agosto 31, 2007

Campanha A - Capítulo 293 – O último truque centenário de Léo Seis Dedos

Capítulo 293 O último truque centenário de Léo Seis Dedos

Cloud voou até o alto da torre do farol e, pela sua agitação, Squall soube que algo grave acontecia. O medalhão dado por Oceano, e que Squall havia colocado em seu familiar, tornou-se líquido e desapareceu, fundindo-se ao corpo da ave. A mesma coisa aconteceu com os outros pingentes, quando cada um dos escolhidos saiu de dentro da água. Os heróis foram rapidamente para a pequena praia onde haviam atracado no dia anterior. Ao chegar lá, outra desagradável surpresa, o bote que tinham usado para chegar à ilha também não estava mais lá.

Diferente de seus amigos, Nailo preferiu escalar o paredão rochoso onde antes estava ancorado o navio. Galgou os metros que separavam a água do solo da ilha e correu em direção à entrada do farol. Em seu trajeto, o ranger percebeu diversas marcas de pés espalhadas pelo chão. Eram pegadas de humanos ou elfos, mais de uma dezena delas, que iam do navio à entrada da torre. E eram pegadas recentes, que haviam sido feitas enquanto ele e seus amigos estavam lutando contra a bruxa nas profundezas do mar. Nailo apressou o passo, preocupado.

O grupo se reuniu novamente diante da entrada da torre do farol. Legolas carregava o baú cheio de ouro que encontrara nos destroços do navio e os itens que pertenciam à bruxa. O corpo da mulher maligna jazia agora na areia da praia, aos pedaços. Entraram. Subiram velozmente os degraus que conduziam ao topo do farol, até atravessarem o pequeno alçapão que se abria para o exterior. Lá em cima, no último andar da construção, tiveram a última e pior das surpresas. Não havia sinal de Léo Seis Dedos em lugar algum. Silfo e Rael jaziam amarrados e amordaçados dentro da câmara do farol, e a estátua de pedra, que na verdade era Deedlit, havia desaparecido.

Após serem desamarrados, Silfo e Rael contaram, com pesar, o que havia ocorrido. Um pequeno barco havia chegado à ilha com os seguidores de Léo Seis Dedos a bordo. Eram trinta piratas armados, que estavam seguindo o navio da bruxa Silmara para poderem resgatar seu desprezível capitão. Os piratas invadiram o farol, sem dar chance de Silfo e Rael reagirem. Os dois foram rendidos e feitos prisioneiros. Os piratas fugiram, levando consigo todo o tesouro e todas as embarcações que existiam na ilha. Levaram Deedlit e os pertences dos heróis, incluindo o grimório de Anix e tudo mais que eles haviam deixado na ilha.

Irado, o mago amaldiçoava o nome do pirata, enquanto Nailo saia em busca de ajuda no mar para perseguir o navio. Squall o chamou de volta e, usando um dos pergaminhos de Deedlit, fez Nailo voar. O ranger subiu aos céus rapidamente, ganhando cada vez mais altitude. Lá do alto, a dezenas de metros de distância do chão, Nailo finalmente foi capaz de avistar o navio, muito distante.

Nailo desceu rapidamente, saltando de cima da escada no meio da descida para economizar tempo. Sem hesitar, atirou-se ao mar e mergulhou (a magia do pergaminho ainda estava ativa, e ele ainda era capaz de respirar normalmente), o pingente de Oceano voltou a aparecer em seu pescoço, e ele nadou em busca de animais que pudessem ajudá-lo.

Havia um cardume de golfinhos que coincidentemente nadavam pelas redondezas. Ao ver Nailo, os animais nadaram em sua direção com tamanho entusiasmo que ele chegou a pensar que seria atacado. Mas, um dos golfinhos passou por baixo de Nailo e nadou para cima até erguê-lo e o carregou em suas costas.

_ Vamos! Nós iremos ajudá-lo! – disse o golfinho na língua dos animais, que Nailo era capaz de compreender graças ao poder recebido de Allihanna.

_ Como vocês me encontraram? Como sabem que eu preciso de ajuda? – perguntou o ranger, intrigado.

_ Fomos mandados pelo senhor da água, para ajudar vocês! – respondeu o animal. Oceano voltava a interferir no mundo dos mortais para ajudar os filhos de Glórien e seus amigos.

Nailo buscou seus amigos na torre e um a um, todos subiram nos golfinhos e foram carregados mar adentro. Nailo apontou aos animais a direção que deviam tomar e eles partiram.

Já eram passados mais de trinta minutos quando avistaram o navio pirata. Em letras vermelhas, talvez desenhas com sangue, puderam ler o nome agourento da embarcação: Infortúnio.

Os golfinhos se dividiram em dois grupos. Nailo, Anix, Orion e Silfo foram para a direita, Squall, Lucano, Legolas e Rael pela esquerda. Cavalgavam os golfinhos ao lado do Infortúnio e puderam ouvir o que se passava dentro do navio.

