outubro 02, 2007

Capítulo 294 - De volta a Ad’ Dendriel

Capítulo 294 - De volta a Ad’ Dendriel

Léo estava morto. Nailo tomado de cólera. Anix sorria. O ranger saiu bufando, ignorando todos os outros. Amarrou todos os piratas que ainda não estavam mortos e um a um, foi fazendo curativos, dando-lhes poções de cura, para impedir que a morte os abraçasse definitivamente. Doze dos homens de Léo Seis Dedos sobreviveram ao embate no Infortúnio, todos amarrados, aguardavam para serem levados às autoridades e terem seus crimes julgados.

Anix e os demais desceram pelos porões do navio, em busca de seus pertences. No último piso da embarcação encontraram Deedlit, ainda petrificada, e todos os seus tesouros e equipamentos. Já de volta ao convés, Anix assumiu o timão, virando o navio na direção de Ab’ Dendriel. Enquanto navegavam, os heróis tratavam seus ferimentos, e tentavam descobrir o que faziam os objetos que haviam retirado do corpo da bruxa.

Squall vestiu as luvas e começou a fazer testes. Descobriu que elas o deixavam mais ágil. Ele foi capaz de caminhar sem dificuldade sobre o guarda-corpo do navio e de agarrar com facilidade uma moeda arremessada por Anix, diga-se de passagem, para atingi-lo. Depois colocou o colar que Silmara usava. Sentiu seu vigor aumentando ao usar o objeto, seu fôlego aumentara muito, ignorando o cansaço da recente batalha.

Legolas experimentava os poderes misteriosos e fascinantes do outro colar de Silmara, uma mão mumificada. Sob o comando de seu pensamento, o arqueiro era capaz de erguer pequenos objetos e movimentá-los no ar, apenas com a força da mente, enquanto usava o estranho colar.

Enquanto Legolas se divertia, Orion testava o manto e os braceletes da bruxa. A veste dava a Orion um sentimento de confiança e poder. Embora nada tivesse se alterado visualmente, o guerreiro sentia-se mais capaz, mais poderoso e até mesmo mais belo. Já o par de braceletes criou uma aura mágica ao redor de seu corpo ao serem usados. Era algo como uma roupa ao redor de Orion, uma capa mágica protetora que o envolvia. Anix logo reconheceu aquilo como sendo um par de braçadeiras semelhantes às que ele usava, que funcionavam como uma armadura mágica.

Nailo, após prender os piratas, foi cuidar de seu equipamento. Sua mochila, mágica, parecia uma piscina, cheia de água marinha. O ranger esvaziou a mochila e a colocou, junto com todo seu equipamento, para secar ao sol. Nailo pegou então a caixa que continha o baralho que a bruxa carregava durante a batalha no fundo do mar. Abriu-a, cuidadosamente, e viu a carta que estava por cima, um dois de ouros. Temeroso, Nailo decidiu não tocar na carta. Ao invés disso, fez com que ela escorregasse por para fora da caixa, segurando as demais cartas com o auxílio da tampa. O dois de ouros caiu no chão, e no local onde ele caiu, surgiu um kobold, armado de lança, pulando freneticamente.

A pequena criatura gritava, pulava, olhava para os lados e para Nailo, sempre com as mãos levantadas, segurando sua lança rudimentar. O ranger tentava se comunicar com ele, mas seus gritos não tinham qualquer significado. Nailo perguntava o que o pequeno monstro desejava, mas não recebia resposta clara, só mais gritos e pulos caóticos. Vendo a lança nas mãos da criatura, teve uma idéia.

_ Use esta lança para caçar um peixe para mim! – ordenou Nailo falando no idioma dos dragões.

O kobold correu até a beirada da embarcação, mirou em algo fora do navio e arremessou sua lança. Nailo tentou segurá-la, mas ela lhe escapou dos dedos como se não existisse. Alguns metros abaixo, a lança desapareceu em pleno ar.

Nailo olhou espantado para aquilo, enquanto o kobold pulava e gritava sem parar. Tocou de leve no ombro da criatura para chamar sua atenção e entendeu o que acontecia. Seu dedo penetrou no kobold, e Nailo pode vê-lo dentro da criatura, que, agora, tinha aparência translúcida. Era uma ilusão. Nailo viu no chão, a alguns metros dali, a carta caída. Os números na carta também estavam translúcidos, como se desaparecessem da carta. Nailo caminhou até ela e a recolheu. O kobold desapareceu. Nailo então guardou a carta e o restante do baralho para perguntar a Seelan sobre aquele misterioso jogo de cartas.

