setembro 22, 2009

Capítulo 358 – Farpas trocadas


Azgher surgiu por trás do horizonte, inevitável, despojando Tenebra de seus domínios e impondo sua supremacia. Anix desceu para a taverna, onde encontrou seus novos companheiros reunidos e já prontos para partir. Luskan estava animado, sorridente e falador como na noite anterior, já Kátia mantinha-se calada e carrancuda, ainda irritada por ter sido derrotada. Carion mantinha um ar sombrio ao redor de si. Pouco falava e mantinha seu rosto o tempo todo oculto por um capuz. Seu corpo e, consequentemente, seus pertences também permaneciam escondidos sob o pesado manto que ele vestia. Já Rafael, o arcano do grupo, ocupava-se com pequenos truques mágicos.

_ Vamos partir? – perguntou Anix, saudando os contratados.

_ Claro! Já estamos todos prontos – respondeu Luskan com um sorriso.

O mago desenrolou um papiro envelhecido e começou a lê-lo. Faíscas surgiram em meio a outras luzes mágicas que envolveram os cinco aventureiros. A paisagem se modificou e numa fração de segundos todos estavam no alto de uma torre cercada por um abismo profundo e por uma gigantesca floresta.

Anix conduziu o grupo torre abaixo, em busca de seus amigos. Encontrou-os despertos, fazendo o desjejum no corredor central do primeiro andar explorado.

_ Dragão! – gritou Luskan exaltado. – Assumam posição de batalha! Depressa! – o guerreiro sacou sua própria espada e a apontou para Mexkialroy.

_ Esperem! Esses são meus companheiros, seus tolos! – redargüiu Anix, detendo-os.

_ Como assim companheiros? Que tipo de pessoas são vocês afinal? – indagou Luskan, ainda espantado. De fato estavam diante de um grupo muito estranho para os padrões normais. Mex, um dragão azul conhecidamente maligno, tinha Squall ao lado, cuja aparência que mesclava feições dracônicas e élficas não causava menos assombro. Legolas mantinha-se afastado dos demais em um canto. Chão, paredes e o próprio ar ao se redor congelavam formando uma paisagem de inverno em meio àquele inferno tropical. Orion era uma muralha de aço e afagava o pescoço de Galanodel, uma coruja maior que um cavalo de guerra. Nailo repetia o gesto, mas suas carícias eram direcionadas para um lobo de aspecto bestial que parecia capaz de devorar a todos ali sem, no entanto, saciar sua fome. Lucano, o de aparência menos incomum, travava um diálogo entusiasmado com uma espada prateada e Anix, o primeiro membro daquele grupo que tinham conhecido, trazia em sua face uma maldição na forma de um olho maligno que tentava todo o tempo dominá-lo.

_ Que tipo de pessoas nós somos? E quem deseja saber? – perguntou Nailo.

_ Esses são Luskan, Kátia, Carion e Rafael! Eu os trouxe aqui para nos ajudar – respondeu Anix.

_ Está louco? – gritou Legolas. – Você os trouxe aqui para morrerem. Acha que eles vão sobreviver por aqui, Anix? Isso foi uma grande irresponsabilidade.

_ Bem, eles ficarão sob minha guarda. Tentarei protegê-los o máximo que puder. Se alguma coisa acontecer a eles, a responsabilidade será toda minha – respondeu Anix.

_ Esperem ai, senhores! – intrometeu-se Luskan, irritado. – Estão nos subestimando demais. Somos mercenários profissionais, estamos acostumados a lidar com situações de risco. Não precisamos de proteção alguma.

_ Olha aqui, Luskan – começou Nailo. – Vocês estão chegando agora e não tem idéia do tipo de perigos que existem aqui. Vocês é que subestimam a torre.

_ Além do mais, vocês não tem nada a ver com nossa luta. Essa batalha é um assunto pessoal nosso, vocês não têm por que estar aqui. É melhor irem embora enquanto ainda podem – completou Legolas.

_ Ora, parem com essa conversa. Sabemos dos riscos, sabemos que aqui há vampiros e outros mortos-vivos aos montes. Avaliamos os desafios e tomamos nossa decisão. Firmamos um acordo com Anix e por isso estamos aqui. Agora essa torre também é assunto nosso – retorquiu Luskan.