_ Então eu me deixei capturar por eles, e aqueles idiotas caíram no meu truque e me deixaram sozinho com aqueles dois panacas! Eles nem imaginavam que eu já sabia que vocês chegariam naquele momento, homens! Aqueles imbecis caíram num truque de mais de duzentos anos, como são tolos! Agora temos o navio da bruxa, muito melhor que o nosso antigo navio, temos todo o tesouro daquela velha asquerosa e temos todas as coisas que aqueles panacas possuíam! Foi um grande trabalho homens! Fizemos aqueles elfos e aquela bruxa lutarem entre si, enquanto nós roubávamos suas coisas! Esse truque, tem algumas centenas de anos, mas sempre tem algum idiota que ainda ai nele! E desta vez foram dois bandos de idiotas! Hahahahahaha! Como sou esperto! Agora, homens, vamos torrar todo esse ouro com mulheres e bebida, e quando ele tiver acabado, venderemos aquela estátua e as coisas daqueles elfos e continuaremos nossa farra por muito tempo! Hahahahahaha!

Léo Seis Dedos enaltecia a si mesmo e zombava dos heróis, sem suspeitar que eles ouviam cada palavra que saia de sua boca desdentada. Anix se enfurecia.

_ Pessoal! Vocês podem fazer o que quiserem lá em cima! Mas eu peço apenas uma coisa a vocês! Deixem Léo Seis Dedos comigo! Aquele desgraçado vai me pagar por tudo que fez, principalmente por ter roubado meu grimório! Quero matá-lo com minhas próprias mãos! – disse o mago.

_ Não, Anix! Eu aprendi com meus erros nesse tempo em que estivemos no forte! Agora somos a lei, devemos manter a ordem! Ao invés de matá-los, vamos levar todos eles presos para o forte! Isso é a coisa mais certa que temos a fazer! – discordou Nailo.

_ Não diga bobagens, Nailo! Eles são criminosos, bandidos! E são perigosos! – retrucou Anix.

_ Mas são humanos! Não são elfos, mas são quase gente como nós! Eu não quero mais matar pessoas! Minhas espadas só matarão monstros daqui por diante! – respondeu o ranger.

Então, Nailo, Anix e Orion começaram a discutir entre si sobre o que deveriam fazer com os piratas. A discussão se acalorou e o som das vozes exaltadas atraiu a atenção dos piratas.

_ O que foi isso? Homens! Às armas! Tem alguma nau inimiga nos seguindo! – gritou o capitão pirata.

Os piratas desembainharam suas armas e procuraram pelos inimigos. Sob o comando de Nailo, os golfinhos mergulharam e todos ficaram escondidos. Os animais se soltaram dos aventureiros e nadaram para o fundo do oceano, para logo em seguida subirem em alta velocidade. Suas cabeças empurraram os pés dos heróis e os jogaram para fora d’água com violência. Os golfinhos saltaram vários metros acima da água e impulsionaram os heróis ainda mais alto com suas cabeças. Os aventureiros saltaram para dentro do navio e surpreenderam os inimigos.

Nailo, Legolas, Squall e Silfo caíram dentro do navio, de armas na mão e atacaram. Anix, Orion, Lucano e Rael agarraram-se ao guarda-corpo da embarcação e ficaram pendurados do lado de fora. As flechas voaram e as espadas cortaram o ar e a carne como se fossem feitos da mesma matéria. Um pirata caiu, quase morto, com o pescoço jorrando sangue no convés. Nailo viu o que tinha feito e se arrependeu.

_ Ataquem! Matem todos! – gritou o capitão de seis dedos. Foi sua última ordem.

Os piratas avançaram, cercando os heróis. Aproveitavam-se da vantagem numérica e atacavam vários ao mesmo tempo, impossibilitando que os heróis se defendessem adequadamente. Suas armas, espadas de lâmina longa reta e já desgastada, rasgavam a carne dos escolhidos, ferindo-os em pontos estratégicos para causar maior dor e estrago.

Nailo e Squall eram os mais atingidos. Protegidos apenas por armaduras leves ou nenhuma armadura, as lâminas inimigas alcançavam com facilidade seus corpos, bebendo seu sangue. Orion, amparado pela densa couraça de metal que vestia, raramente era ferido, os golpes encontravam a resistência de sua armadura e não conseguiam atravessá-la. Legolas e Silfo, mais distantes da multidão de inimigos, aproveitavam a chance para atacá-los com seus arcos.

Anix e os outros, pendurados no casco do navio, nada podiam fazer para ajudar. O mago, então, se atirou ao mar após localizar seu alvo, pegou um pergaminho em seu porta mapas e conjurou sobre si um feitiço. E conforme sua vontade, Anix flutuou acima da água e voou para a popa do Infortúnio.

