agosto 28, 2006

Capítulo 222 – Pequenos prisioneiros

Capítulo 222 Pequenos prisioneiros

_ Bem, ouçam todos! Nossos recursos estão terminando, não podemos mais bobear, nem desperdiçar os poucos recursos que restam! Devemos ser prudentes e cautelosos! Nada de gracinhas daqui pra frente! Ainda tenho essas poções de cura comigo, são as últimas! Cada um ficará com uma delas, para usá-las em caso de emergência! As que restarem, eu guardarei na minha mochila! Tenho também estas outras que servem para proteger do fogo! Se aparecer algum outro monstro com um ataque especial de fogo semelhante ao desta espada elétrica, usem esta poção! Ficarei com uma, as outras ficam com vocês! Legolas, já que você pode atacar à distância com este arco, será o único a ficar sem uma destas! Essas outras servem para multiplicar a força do usuário! Nailo e Legolas ficarão cada um com um frasco e eu guardarei os outros dois comigo! Temos muitos lugares a investigar ainda e muitos inimigos a derrotar, com certeza! – Glorin falava com sofreguidão. Era visível o cansaço que o anão sentia, após batalhas tão difíceis. Mesmo assim ele não se entregava e sempre tentava manter a moral do grupo em alta. Tomou algumas poções mágicas para ganhar um pouco mais de vigor e dividiu o que restava em sua mochila com os companheiros de jornada. Entregou a Squall um saco de pano para que o elfo guardasse suas coisas, já que sua mochila havia sido destruída no último combate. Olhou em volta e viu as muitas portas que restavam a serem exploradas no castelo. O anão deu um suspiro de impaciência e ansiedade, desejava resgatar as crianças o quanto antes e partir de uma vez daquele lugar amaldiçoado.

Os elfos concordaram com as ordens do capitão sem hesitar. Não podiam mais perder tempo com bobagens, deveriam resgatar as crianças o quanto antes. Sob as ordens de Glorin, Legolas disparou a flecha iluminada magicamente por Lucano em direção à frente do castelo. O projétil percorreu os quase quarenta metros do enorme corredor, iluminando tudo que nele se encontrava, até terminar sua trajetória numa pesada porta dupla no final do corredor. Além dela, existiam outras sete portas, três à esquerda e quatro à direita. Atrás dos heróis, havia outras cinco portas, duas em cada parede lateral e uma outra na parede do fundo, bem à esquerda do grupo. Uma delas já estava aberta, a porta arrombada por Legolas e de onde havia saído o bando de carniçais famintos. Os heróis estavam ansiosos para entrar no aposento e ter certeza de que não sairia mais nenhuma ameaça de lá de dentro.

_ Bem! Esse esqueleto maldito prometeu mostrar onde estavam as crianças se fosse derrotado! Sua mão aponta para trás! Ou ele apontou para o nosso objetivo, ou ele apontou para outra coisa, para nos enganar! É bem provável que seja uma armadilha deste bastardo! Bem, vamos cair na armadilha então! Mesmo sendo arriscado, é a única pista que temos sobre o paradeiro das crianças! Vamos para o fundo! – Glorin coçou a barba, pensativo e concluiu o que tinha que fazer, anunciando sua decisão em voz alta para o grupo. Anix usou seu poder mágico e desapareceu, invisível, dos olhos de seus amigos. Protegido por sua camuflagem mágica, o elfo entrou no quarto dos carniçais, enquanto seus amigos o vigiavam da porta.

O gigantesco quarto tinha quase vinte metros de profundidade e quinze de largura. O aposento se abria à frente e à esquerda da porta arrombada pelo arqueiro. Na esquerda havia sete camas alinhadas paralelas umas às outras, todas com as cabeceiras encostadas na parede. Eram todas feitas de madeira e sobre elas repousavam colchões e lençóis ainda arrumados eras atrás. Entre as camas havia pequenas cômodas de madeira, todas com suas gavetas abertas com desleixo. Ao fundo existiam duas grandes penteadeiras, de onde pendiam várias teias de aranhas para o chão e para a parede atrás delas. Alguns objetos como pentes e escovas dividiam o espaço sobre os dois móveis com a poeira e as teias. Dois grandes espelhos de aço polido já sem brilho algum jaziam presos às penteadeiras. Atrás delas, três grandes janelas eram ocultadas por tábuas de madeira recente. Na direita, dois enormes armários dividiam espaço, encostados na parede. Suas portas estavam entreabertas, e apresentavam sinais de arrombamento. Um grande tapete grosso e todo colorido ocupava todo o centro do cômodo, coberto por uma grossa camada de pó que se erguia do chão a cada passo de Anix. Várias almofadas se amontoavam recostadas na parede onde ficava a porta. Espalhados pelo chão, três cadáveres permaneciam intocados por centenas de anos, seus corpos já totalmente secos e grudados ao piso estavam cobertos de pó e teias.

