junho 16, 2009

Capítulo 354 – Colosso de Pedra

Nailo apanhou em sua bolsa um pedaço de madeira mágica, encantada muito tempo atrás por um feitiço de Lucano, que brilhava como uma tocha. Descobriu o objeto e sua luminescência tomou conta de toda a cripta.

_ Vou abrir a porta e jogar isto no corredor para iluminá-lo para a gente – disse o Guardião. – Vou jogá-lo o mais longe que puder, para enxergarmos os inimigos antes que eles nos alcancem.

_ Espere, tenho uma idéia melhor – disse Anix. – guarde esta luz e apague suas espadas. Legolas, faça o mesmo com seu arco, e você também Orion, apague sua espada.

_ Mas se fizermos isso, não veremos os inimigos – protestou Legolas.

_ Mas eu verei! – respondeu Anix, retirando a bandana que cobria sua testa e revelando seu terceiro olho. – Nossas armas não chamarão a atenção deles. Eu olharei furtivamente e direi a vocês o que se aproxima.

Todos obedeceram o mago e a sala foi tomada pela escuridão. Nailo abriu a porta lentamente, puxando a aldrava para dentro da sala. Anix avançou lentamente, enxergando tudo através de seu olho maldito. Um novo corredor se revelou. Atravessava toda a extensão da torre. À esquerda terminava na borda côncava da construção e à esquerda ele se estendia por vários metros e dobrava para a direita antes do fim da torre. Nesse trecho havia três portas, uma na parede esquerda e duas na outra, todas fechadas. O som das passadas ficou mais forte, retumbando como trovões. As batidas ficaram mais claras também e Anix as identificou como o som de pedras chocando-se contra o chão pétreo da torre. Poucos segundos se passaram quando finalmente o dono das passadas surgiu no final do corredor. Avançava lentamente a pisadas pesadas e espaçadas. Era imenso, com mais de cinco metros de altura e quase tão largo quando o corredor. Tinha uma aparência que lembrava vagamente a de um homem e seu corpo gigantesco era inteiro feito de pedra.

_ É um colosso de pedra, como o de Ortenko! – gritou Anix. – É um golem de pedra!

Nailo saiu para o corredor sacando as espadas e iluminando tudo ao seu redor. Lutaria contra o monstro de pedra, sozinho se necessário. Legolas foi o próximo, dando um salto mortal sobre o amigo e disparando um raio congelado de seu arco no peito do monstro apenas para descobrir que seus poderes congelantes não funcionavam contra o inimigo. Nailo ergueu as espadas e uma coluna de fogo acompanhou o movimento das lâminas, envolvendo o corpo rochoso do adversário. E tal que acontecera com o gelo, o fogo nada fez contra o colosso. Squall veio em seguida, murmurando um feitiço. No meio do corredor o chão foi tomado por um brilho prateado, que subiu pelas paredes até atingir o teto. O feiticeiro sorriu.

_ Isso vai segurá-lo! Criei uma parede invisível no corredor, como fiz com os fantasmas. Ele não poderá passar – disse Squall.

_ E se ele tentar quebrá-la? O que acontecerá? – perguntou Nailo.

_ Eu não sei! Espero que a muralha resista – respondeu o Vermelho.

O gigante de pedra avançou, desta vez mais rápido. Seu corpo sólido se chocou no muro invisível. O golem apalpou a muralha e começou a golpeá-la com toda a sua força. Cada pancada fazia o chão tremer e poeira e pedriscos despencarem do teto. Mas a muralha de Squall permanecia intacta.

_ Depressa! Vamos nos preparar para derrotá-lo. Vamos usar nossas magias para ficarmos mais poderosos e atacá-lo com todas as forças – bradou Squall.

_ Sam! Precisamos de sua ajuda! – gritou Anix.

