fevereiro 13, 2009

Capítulo 339 – O menestrel e a deusa


Despertaram. Era o 20º dia de Lunaluz, o mês de Lena, Deusa da Vida. O sol quente invadia a fenda do abismo, inundando com sua luz e calor, fazendo a floresta despertar enquanto as criaturas noturnas começavam a se deitar. Um a um os heróis foram se levantando, retomando sua vida de aventura e tormento. Liam grimórios, oravam aos deuses, abriam mentes e corpos para dar vazão à magia, afiavam lâminas. Legolas permanecia imóvel, ainda catatônico. Anix estava perto, se alimentando, quando Nailo se aproximou dos dois e começou seu sermão:

_ Como se sentem? Espero que estejam bem apesar dos ferimentos de ontem. O que vocês fizeram não foi correto. Lembrem-se, somos amigos, somos irmãos. Temos que permanecer unidos, temos uma missão a cumprir. Há outras pessoas que dependem de nós, do nosso sucesso. E para atingirmos nosso objetivo, temos que permanecer juntos. Vocês tentaram se matar ontem e por pouco não conseguiram. Quero que pensem no que fizeram, que pensem no que está em jogo e que não repitam os erros de ontem – Nailo falava com calma, mas num tom severo como um pai que ensina a um filho as lições da vida. Aquele era um grupo sem líderes. As decisões eram tomadas em conjunto, as escolhas eram feitas por voto de todos, ouvindo a opinião de cada um e decidindo aquilo que atendia aos desejos da maioria. Mas, de tempos em tempos, quando a necessidade obrigava, alguém do grupo assumia o papel de líder, dando rumo às ações do grupo, resolvendo disputas, tomando decisões em nome dos demais. Dessa vez era Nailo quem assumia o cargo, era ele quem se dispunha a restaurar a ordem no grupo.

_ Do que você está falando, Nailo? O que aconteceu? Não estou entendendo nada! – disse Anix com ar de espanto. Envergonhado e confuso com o que acontecera, fingia não se lembrar dos fatos da noite anterior.

_ Talvez até você realmente não se lembre do que aconteceu, Anix – disse Nailo. – Ou talvez esteja apenas fingindo. Mas o fato é que vocês dois tentaram se matar. Você enlouqueceu depois que esse negócio surgiu em sua testa e tentou matar o Legolas. E ele endoidou também e tentou matar você, achando que você estava possuído por alguém, o Zulil provavelmente. O que está feito não tem volta, mas, daqui para frente, antes de darem outro espetáculo como o de ontem à noite, pensem bem no que temos todos nós a perder e no que as pessoas que amamos têm a perder caso nós falhemos em nossa missão, caso enlouqueçamos e nos matemos uns aos outros. Espero que aquilo não se repita. Agora vamos nos preparar e partir, temos um longo caminho pela frente. E você, Legolas, trate de despertar desse transe e voltar para a realidade. Temos um trabalho a fazer.

Anix, ficou pensativo, tentando se justificar, perguntando do que Nailo falava, perguntando o que tinha em sua testa.

_ Ele estava falando disso aqui! – disse Lucano, enfiando um dedo no olho novo de Anix. Junto com a dor vieram as lembranças e o arrependimento, bem como o medo e o desejo de descobrir mais sobre aquilo. Ainda sentindo dor, Anix lembrou de sua máscara e a pegou. Cortou a parte de cima com uma espada, deixando a testa descoberta. Recolocou o objeto e escondeu o terceiro olho com uma tira de pano. O olho estava agora oculto e protegido e ao mesmo tempo poderia ser facilmente descoberto, quando precisasse ser usado. O mago então se levantou e foi até onde estava Legolas.

­_ Legolas – disse Anix, segurando a mão do amigo com firmeza. – Eu não sei bem o que aconteceu ontem, mas quero dizer que sinto muito. Não importa o que tenha acontecido nem o que nos aconteça daqui em diante, quero que saiba que de hoje em diante caminharemos juntos, triunfaremos juntos ou morreremos juntos se for preciso, como irmãos, como elfos.

Legolas piscou. Agarrou a mão do amigo e se levantou, ainda um tanto atordoado.

_ Vamos matar aquele desgraçado do Zulil! – disse ele. Lucano protestou e Nailo, o líder naquela ocasião, interveio:

_ Isso nós vamos ver. Quando o encontrarmos, peço apenas para que nem você, nem o Anix e nenhum de nós se precipitem. Talvez não seja nosso destino matar Zulil, mas se o for, nós o destruíramos. Peço apenas para que vocês não se deixem dominar pelo ódio e pelo desejo de vingança. Quando chegar a hora e nós confrontarmos Zulil, vamos analisar a situação com nossas mentes e corações limpos. E então, se não houver outra opção, nós o mataremos, juntos.

