Capítulo 295 – Tarde de folga
Assim, os heróis ganharam uma tarde inteira para descansarem e aproveitarem as horas restantes junto das pessoas que tanto amavam. Anix abraçava Enola. Legolas acariciava Liodriel. Nailo beijava Darin, ao mesmo tempo em que alisava o pelo de Relâmpago. E Squall ouvia reclamações e queixas de Deedlit.
_ Você ficou desaparecido todos esses meses, e agora nem se importa com minha presença! Está mais interessado em pegar as coisas da loja da sua mãe e em ir para Vectora do em mim! – gritava a elfa.
_ Calma, Deed! Não é bem assim! Você está exagerando e... – respondia Squall, tentando acalmar sua namorada.
_ Não quero saber de suas desculpas! Venha, está na hora de discutirmos nossa relação!
_Está bem, mas antes preciso fazer uma coisa! – decidiu ele. – Nailo! Preciso falar com você!
_Diga Squall!
_ Quero lhe pedir desculpas! Ontem, no farol, eu fiz uma coisa que não devia! Eu ataquei você e o feri! Poderia até mesmo tê-lo matado! Mas não era essa minha intenção! Eu agi muito mal e estou arrependido, por isso lhe peço desculpas! – Squall estava sério, diante do amigo.
_ Tudo bem, Squall, mas agora é tarde para isso! O goblin já está morto e não podemos interrogá-lo ou prendê-lo agora! Você e seu irmão já mostraram que não tem a menor consideração por mim! Vejo que logo não haverá mais lugar para mim neste grupo! – respondeu Nailo, cheio de mágoa.
Então a harmonia foi quebrada na casa dos Remo. Nailo acusava Squall e Anix de terem matado sem necessidade e pedia respaldo a Seelan, dizendo que como oficiais do exército, eles não poderiam se comportar daquela maneira. Squall sentia uma ponta de arrependimento, mais por ter agredido o companheiro do que por ter eliminado os inimigos. Já Anix não demonstrava qualquer remorso. Tinha matado um criminoso irrecuperável e perigoso, logo, tinha feito um bem ao mundo, pensava ele. O ambiente ficou tenso e Seelan tentou apaziguar a situação.
_ Bem, é verdade que como soldados, vocês têm o dever de levar os criminosos à justiça. Mas, como eu já disse, vocês não devem arriscar suas próprias vidas para preservar a de bandidos. E também não devem brigar entre si por causa desses malfeitores. O que está feito está feito. Pensem sobre isso e reflitam para que quando se depararem novamente com uma situação parecida vocês saibam agir corretamente!
Após as palavras de Seelan, a discussão se encerrou. Squall se dirigiu a Deedlit e disse que eles podiam finalmente conversar. Assim, os dois deixaram a casa dos Remo e foram até uma praça arborizada que ficava no centro da pequena cidade. Lá, Deedlit encarou Squall com firmeza. Seus olhos amendoados fulminavam os do feiticeiro, como flechas afiadas. Deedlit se aproximou de Squall, furiosa, agarrou-o pelo pescoço com força e o beijou. Somente após um longo e caloroso beijo foi que ela voltou a falar, emocionada.
_ Estava com saudade!
_ Eu também!
Assim, Squall e Deedlit passaram o resto da tarde, sentados à sombra de uma figueira, trocando carícias e juras de amor.
Legolas também não desperdiçou a oportunidade. Colocou sua amada em seu cavalo branco e partiu com ela para as colinas que separavam a vila do litoral. Seguindo as indicações do senhor Ragnarok, sentou-se no topo da colina mais alta, sobre um gramado macio, onde podia ver muito além da cidade. Ali, o casal passou uma tarde romântica, assistindo ao um dos mais belos pores-do-sol que já haviam visto juntos.
Já Anix passou o dia passeando por sua vila natal, revendo os velhos amigos e lugares que há muito não via. Em sua companhia estavam Enola, sua amada, e Silfo, seu grande amigo.
Nailo também saiu para conhecer a cidade e, após a discussão na casa de Anix, para encontrar um lugar para passar a noite. Junto com ele estavam Darin e seu fiel companheiro Relâmpago.
Enquanto isso, na casa dos Remo, Lucano, Seelan e Orion cuidavam dos preparativos para a viagem do dia seguinte. Seelan se divertia, fingindo flertar com Orion, provocando risos em Lucano e deixando o humano encabulado.
Assim o dia se foi e o manto de Tenebra cobriu Ab’ Dendriel. Legolas voltou para encontrar os amigos. Todos estavam reunidos, menos Nailo. Saíram assim, Legolas e Anix para procurar pelo amigo. Mas, enquanto vagavam pelas ruas, uma idéia veio à mente do mago.
_ Legolas! Vamos fazer um lual! – gritou Anix, subitamente.
_ Ótima idéia! Mas como seu faz um lual? Aliás, o que é um lual? – Legolas parecia confuso.
_ É uma festa na praia, sob o luar! Vem comigo, eu sei o que fazer!
