fevereiro 08, 2009

Capítulo 338 –...Novos poderes e um novo inimigo


O ninho tornou-se um acampamento provisório para o grupo. A coruja-mãe vigiava os visitantes e os arredores da borda de sua outrora tranqüila moradia. Seus novos inquilinos eram pessoas estranhas, embora não parecessem muito ameaçadores naquele instante. Um deles vestia roupas de tecido vistoso, portava um bastão incomum, repleto de espinhos grossos e afiados, como presas das feras que habitavam a ilha. Além disso ele escondia seu rosto. Usava uma tira rígida como pedra por cima da face, na qual estava desenhado um rosto simples, apenas dois olhos ornamentados com traços estranhos, nos quais havia aberturas para que seu dono pudesse enxergar. Ele agora dormia após ter sido atacado por outro dos visitantes, o mais assustador de todos, o dragão. Agora ele tinha a forma de um elfo, como os demais, mas antes tinha a aparência de um dragão. Magia, diziam os outros, mas esta magia também alterara o comportamento do elfo, pois, se antes ele se comportava de forma selvagem e cruel como um dragão verdadeiro, agora era alguém amigável, quase dócil. Atacara o estrangeiro que dormia, o qual chamava de irmão, com as garras dracônicas e fizera-o desmaiar, um comportamento anormal para dois irmãos de verdade. O dragão era constantemente acompanhado por um pássaro e trouxera o homem das espadas em suas costas. Outro elfo de hábitos assustadores. Saltara das costas do monstro com suas espadas em punho e um enorme e ameaçador lobo ao seu lado, avançara ameaçadoramente em direção a ela falando como um animal irracional, numa linguagem que ela própria não entendia muito bem, mas que sabia que era o linguajar usado pelas aves mais simples. Havia também o arqueiro. Era um elfo taciturno que trazia um arco em suas costas. Pouco falava com seus amigos e nenhuma palavra dirigira a ela. Ficava calado encostado na borda do ninho com uma face de carranca e olhar duro e frio como gelo. Tinha uma aura ao redor de seu corpo que parecia congelar as gotículas de umidade que se formavam de tempos em tempos e era um dos mais assustadores de todos, pois se todos naquele bando eram loucos ou perigosos de alguma forma, aquele elfo fazia o papel do louco calado aquele de quem nunca se sabe o que esperar ou o que temer. O último dos elfos, o que primeiro viera ao ninho, também a assustava. Dissera que o humano não era de confiança, justo ele que parecia o menos ameaçador do bando, e passava um longo tempo conversando com sua espada que, por mais estranho que aquilo parecesse, respondera a ele. Além disso ele caminhara no ar, como se andasse pelo solo, sem auxílio de asas, usando apenas magia. Aumentava e diminuía seu tamanho, também por magia. Ela conhecia magia, já a tinha visto diversas vezes em ação, mas ainda assim era algo misterioso a ela. Além do mais, o elfo rugira como a maior das feras da ilha, como se estivesse falando com ela, como se fossem aliados. O dragão também o fizera pouco antes de virem todos ao seu ninho, com a justificativa de tentar afugentar os predadores que rondassem a árvore. Por último havia o humano. Nenhum dos elfos parecia confiar nele, especialmente o carrancudo do arco, mas de todos no grupo ele parecia ser o mais normal. Era apenas um humano comum que trajava uma armadura e portava uma espada cuja lâmina ardia em chamas constantemente sem nunca derreter. Não rugia como os monstros, não tinha aparência ou comportamento de monstro, não congelava aquilo que tocava, não escondia seu rosto, não voava, não usava a enigmática magia. De todos era o mais normal, sua única estranheza era a espada em chamas, mas com a qual não conversava. Se havia alguém naquele estranho bando em quem ela pudesse confiar ou ao menos temer menos que os outros, esse alguém era o humano.

A ave despertou de seus pensamentos, não era hora para devaneios. O elfo desmaiado acordava.

Anix despertou ainda zonzo. A dor na cabeça havia diminuído bastante e quase desapareceu logo após ele ingerir uma poção mágica para curar suas feridas. Ao seu redor estavam seus amigos, fartando-se em um banquete criado magicamente por Lucano. Também havia uma gigantesca ave, uma coruja branca tão grande quanto um troll, com a qual Orion iniciava uma conversa. Para seu espanto, ambos conversavam em valkar. Sentia a fome e o cansaço naturais de quem viajava, mas não queria nem comer nem descansar. Desejava apenas tirar aquela dor de dentro de sua cabeça, entender o que lhe acontecia e descobrir o que era aquela imagem daquele olho que martelava sua mente de tempos em tempos.