Duas horas depois estavam de volta à praia de Ab’ Dendriel. O navio avançou pela areia, continente adentro, e encalhou, pendendo para um lado. Anix desceu rapidamente, indo ao encontro do líder dos pescadores, Steban, pedindo que eles o ajudassem.

Os pescadores chegaram com cordas e roldanas, martelos e serras e abriram rapidamente os porões do navio. As cordas laçaram o corpo petrificado de Deedlit e a içaram para fora do Infortúnio.

Nailo já caminhava na direção da vila, quando ouviu um estrondo vindo da praia. Olhou para trás e viu o corpo de pedra da elfa batendo com força no mastro principal do navio. Algumas das cordas não resistiram e se romperam, quase causando a destruição de Deedlit.

_ Nooooossa! – exclamou Nailo, antes de voltar correndo para a praia. Mas foi interrompido.

_ Nailo! O que está acontecendo lá? – era uma voz conhecida. Era Seelan.

_ Nós tivemos que enfrentar uma bruxa, Seelan! Estamos todos bem, mas a namorada do Squall virou pedra! É ela que está lá em cima!

_ Vamos para lá, depressa!

Seelan e Nailo se uniram aos demais e o capitão tomou conhecimento de tudo o que acontecera aos aventureiros. Infelizmente, só agora Seelan chegara para ajudá-los, após comprar os suprimentos mágicos de que o forte Rodick necessitava. Sabendo das necessidades dos aventureiros, o mago os ajudou.

_ Não se preocupem! Deedlit ficará boa! Entre todas as coisas que eu comprei, uma delas foi um punhado de pergaminhos! E tenho aqui um que será muito útil agora! – Seelan abriu o tubo de couro que trazia pendurado à cintura e pegou nele um pergaminho. Murmurou o feitiço e fez os gestos necessários, lançando uma magia sobre a estátua de pedra. Pouco a pouco o cinza foi dando lugar ao tom róseo da pela da elfa, até que ela voltou ao normal.

_ Deedlit? Você está bem? – gritou Squall.

_ Quem está ai? Não enxergo! É você, Squall? – perguntou a moça.

_ Sim, sou eu! Como assim não enxerga?

Deedlit seguiu o som da voz de Squall e tocou seu rosto delicadamente com suas mãos macias. Começou a acariciá-lo e a senti-lo, fazendo o reconhecimento de cada milímetro do rosto de seu amado. Então, ela o socou.

_ Aaaaiiii! Você não é o Squall! Quem é você?Sai daqui!!! – Deedlit gritava, assustada, e batia em Squall. O rosto do elfo havia se modificado nos últimos tempos. Seus dentes haviam crescido e se transformado em presas, suas feições eram mais brutais. Efeitos da herança dracônica que se manifestava em seu sangue.

A confusão aos poucos foi desfeita. Squall e Anix explicaram a Deedlit tudo sobre a nova aparência de Squall, e Seelan explicou que a cegueira da elfa era passageira, efeitos colaterais da petrificação. Com sua amada nos braços, Squall pôs-se na estrada a marchar de volta para sua casa, enquanto os outros retiravam o tesouro de dentro do navio.

_ Seelan! Eu fui envenenado! O que eu faço? Me ajude! Aquele pirata me feriu com uma faca envenenada! – choramingou Anix.

_ Pelos Deuses! Temos que tratar disso rápido! Depressa, Anix, tire a roupa! – gritou Seelan, desesperado.

_ O quê!? – espantou-se Anix.

_ Depressa, tire a roupa! Sem fazer perguntas! Eu vou enterrá-lo na areia, para impedir que o veneno se espalhe. A areia fria vai retardar seu metabolismo, e impedir que o veneno contamine todo o seu corpo!

Assim, Anix tirou toda a roupa, envergonhado. Seelan ria, como se estivesse se divertindo com aquilo. Nailo, Lucano, Legolas e Orion observavam com estranheza.

_ Bem, agora fique ai! Eu vou até a vila pegar um pergaminho para tirar o veneno de você! – Seelan já e preparava para evocar uma magia, quando notou Legolas e Orion, ambos com seus cavalos. Deu atenção especial ao humano, que nunca tinha visto antes. - Ei você com o cavalo! O golem de ferro! Preciso de sua ajuda!