Todos assentiram, ou ao menos fingiram concordar. Prepararam sua partida apressadamente e, quando estavam prontos para sair, Galanodel, que até então apenas os observava, falou:

­_ Vocês pretendem atravessar o abismo? – perguntou a coruja gigante. Os heróis fizeram que sim. – É perigoso. Vejo que vocês não são daqui e não conhecem nada sobre esse lugar – novamente assentiram. – Eu os guiarei até o outro lado. Há monstros voadores escondidos nas árvores, mas sei como evitá-los. Guiarei todos vocês até o outro lado e – olhando para Orion – caso concordem em me ajudar a sair desta ilha e retornar para o continente, irei também acompanhá-los em sua jornada. O que dizem?

Concordaram.

Galanodel se abaixou, deixando que Orion a montasse novamente. Lançaram-se no abismo, voando abaixo das copas das árvores menores, seguidos de perto pelos demais. Squall, transformado em dragão, carregava Nailo e Relâmpago, e era seguido por Cloud. Anix voava sozinho, com auxílio da magia de seu cajado. Legolas ia com Lucano na vassoura mágica e a pequena coruja os acompanhava de perto, sendo aos poucos cativada pelo clérigo. Acima deles dezenas de répteis voadores se desprendiam das copas mais amplas para persegui-los. Galanodel conduzia o grupo por sob as árvores mais baixas em um ziguezague constante para despistar os perseguidores. Minutos depois, o grupo já emergia do outro lado da fenda, subindo a encosta num vôo ligeiro até a segurança da floresta além do abismo. Após uns instantes de planejamento, decidiram seguir ao lado do abismo, até o fim deste quando então se afastariam rumo ao sul e ao leste, em direção ao seu objetivo.

Foram três horas de viagem tranqüila. Conseguiram avançar um longo trecho já que podiam voar livremente na borda da garganta. Quando o poder do anel de Squall se esgotou e sua metamorfose encerrou, o grupo prosseguiu a jornada a pé. Galanodel voava de uma árvore para outra, onde aguardava pela passagem do grupo e avançava adiante em mais um vôo curto. Pouco a pouco o cansaço começou a se abater sobre o grupo. As lembranças dos fatos trágicos pelos quais tinham passado começaram a surgir nas mentes e o desânimo começou a tomar conta de todos. Percebendo isso, Nailo pensou em algo para animar a pequena tropa:

_ Vamos cantar alguma coisa, para espantar o cansaço! – sugeriu Nailo. Mas foi Anix quem começou a cantoria, logo acompanhado por todos. Era uma canção antiga que lhes trazia lembrança de outros tempos de aventura e glória:

“Marchando pelo campo, levamos nosso semblante

Lutando em todo canto, nós seguimos adiante

Os inimigos não têm chance contra os nossos poderes

Com espadas em nossas mãos mataremos todos eles

Nós não sentimos medo de nada

Conosco está o espírito de batalha!”

Era a canção que Sam entoara quando o grupo lutava para invadir as minas de Khundrukar e que cantara muitas outras vezes depois durante sua estada nos subterrâneos dos domínios do anão Durgedin. O grupo se animou por um breve instante, quando então a saudade os dominou. Tomados de saudade e tristeza, os elfos silenciaram por um momento, mas a música continuou. Ela vinha da direção de Orion.

O grupo interrompeu a marcha abruptamente, todos os olhos se voltavam para o colar de Orion, onde o bardo Sam Rael cantava sua canção.

_ Sam! É Você mesmo? – gritou Nailo, eufórico. Se pudesse abraçaria o amigo naquele momento.

_ Sim, sou eu mesmo, Nailo! Como você está amigo? – respondeu o bardo com alegria.

_ Estou bem. Mas, e você? Como está?

_ Bem também, um pouco confuso ainda. Não sei bem onde estou, acho que estou preso em algum lugar.

_ Que lugar é esse, Sam? – perguntou Legolas.

_ Legolas, amigo! Que saudade! Não sei direito que lugar estranho é esse. Parece uma caverna, mas não há entradas nem saídas. As paredes são lisas e parecem feitas de algum tipo de vidro ou cristal meio roxo, ou rosado.

_ Mas como você está ai dentro? E como você está falando com a gente? Você não estava morto? – perguntou Anix.

_ Morto? Eu? Ora Anix, que brincadeira é essa, meu amigo? E que troço é esse na sua cara? Uma máscara? Claro que não estou morto! Se estivesse não poderia estar falando com você agora. Mas felizmente eu posso falar com você, velho amigo.