No convés, Nailo revidava os ataques com suas espadas, porém, não atacava com o fio da lâmina, como havia prometido, para não matar nenhum dos adversários. Seus golpes iam atingindo uma a um os piratas que o cercavam, deixando-os desacordados no chão. O único dano letal causado por ele vinha das faíscas de sua espada elétrica, mas ainda assim era insuficiente para matar num único golpe. Aos poucos foi se formando uma pilha de bandidos desmaiados ao redor de Nailo, fulminados por seus golpes piedosos.

Em contraste, Orion lutava impiedosamente. Sua enorme espada rasgava os inimigos que o cercavam um a um em seqüência, até que não sobrasse um só inimigo em pé. A cada golpe, pedaços humanos voavam e cascatas de sangue formavam lagos rubros no chão do convés. O guerreiro não se movia de seu lugar, eram os inimigos que choviam sobre ele como um enxame. A cada homem caído, o guerreiro aproveitava a força restante no golpe para derrubar outro pirata, e mais outro e mais outro, até que só restaram retalhos de seres humanos espalhados pelo piso ao redor dele.

Squall enfrentava dificuldades, cercado por diversos inimigos e gravemente ferido, o feiticeiro se viu obrigado a fugir. Foi salvo pelo pergaminho de sua amada, que lhe concedeu o poder de voar e escapar das lâminas dos adversários. Squall esperava poder retribuir o favor que Deedlit lhe fizera mesmo sem poder se mexer, e libertá-la de sua prisão de pedra o quanto antes. Do alto, o feiticeiro pôs-se a lançar bolas de fogo explosivas sobre as cabeças dos piratas, que saltitavam de um lado para outro, tentando sobreviver às chamas que ardiam no convés. Os corpos carbonizados foram se amontoando até tornarem-se numerosos.

Os poucos inimigos que restavam optaram por não lutar, e se atiraram ao mar, em uma tentativa desesperada de fuga. Léo Seis Dedos tentou fazer o mesmo, mas foi impedido.

_ Não vai escapar, maldito! – Anix surgiu de trás do navio, carregado pela brisa fresca do mar, e agarrou o capitão pirata. Léo tentou se defender, atacando Anix com sua espada, mas o mago escapou da lâmina da arma e segurou o inimigo por trás. – Agora nós vamos dar um passeio, seu desgraçado!

Segurando o pirata, Anix alçou vôo. Os dois subiram até ficarem a quase duzentos metros de altura. Lá no alto, Anix virou Léo de frente para ele e o encarou.

_ Agora diga, seu desgraçado! Onde estão a estátua e o meu grimório? – rugiu o mago.

_ Eu não sei, senhor! Não sei do que fala! Por favor, não me machuque! Eu serei bonzinho! – choramingou o pirata.

_ Não tente me enrolar! Desta vez suas lágrimas não irão me enganar! Diga logo o que fez com a Deedlit! Onde está a estátua da elfa?

_ Está no navio! No porão, senhor! Perdão!

Sem que Anix percebesse, Léo Seis Dedos sacou uma adaga escondida em suas costas e, enquanto implorava por piedade, cravou-a nas costas do elfo.

_ Maldito, o que você fez?

_ Hahahaha! Idiota, caiu num truque com mais de trezentos anos! Agora você vai morrer! A adaga está envenenada! Você já era, paspalho! – riu o bandido, pela última vez.

_ Não! Quem vai morrer é você! Agora já sei onde a Deedlit está, não preciso mais de você! É o seu fim, seu maldito!

Anix virou-se para baixo, junto com o pirata, e começou a descer em uma velocidade assustadora. Léo tentava se agarrar à adaga fincada nas costas do mago, mas era tarde. Quando estavam a uns vinte metros de altura, Anix empurrou o pirata com força para o convés do navio, desviou sua trajetória e voou para longe do impacto.

_ MORRAAAA!!! MALDITOOOO!!! – gritou Anix, encolerado.

_ Nããão Anix!!! – gritou Nailo, correndo em direção ao pirata.

_ AAAAAAAAAAAAA!!! – as últimas palavras de Léo Seis Dedos.

Nailo saltou até o pirata. Tentou segurá-lo, mas foi em vão. Léo Seis Dedos bateu em Nailo com força, jogando-o para trás, ferido pelo impacto, e se chocou com o chão violentamente. Um estrondo igual ao de uma explosão ecoou, um enorme buraco se abriu no convés, o corpo de Léo continuou caindo até o andar inferior, onde explodiu ao se chocar contra o segundo piso. Pedaços do pirata se espalharam por todo o porão, tingindo chão, paredes de objetos com o sangue desprezível do pirata. Estavam encerrados para sempre os dias de pilhagem e vilania do capitão Léo Seis Dedos. Seus famosos truques de “mais de trezentos anos” jamais seriam usados de novo no mundo de Arton.

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