E foram os dois para a melhor taverna da cidade. Lá, encomendaram um verdadeiro banquete, comida para duzentas pessoas. Omo aventureiros bem sucedidos, essa quantidade de comida poderia ser facilmente paga. Também contrataram um pequeno grupo de bardos que estava no local para animarem o lual. Chamaram todos aqueles na cidade que tinham boas relações com a família Remo (o que não excluía pessoa alguma da cidade) e foram para a praia. Steban e os outros pescadores ajudaram a decorar a praia com flores, folhas de palmeira e tochas. A lua brilhava plena no céu, em escudo, trazendo ainda mais beleza para o evento. Então, duas horas após o anoitecer, a festa começou. A música animava a todos, que se fartavam com a comida e a bebida compradas por Anix. Seelan dançava alegremente, mas, após alguns copos de vinho, isolou-se e ficou calado, como se algo o perturbasse. E uma revelação espantou todos os heróis presentes.
_ Olha lá Lucano! Aquelas duas elfas estão olhando para você! Vá até lá! Aproveite! – disse Anix.
_ Não, Anix! Sou fiel à minha esposa! – respondeu com um sorriso o clérigo.
_ Você é casado?
_ Sim, sou!
Em todo aquele tempo em que estiveram juntos, Anix nunca soube que Lucano tinha uma esposa. Apesar de estarem há vários meses juntos, se aventurando e arriscando suas vidas juntos, Anix pouco sabia da vida do amigo. Talvez apenas Sam tivesse tido conhecimento desse fato, durante as longas conversas que tinha com os amigos ao som doce de seu alaúde enquanto estavam mergulhados nas profundezas de Khundrukar. Aqueles dias de viagem estavam sendo ótimos. Além de rever as pessoas que amava, Anix, assim como seus companheiros de grupo, conhecia pouco a pouco detalhes das vidas daqueles com quem convivia. O mago deu um gole em seu copo de vinho, sorridente, e abraçou Enola. Nesse momento, seus pais chegaram, assim como Squall e Deedlit. Squall tinha ficado para trás, com os pais para descobrir mais sobre seu passado, e para saber detalhes sobre o sangue dracônico que corria em suas veias.
_ Pai, mãe! Eu quero que me digam a verdade! Aquela história que contamos sobre a Escamas da Noite ter me chamado de vermelho e sobre o que Glórienn me disse, que eu tenho sangue de dragão nas veias. Da onde vem isso? – perguntava o feiticeiro, momento antes, em sua casa.
Mas, os pais de Squall nada sabiam a respeito daquilo. Estavam tão surpresos quanto Squall. Eles eram elfos, e descendiam, até onde sabiam, de elfos. De modo que saber que ao menos um deles possuía parentesco com algum dragão os deixou impressionados.
Não convencido, Squall os pressionou, mas seus pais não tinham nada a dizer. Ainda desconfiado, Squall nem teve tempo de dizer o que lhe veio à mente.
_ E nem ouse pensar que você possa ser filho de outro elfo, Squall! Eu sempre fui e sempre serei fiel ao seu pai! Não ouse pensar numa bobagem dessas! – alertou Valkyria, antes que o filho pudesse acusá-la de algo.
E como viu sinceridade nos olhos da sua mãe, Squall desconfiou então de seu pai. Trancou-se com ele na biblioteca e exigiu dele a verdade.
_ Pai! Diga-me agora! Você traiu minha mãe? Eu sou filho de outra elfa? – perguntou ele.
_ Squall, essa foi a pior besteira que já ouvi em toda minha vida! Acha mesmo que eu trairia sua mãe? E mesmo que eu fizesse uma barbaridade dessas, como você poderia ser filho de outra, se foi da barriga de sua mãe que você nasceu! Ou por acaso acha que você saiu de meu ventre?
E, vendo que a idiotice que havia cometido, Squall tentou emendar e justificar a pergunta sem sentido. E conseguiu se atrapalhar ainda mais.
_ Não, pai! É que eu pensei que o senhor pudesse me feito com outra elfa e ela poderia ter dado o senhor para eu e a mamãe criarmos!
_ Squall! Não seria o contrário? Sua mãe e eu criarmos você???
_ É isso mesmo! Foi o que eu disse!
_ Ora, filho! Deixe de tolice! Você é filho de Ragnarok e Valkyria, assim como seu irmão Anix! E se o sangue de algum dragão corre mesmo em suas veias, ele pode ter vindo de algum antepassado distante, do qual nem eu nem sua mãe tenhamos ouvido falar! Agora fique despreocupado e venha comigo! Vamos aproveitar a festa que seu irmão está dando na praia! Vamos aproveitar o tempo que nos resta, antes de você e seus amigos irem embora novamente!
E após a conversa confusa de Squall e seu pai, ele, lord Ragnarok e lady Valkyria juntaram-se aos demais no lual. Era o 26º dia de Aurea, a lua iluminava o mundo com seu brilho cálido enquanto os heróis cantavam e dançavam. Aqueles eram dias alegres.
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