_ E você está bem mesmo? Não sente nenhuma dor ou alguma outra coisa estranha? – perguntou Lucano.

_ Lucano! Você também está ai? Que alegria! Não, não sinto nenhuma dor. Aliás, isso é algo meio estranho, não sinto nada – o bardo silenciou. Todos puderam ver através do colar quando Sam ergueu um dos braços e o beliscou com força. Sem reação. – Não sinto nada. Estranho isso.

_ É porque você morreu. O Zulil matou você. Não lembra de nada disso? – disse Squall.

_ Squall? Que bom vê-lo novamente, amigo. Você está diferente. O que lhe aconteceu? Bom, isso não importa agora. Já que você falou de Zulil, eu lembro dele sim. Era aquele elfo que conhecemos em Malpetrim. Eu o encontrei outro dia em Valkaria – pausa – numa taverna. Eu estava feliz, tinha acabado de receber a notícia de que ia ser pai quando o encontrei.

Pausa.

_ E a Lana? Vocês sabem dela? Ela está bem? Está ai com vocês? – perguntou Sam.

_ Ela está em segurança, lá em Tollon, Sam. Termine de contar o que aconteceu – disse Nailo.

_ Certo. Lembro que encontrei o Zulil numa taverna. Eu estava feliz e o convidei para uma bebida, para comemorarmos a vinda do meu filho. Conversamos um bom tempo. Ele me perguntou sobre vocês, onde estavam, o que tinham feito. Perguntou sobre suas famílias, quis saber de onde cada um tinha vindo.

Pausa.

_ Fiz questão de contar tudo. Cantei seus feitos, a Balada da Forja da Fúria. Ele ficou contente, interessado. Quis saber cada vez mais e...

Longa pausa. Todos em absoluto silêncio.

_ E quando eu sai da taverna, senti uma dor na cabeça...acho que desmaiei. Acordei amarrado, sem minhas roupas, em algum porão sujo. Um bando de goblins cruéis começou a me machucar – o semblante de Sam tornou-se sombrio, seu rosto estava pálido e seu olhar distante. Continuou, falando cada vez mais lentamente. – Eles me cortavam, me espetavam, me queimavam. Enfiavam agulhas em baixo das minhas unhas, depois as arrancaram com um grande alicate. Me bateram e depois colocaram minhas...minhas “coisas”, vocês me entendem, as jóias da família em uma morsa. E eles apertaram e apertaram até minhas coisas explodirem.

Mais uma pausa. A própria floresta pareceu se calar. Com lágrimas nos olhos, Sam continuou:

_ Então apareceu o Zulil. Ele sorria enquanto eu sangrava. Fez um gesto para os goblins, com o polegar apontando para o pescoço. Um deles pegou um grande machado. Colocaram minha cabeça numa mesa. Não sei o que aconteceu depois – Sam levou uma mão ao pescoço. Ao redor dele formou-se uma marca vermelha, como uma cicatriz. Um corte. – Eu morri. Depois disso eu só lembro de ter visto vocês fugindo de um tiranossauro atroz e comecei a gritar para vocês correrem. Não lembro de mais nada entre uma coisa e outra. Eu morri.

Sam estava pálido como um cadáver que era. Estava em choque. Ainda confuso, começou a dispara perguntas para os amigos:

_ Mas e vocês? Onde estão? Estão em Galrasia, não é? Estão bem? O que aconteceu com vocês? O que estão fazendo ai?

_ Calma Sam. Vamos lhe explicar tudo o que aconteceu. – Disse Nailo, calando o bardo e começando o relato de sua tragédia.

Os elfos contaram a Sam tudo que acontecera. Contaram do confronto com Zulil em seu castelo e de sua derrota. Contaram sobre o reencontro com Lana, sobre o retorno e a vingança de Zulil e sobre o que acontecera depois.

_ E agora nós estamos aqui em Galrasia – disse Anix. – À procura daquele traidor maldito para fazê-lo pagar por tudo que nos fez e para recuperar as jóias com as almas. Aliás, falando nisso, como é mesmo o lugar em que você está?

_ É como se fosse uma caverna de cristal. Tem oito paredes que se inclinam em direção ao teto e ao chão onde se encontram em octógonos. São de um tom roxeado, como uma ametista, mas não são transparentes, eu não consigo ver nada além. Consigo ver e falar com vocês por uma pequena janela em uma das paredes. Parece um portal mágico.

_ Ametista! – exclamou Nailo. – A última jóia que o Zulil pegou na prateleira era uma ametista. É onde o Sam está.