O colar no peito de Orion brilhou e o bardo atendeu ao chamado dos amigos. Rapidamente, Sam, Anix, Lucano e Squall começaram a despejar poder mágico sobre seus amigos. Os heróis eram mais fortes, mais ágeis, mais capazes. Sentiam-se invencíveis. Anix e Squall transformaram-se em dragões vermelhos e alinharam-se ao lado de Mexkialroy para atacarem juntos. Legolas e Nailo ocuparam as laterais do corredor, esticando uma corda que usariam para derrubar o inimigo. Orion ficou entre os dois elfos, prontos para saltar no monstro de pedra e empurrá-lo para o chão. Anix conjurou um feitiço além da barreira invisível, tornando o chão sob os pés do colosso escorregadio e traiçoeiro. Quando todos estavam prontos, Squall dissipou a muralha e deu o sinal.

_ Agora!

Nailo e Lucano correram e deslizaram pelo chão, passando pelo monstro e laçando suas pernas com a corda. Os dois cruzaram o corredor, retornando na direção dos amigos e dando uma segunda volta da corda nas pernas do inimigo. Orion surgiu empurrando o pesado corpo da criatura, enquanto seus amigos puxavam a corda para desestabilizá-lo. Legolas enfiou a mão na bolsa que trazia na cintura, sacou uma pequena esfera felpuda e a arremessou no meio do corredor. A bola transformou-se num enorme rinoceronte, que correu em direção ao alvo de pedra, sob comando de Legolas, acertando-o com seu chifre ósseo. Anix e Mexkialroy vieram pelo alto, jogando seus corpos dracônicos sobre o monstro, golpeando-o com suas garras e forçando-o ainda mais para o chão. Por fim Squall juntou-se à massa combatente, atacando com presas, garras e asas o corpo de pedra do monstro. Se a magia não estava funcionando, seria a força bruta que lhes garantiria a vitória.

O gigante golpeava com seus punhos poderosos. A cada golpe era como se uma montanha desabasse sobre os corpos dos heróis. Orion e o rinoceronte eram os que mais sofriam, acumulando hematomas em seus corpos. Fora do alcance do inimigo, Lucano aguardava, pronto para socorrer os amigos feridos e tomar seu lugar na batalha quando fosse necessário. Os pés de pedra do adversário deslizavam no chão escorregadio enquanto ele atacava os pequenos invasores. Entretanto ele não parava de atacar nem mesmo para tentar manter o equilíbrio. Seus golpes tiraram o rinoceronte de combate, tornando-o novamente à forma de esfera. Orion já sentia o peso dos ferimentos vencendo-o quando finalmente os esforços de todos foram recompensados. Em uma última tentativa de ataque, o gigante de pedra finalmente caiu, vítima do piso traiçoeiro e do esforço conjunto dos heróis. O monstro estava no chão, em posição desfavorável e com as pernas amarradas, mas ainda não estava vencido.

Legolas tentou escalar o corpanzil pétreo sem sucesso, desferindo golpes de espada na cabeçorra do gigante durante a tentativa. Lascas voaram de gelo voaram da espada de vidro mágico sem que um só pedaço de pedra fosse arrancado do monstro. Orion atacava com sua espada incandescente, mas seus ataques eram igualmente pouco efetivos. Nailo imitava seus amigos, tentando cortar o resistente corpo do inimigo com suas espadas, mas também as Rosas Gêmeas eram ineficazes.

_ Mex! O que acha de desmembrá-lo? – bradou Anix, transfigurado em dragão.

_ Parece uma ótima idéia, elfo!

Anix bateu suas asas vermelhas e seu corpo se ergueu do chão por um instante, alcançando o teto do corredor e caindo violentamente sobre o golem. Ao mesmo tempo Mexkialroy agarrava e puxava um dos pés do inimigo, tentando arrancá-lo. Mas ambas as tentativas foram em vão. O homem de pedra apoiou suas pesadas mãos nas paredes e ergueu se corpo volumoso do chão. Todos atacaram, tentando impedi-lo, mas os ataques eram como picadas de insetos para ele. Novamente em pé, o inimigo voltou a surpreender. Uma explosão de energia se desprendeu de seu corpo, atingindo a todos e paralisando os músculos dos heróis. Seus movimentos tornaram-se lentos e pesados, como se eles mesmos fossem feitos de pedra. Sem poderem se movimentar direito e com o inimigo novamente de pé diante deles, os heróis viam a gangorra da batalha pender novamente a favor do inimigo.