_ Está tudo seguro! Podem entrar! – disse Anix.

O restante do grupo invadiu o quarto cautelosamente. Começaram a vasculhar o local em busca de tesouros e pistas, mas não havia praticamente nada ali que pudesse ser encontrado. O dormitório já tinha sido violado há muito tempo atrás. Os criados-mudos ao lado das camas estavam quase vazios, apenas itens sem valor como pentes e maquiagens restavam em suas gavetas. Nos armários só havia restos de vestidos rasgados por quem quer que tivesse saqueado aquele local. Alguns sapatos velhos e roupas íntimas já apodrecidas também restavam nos guarda-roupas. Aos poucos Anix reuniu o que tinha sobrado no quarto sobre uma das camas, enquanto Legolas se olhava no espelho, já entediado naquele lugar. Squall enrolou o tapete para procurar pistas embaixo dele, mas não havia nada além do próprio piso. Nem mesmo um alçapão ou compartimento secreto foi encontrado pelo feiticeiro. Apenas Nailo encontrou algo de importante no local, uma pista reveladora. Havia rastros pelo chão, marcas de botas ou sapatos cobertos de lama que vinham de fora do quarto em direção aos armários, às penteadeiras e depois às camas, passando por cima do tapete. Os rastros estavam secos e estavam ali há muito, muito tempo mesmo. Era impossível seguir as pegadas do lado de fora do aposento, e do lado de dentro elas desapareciam ao passar por cima do tapete que provavelmente limpou os pés do invasor. Pelas posições dos rastros, Nailo foi capaz de deduzir que o invasor entrou no cômodo e o saqueou. Outro detalhe igualmente revelador chamou a atenção do grupo. Os corpos no chão possuíam marcas de graves ferimentos. Um peito aberto, outro com a cabeça decapitada e o outro irreconhecível. Isso deixava claro que as pessoas que ali estavam tinham sido brutalmente assassinadas e tiveram seus bens roubados por alguém. Suas camas estavam todas arrumadas, o que significava que não estavam dormindo quando a chacina ocorreu. Provavelmente as pessoas que ali estavam se arrumavam para participar do banquete envenenado no andar inferior do castelo. Além disso tudo, Nailo encontrou uma outra pegada, deixada sobre uma das almofadas no chão. Um pé de tamanho médio, talvez um humano ou um elfo, calçando uma bota ou outro tipo de sapato, que estivera ali há pouco tempo, alguns poucos dias no máximo. E a marca na almofada não pertencia aos pés do esqueleto Dekyon, como confirmou o ranger ao comparar a pegada com a nova bota de Legolas.

Nailo usou magia para verificar se os corpos do aposento também estavam envenenados. Enquanto isso, Lucano usava sua mágica para sentir a presença de mortos-vivos dentro do quarto e além. O clérigo checou os corpos caídos e constatou que estavam completamente mortos, diferentemente de outros cadáveres do castelo que estavam animados por magia. Depois deixou Nailo examiná-los e circundou todo o ambiente, apontando sua magia para as paredes em busca de mortos-vivos que estivessem além delas. E não detectou nada. Nenhuma aura, nenhum sinal que denunciasse a presença dessas criaturas das trevas. Nailo também não encontrou vestígios de veneno nos corpos nem qualquer outra coisa que pudesse ser importante. Então eles tomaram um susto.

Legolas deu um grito abafado, e caiu de costas no chão, inconsciente. Seu peito se mexia com dificuldade. Suas mãos estavam sujas do pó que recobria os espelhos. Anix correu até o amigo caído e começou a esbofetear seu rosto, tentando fazê-lo despertar e perdendo sua invisibilidade. Lucano correu também para ajudar, abandonando a magia na qual estava concentrada, e começou a invocar uma prece para curar o amigo. Mas, antes que o clérigo pudesse terminar sua conjuração, Legolas abriu os olhos e começou a rir freneticamente. Tudo não passava de uma brincadeira, o arqueiro havia pregado uma peça nos companheiros.