_ Não se precipite, Nailo. Há algo estranho nisso tudo, pois para nós o Sam agora está dentro do colar de Orion.

_ Ou talvez esse não seja o Sam. – murmurou Legolas para si mesmo. Voltou-se em direção ao colar imaginando se não seria um truque do inimigo. – Sam, lembra-se quando estávamos dentro da montanha, quando você começou a tocar uma música usando cogumelos como tambores? Que bichos eram aqueles mesmo que nos atacavam?

_ Sim, me lembro disso. Eram Gricks, meu amigo. Por que quer saber? – respondeu o bardo.

_ Lembro que naquele dia nós não estávamos conseguindo ferir os monstros com nossas armas, mas você entoou uma balada de glórias e vitória que nos fortaleceu, nos deu mais coragem e aumentou nossas forças. Você lembra qual era? – continuou Legolas.

_ Claro que lembro.

_ Poderia cantá-la para nós agora, como daquela vez, como se estivéssemos lutando agora contra aqueles monstros?

Sam soltou a voz enquanto tamborilava as paredes de sua prisão com as mãos. A música encheu os corações dos elfos de saudade e emoção, e fez mais que isso. Todos, inclusive Orion, foram tomados por um sentimento de confiança, de esperança. A melancolia de momentos atrás, quando Sam narrara sua morte, desapareceu por completo, dando lugar à coragem. Mesmo com Sam morto e sua alma aprisionada, fosse no colar, fosse na ametista de Zulil, sua magia ainda funcionava.

_ Seus poderes funcionam, Sam. Mesmo você estando preso, sua magia ainda chega até nós, assim como sua voz – comemorou Legolas.

_ Mas como isso é possível? – perguntou Anix, confuso.

_ Isso eu explicarei! – uma nova voz surgiu, vinda do colar. No pingente de Orion uma nova imagem se formava. O rosto de uma senhora idosa surgiu, envolto em mantos e exalando sabedoria. Era a mesma velha que tinha presenteado Orion com o amuleto. O desejo por conhecimento, uma curiosidade inexplicável tomou conta de todos, atordoando-os. Lucano imediatamente curvou-se ao reconhecer a figura que estava diante de todos. Era Tanna-Toh, a Deusa do Conhecimento.

A imagem da Deusa atordoava a todos. Sua presença emanava sabedoria, conhecimento, resposta para tudo que se desejasse entender. Mas também os contagiava com uma ânsia pela descoberta, o desejo de compreender desde a mais ínfima receita de bolo ao mais elaborado cálculo matemático. Sentiam vontade de largar tudo para trás para estudar, compreender e prever os padrões de crescimento de folhas de cada árvore que os cercavam. Desejavam conhecer quantos grãos de poeira estavam sob seus pés, queriam conhecer os padrões de movimento das estrelas do céu. Ansiavam por saber o que compunha a água em seus cantis, bem como os próprios cantis, suas roupas, armas e eles mesmos. Mas havia outras coisas mais importantes a saber. Agarraram-se aos seus objetivos como um leão que segura sua presa e ouvira o que a deusa tinha a lhes dizer:

_ Eu poderei lhes explicar esse mistério, se desejarem. Estou aqui para ajudá-los, para presenteá-los com o maior dos presentes, o Conhecimento. Mas, como já do saber de vocês, minha ajuda será restrita, limitada por regras que estão além de sua compreensão no momento. Poderei responder apenas três perguntas a vocês. Portanto, pensem muito bem no que desejam saber.

Os heróis se olharam e começaram a confabular. Depois de alguns instantes, chegaram a uma conclusão. Nailo disparou a primeira pergunta.

_ Senhora Tanna-Toh, gostaríamos de entender o mistério que envolve o nosso amigo Sam. Ele fala conosco como se estivesse vivo, mas nós o vimos morto. Desejamos saber se ele está realmente morto, assim como nossas esposas.

_ Bem, meu jovem – começou a deusa. – Seu amigo está de fato morto, mas não como suas esposas. Graças a meu poder, sua alma está desperta e pode se comunicar com vocês. Ele esteve todo esse tempo em suspensão, num tipo de transe. Não sentia nada, não via nem ouvia nada, assim como suas esposas, até despertar nessa ilha.

A resposta trouxe um pouco de paz aos heróis. Seu amigo estava morto, assim como suas mulheres. Mas, durante todo o tempo que passou, não tinha sentido nada, como se o tempo não tivesse existido. Da mesma forma suas esposas estavam num sono profundo e não sofriam. Anix se aproximou e fez a segunda pergunta:

_ E também queremos entender como ele se comunica conosco através desse pingente. Qual é o objetivo real desse colar?