_ Vamos recuar! – gritou Legolas, sentindo o corpo enrijecer. Abriu a porta que estava ao seu lado, buscando uma saída. Encontrou uma saleta diminuta, com uma escada circular que conduzia para baixo, para mais perigos. – Droga! – praguejou o arqueiro. Sacou três flechas de sua aljava e colocou todas de uma vez no arco. Puxou a corda e disparou os três projéteis ao mesmo tempo, todos certeiros. Explosões gélidas tomaram conta do corpo do monstro arrancando dele pequenas lascas de pedra, não pelo frio mágico, mas sim pelo impacto dos ataques.

Orion recusava-se a abandonar a luta. Continuou golpeando o ventre petrificado do inimigo o mais que pode. Seu corpo ainda resistia aos efeitos do poder paralisante do golem, mesmo assim ele era um inimigo difícil de ferir. Vários dos golpes do humano resvalavam, inofensivos, na pele de rocha, somente poucos deles eram capazes de causar algum dano.

Já com os movimentos reduzidos, Squall e Mexkialroy atacavam com suas presas. Embora jamais fossem reconhecer, sabiam que suas maiores armas eram totalmente inúteis naquele momento. Mesmo assim não desistiam. Anix também ainda não tinha se entregado e arriscou um último truque antes de seguir a sugestão de Legolas. Puxou as cordas que se enroscavam nas pernas do golem, tentando levá-lo novamente ao chão. Descobriu tarde demais que as toneladas de pedra que compunham o inimigo eram peso demais para ele sozinho.

_ Fujam! Eu vou segurá-lo o máximo que puder e depois alcanço vocês! – gritou Nailo. Suas espadas atacavam a perna do oponente, cada vez mais lentamente, cada vez mais ineficazes. Mal avisou aos amigos para fugirem e os punhos do inimigo golpearam Legolas e Anix. O corpo do dragão chocou-se no chão com força, trincando os ladrilhos que o revestiam, o do elfo voou contra a parede, tingindo-a de vermelho.

Legolas começou a retirada, afastando-se lentamente do golem sem cessar seus disparos. Atordoado pelo golpe, escorregou no chão liso encantado pela magia de Anix e quase caiu. – Maldição! – praguejou. Avançou pelo corredor, afastando-se do inimigo e dos companheiros. Sentiu a mão de pedra acertar suas costas com força, mas conseguiu se afastar o suficiente para parar e esperar pelos amigos.

Mexkialroy recuou um passo após outra mordida em vão, bloqueando a porta de saída com seu corpo. Se dependesse dele, ninguém fugiria daquela batalha por ali, ninguém se acovardaria. Squall também se afastou do monstro e Anix passou correndo por baixo do inimigo, indo para a ponta oposta do corredor debaixo de uma chuva de socos desferidos pelo inimigo durante sua fuga.

_ Nailo, Orion! Faltam vocês! Recuem! – gritou Anix, já em segurança. Os olhos dos dois lutadores brilharam.

_ Lucano! Dissipe o feitiço que o golem jogou em mim! – gritou Nailo, avançando na direção do inimigo e golpeando sua perna rochosa.

_ Impossível! Se eu fizer isso terei que cancelar todas as magias de proteção que estão em seu corpo – respondeu o clérigo.

_ Então vai ter que ser do jeito difícil mesmo! – respondeu Nailo, entre dentes. Encheu os pulmões de ar e enrijeceu o corpo para suportar o impacto. O punho do gigante bateu violentamente contra seu peito, tirando-lhe o fôlego e cusparadas sangrentas. O golpe seguinte foi em Orion, amassando o peitoral da armadura do humano e jogando-o um tanto para trás.

_ Droga! – ralhou Legolas. – Eles não vão recuar! Vão ficar lá mesmo que morram! – disse o elfo, maculando seus lábios com o repugnante idioma orc, para que Nailo e Orion não o entendessem e, assim, tentassem impedi-lo de voltar para ajudar.