_ Eu não sou um golem! Sou um humano, e meu nome é Orion! – resmungou o guerreiro, retirando o elmo da cabeça.

_ Ele nos ajudou, Seelan! Disse que foi mandado por Valkaria, para nos ajudar! – explicou Anix.

_ Ótimo! É a hora de ajudar, então! Orion, grande guerreiro! Poderia me levar até a vila, em seu cavalo? Preciso da sua ajuda, amiguinho! Temos que salvar o Anix! – a voz de Seelan mudara agora para um tom afeminado. Legolas e Nailo seguraram o riso.

_ Tudo bem! Eu levo você! – concordou o humano, inocentemente.

Seelan subiu na garupa do cavalo e abraçou Orion por trás. Sua boca sussurrava no ouvido do humano para que ele fosse rapidamente para Ab’ Dendriel. Ao partirem, Seelan olhou para trás, para Legolas, Nailo, Lucano e Anix e riu como uma criança que aprontava suas traquinagens. Enquanto cavalgavam, Seelan apertava o humano com seus braços, divertindo-se com aquilo. Poucos minutos depois, os dois passaram por Squall e Deedlit.

_ Ei Seelan! Tá mamão assim, é? Arrumou outro? Não basta meu irmão pra você não? Seu guloso? – gritou o feiticeiro, enquanto carregava sua amada. Seelan apenas olhou para trás e sorriu.

Na cidade, Seelan pegou alguns pergaminhos mágicos na casa dos Remo e partiu com Orion de volta para a praia. Já de volta, pediu a Lucano que conjurasse a magia de um dos pergaminhos sobre Anix, para neutralizar o veneno de seu corpo. Enquanto Anix era curado e desenterrado, Nailo aproveitou para conversar com Seelan. Contou-lhe sobre os piratas, e de como tentara impedir mortes desnecessárias, especialmente a de Léo Seis Dedos, e contou também que seus amigos, especialmente Anix, mataram sem piedade os piratas.

_ Você está certo em parte Nailo! Somos oficiais do exército, e nosso dever é zelar pelas vidas dos outros! Ao invés de matar, devemos prender os criminosos para que eles sejam julgados pelos seus crimes! Mas, lembre-se, esses piratas tentaram tirar as suas vidas, o que vocês fizeram foi apenas se defenderem! É importante sim evitar mortes desnecessárias, mas você não deve arriscar perder a sua vida e a de seus companheiros para salvar a vida destes bandidos! Bem, em todo caso, vamos levá-los para as autoridades locais para serem presos e julgados! – disse Seelan.

Nailo concordou e começou a conduzir os piratas, todos amarrados, de volta para Ab’ Dendriel. Aproveitou ainda para mostrar seu baralho para o capitão, e perguntar do que se tratava. Explicou detalhadamente o que tinha acontecido e obteve sua resposta.

_ Nailo! Isso é incrível! Você tem nas mãos um baralho da ilusão! É um item muito raro, e muito útil! Cada vez que você pegar uma carta aleatoriamente e atirá-la ao chão, ela irá criar uma ilusão tão realista que será capaz de enganar quase qualquer pessoa! Pode sair qualquer coisa dessas cartas, até mesmo um dragão! E a ilusão permanecerá ativa até que você recolha a carta, ou até que alguém a dissipe com uma magia! Esse baralho é muito útil! Guarde-o bem! Ah, um detalhe! As ilusões obedecerão todas as suas ordens, mas não poderão se afastar do ponto de origem ou serão dissipadas! Use isto com sabedoria! – explicou o mago, admirado. Nailo ficou ainda mais admirado ao saber o que tinha em mãos.

Seelan se aproximou de Orion, caminhando furtivamente, e pousou sua mão delicadamente no ombro metálico do guerreiro.

_ Orion, querido! Pode me dar uma carona em seu cavalo? – pediu Seelan, com sua voz afeminada de sempre.

_ Olha! Em nem sei quem é você direito, acabamos de nos conhecer! Será que você não preferiria ir com o Legolas, já que você o conhece há mais tempo? – respondeu o humano, gaguejando, tentando se esquivar do mago.

_ Não dá não! Junto comigo já irá o Nailo! É melhor você levar ele Orion! E cuide bem dele, ele é o nosso capitão! – respondeu rapidamente Legolas.