_ Bem, esse colar é um presente meu para Orion e para vocês. Orion foi escolhido por mim para ajudá-los e para ser ajudado por vocês e por isso ele é o portador do colar. Assim como vocês, ele enfrentou grandes desafios e sofreu grandes perdas em sua vida. Ele os auxiliará em sua jornada, além de ser o portador do pingente e no final seus feitos ajudarão Orion a cumprir seu próprio destino e encerrar seu ciclo de sofrimento. Quanto ao colar, ele serve para permitir que vocês consigam contato com seu estimado amigo Sam. Isso foi possível porque Sam sempre foi um devoto leal a mim. Por isso eu conectei esta jóia à gema onde a alma de Sam está aprisionada, para que vocês possam conversar com ele. No entanto, o uso desse poder é limitado, vocês só poderão utilizá-lo apenas cinco vezes ao dia, sendo que a cada vez que o utilizarem poderão falar com ele por um período de dez minutos.

Restava ainda uma última pergunta. Os heróis ponderaram por um breve momento, discutindo qual seria a melhor pergunta a fazer para a deusa. Concordaram em usar a última pergunta para esclarecer sobre o futuro, para saber que perigos enfrentariam e com o que deveriam se preocupar realmente. Decidiram finalmente o que desejavam saber e coube a Anix novamente a tarefa de perguntar:

_ Senhora Tanna-Toh – disse o mago. ­– Queremos saber a verdade por trás das visões de Enola. Quem de fato é o nosso inimigo, sobre o qual ela nos alertou quando nos conhecemos?

_ Bem, se querem saber quem de fato é o inimigo de fala mansa com o qual vocês devem se preocupar, então lhes respondo. Ele sempre foi e sempre será aquele para cuja punição vocês foram escolhidos: Teztal. No entanto, a visão de Enola era para lhes avisar sobre a traição de Zulil, mas, por obra de Hyninn todas as visões foram distorcidas para se tornarem enigmáticas, para terem duplo sentido. Dessa forma, o inimigo de fala mansa sobre o qual a jovem Enola lhes avisou era Zulil, mas também era Teztal. E muitas outras pessoas com essa descrição vocês encontraram em sua jornada, amigos e inimigos, de forma que vocês sempre ficassem em dúvida sobre quem era o real inimigo. As traquinagens do Deus da Trapaça não pararam por ai, pois todas as visões foram bagunçadas por ele. Da mesma forma que o pequenino que trazia a chave para a libertação era o anão Guiltespin, também foi o espírito da anã que vocês encontraram em Khundrukar, assim como o seu amigo Glorin. O despertar da fúria foi o despertar faminto do Destruidor de Mundos, mas também foi a explosão de ódio de Legolas, quando ele chacinou a aldeia orc, foi também o surgimento do ódio e desejo de vingança em Zulil, quando vocês o derrotaram, e também foi o acordar dos poderes dracônicos de Squall, assim como a ira de Glorin, quando soube da morte de seu companheiro goblin. Mas, se desejam saber a quem temer em meio a essas profecias difusas, eu lhes digo que Zulil é apenas um infeliz fantoche nas mãos dos servos de Sszzaas. Seu maior inimigo sempre foi e sempre será aquele que atende pelo nome de Teztal.

Estava feito. Tanna-toh havia respondido as três perguntas como prometido, fornecendo como ajuda a elucidação de grandes mistérios nas mentes dos heróis. Entretanto, restavam ainda muitas questões a serem respondidas.

_ Senhora, antes que se vá, diga-nos o que aconteceu com Guiltespin, já que a senhora o citou – pediu Anix. A imagem da deusa começava a se desfazer no pingente.

_ O anão está bem, foi viver a vida dele. É possível que vocês o reencontrem algum dia.

_ E quanto ao Sairf, Tanna-Toh? Ele está vivo? Está feliz? – perguntou Legolas.

_ Sim, o mago está vivo e feliz. E vocês o reencontrarão no futuro.

A imagem da deusa sumiu, junto com sua voz. Restava apenas o rosto de Sam, emocionado com o que presenciara.

_ Bem meus amigos. Parece que temos novamente a tarefa de salvar não uma, mas cinco belas damas desta vez. Como disse a Mãe da Palavra, minha ajuda será limitada, então não podemos desperdiçá-la. Deixarei que vocês decidam quando minha presença será necessária. Chamem-me sempre que precisarem de mim.

Sam se despediu dos amigos e pouco tempo depois os dez minutos se esgotaram e a imagem do bardo desapareceu. Restava apenas o pingente como ele sempre fora. De posse de novos conhecimentos, o grupo prosseguiu sua jornada.

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