_ Grunf! Seu idiota! Isso não é hora para brincadeiras! Acabei de falar que não tínhamos que ser prudentes e economizar recursos, e você faz com que Lucano e Anix dissipem suas magias para ajudá-lo! Que essa seja a última brincadeira estúpida de vocês! Hunf...elfos...!!! – ralhou Glorin, extremamente irritado com a brincadeira do elfo. – Bem, não há nada aqui pra se olhar! Vamos seguir em frente! – continuou.

O grupo deixou o quarto, certos de que não havia mais nada a ser visto naquele lugar, e seguiram para o fundo do castelo. Antes de sair, Nailo quebrou todas as tábuas que bloqueavam as janelas e permitiu que a luz do sol voltasse a iluminar aquele lugar. Já era por volta das 10:00 da manhã. O elfo arrastou as penteadeiras e as posicionou de modo que seus espelhos fossem capazes de juntos refletirem a luz solar até a entrada do quarto. Limpo o aço dos espelhos o melhor que pode e conseguiu fazer com que um reflexo fraco do sol iluminasse a entrada do aposento. Dessa forma, esperava ele, nenhum morto-vivo voltaria a entrar naquele quarto, e eles teriam um local seguro para se esconder caso precisassem fugir. Já do lado de fora, Squall, o feiticeiro, apontou para uma das portas, a que ficava à direita, e sugeriu que começassem por ela.

_ Vamos abrir essa porta! Tenho certeza que as crianças estão aqui! – disse o feiticeiro.

_ E como você pode ter certeza disso, Squall? – perguntou Anix.

_ Minha intuição me diz que as crianças estão aqui! – respondeu o elfo.

_ Bem, vamos confiar na intuição de Squall, então! Nunca se deve ignorar esse negócio de intuição! Principalmente de alguém que possuía sangue de dragão correndo nas veias! – bradou o anão, tomando a dianteira e rumando para a tal porta.

_ Não seja precipitado! Antes de fazer isso use essas suas orelhas pontudas pra variar! – resmungou Glorin, repreendendo Nailo que estava preste a arrombar a porta sem sequer tentar verificar o que se escondia atrás dela.

O ranger obedeceu ao seu líder e encostou seu ouvido esquerdo na porta. Atrás dela havia completo silêncio. Parecia que estava tudo tranqüilo, mas também podia ser mais uma armadilha. Pensando na segunda hipótese, os heróis se posicionaram para o combate e deram o sinal para que Nailo arrombasse a porta. Com um forte chute o ranger quebrou a madeira ao redor da tranca e a porta se abriu. Abriu à direita, batendo em uma parede à qual ela estava próxima e retornou quase até a metade do caminho. Nailo arremessou o pedaço de madeira brilhante para dentro do aposento e todos apontaram suas armas esperando um ataque que não aconteceu. Tudo permanecia em silêncio.

Nailo deu um passo à frente, e viu um enorme quarto, tão grande quanto o anterior, mas que abrigava apenas uma cama muito grande. Havia uma cômoda ao lado da cama, e ambas estavam encostadas na parede mais ao norte. Um grande armário ocupando uma grande porção da parede sul, à esquerda de Nailo. Ao fundo também havia outros móveis e janelas lacradas por tábuas, tal qual os outros cômodos do castelo. Sem perder tempo, Nailo se abaixou, já dentro do quarto, e começou a analisar o piso, em busca de outras pegadas enlameadas ou parecidas com a encontrada por ele na almofada do aposento ao lado. E então, o ataque que todos esperavam finalmente aconteceu.

A porta se fechou violentamente, atingindo Nailo com força. O elfo foi ao chão e, antes que ele pudesse reagir, uma criatura saltou das sombras atrás da porta sobre ele. Ao mesmo tempo, as portas do guarda-roupas se abriram e um enorme tapete animado por mágica saltou sobre Nailo, envolvendo-o e ao monstro que o atacara. Quatro outras criaturas saíram do armário e começaram a golpear Nailo com clavas. O ranger tentava se defender a todo custo, e sentiu o ferrão afiado do monstro atravessando sua armadura e perfurando seu estômago profundamente. Então, subitamente os ataques cessaram. Nailo se desenroscou do tapete e viu que as cinco criaturas estavam paradas, observando o grupo com apreensão. Squall os iluminou com sua lanterna e todos tiveram uma surpresa. Não eram monstros, mas sim as crianças raptadas da vila.

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