro. Parte de sua inteligência, de sua sabedoria, havia sido sugada pela aparição. E o pior, o monstro se alimentou da mente de Legolas, para se recuperar dos ferimentos que havia sofrido.
Legolas cambaleou para trás, quase caindo, e despertou a preocupação de seus amigos. O monstro atravessou por dentro do corpo de Legolas e foi na direção dos demais. Nevan tentou impedi-lo, andando para o lado, numa posição onde não poderia ferir seus amigos, e arremessou sua poderosa espada. Entretanto, a arma de madeira atravessou por dentro do espírito atormentado sem lhe causar dano algum e caiu no chão, após se chocar na parede ao lado de Legolas.
Sam tocou mais uma vez seu alaúde de forma explosiva. A violenta onda sonora feriu o monstro um pouco mais, mas não o suficiente para destruí-lo ou atordoá-lo. Squall correu para buscar a espada de Nevan, e deixou seu machado com o guerreiro. Ao mesmo tempo, Sairf deu um passo na direção de seu amigo clérigo.
_ Lucano! Onde está aquela água benta que o Squall lhe entregou? – perguntou Sairf
_ Na minha mochila! – gritou Lucano.
Sairf abriu a bolsa de seu amigo e retirou de lá o único frasco restante, justamente a água abençoada que precisava. Jogou o vidro aberto sobre o fantasma, molhando-o com a água. Infelizmente, a criatura incorpórea conseguiu se desmaterializar rapidamente e escapar do ataque do mago.
Lucano usou uma magia sonora, tentando repetir o efeito de Sam. A onda sonora atingiu a criatura, mas não lhe feriu. Entretanto a magia foi capaz de despedaçar um pedaço do poço, revelando que era efetiva apenas contra objetos ou criaturas sólidos.
Legolas abaixou para pegar a espada de Nevan e foi até abeirada do poço. Viu Anix sendo atacado pelo monstro e esquivando de sua mão fantasmagórica. Anix contra-atacou com um feitiço capaz de romper o corpo de uma criatura morta-viva, tocando no peito do monstro e causando-lhe um grande ferimento. Mesmo ferido, o monstro atacou Nailo, que até o momento estava parado, sem se mover um milímetro. Foi então que todos perceberam. Nailo estava hipnotizado pelo monstro, e foi facilmente atacado por ele.
Mas o ataque do fantasma tirou o ranger de seu transe, permitindo que ele escapasse, no último instante, dos poderes profanos do ser. Nevan tentou afastar o monstro com uma machadada, mas a arma não foi capaz de ferir o fantasma. Foi então que Sam teve uma idéia. Aquele ser maligno era contrário a todo tipo de energia positiva, principalmente as magias do bem. O bardo tocou uma melodia serena e tocou no monstro.
_ Que minha magia cure seu ferimentos! – gritou Sam tocando no fantasma.
Todos ficaram espantados vendo a traição de Sam que tentava ajudar o inimigo. Ficaram mais impressionados ainda ao ver o monstro se contorcendo de dor ao ser tocado pela mão do bardo que parecia queimá-lo. O ser tentou revidar o ataque de Sam, mas não conseguiu atingi-lo.
_ Magias de cura ferem fantasmas! – gritou Sam, enquanto inclinava seu corpo para trás, desviando da mão do Allip.
Squall aproveitou o momento de distração do fantasma e disparou um raio de fogo em sua direção. O monstro abriu seu corpo, deixando que o fogo passasse por dentro da abertura e fosse na direção de Nevan. O guerreiro girou o corpo rápido e escapou das chamas, enquanto Sairf disparava um raio branco que congelou parte do monstro.
Lucano passou correndo, derrubando Squall, e usou sua mais poderosa magia de cura no Allip. A criatura de contorceu de dor, ficando ainda mais distorcida e horripilante. Todos sentiram a vitória próxima. Legolas saltou sobre o poço, mas seus pés o traíram e ele caiu dentro da água turva e densa. Felizmente a construção não passava de uma fonte, rasa o suficiente para permitir que Legolas ficasse em pé dentro dela e golpeasse o monstro com a espada de Nevan. Porém, o fantasma não foi ferido pela lâmina.
Nailo aproveitou a distração criada por Legolas e atacou com o machado mágico que haviam retirado do sepulcro dos anões. O Allip atacou Sairf, já a esmo, e sugou parte de sua mente. Apenas o suficiente para reunir forças para fugir. O monstro tentou atravessar por dentro do corpo do mago atordoado para escapar, mas uma gigantesca lâmina de madeira negra o impediu. Com um golpe avassalador, Legolas consegui destruir o fantasma, espalhando por todo lado, principalmente sobre Sairf, uma estranha secreção pegajosa e transparente. Novamente, as visões dadas por Allihanna haviam se concretizado. Eles estavam na sala com a fonte, e já haviam enfrentado o primeiro morto-vivo, tal qual haviam sonhado. Isso era sinal de que o final de sua jornada estava próximo.

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