_ E que acordo foi esse? – perguntou Nailo.

_ Nosso pagamento será de mil tibares de ouro, para cada um de nós. Metade desse valor será pago agora e a outra metade quando o serviço estiver completo. Além disso dividiremos os espólios encontrados na torre meio a meio. Metade para vocês e metade para nós. Certo, Anix?

_ Errado! – respondeu o mago, para espanto de todos.

_ Como assim? Você deu sua palavra!

_ Não dei não. Eu apenas disse: “Veremos”! Não prometi nada, disse apenas que veríamos o que fazer depois.

_ Entendo, agora percebo tudo. Foi um engodo muito bem arquitetado. Parabéns, Anix! Enganou-nos direitinho! – escarneceu Luskan.

_ Pois esse é mais um motivo para vocês irem embora – sugeriu Legolas.

_ Pois é agora que nós ficaremos. Nós vencemos a Forja da Fúria entre outros desafios, e não vamos nos acovardar diante de um bando de vampiros. Vamos ficar e lutar ao lado de vocês e exigimos nossa recompensa justa por nossos serviços.

_ Forja da Fúria? – espantou-se Nailo.

_ Já disse para vocês pararem com essa história – alertou Anix. – Vocês estão diante dos verdadeiros desbravadores daquele lugar maldito. Essa mentira não funciona para nos impressionar.

_ Ei, Luskan! – voltou a falar Nailo. – Vou lhe dizer umas coisas. Primeiro, se vocês estão ganhando a vida, conseguindo contratos usando nossos feitos, vocês é que nos devem dinheiro. Segundo, vocês não têm obrigação nenhuma de permanecer aqui e pelo seu bem, peço que partam agora. Há muitos perigos aqui, além daquilo que vocês imaginam. Não quero subestimá-los, mas vocês me parecem aventureiros em início de carreira. Bem, nós já passamos desta fase, reunimos grande poder, como podem ver, temos até um dragão, digo, dois, em nosso grupo. E mesmo assim, com toda nossa experiência e todo o poder que conseguimos, o próprio Anix perdeu a vida duas vezes neste lugar. Não fosse pela bênção de Lena, ele não estaria mais aqui entre nós neste momento. Só estamos aqui porque temos motivos muito maiores que simplesmente dinheiro. Vocês não precisam ficar aqui, podem ir viver aventuras em outro lugar, com menos perigos e com gente mais honesta – Nailo olhou com desaprovação para Anix e fez uma pausa antes de continuar. – Por isso peço que reconsiderem e voltem para o lugar de onde vieram.

_ Olha, Nailo! Agradeço sua preocupação. Percebo que você é sincero e honrado e vejo que não fala com arrogância, que não nos subestima. Agradecemos sua preocupação e honestidade, mas nós ficaremos e os ajudaremos. Provaremos àqueles que duvidaram de nossas capacidades o valor que temos. E além de tudo, não exigiremos nada em troca da ajuda. Se depois que sairmos daqui vocês julgarem que nossa ajuda merece alguma recompensa, então seremos pagos. Caso contrário, trabalharemos apenas pela glória e por nossa honra, coisa que infelizmente alguns dos seus amigos parecem não conhecer.

_ Está bem, então. Fiquem se assim quiserem. Me comprometo a tentar protegê-los se disso precisarem, mas saibam que estão por sua conta e risco. Temos inimigos poderosos a combater e devemos agir em grupo, cada um confiando que o outro fará a coisa certa. Não podemos nos preocupar com um salvar o outro de encrencas, ou todos morrerão. Todos têm que ser responsáveis aqui. E, se vocês se provarem valorosos, eu pagarei o dobro do valor que Anix deveria pagar a vocês.

_ Ótimo! Que seja assim! Prometo que não causaremos problemas, já que esta parece ser uma forte preocupação para vocês. Mais que isso, seremos de grade valia em sua missão. Acho que agora finalmente temos um acordo!

_ Certo! Temos um acordo. Agora vamos em frente, temos muito o que fazer.

E com um aperto de mão amigável, os dois grupos selaram o pacto e seguiram em sua jornada.

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