_ Vou dar uma volta. Retornarei em breve – disse Anix. Sentia vontade de se isolar, se afastar do barulho de conversa dos companheiros.

_ Onde você vai, Anix? – perguntou Squall. – Vou com você.

_ Não! – negou o mago de súbito. – Não precisa, vou apenas dar uma volta, tomar um pouco de ar. Não irei longe.

_ Tem certeza que não quer que alguém o acompanhe? Você não parece muito bem – disse Legolas.

_ Estou bem, não se preocupem.

Partiu. Levava apenas sua bolsa com os componentes que utilizava para realizar suas mágicas e o seu cajado. Em instantes, desapareceu na escuridão.

_ Vou segui-lo – Squall ergueu-se resoluto. Apanhou um pergaminho, murmurou palavras mágicas e desapareceu. Invisível. Seguiu o irmão.

Anix caminhou pelo galho até encontrar o tronco volumoso da árvore em que estavam. Era uma coluna de madeira viva tão grande quanto uma casa. Sentou-se e apoiou as costas no tronco. Tirou a máscara do rosto, apoiou a cabeça sobre as mãos e aquietou-se. Não longe dali, Squall o observava de um outro galho, invisível.

No ninho Orion conversava com a coruja. Tentava tranqüilizá-la, ganhar sua confiança e desfazer a má impressão que seu grupo lhe causara. Seu nome era Galanodel, um nome élfico arcaico que significava Sussurro da Lua. A mais nova, sua filha, saíra a poucos dias do ovo e por isso ainda não tinha nome. Lucano simpatizara com o filhote e a acariciava ao juntar-se à conversa. Junto com Orion, contaram o que tinha acontecido, o que Zulil havia feito. Explicaram que vinham do continente e que estavam ali para encontrar o traidor, fazê-lo pagar por seus crimes e resgatar as almas de suas esposas e amigo. Galanodel demonstrava grande interesse no relato e parecia sensibilizada com a dor que os heróis sentiam. Orion percebeu isso em seu rosto e fez-lhe um convite.

_ Não gostaria de ir conosco? Acompanhar-nos em nossa missão? – perguntou o humano.

_ E por que eu iria? – indagou Galanodel.

_ Para nos ajudar – respondeu o guerreiro. – Além disso, você e sua cria estariam em segurança em nossa companhia. Você mesma viu que podemos lidar com os monstros que existem aqui.

_ Entendo. É uma proposta interessante – disse a coruja. – Mas vocês são tão estranhos, assustadores até. Não sei se seria prudente acompanhá-los ou mesmo confiar em vocês. Porém não lhe responderei agora. Esperarei a aurora e então tomarei uma decisão.

Orion disse estar de acordo e retomou a conversa, quando foi interrompido por um grito:

_ Squall! Eu sei que é você! Onde você está? Saia daí! – era a voz de Anix, distante, gritada.

Legolas e Nailo levantaram de prontidão, pegaram as armas, montaram na vassoura mágica e voraram em direção à voz. Lucano os seguiu logo depois dizendo a Orion para permanecer protegendo Galanodel e sua filha. Encontraram Anix sem dificuldade. Estava assustado, descontrolado. E havia algo muito estranho com ele, algo que nunca tinham visto ou imaginado antes. Um olho. Brotava da testa de Anix um olho amarelado que os encarava de forma perturbadora.

Entre os gritos incongruentes de Anix os demais elfos conseguiram compreender em parte o que acontecera. Anix havia retirado a máscara, sentia uma dor em sua cabeça que o incomodava constantemente desde que tinha saído do círculo de pedra eiradaan. Também tivera sonhos estranhos naquela noite, imagens que se emaranhavam, olhos que surgiam aqui e ali e se juntavam até formar um gigantesco olho amarelo envolto por trevas. Anix havia se afastado do grupo para se concentrar naquilo. Acreditava que com sua magia poderia entender o que lhe acontecia. Concentrou-se em tirar aquela dor de sua cabeça e sentiu que algo de fato saia de dentro dela. A imagem do olho formou-se em sua mente outra vez, dessa vez acompanhada de um sorriso ardiloso de dentes pontiagudos. Sentiu algo saindo de si, uma aura mágica que reconheceu como uma magia de encantamento, para enfeitiçar criaturas. Sentiu também seu corpo ficando fraco, suas forças se esvaindo e uma tontura dominando-o. Segurou a cabeça, esfregou os olhos e percebeu que, embora de olhos fechados, ainda enxergava, em preto e branco.