_ Tá bom! Eu levo você, então! Pode subir! – suspirou Orion. Seelan sorriu e montou no cavalo. Os demais seguraram suas risadas e assistiram ao martírio do humano, enquanto Seelan se agarrava a ele. Finalmente, todos partiram de volta à cidade. Os pescadores cuidariam do navio e o desencalhariam mais tarde.

· · · · · ·

De volta à casa dos Remo, o grupo contava, cheio de orgulho, a Valkyria e Ragnarok todos os detalhes da aventura que tinham vivido. Em meio à conversa, Deedlit recuperou sua visão plenamente, e quis saber porque a aparência de Squall estava tão mudada. Assim, os heróis contaram de forma resumida o que tinha lhes acontecido na mina de Khundrukar e Squall desejou saber de seus pais que história era aquela de sangue de dragão em sua família. Ragnarok e Valkyria, no entanto, se calaram sobre este assunto.

Squall pediu então para que sua mãe lhe conseguisse algumas poções e pergaminhos, para que ele pudesse curar seus ferimentos e para se equipar para os desafios futuros. A elfa concordou em ceder alguns dos itens de sua loja para os filhos e amigos. Anix deu, então, quase todo o dinheiro que tinha reunido até ali para seus pais, uma pequena fortuna em moedas de ouro. Squall, por sua vez, só se preocupou em pegar as poções que precisava e em sugerir a seus pais que ampliassem a loja da família para vender maior quantidade e variedade de produtos (assim, no futuro, Squall teria mais coisa para pegar de graça). Orion, decidido a ajudar o casal de elfos e a ganhar a confiança do grupo ao qual deveria se juntar, decidiu abrir mão de seu próprio dinheiro.

_ Tome Squall! Já que você sugeriu a seus pais que ampliem a loja da família, dê este dinheiro a eles, para pagar a reforma da loja! – Assim, o humano entregou cerca de oito mil tibares de ouro ao feiticeiro. – Assim vocês poderão ver que podem confiar em mim!

_ Não venha com essa, não! Só porque você está dando dinheiro pra família do Squall, não significa que você é de confiança! Não tente nos comprar! – retrucou Legolas. Orion quis desfazer o mal entendido, mas preferiu esperar por um momento mais apropriado.

_ Tá certo! Mãe, tome fique com três mil peças de ouro! As outras eu usarei, já que estou precisando mais do que você e o pai! Agora que sou aventureiro, preciso desse dinheiro pra me manter vivo! Vocês entendem, não é? Já que vocês mesmos foram aventureiros, entendem que eu preciso desse dinheiro! – assim, Squall, entregou a seus pais duas das oito bolsas de ouro dadas por Orion, ou seja, duas mil moedas ao invés da três mil anunciadas. Era evidente que a cobiça e ganância dos dragões malignos começava a fluir nas veias do feiticeiro e a tomar conta de sua vontade. Megalokk sorriu. E alguém, cujo nome e a própria existência haviam sido apagados do mundo, se regozijou.

E mais uma lágrima foi derramada em Nivenciuén.

_ Seelan! Quero lhe pedir um favor! Me leve pra Selentine? – pediu Legolas.

_ O que!? Está louco? Selentine está longe daqui, e fora de nosso caminho! – respondeu Seelan.

_ É que eu preciso comprar uma coisa que só existe lá! Eu escutei falar dessa coisa há muito tempo, mas só agora possuo dinheiro para comprar! Por favor, Seelan! Me leve pra lá! Vai ser rápido!

_ Olha, vou deixar as coisas bem claras! Nós não estamos aqui pra ficar passeando não! Viemos cumprir uma missão para o exército de Tollon! Eu, que tenho um coraçãozinho mole – nesse instante Seelan encarou Orion – resolvi ajudá-los a rever suas famílias, por um breve instante! E só! Não estamos aqui pra ficar passeando! Além do mais, magia de teletransporte é cara e cansativa!

_ Por favor, Seelan! – pediu Legolas.

_ Espera ai! Que história de Selentine é essa? Nós vamos é pra Vectora! Não inventa não Legolas! Eu tinha pedido primeiro! – esbravejou Nailo.

_ Pois eu pensei que nós íamos para Blastoise! Para que o Lucano possa rever a família dele, assim como vocês todos já fizeram, seus egoístas! – retrucou Seelan.