Como em resposta, Orion, o único ainda capaz de se mover livremente, golpeou o monstro com sua espada após se refazer do soco que recebera. Mexkialroy sorriu ao ver que o humano e o elfo não desistiriam e saltou na cabeça do golem, tentando se agarrar a ela e bloquear a visão do monstro. Anix aproveitou a chance e voou por cima dos dois, atravessando o corredor e pousando perto de Lucano.

_ Não pode fazer nada? – perguntou o mago.

_ Não! – respondeu Lucano. – Se nossa magia não o afeta, não há nada que eu possa fazer contra ele. Neste momento dependemos apenas das espadas. Se há algo que posso fazer para derrotar o inimigo, é impedir que nossas espadas fiquem fora do combate! – Lucano deixou Anix e correu até onde Orion combatia. Tocou as costas do humano com a mão espalmada e evocou Glórienn. O poder da deusa invadiu o corpo do guerreiro, minimizando a gravidade dos ferimentos que já quase o derrotavam.

Legolas disparava suas flechas à distância, destruindo aos poucos a cabeça do inimigo. Nailo golpeava sempre o mesmo ponto, visando destruir a perna do golem, enquanto continuava a gritar para seus amigos fugirem.

_ Não vou fugir. Vou lutar até a morte! – gritou Orion em resposta. Sua espada voltou a arrancar pedaços do inimigo. – Nós vamos derrotá-lo!

_ Ataque na perna, então! Destrua a perna dele! – gritou Nailo. Seu grito foi abafado pelos dois socos que recebeu, um no rosto, outro no estômago, que novamente esvaziaram seus pulmões e o calaram. Junto com os socos veio novamente a explosão de energia, reduzindo ainda mais os movimentos dos heróis e finalmente apanhando Orion em seu encanto maldito.

Nailo revidou com sua espada, enquanto Anix disparava raios mágicos no monstro, mesmo sabendo que não funcionavam. Lucano continuava despejando o poder divino em Orion, para que ele não parasse de golpear com sua espada. Desejava ser capaz de alcançar Nailo também e protegê-lo com seu poder, mas não teve tempo para sequer tentar fazê-lo. Os olhos de Lucano se arregalaram de espanto ao ver Nailo sendo novamente atacado pelo golem. O monstro de pedra atingiu o corpo do elfo com a mão espalmada, num movimento ascendente. Nailo saiu do chão, sendo arremessado dentro da sala aberta por Legolas. O ranger se chocou contra a parede com extrema força, suas espadas caíram de suas mãos e seu corpo ferido despencou para a escuridão além da escada que descia para as profundezas da torre.

_ Nailo! – gritou Legolas, disparando mais uma vez seu arco. Uma enorme explosão congelante envolveu a cabeça do golem, arrancando grandes nacos de pedra.

Anix se jogou sobre o inimigo, tentando derrubá-lo. Orion aproveitou a oportunidade e desferiu um potente ataque na perna do adversário. O monstro de pedra ergueu seu punho uma vez mais, desta vez contra Orion, com claras intenções de golpear sua espada e reduzi-la a pedaços. O guerreiro reagiu rápido e atacou com sua lâmina, acertando em cheio o punho do gigante.

_ Por Valkaria! – gritou o humano. Como que ajudado pela deusa, o golpe de Orion rachou o punho do inimigo e disparou uma reação em cadeia. Trincas se espalharam por todo o braço do monstro, chegando ao seu corpo e cobrindo-o por completo. As trincas aumentaram, tornaram-se rachaduras enormes que estilhaçaram o enorme corpo do golem, reduzindo-o a uma grande pilha de pedras. Sem parar para comemorar a vitória, Legolas, com o corpo ainda semi-paralisado, correu o mais rápido que pode para a porta onde Nailo tinha sido arremessado. Encontrou o amigo bem, apesar dos ferimentos da batalha, já retornando para cima através da escadaria de pedra.

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