Anix ficou em pânico quando Legolas lhe mostrou o seu reflexo na lâmina da espada, quando viu seu terceiro olho pela primeira vez. O arqueiro mencionava que vira documentos descrevendo sobre experiências com olhos de beholder quando Anix havia sido seqüestrado, assustando-o ainda mais. Estava confuso e perturbado, queria fugir dali, queria fugir de seus amigos. Queria ficar sozinho, já que não poderia fugir de si mesmo, e tentar dominar aquilo com sua mente. Já que sua concentração havia feito aquilo surgir, deveria ser capaz de fazê-lo desaparecer, ou então ao menos compreender o que era aquilo.

_ Vão embora daqui! Deixem-me sozinho! – gritava o mago agitando a mão expulsando os amigos.

_ Nós não vamos, Anix! Você não está bem! Vamos ficar e ajudá-lo! – disse Lucano usando magia para descobrir se alguma mágica estava agindo sobre o amigo. Anix recusava a ajuda, gritava enlouquecidamente mandando todos embora e ameaçando-os. Não parecia o Anix de sempre. De fato aquele não era o Anix que conheciam. Legolas sentiu que algo estava errado.

_ Quem é você? O que fez com o Anix? Desgraçado, pare de controlá-lo! Solte-o! – vociferou Legolas apontando seu arco carregado para o novo olho do companheiro. Na mente do arqueiro idéias começavam a se formar. Anix só podia estar dominado por alguém e ele já tinha escolhido um culpado: Zulil. – Largue-o! Vá embora, maldito!

Vendo a reação de Legolas, Nailo preparou suas espadas para atacar, ainda que relutante. Lucano tentava em vão descobrir que magia fizera aquilo a Anix, Legolas estava quase disparando a primeira flecha, quando ouviram uma voz em suas mentes. Era Squall:

_ Eu estou aqui atrás e vi tudo o que aconteceu. Esse olho apareceu na testa do Anix, veio de dentro dele, e usou um poder mágico para invadir minha mente e tentar me controlar. Cuidado – disse o feiticeiro dentro das mentes dos companheiros. Todos permaneceram estáticos por um momento, Anix tentava convencê-los de que estava bem:

_ Parem com isso! Já disse que estou bem! Só quero ficar sozinho! – gritava o mago. – Eu sou o Anix de sempre, e posso provar. Seus nomes, Legolas, Nailo e Lucano. Nailo, seu pai se chama Nailox e sua mão se chama Esparta. Como eu saberia disso se não fosse eu?

_ Cala a boca, desgraçado! Você dominou a mente dele e consegue ver os pensamentos e memórias do Anix! Não vou ser enganado por você! Vá embora e deixe meu amigo em paz! – gritava Legolas.

Squall tentou acalmá-lo, usando sua mágica para conversar telepaticamente com os amigos, mas, temendo estarem caindo em uma armadilha, não confiaram naquilo que ouviram.

_ Saia da minha mente, desgraçado! – gritou Legolas. Squall continuava tentando acalmar Legolas, provar que era ele mesmo. Em suas tentativas, foi ouvido por Nailo.

_ Folhas atendam ao meu comando e prendam meus inimigos! – gritou Nailo. Os ramos e folhas da árvore se moveram e engolfaram Squall num abraço sufocante. Todas as atenções se voltaram para o prisioneiro de Nailo. O ranger foi até ele, pronto para atacá-lo. – Muito bem, agora você não poderá fugir. Diga quem é você ou então eu vou retalhá-lo!

_ Nailo, sou eu, Squall, seu idiota! Solte-me!

O Guardião reconheceu a voz do amigo e sua forma por trás das folhas e vinhas. Legolas ainda não se convencera e Lucano, sentindo que não havia motivos para se preocupar, já começava a retornar para o acampamento no ninho. Vendo a distração dos amigos, Anix se jogou no abismo.

_ Anix! – Legolas subiu na vassoura mágica e se jogou atrás do amigo. Anix já flutuava, seis metros abaixo, graças à sua mágica. – Solte o Anix! – bradou o arqueiro.

_ Eu já disse pra me deixar em paz! Vá embora daqui! – gritou Anix. E foi inevitável. Uma agulhada na testa lembrou-o de seu novo olho e por impulso seus pensamentos se moveram para ele. Um raio serpenteante de energia negra foi disparado do olho maligno e atingiu o corpo de Legolas. O peito do arqueiro pretejou envolto em uma aura de trevas e uma dor aguda se manifestou enquanto a vida de Legolas diminuía como que por uma lâmina afiada cravada em seu peito. Anix sentiu suas energias se esvaindo novamente, mas não se importava mais com isso.