_ É, mas se a gente for pra cidade do Lucano, pode ser que encontremos problemas por lá, ou no caminho! Então, a gente tem que ir pra Vectora agora e comprar equipamento novo! Assim estaremos preparados para qualquer coisa! – argumentou Squall.

_ Ah! Vocês não são fáceis! Aposto que se o Glorin estivesse aqui, a essa hora ele estaria resmungando “elfos...grunf”! Começo a entender aquele anão marrento! Agüentar vocês não é tarefa fácil! Bom, vou preparar minhas coisas! – Seelan pediu licença e saiu da sala.

Squall foi até a loja dos pais, para pegar tudo que pudesse carregar. Anix pediu para conversar em particular com sua mãe e Nailo foi até a cadeia, para deixar os piratas capturados sob os cuidados da lei local. Os demais continuaram sua conversa na sala. Legolas olhava, desconfiado, para Orion que tentava fazer amizade com o grupo. Rael e Lucano conversavam, trocando ensinamentos religiosos, cada um tentando converter o outro à sua própria fé. Silfo se ocupava em comer e beber, acompanhado do bem humorado pai de Anix e Squall, que se divertia com o jeito rude do sátiro. Enola, Liodriel, Darin e Deedlit já eram íntimas, proseando como se já se conhecessem há anos. Tudo era alegria. Mas alguma coisa afligia o coração de Anix.

_ Mãe! Preciso de sua ajuda! Eu amo a Enola! Mas ela não quer casar comigo! Por favor, me ajude a convencê-la! – implorou o mago à sua mãe.

Valkyria se comoveu. Era bom novamente ter seus dois filhos em casa, pedindo-lhe ajuda, como se anda fossem suas pequenas crianças. – Anix! Eu sei tudo o que aconteceu! Eu andei conversando com Enola! E gostei muito dela! Mas você tem que ir com calma! Ela não está acostumada aos nossos modos! Quando a pediu em casamento no casamento do seu amigo, você acabou assustando ela! Bem, eu tive uma longa conversa com ela, eu e as outras meninas, e ela está mais tranqüila agora. Espere pelo melhor momento, quando vocês estiverem sozinhos, e converse com ela novamente. Declare seus sentimentos e diga exatamente a ela o que quer! Tenho certeza que ela vai lhe aceitar, meu filho. Ah, venha comigo! Quero lhe dar uma coisa que irá ajudar!

Mãe e filho foram até um dos quartos da casa. Lady Valkyria procurou por algo dentro de um armário enorme, gastando um tempo considerável na tarefa. Então a elfa retirou do guarda-roupa um pequeno baú de madeira trabalhada, decorado com adornos dourados.

_ Tome! Dê isso a Enola! Mulheres adoram jóias, ela irá gostar disso!

_ O que é, mãe? – perguntou Anix, abrindo o baú. Era um majestoso bracelete, confeccionado em ouro e prata. Tinha o formato de espira, sendo que metade dela era feita de ouro e a outra metade feita de prata pura. A parte dourada descrevia um arco, para envolver o braço da mulher que o usasse, e terminava em uma figura de um dragão alado curvado para baixo. A metade prateada também formava um arco para envolver a outra parte do braço da usuária. Terminava na figura de uma criatura de chifres e presas afiadas, que lembrava um gárgula ou algo parecido. Ambas as figuras se encontravam na frente da jóia, sendo que o dragão ficava por cima da outra criatura. Ambos estavam curvados, quase se entrelaçando, como se um atacasse o outro. E nesse combate imaginário criado por algum ourives excêntrico, o dragão levava a melhor. Nos olhos de cada uma das figuras, belos rubis vermelhos brilhavam.

_ Esta jóia é uma herança de família! Está em nossa família há gerações, sempre passando de mão em mão, entregue às noivas para lhes trazer boa sorte no casamento! E como você pode ver, funciona! Minha mãe me deu esse bracelete há muitos anos, quando seu pai me pediu em casamento! Ela me contou uma história, que a mãe dela, minha avó, havia contado a ela! E essa história já havia sido contada por minha bisavó e minha trisavó antes! Essa história começou justamente com minha trisavó, sua tataravó, Anix. Agora eu vou lhe contar essa história incrível! E você irá contá-la para Enola quando for pedi-la em casamento novamente! E, como manda a tradição, eu a contarei para ela também, depois disso!

Valkyria falava calmamente, cada palavra planejada meticulosamente, e era visível a emoção que ela sentia naquele momento, tanto por ver seu filho crescido e em vias de se casar, quanto por relembrar os fatos que narraria. Após uma breve pausa, ela continuou.

_ Tudo aconteceu centenas de anos atrás, quando Inuviel, sua tataravó ainda era viva. Inuviel era uma das mais belas elfas de Lenórienn, tinha a beleza das fadas e a voz de um rouxinol, que encantava a todos que a conheciam. Vários moços a cortejavam, na esperança de conquistarem o coração da bela Inuviel. Destes, o mais determinado era Gehörnt, um elfo de grande beleza e habilidades, um nômade que havia passado temporariamente por Lenórienn e ficado ali desde então apenas por causa de Inuviel. Entretanto, apesar de todas as investidas de Gehörnt e de todos os outros pretendentes, Inuviel não se entregava a nenhum deles, mesmo sendo fato que Gehörnt exercia grande fascínio na donzela! Um dia, enquanto caminhava pela floresta, Inuviel ouviu um gemido agoniante. Seguindo o som do gemido, ela encontrou um belo elfo caído, todo ferido, com profundos cortes por todo o seu corpo. Inuviel o socorreu e o levou para sua casa, e tratou de suas feridas, até que ele ficou bom. Seu nome era Daarshalon, e era belo e havia um fogo em seus olhos e em seu espírito que atraía Inuviel! Ela se apaixonou por ele, mas mesmo assim, cada vez que via Gehörnt, ela se sentia balançada, em dúvida. Gehörnt soube do que acontecera e não suportou a idéia de ter um rival. Foi conversar com Inuviel e tentar mais uma vez conquistá-la. Ocorreu que Daarshalon também havia ido ver Inuviel e ambos os pretendentes se encontraram. Os dois logo se hostilizaram e começaram uma acalorada discussão. Inuviel enfim apareceu e implorou para que os dois não brigassem, dizendo que gostava muito dos dois. Gehörnt e Daarshalon, então, decidiram que duelariam pelo amor de Inuviel. O vencedor retornaria para ela, e o perdedor iria embora para sempre. Inuviel aceitou a decisão dos dois, pois em seu coração ela sabia que Daarshalon, seu favorito, venceria. Gehörnt decidiu que o duelo ocorreria na floresta, após o anoitecer, e tinha certeza que venceria seu adversário. Assim, quando o sol se pôs, os dois partiram sem olhar para trás. Quando o sol raiou no dia seguinte, Daarshalon retornou vitorioso para os braços de sua amada. Inuviel chorou de felicidade ao reencontrar o elfo que ela amava, e estava certa de que Daarshalon era a pessoa certa. Dias depois ocorreu o tão esperado casamento de Inuviel e Daarshalon. Vários outros jovens choravam por perder a elfa que amavam, mas, no fundo, todos estavam felizes com a felicidade dela. Inuviel usava um majestoso vestido, tecido com fios de ouro e prata. Uma coroa de flores do campo adornavam sua cabeça, contrastando com o tom azulado de seus maravilhosos cabelos. Mas, o casamento foi interrompido, antes mesmo de começar. Gehörnt surgiu na cerimônia e foi até a noiva. “Inuviel, minha amada. Eu perdi e reconheço minha derrota. Perdi a batalha e perdi seu coração para alguém que o merece mais do que eu. Entretanto, não poderia deixar de vir aqui, vê-la pela última vez, me despedir e desejar a você e a seu escolhido toda a felicidade do mundo. Quero que aceite este presente, como símbolo de minha gratidão por ter podido conhecê-la e para lhe trazer boa sorte. Esta simboliza o nosso duelo. Como um dragão Daarshalon lutou e venceu. E como um monstro eu saio derrotado.” Disse Gehörnt, para espanto de todos, menos Daarshalon, que parecia já esperar por aquilo. Gehörnt entregou, então, a Inuviel este bracelete que foi passado de geração em geração, até chegar as suas mãos, Anix. “Esse bracelete trará sorte e felicidade a você e a sua família. Os filhos e filhas que estão por vir serão igualmente abençoados por esta jóia que vem sendo passada de geração em geração em minha família. Quero que você aceite esse presente, se seu escolhido permitir, é claro e que, da mesma forma que ele trouxe boa sorte às gerações de minha casa, que ela traga sorte também a você e às gerações que virão depois de você.” Daarshalon assentiu com a cabeça, e permitiu que o rival colocasse a jóia em Inuviel. “Agora eu parto, na esperança de poder encontrá-la novamente algum dia, quem sabe em um outro mundo ou outra vida, para que novamente eu possa ter a chance de me apaixonar por você e de lutar pelo seu amor. Adeus!”. Assim Gehörnt se despediu e se foi. Nunca mais ele foi visto novamente. Inuviel e Daarshalon tiveram uma vida feliz juntos e filhos belos e poderosos. Daarshalon, que tinha o espírito livre de um nômade, costumava de tempos em tempos sair para fazer longas cavalgadas, ficando muito tempo fora. Um dia, ele retornou ferido de uma de suas viagens, atacado por monstros, e não resistiu aos ferimentos. Entretanto, como não desejava morrer diante de sua amada e causar-lhe ainda mais dor, ele partiu de Lenórienn, indo morrer em algum lugar no norte. Até aquele dia Inuviel jamais conhecera a tristeza, mas dali em diante um espinho se cravara em seu coração e foi corroendo-o até o final de sua vida. Inuviel dedicou sua vida aos filhos e filhas que tivera com Daarshalon. Das filhas, Lirin, a mais nova, herdou o bracelete de Gehörnt quando decidiu se casar. Lirin passou o bracelete Driele, que o passou para Dália, minha mãe. Agora, Anix, eu o entrego a você, meu filho, para que ele seja passado a Enola, minha futura nora. Que esta jóia lhes traga sorte, assim como trouxe a mim e a todas as que vieram antes de mim. Se eu tivesse tido uma filha, provavelmente o bracelete seria dado a ela.Mas fico muito feliz em poder dá-lo a você e a Enola, por quem eu tenho grande estima e a quem eu já considero como uma filha.