Metros acima, Nailo finalmente libertava Squall após reconhecê-lo. Mas, como o feiticeiro permanecia invisível, o Guardião mantinha uma lâmina apontada para seu pescoço por precaução.

_ Já disse que sou eu, seu idiota. Agora vire essa espada para lá – irritado, Squall deu um tapa na espada, afastando-a de si e ao mesmo tempo provocando a dissipação de sua magia de invisibilidade. Com todas as dúvidas desfeitas, ambos correram para o lugar onde Legolas e Anix tinham saltado. Lucano também se aproximava, retornando após ouvir os gritos e ameaças de Legolas e Anix. E o que os três viram deixou-os perturbados.

_ MALDITO!!! – urrou Legolas. Seus olhos tornaram-se brancos, sem pupilas, e uma aura gélida se espalhou pela árvore, espalhando pânico entres as pequenas criaturas que nela habitavam, chegando até os companheiros acima e deixando-os transtornados. Tomou impulso na ponta da vassoura mágica e saltou sobre Anix, agarrando-o.

Os dois se enroscaram empurrando-se e socando-se. Anix perdeu o controle do vôo e afastou-se mais e mais do local de onde saltara. Conseguiu agarrar Legolas pelo pescoço e mirou seu olhar frio e aterrorizante com seus três olhos. Concentrou-se no olho em sua testa, sentiu sua vitalidade sendo drenada por ele e sentiu prazer nisso.

_ SAAAAAAAIIIIIIIIII!!! – Anix berrou ainda mais alto enquanto estrangulava Legolas, seu olho maligno disparou um novo raio direto sobre a cabeça do arqueiro. Uma aura o envolveu por completo e Legolas sentiu seus membros enrijecendo, seus músculos e ossos pesados, lentos. Era o fim.

Legolas sentia-se estranho, como nunca havia acontecido antes. Estava confuso e catatônico. Tinha apenas uma certeza, Zulil vencera, da pior forma possível. Dominara um de seus amigos e o voltara contra ele. Essa era a pior traição que poderia existir. Legolas soltou-se de Anix e se atirou no abismo que se abria abaixo. Não havia mais volta, só o fim. Era inútil continuar lutando.

O arqueiro despencou rapidamente. Retomando a consciência e percebendo o que fizera, Anix se lançou atrás dele, desesperado. Mais acima, Squall transformou-se em dragão e se atirou atrás dos dois. Lucano, que acabara de retornar, também saltou atrás dos amigos. No alto da árvore, a esperança residia em Nailo. Sério, calmo, com a mente em prontidão e os pensamentos claros como vidro, o ranger evocou o nome de Allihanna.

_ Natureza, atenda ao meu comando! – gritou Nailo. Ramos, folhas e galhos da árvore obedeceram, juntando-se num emaranhado abaixo dos companheiros e formando uma grande rede. Legolas chocou-se na armadilha de Nailo e foi agarrado por ela. Anix veio em seguida, pousando sobre o amigo, tentando acordá-lo ao mesmo tempo em que era agarrado pelas plantas. Squall chegou em seguida, agarrando os dois com suas poderosas garras e sendo agarrado pelas folhas. Lucano caiu próximo a eles, e também foi embrulhado num manto de folhas vivas. Nailo desceu até próximo ao grupo, recolheu a espada de Legolas da rede de folhas e tentou colocar ordem na situação:

_ O que vocês pensam que estão fazendo? O que pensam da vida? Somos um grupo! Parem de brigar entre si. Temos uma missão a cumprir, há pessoas que dependem de nós. Por isso não podemos nos dar ao luxo de falhar na missão. Agora recomponham-se e vamos voltar ao acampamento. Amanhã teremos um longo dia pela frente.

_ Nailo! Eu acho que matei o Legolas! Ele não responde! Eu o matei! Glórienn, não! – choramingou Anix, antes de desmaiar.

Nailo dissipou a magia sobre a árvore e os galhos recuaram. Squall segurou os dois amigos e voou com eles de volta ao ninho. Nailo chamou pela vassoura mágica e com ela resgatou Lucano que estava pendurado em um ramo. E finalmente o grupo voltou a se reunir no acampamento. Após mais um tormento em suas vidas, conseguiram finalmente dormir. Na mente inconsciente de Anix, uma criatura maligna sorria. Graças a Galrasia e ao poder mágico do mago, finalmente o observador despertara.

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