Valkyria tinha lágrimas brotando em seus olhos quando concluiu a narração. Após isso, entregou o baú com a jóia a Anix e abraçou-o com força.

_ Agora vá ficar com sua amada, meu filho! Aproveite o pouco de tempo que terão para ficarem juntos antes de você retornar para o exército. E, quando estiver sozinho com ela no bosque onde ela habita, faça o pedido! Tenho certeza que ela não recusará!

Anix abraçou sua mãe e saiu, indo juntar-se aos outros na sala. Valkyria permaneceu em seu quarto um tempo mais, secando suas lágrimas e depois foi se reunir com os demais.

Nesse instante, Nailo acabava de voltar da rua, após deixar os piratas sob a custódia do condestável Jarkes, líder da milícia de Ab’ Dendriel. Durante o caminho, o ranger advertiu os bandidos para que se regenerassem e abandonassem a vida de crimes. Os piratas astutamente disseram estarem arrependidos e pediram para serem soltos. Mas Nailo não se deixou enganar pelo truque (um truque de mais de trezentos anos, como diria Léo Seis Dedos, se ainda estivesse vivo) e os levou para a cadeia. O condestável garantiu que todos seriam julgados e pagariam pelos seus crimes, ali mesmo em Wynlla, onde os crimes haviam sido cometidos. Eles seriam mandados para um tribunal, onde os servos do deus da justiça, Khalmyr, julgariam suas faltas e determinariam a punição adequada. Com o poder dos servos da justiça eles não poderiam mentir ou esconder qualquer fato, e todos os delitos cometidos por eles seriam revelados e julgados. Assim, Nailo retornou para a casa dos Remo, com a certeza de que tinha feito a coisa certa e de que a verdadeira justiça prevaleceria. Quando retornou, todos já estavam reunidos novamente na sala, inclusive Squall, após esvaziar as prateleiras da loja de seus pais. O único ausente era Seelan. Mas, assim que Nailo se acomodou num sofá, abraçado a sua amada Darin, e na companhia de seu fiel amigo Relâmpago, o capitão finalmente apareceu.

_ Está certo! Já decidi! Já que vocês querem tanto assim, nós iremos para Vectora! Já sei onde o Mercado nas Nuvens está! Bem, preparem-se soldados, aproveitem o dia de hoje, pois amanhã logo pela manhã nós iremos para Vectora! – anunciou Seelan com firmeza, causando euforia em todos que se reuniam na casa de Lady Valkyria e Lord Ragnarok.

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